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A Mãe e o Bebê Prematuro: O que a Psicanálise Tem a Dizer?
A Mãe e o Bebê Prematuro: O que a Psicanálise Tem a Dizer?
A Mãe e o Bebê Prematuro: O que a Psicanálise Tem a Dizer?
E-book243 páginas2 horas

A Mãe e o Bebê Prematuro: O que a Psicanálise Tem a Dizer?

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Sobre este e-book

O livro A mãe e o bebê prematuro: o que a Psicanálise tem a dizer? lança um cuidadoso olhar sobre o psiquismo das mães de bebês prematuros hospitalizados. Tece uma reflexão a respeito da interrupção do processo gestacional, em que havia não só o desenvolvimento orgânico do bebê, mas também toda uma constituição do psiquismo materno para recepcioná-lo e para poder, aos poucos, ocupar seu lugar materno na vida dessa criança. Um bebê extremamente frágil, como destacado nesta obra, cujo risco de morte é iminente. Como essas mulheres lidam com o evento abrupto de um parto precoce? Como lidam com essa intrusão do Real, inassimilável, que as assalta? Em plena transparência psíquica, em que se preparavam para a chegada desse bebê, precisam encontrá-lo antes da hora. Frágil, pequeno, tão diferente do bebê outrora imaginado. Será que conseguem ascender e exercer a função materna, organizar-se psiquicamente para essa função em meio a tanta dor? Nesta obra, fica patente a força desses bebês e, em especial, dessas mulheres guerreiras, que tanto precisam ser acolhidas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de mar. de 2024
ISBN9786525055718
A Mãe e o Bebê Prematuro: O que a Psicanálise Tem a Dizer?

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    A Mãe e o Bebê Prematuro - Karina Stagliano de Campos

    1

    O BEBÊ PREMATURO

    O nascimento de um bebê prematuro é um desafio e um acontecimento de grande magnitude tanto para as famílias, em especial para os pais da criança, como também para a equipe de saúde.

    Mas o que é um bebê prematuro? Como o definimos e quais as suas fragilidades que tanto exigem cuidados?

    Pode-se compreender a classificação da prematuridade considerando a idade gestacional da criança, sendo um bebê que nasce a termo aquele cuja idade gestacional é de 37 a 42 semanas, ou seja, em um tempo em que o bebê ainda não está pronto para a vida fora do útero materno. A CID 11⁶ define o bebê recém-nascido prematuro da seguinte maneira:

    KA21.3 Prematuridade extrema do recém-nascido: entre 22 a 27 semanas completas de gestação;

    KA21.4 recém-nascido — prematuro: entre 28 e 36 semanas completas de gestação.

    A OMS apresenta ainda uma segunda classificação. São considerados prematuros os bebês que nascem antes de completar 37 semanas de gestação e se subdividem em três categorias:

    Prematuros extremos (<28 semanas);

    Muito prematuros (28 a <32 semanas);

    Prematuros moderados (32 a <37 semanas).

    São bebês que, por nascerem antes do esperado, apresentam fragilidade orgânica considerável, em especial os bebês muito prematuros e prematuros extremos. É comum que apresentem baixo peso ao nascer, pouca gordura sob a pele, são pequenos, musculatura fraca; dificuldades respiratórias, além de questões importantes na sucção e na deglutição.

    Os comprometimentos neurológicos são os que mais preocupam, em especial para os bebês prematuros extremos, ou seja, aqueles que nasceram abaixo de 27 semanas de gestação. Estima-se que, dentre estes, 25% podem vir a apresentar sequelas mais graves, sendo que, quanto mais prematuro o bebê, maior o risco de sequelas dessa ordem.

    No Brasil, a taxa de nascimento de bebês prematuros é bastante alta, embora tenha apresentado uma leve queda nos últimos dez anos, de 12 para 11,1%, segundo relatório da OMS em 2020.⁹ Essa queda não foi substancial para retirar o país do grupo daqueles que apresentam uma das maiores taxas de nascimentos prematuros da América Latina.

