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Educação escolar em busca de sentido: estudo de caso de uma escola fundamentada em Viktor Frankl
Educação escolar em busca de sentido: estudo de caso de uma escola fundamentada em Viktor Frankl
Educação escolar em busca de sentido: estudo de caso de uma escola fundamentada em Viktor Frankl
E-book193 páginas2 horas

Educação escolar em busca de sentido: estudo de caso de uma escola fundamentada em Viktor Frankl

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Sobre este e-book

Este livro teve como objetivo analisar as concepções e práticas de educação escolar em busca de sentido apresentadas por professores e gestores de uma escola fundamentada na Teoria de Viktor Frankl. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, com estudo de caso de uma escola ancorada na referida teoria. A investigação ocorreu em uma instituição educacional localizada na cidade de Ribeirão Preto-SP e as participantes foram quatro gestoras e cinco professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Como instrumentos foram elaborados dois roteiros de entrevista, um direcionado às gestoras e o outro às professoras. Houve entrevista gravada com as participantes, registros de observações não estruturadas em diário de campo e análise do plano escolar. Os principais resultados foram: as concepções que as entrevistadas têm de educação são fundamentadas na visão de pessoa ancorada na teoria de Viktor Frankl. As professoras e gestoras aplicam a Logoterapia e Análise Existencial por meio de ações que contribuem para a formação do educando em sua integralidade. A relação da equipe escolar com os alunos estimula a busca de sentido, o acolhimento, a inclusão, a tratar cada um como único. Também há boa integração da escola com os familiares visando o bom desenvolvimento dos estudantes.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de mar. de 2024
ISBN9786527018964
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    Educação escolar em busca de sentido - Maria Cláudia Agostinho Coelho

    CAPÍTULO 1 – LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL E EDUCAÇÃO ESCOLAR

    Fatos não determinam nada. O que importa é a atitude que tomamos diante deles (FRANKL, 2011, p. 171).

    Optei, no presente livro, por utilizar como cabedal teórico os estudos desenvolvidos por Viktor Frankl (1905-1997), pois considero que sua teoria, a Logoterapia e Análise Existencial, apresenta contribuições valiosas à educação com sentido, pois, de acordo com o referido autor, a educação deve portanto, guarnecer o homem com os meios para encontrar o sentido (FRANKL, 2011, p. 108).

    A Logoterapia e Análise Existencial, escola de Psicologia criada em 1938 com o intuito de atender às demandas da época, caracterizada por altos índices de suicídio na Europa, principalmente nos campos da psiquiatria e da neurologia, é denominada assim, pois se concentra no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por esse sentido (FRANKL, 2019, p. 124).

    O termo "logos" é grego e significa sentido. De acordo com Frankl (2019, p. 124), a Logoterapia, ou, como tem sido chamada por alguns autores, a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por esse sentido. Ou seja, não se prende ao passado, aos traumas, ao que já foi vivenciado, mas sim, ao que a vida espera de cada um, ao futuro.

    Porém, no caminhar da existência, essa vontade de sentido pode ser frustrada, abatida, o que na Logoterapia é chamado de vazio existencial, que pode permanecer oculto ou ser aparente manifestando-se por meio do tédio, da indiferença. Portanto,

    [...] sendo possível definir o tédio como uma falta de interesse e a indiferença como uma falta de iniciativa: falta ao homem de hoje em muitos aspectos um interesse autêntico pelo mundo, para não falar de ele tomar a iniciativa de, estando no mundo, transformar algo no mundo (FRANKL, 2012, p. 275).

    A terminologia "existencial" pode ser definida de três maneiras, de acordo com Frankl (2019, p. 126): referindo-se à existência humana; isto é, ao modo especificamente humano de ser; ao sentido da existência e à busca por um sentido concreto na existência pessoal, ou seja, a vontade e sentido.

