Tirando os Pés do Chão: Dez Encontros com o Plano Astral
De Gustavo Cruz
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Sobre este e-book
O livro desmistifica a ideia de que a prática é reservada a apenas alguns poucos, oferecendo uma jornada de autoconhecimento e expansão da consciência acessível a todos. Para aqueles que desejam aprofundar ainda mais sua prática, a obra encerra com um Guia Prático para a Jornada Astral em dez passos, fornecendo um roteiro detalhado para conduzir sua própria exploração no plano astral.
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Tirando os Pés do Chão - Gustavo Cruz
Capítulo 1
A descoberta
O conhecimento começa no medo.
(Luís Vaz de Camões)
Antes de iniciar esta história, que é a minha primeira experiência astral, é importante, nesta volta ao tempo, relembrar que muitas experiências espirituais fizeram parte da minha tenra infância.
Nasci em outubro de 1977 e demorei a desenvolver a fala. Nesse sentido, reza a lenda
que uma simpatia me libertou a língua e me tirou o silêncio somente aos três anos de idade, com minha mãe me levando a uma feira na cidade de Londrina, no estado do Paraná – Brasil, onde procurava por um filhote recém-nascido de galinha, um pintinho. Ela encontrou a tenda e, com o passarinho em mãos, deixou ele piar algumas vezes dentro da minha boca. Depois disso, sempre disse, toda a vida, brincando, que se arrependeu de tal feito, porque virei um indagador permanente a preencher o tempo com perguntas intermináveis sobre tudo o que podia.
De volta aos meus primeiros anos, ainda em Londrina. Por volta dos meus três, quatro anos, minha mãe viajou a passeio à Europa. Ela conta que, ao retornar, eu estava ainda aos afagos da sua volta, feliz por seu retorno, quando, visualizando um jornal de grande circulação da época no Paraná, eu peguei a folha do jornal, apontei para uma foto e disse a ela:
— Mãe, você esteve nesta igreja, não foi?
Ela, sem saber como era possível, viu a foto do jornal e realmente reconheceu a catedral italiana, e me disse:
— Sim, visitei essa igreja, mas como você pode saber?
E, de pronto, respondi:
— Eu a vi em um sonho, dentro dela.
Em seguida, noutro dia, ainda nesta comarca do Paraná, ao ver a arte de Natal pintada por minha mãe (que, aliás, é uma excepcional artista plástica) nas janelas da nossa casa, eu percebi que havia estrelas e uma lua pintadas em aquarela nos vidros. Vislumbrando o céu naquela noite enquanto admirávamos a arte eu, ela e meu pai, eu disse que, embora não pudéssemos ver as estrelas naquela noite por causa das nuvens no céu, era certo de que elas estavam lá. Além disso, falei que, ainda que não pudéssemos ver, elas existiam, palavras que tocaram meus pais.
Nessa mesma idade, conta minha mãe que, um dia, ao sair do banho, eu a interpelei e disse que finalmente eu tinha conseguido entender por que eu tinha dores de cabeça constantes: era porque eu ficava muito tempo fazendo força para me lembrar das minhas vidas passadas.
Esse tocar o intangível e despertar de mistérios me envolveram desde pequeno, e logo as minhas indagações tão primevas, tão simples e, ao mesmo tempo, atemporais começaram a se tornar mais frequentes: de onde viemos? Quem somos? Por que estamos aqui? Trata-se de perguntas que começaram a invadir meus pequenos pensamentos. A morte, a vida, como explicar? O medo começou a se apossar de mim ainda cedo. E, aos poucos, meu canal neuronial começou a invadir-se de pensamentos que eu sabia que não eram meus
. Fugia de tais pensamentos de toda a forma que podia, ainda mais quando estava sozinho, cansei de cantar, assobiar, falar em voz alta sozinho, não havia jeito de cessarem em mim tais vozes, que eu acreditava serem de espíritos que viviam entre nós, como almas penadas. Por mais que eu tivesse gana em enfrentar meus medos, comecei a tomar banho de portas abertas, e quantas vezes eu saí nu, correndo de medo, até meu quarto, no qual acreditava estar sempre protegido por não ter as janelas próximas a minha cama. Meus irmãos mais velhos, sabendo desse pavor, muito simpáticos
, deixavam-me por vezes após o apagar das luzes, que fatalmente fazia soar pela casa meus gritos. Foi nesse tempo que, dos sete para oito anos, escrevi minha primeira poesia em prosa sobre algo que eu queria muito entender. Escrevi sobre o Medo:
"Medo é olhar para os olhos negros de uma criança?