    Em 2022, no país, foram registrados 292.715 nascimentos prematuros, de acordo com os dados preliminares do Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos, do DataSUS.¹⁰ Isso coloca o Brasil no nono lugar entre os dez países em que mais nascem bebês prematuros no mundo, montante de 279,3 mil bebês anualmente. No mundo, segundo a OMS, só em 2020, 13,4 milhões de bebês nasceram prematuros, com quase 1 milhão de mortes.¹¹

    Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, o alto número de nascimentos de bebês prematuros constitui um grave problema de saúde pública, uma vez que a prematuridade está presente em 47% dos óbitos infantis¹² e figura entre as principais causas de mortalidade neonatal, bem como as complicações advindas do nascimento prematuro são a principal causa de morte entre crianças menores de 5 anos,¹³ entre outros eventos adversos, como alterações visuais e auditivas, aumento da frequência das internações hospitalares, doença pulmonar crônica, dislexia, ansiedade, depressão, problemas de crescimento etc.¹⁴

    A respeito da etiologia de um parto pré-termo, afirma-se que não há apenas uma causa, ou seja, as causas são multifatoriais, entre as quais é possível citar¹⁵,¹⁶:

    Condições socioeconômicas;

    Comportamentos aditivos (álcool e tabagismo);

    Ruptura de membrana;

    Hipertensão crônica;

    Pré-eclâmpsia (pressão alta durante a gestação);

    Descolamento prematuro da placenta;

    Infecções uterinas;

    Gestação múltipla;

    Fertilização in vitro;

    Alimentação durante o período gestacional;

    Uso de substâncias psicoativas;

    Adolescência;

    Fatores genéticos e epigenéticos;

    Infecções por Sífilis ou HIV;

    Gravidez múltipla, entre vários outros fatores.

    Um importante estudo¹⁷ realizado durante a pandemia do coronavírus aponta que a infecção pelo SARS-CoV-2 durante a gestação pode ocasionar complicações no processo gestacional como a evolução para o parto prematuro. Importa salientar ainda que a saúde emocional da mãe, durante o período gestacional, pode influenciar na prematuridade, como a depressão, estresse, nervosismo, entre outros¹⁸.

    Com o acesso e avanço da tecnologia, há um aumento da sobrevida desses frágeis bebês. Para tanto, quando se dá o parto prematuro, principalmente em casos dos prematuros extremos e/ou dos muito prematuros, o bebê é separado de sua mãe e recebe cuidados de uma equipe especializada na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin).

    Esta, apesar de ser necessária para o recém-nascido prematuro, apresenta um ambiente de ruídos intensos, iluminação excessiva, superestimulação, manipulação constante do bebê com procedimentos muitas vezes invasivos e dolorosos.¹⁹

    Os bebês prematuros severos necessitam de cuidados muito maiores, visto que seus órgãos não estão completamente formados, sendo fundamental a estadia de um período maior dentro da incubadora, a fim de obter peso e para que haja o desenvolvimento dos pulmões.²⁰

    Apesar de todos os avanços tecnológicos, os problemas que esses bebês podem apresentar durante o período de internamento são diversos, como insuficiência cardíaca e respiratória, hemorragias cerebrais, infecções, entre outros.²¹

    Por serem bebês muito frágeis e dependerem de intensos cuidados médicos, as mães acabam por ficar como expectadoras de seus bebês, pois pouco podem intervir organicamente para a melhora de seus filhos e, muitas vezes, devido aos procedimentos e instrumentos médicos necessários para salvar a vida de seus filhos, têm limitadas chances de acolher seus bebês nos braços, interagir com eles, mesmo quando é possível realizar o Método Mãe-Canguru (contato pele a pele entre mãe e bebê) com atenção humanizada ao recém-nascido.