    No mundo atual, com seus desdobramentos sociais, numa sociedade a qual visa ao sucesso a qualquer custo, ao consumismo, ao prazer e ao poder, o homem necessita, a todo o momento, tomar decisões, posições e isso, muitas vezes, não é uma tarefa fácil. Além disso, por vezes, o avanço da tecnologia priva as pessoas das relações sociais saudáveis; assim, o ser humano está cada vez mais solitário e, às vezes, não sabe o que almeja fazer e acaba desenvolvendo o que as outras pessoas fazem (conformismo), ou faz o que as outras pessoas gostariam que ele fizesse (totalitarismo), afetando, direta e principalmente, a educação. Frankl (1991, p. 19) ressalta a importância da reflexão sobre a educação e o momento histórico vivido:

    Vivemos numa época de tangível sentimento de falta de sentido. Importa, sobretudo em nosso tempo, que a educação não se limite a transferir conhecimento, mas também dedique seus cuidados ao refinamento da consciência, a fim de que o homem adquira acuidade suficiente para perceber em cada situação concreta o desafio da exigência nela presente.

    Pensar em uma educação humanizadora, integradora, com sentido, apenas seria possível na medida em que a escola pudesse incluir no currículo a questão do sentido da vida, dos valores, de uma formação de seres comprometidos com a vida e capazes de superar desafios e de fazer suas escolhas com liberdade e responsabilidade. Como um valor, a ética aponta sempre à liberdade e à responsabilidade da pessoa humana.

    Diante disso, é necessário resgatar esses valores, as tradições deixadas de lado, por tantos anos, nessa escola marcada pelo excesso de especializações e conteúdos compartimentados, enfadonha e sem sentido. Ressalto a necessidade de que seja trabalhado com os alunos o estabelecimento dos limites como um processo de compreensão e apreensão do outro, por meio do respeito, da ajuda mútua, pois não se pode satisfazer os próprios desejos sem pensar nos direitos do outro.

    Assim, de acordo com a Logoterapia, o sentido da vida pode ser encontrado por três meios, denominados como três categorias de valores que são aqui compreendidos como:

    1 - criando um trabalho ou praticando um ato;

    2 - experimentando algo ou encontrando alguém;

    3 - pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável (FRANKL, 2019, p. 135).

    A valorização da diversidade cultural seria fundamental para o incentivo da superação da intolerância. O gênero humano é a única espécie capaz de escolher, conviver com distinções, vislumbrando a unidade em harmonia com a multiplicidade.

    Para Frankl (2011), as pessoas estão conectadas numa teia de relações formando uma unidade, apesar da diversidade. A paz, assim como outros valores a serem conquistados, é uma condição necessária para ampliar a percepção do campo de liberdade e escolhas para prevenir as ações de intolerância.

    Portanto, as relações de ensino-aprendizagem devem ser promotoras da consciência para que o educando busque e encontre sentido no que aprende e na própria vida. Assim, o professor tem uma função primordial na vida de seus alunos; deve acreditar no potencial máximo deles e acolhê-los com carinho, respeito e amor; deve, também, ser um facilitador do aprendizado, ou seja, ser como um catalisador, que guia os alunos para fora, conduzindo-os, pois, até os valores que os ajudarão a descobrir a realização do sentido. É preciso orientá-los a fazer escolhas com sentido e a olhar cada aluno em sua individualidade. Vista dessa forma:

    [...] a educação não deve limitar-se a transmitir conhecimento, nem contentar-se com o repasse das tradições. Ela deve, sim, refinar a capacidade humana de encontrar aqueles sentidos únicos que não se deixam afetar pelo declínio dos valores universais. Essa capacidade humana de encontrar o sentido escondido por trás de cada situação singular é o que chamamos de consciência. A educação deve, portanto, guarnecer o homem com os meios para encontrar o sentido. Ora, em vez disso, o que muito se vê é que os sistemas escolares contribuem para o vácuo existencial. O sentimento de vazio e falta de sentido por parte dos estudantes é reforçado pelo modo reducionista por meio do qual as descobertas científicas são apresentadas. Os alunos são expostos a um processo de doutrinação que mescla os princípios de uma teoria mecanicista do ser humano a uma filosofia de vida relativista (FRANKL, 2011, p. 107-108).