Ou medo é se sentir só, único e absoluto,
sem coragem de resolver seus problemas medonhos?
Medo é tentar enfrentar?
Ou Medo é simplesmente um pavor que nunca sairá das nossas cabeças?
Para mim, Medo é muito pior que filmes apavorizantes.
Medo é uma dúvida de algo ou alguém!"
Concluí. De certa forma, escrever essa poesia me deixou mais calmo e mais consciente do que de fato estava acontecendo comigo. Percebi que o desconhecido estava ali presente, bem como a dúvida, esse inefável desconhecido. Começa a partir daí uma busca, um querer saber.
Logo em seguida, meus avós e pais, impressionados com meus escritos, quiseram que eu me expressasse mais, então tenho registrado o que escrevi a uma senhora que trabalhava na casa de meu avô paterno. Ela se queixou da vida para mim em um momento de intimidade, e eu, temendo por sua vida, redigi a seguinte carta em 31 de dezembro de 1987, aos meus recém-completados oito anos:
Não chore, não fique triste, a vida é bela, veja os passarinhos, ouça as vozes da natureza e sinta a vontade de viver. Para que a tristeza se você tem a felicidade ao seu lado, esqueça a tristeza, pense e fique feliz. Não chore, você é livre para sorrir. Sorria, sorria, alegre, vamos! Se isso o que escrevi não lhe fez sorrir, não sei mais escrever nada, só lhe digo: Felicidade é o que importa.
Você é livre para sorrir!
A partir daí, meu avô paterno, A. A. de A, professor e diretor de escola, eterno palestrante, musicista, cantor e poeta, viu em mim a sucessão de sua descendência espiritualizada. Eis que seu pai, meu bisavô Olegário Aires de Arruda, consagrado espírita da cidade de Curitiba (seu nome, inclusive, é nome de rua na cidade por seus feitos altivos de cura, principalmente com as mãos de seus pacientes
) foi um homem ímpar na história da Federação Espírita Paranaense desde a fundação. Meu bisavô foi diretor da Federação por alguns anos, e também meu avô, filho de Olegário, achava-se apto a receber dos céus as palavras que o conduziam ao prazer de quem se dispunha a ouvi-lo. Muitos eram seus fãs, e sua oratória sempre vibrante aturdia a todos.
Viu em mim a fonte da juventude na oratória e, num dia de domingo, frente aos familiares, depois de um introito de elevada consciência na oratória, sem aviso, passou a palavra a mim, o mais novo da reunião familiar. À frente de meus irmãos mais velhos que, incomodados, ridicularizaram minha infrutífera tentativa de expressar em palavras o tema sobre o qual me propôs discursar: queria ele eu pudesse falar sobre Adeus.
Não preciso dizer que frente a tal tentativa frustrei a todos, inclusive ao meu avô, que viu a sua despropositada intenção, visto que eu tinha pouca idade. Haveria muito a aprender ainda, e sempre há, e isso não tem fim. No entanto, com toda a certeza, não obtendo êxito nessa empreitada, senti-me humilhado com a proposta. Porém sempre tive comigo que lá na frente as coisas se encaixariam, elas se encarregariam de se alinhar por si próprias.
Fato é que o desencadear de atividades mediúnicas embotou em mim a sutileza de minha intuição, a aflorar desde cedo meus dons para música, poesia, desenho e escrita, em especial para o despertar da consciência.
Eu estava à flor da pele, sentia que meus guias estavam ávidos a falar por mim, estavam em polvorosa. Como fazer uma criança se prontificar em pensamentos a serem expostos, face à ridicularização de irmãos mais velhos sempre prontos a entregar um beliscão ou puxão, ou a criar bullying até a exaustão?
Eu soube, no instante em que meu avô conversou comigo, que meus escritos eram mediúnicos, mas minha mente estava inapta a ser conduzida por eles. A intolerância de meus dons fronte à perplexidade de meus irmãos mais velhos