Soprando A Poeira Dos Versos
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Soprando A Poeira Dos Versos - Karen Dos Santos Cerutti
Nostalgia
- 2023
A flor sobre a mesa
Está murcha e sem beleza
A terra trincando de seca
A luz apagada
A música calada
Não há mais risos
Nem cantos
Nem contos.
A cabeça cabisbaixa
A feição desdeixa
Os cabelos grisalhos
A face desfigurada
A pele enrugada
A visão já turva
Nesta extensa varanda vazia
Aperta os olhos e sussurra sozinha.
Ali e só, vive da lembrança
Em uma cadeira ela balança
Tá tudo tão mudado
Canta uma canção
Para aquecer o coração
Ao qual se encontra tão cavo
Da saudade que a consome
Dos dias que gradativamente da mente se some.
A criançada brincava entretida
Levantava poeira do chão de terra batida
Aquelas crianças... Motivo de seu sorriso
Dona Tereza aos seus 30 anos
Bela jovem de pele macia e sem danos
Alegrava-se ao ouvir os risos
Na enorme varanda cantavam canções
E atentos ouviam os contos abundantes de emoções.
Muitos anos que se passaram
Mundo a fora aquelas crianças se lançaram
O destino deu-lhes outras prioridades
Seus sonhos, mais vastos que a vasta varanda
O tempo ingrato e cruel, sem tempo, com tanta demanda
As crianças agora adultas esqueceram suas origens
Não voltaram para regar a flor posta à mesa
Nem para dar um abraço em sua mãe Tereza.
Será que não se recordam dos cantos?
Será que não se recordam dos contos?
Nem dos risos que causavam tanta alegria?
Em sua cadeira de balanço, Tereza foi largada
Com sua coluna já envergada
Só um desejo de voltar ao passado
Para ver seus pequenos em uma brincadeira divertida
Levantando poeira do chão de terra batida.
Pequeno anjo
- 2023
Eram 06 da manhã
Ouvem-se berros e choros que chegam à entrada do pronto socorro.
Envolvido em um abraço afoito está
E é tão pequeno.
Escorrem pelos olhos a dor de uma mãe
Sua face desfigurada pelo desespero que já lhe consome o fio da força
Juntos ali o pai, a avó
E o irmão mais velho.
Tão pequeno embrulhado em lenções
Tais quais não são páreos para aquecê-lo
Nem este nem o calor efervescente dos braços que o trazem
Ouvem-se berros e choros que chegam à entrada do pronto socorro.
A família toda em pranto
Só ele tão pequeno, tão pálido, plainava
Seu silêncio todavia perturbador
Seus lábios cianóticos.
Não mais estava a alma em teu pequeno corpo
Fato tão mais claro quanto o dia que se iniciava
Dizem porem que a esperança é a última que morre
Esperança é o que a mãe agarrava forte
E que de forma alguma queria largar
Ouvem-se berros