    Por conseguinte, pretendo, com a presente obra, contribuir para uma reflexão junto aos educadores, gestores, coordenadores pedagógicos de como é necessário um novo olhar sobre a educação: deve-se educar para a capacidade de consciência, para a responsabilidade e para a capacidade de tomar decisões positivas colaborando, assim, para uma formação integral e humana dos alunos e alunas, auxiliando-os a descobrirem a sua missão pautada nos valores da transcendência, visando à construção de seres autônomos, participativos, éticos e que exercitem uma cidadania ativa.

    No presente capítulo, exponho uma breve história sobre Viktor Frankl, exibo conceitos relevantes da Logoterapia e Análise Existencial, pontuo contribuições de Viktor Frankl à educação escolar e, por fim, cito pesquisas sobre a teoria em questão no contexto da educação escolar.

    1.1 CONHECENDO UM POUCO A HISTÓRIA DE VIKTOR FRANKL

    Teoricamente, busquei apoio em Viktor Emil Frankl e, assim, considero relevante apresentar alguns dados sobre a vida dele os quais repercutem em sua teoria.

    Viktor Frankl nasceu em 26/03/1905, em Viena, capital da Áustria, em uma família judaica, sendo o terceiro filho de Elsa Lion e Gabriel Frankl. Ao longo de sua vida, manteve-se fiel a um dos grandes mandamentos da fé: honrar pai e mãe. Teve uma infância feliz, sem dificuldades financeiras e viveu num lar afetuoso e tranquilo. Desde criança, interessava-se por questões filosóficas como, por exemplo, aos quatro anos, tomou consciência da morte (AQUINO, 2013). Durante a Primeira Guerra Mundial, sua família passou por um período de penúria e fome; os alimentos eram racionados e chegou até a pedir pão nas casas de campo durante as férias em Pohrlitz (FREITAS, 2018). Aos 11 anos, Viktor saía de casa às três horas da manhã para ficar na fila do mercado para sua mãe conseguir comprar pão, inclusive no inverno, e depois ia à escola.

    Aos 16 anos, realizou sua primeira conferência com o tema O sentido da vida e publicou vários artigos científicos entre os anos de 1923 e 1925. Participou de aulas de Psicologia, tendo contato com Sigmund Freud e Adolf Adler, fundadores das principais correntes psicoterápicas da época: a Psicanálise e a Psicologia Individual, respectivamente (AQUINO et al., 2010).

    Em 1924, ingressou no curso de Medicina da Universidade de Viena; em 1926, utilizou pela primeira vez o termo Logoterapia, ao expressar questionamentos a respeito do sentido da vida em uma conferência em Viena e, nos anos seguintes, começou a trabalhar com jovens que necessitavam de ajuda psicológica e moral a fim de reduzir os altos índices de suicídios na Europa.

    Em 1930, concluiu a formação em Neurologia e começou a trabalhar em um hospital psiquiátrico. A partir de 1933, começou a falar de forma mais sistematizada e articulada sobre a Logoterapia (AQUINO et al., 2010).

    Em 1938, Hitler anunciou a anexação da Áustria à Alemanha e foi o início das perseguições raciais. Já em 1939, Frankl conseguiu visto para emigrar para os Estados Unidos, porém ficou angustiado e indeciso, pois teria que deixar seus pais. Ao sair do consulado americano, muito tumultuado naquele momento, Frankl foi à Catedral, localizada no centro de Viena, na tentativa de discernir sobre a dúvida existencial que pairava em seu coração: o amor a seus pais, ficando, assim, em Viena versus sua brilhante carreira em Nova York (AQUINO,

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