O Homem Absurdo
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O Homem Absurdo - Wellington Lima Amorim/sérgio Ricardo Fernades De Aquino
O HOMEM ABSURDO
ISBN: 978-85-918183-0-3
Wellington Lima Amorim
Sérgio Ricardo Fernandes de Aquino
PREFÁCIO
Jorge Miranda de Almeida/UESB
O homem é ABSURDO em sua condição mais peculiar embora não se constitua no ABSURDO da existência. É ABSURDO porque é gratuidade efetiva, nada e ninguém conseguem justificá-lo absolutamente constituindo um sentido eficaz. A condição trágica da existência humana torna-o um ser errante e ambíguo, durante todo o seu percurso. Em sua finitude e incompletude esse andarilho caminha inseguro e por isso tem necessidade da constituição de razão, sentido, transcendência, valores para projetar suas limitações e na maioria das vezes, fugir da angústia, do desespero e do nada que são os seus mais legítimos fundamentos. Quando ousa enfrentar e se confrontar com a angústia, torna-se um gladiador em contínua luta consigo mesmo, deixando de ser a cada instante, para recuperar a si mesmo de forma mais contundente e madura. O homem age, cria e recria situações em que vive, existe ou projeta mimeticamente a sua andança em direção ao mais profundo que é a constituição de si mesmo ou a negação de si mesmo. Autenticidade e inautenticidade são condições existenciais. Concretizá-las depende do esforço e da decisão existencial do singular. Assumir a sua real condição seria uma boa alternativa para superar os dualismos que ele mesmo cria, e o sufoca e que impede de existir como Homem. Ironicamente ele mesmo aniquila a si próprio quando transforma a efetividade dilacerada da existência em representação e a organização disfarçada em controle e ajustamento social, destituindo a sua humanidade e vestindo a roupagem do HOMEM ABSURDO. Vindo do nada e sem uma fundamentação para o seu existir, o homem vive, por um lado, de projeções e constrói embaralhados quebra cabeças para continuar a viver uma vida de máscara e de tédio, que o atira num mar de lamas coberto por uma camada muito ténue de racionalidade, moralismo e civilização. Por outro lado, ele assume a esperança e a responsabilidade em edificar um lugar decente para construir a sua moradia, que seria o seu caráter em relação direta com o totalmente OUTRO.
A tarefa de superar o absurdo enquanto niilismo parece difícil e exaustiva como demonstram os autores ao longo dos XXII aforismos, mas constitui numa exigência histórica de transfiguração e transvaloração do mesquinho mundo do rebanho, da reprodução em massa e da falta de singularidades como alternativa ao mundo dos individualismos e das homogeneidades que transformam tudo e todos em iguais e em unidimensionalidade rasa. Nas primeiras linhas do aforismo VI o leitor encontrará abundante material para se posicionar sobre como proceder para ultrapassar o HOMEM ABSURDO que existe dentro de si mesmo. Para que tenha êxito, sugiro enveredar pela sugestão de Cioran: Só o pensador orgânico e existencial é capaz desse tipo de seriedade, pois só para ele as verdades são vivas, frutos mais de uma tortura íntima e de uma afecção orgânica que de uma especulação inútil e gratuita [...] gosto do pensamento que mantém o aroma de sangue e de carne e prefiro mil vezes, à abstração vazia, a reflexão gerada por uma efervescência sexual ou por uma depressão nervosa
. Os autores adotam a postura do pensador orgânico em cada página da presente obra e dialogam com o leitor sobre os labirintos da existência humana e optam pelos aforismos e cenários para evocarem e conversarem sobre os variados temas que fazem parte do contexto daquilo que pode ser compreendido como pertencente a pessoa em seu percurso como ser individual e ser social. Desta forma a questão central que percorre cada página como questão fundamental é: Qual é a composição cartográfica ética do HOMEM ABSURDO?
O leitor sentirá ao enveredar pelas trilhas abertas ou apenas sinalizadas na obra, uma tensão direta e indireta entre Hegel e Nietzsche quer pelo percurso de formação dos autores, quer pela identificação admitida por Nietzsche nos primeiros aforismos, quer pela herança acadêmica marcada nitidamente pela supremacia da razão, mesmo quando se admite a razão sensível de Maffesoli. O belo exemplo de que somente a razão
constitui um porto seguro é nitidamente herança de Hegel e do iluminismo, mas por outro lado, adotam o perspectivismo de Nietzsche onde o real não está na representação, mas no poder de afirmar, na relação e na vivência com as coisas como elas são. Dessa forma, o perspectivismo defende a não correspondência entre o conceito de verdade e o conhecimento verdadeiro da realidade. A proposta é ousada, pois problematiza e coloca em tensão de uma vez dois dos pilares da filosofia ocidental, a saber, a identificação da verdade como essência e o seu correlato sentido de identificação ou adequação entre o ser e o pensamento, que se traduz entre o conceito e o real e a forma como a verdade é construída e constituída. O leitor é convidado a se posicionar em cada aforismo e essa é a forma como os autores propõem uma maneira de filosofar de sujeito a sujeito, onde não há reprodução do pensar, mas um convite a desconstruir o que foi escrito para reconstruir o seu próprio e original pensar. A opção pelos aforismos e pelos cenários, indo na contramão da lógica e da demonstração rigorosa como exigência filosófica, segue a trilha de pensadores como Nietzsche, Kierkegaard, Schopenhauer, Unamuno, Dostoievski, Camus, Ingenieros e Cioran que são alguns dos Homens que procuraram alertar o indivíduo da armadilha que ele criou para si e que o mantém sufocado e acorrentado em correntes de excrementos fétidos que julga ser feita de aço dos deuses e do mesmo material do que é produzido o martelo do deus Thor. O homem civilizado adora viver na mais pura caricatura para esconder a escrotice da realidade que criou para sua vida mesquinha, fútil e imbecil. A escolha acertada pelos aforismos indica