    ⁶ WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. CID-11 para estatísticas de mortalidade e morbidade. Geneva: WHO, 2020.

    ⁷ WORD HEALTH ORGANIZATION. Preterm Birth. Disponível em: https://www.who.int/es/news-room/fact-sheets/detail/preterm-birth. Acesso em: 23 jul. 2023.

    ⁸ MOTTA, Eduardo V. da. A compreensão clínica e emocional da prematuridade: o olhar de um obstetra. In: RUAS, Teresa Cristina Brito (org.). Prematuridade extrema: olhares e experiências. Barueri: Minha Editora, 2017, p. 54-65.

    ⁹ WORD HEALTH ORGANIZATION, op. cit., 2023.

    ¹⁰ DATASUS. Painel de monitoramento de nascidos vivos. Disponível em: http://plataforma.saude.gov.br/natalidade/nascidos-vivos/2022. Acesso em: 23 jul. 2023.

    ¹¹ WORLD HEALTH ORGANIZATION et alBorn too soon: decade of action on preterm birth. World Health Organization, 2023.

    ¹² FONSECA, Luciana Mara Monti; SCOCHI, Carmen Gracinda Silvan. Cuidados com o bebê prematuro: orientações para a família. Ribeirão Preto: FIERP, 2012.

    ¹³ WORD HEALTH ORGANIZATION. Preterm Birth. Disponível em: https://www.who.int/es/news-room/fact-sheets/detail/preterm-birth. Acesso em: 23 jul. 2023.

    ¹⁴ MOTTA, Eduardo V da. A compreensão clínica e emocional da prematuridade: o olhar de um obstetra. In: RUAS, Teresa Cristina Brito (org.). Prematuridade extrema: olhares e experiências. Barueri: Minha Editora, 2017, p. 54-65.

    ¹⁵ RADES, Erica; BITTAR, Roberto Eduardo; ZUGAIB, Marcelo. Determinantes diretos do parto prematuro eletivo e os resultados neonatais. RBGO, v. 26, n. 8, p. 655-682, set. 2004. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-72032004000800010. Acesso em: 15 jul. 2018

    ¹⁶ MOTTA, op. cit.

    ¹⁷ REBUTINI, Patricia Zadorosnei et al. Association between COVID-19 pregnant women symptoms severity and placental morphologic features. Frontiers in Immunology, v. 12, maio 2021. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.3389/fimmu.2021.685919. Acesso em: 5 ago. 2022.

    ¹⁸ CONDE, Ana; FIGUEIREDO, Barbara. Ansiedade na gravidez: implicações para a saúde e desenvolvimento do bebê e mecanismos neurofisiológicos envolvidos. Acta Pediátrica Portuguesa, v. 1, n. 36, p. 41-49, 2005. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/4646. Acesso em: 18 maio 2018.

    ¹⁹ REICHERT, Altamira Pereira da Silva; LINS, Rilávia Naira Paiva; COLLET, Neusa. Humanização do cuidado da UTI neonatal. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 9, n. 1, 2007. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.5216/ree.v9i1.7148. Acesso em: 15 maio 2018.

    ²⁰ PICCOLI, Alana et al. Perfil clínico de neonatos de muito baixo peso internados em uma Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal. Clinical & Biomedical Research, v. 32, n. 4, 2012. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/31904. Acesso em: 25 jul. 2023.

    ²¹ Ibidem.

    2

    MATERNIDADE: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA

    Os temas da maternidade e do amor materno sempre foram alvo de estudos, pensamentos, especulação em diversas áreas do conhecimento, como a sociologia, a antropologia, a filosofia, a história, as ciências médicas e, inclusive, a psicanálise.

    Entre todos esses saberes, é consenso que a consagração da maternidade e do amor materno é um acontecimento relativamente recente na história ocidental, uma vez que recebeu influências de diversos discursos, como o filosófico, o médico e, em especial, o político a partir do século

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