É todo um ritual. Abre-se a terrina e um vapor olorante regozija-nos logo por antecipação. Depois, é sorver delicadamente cada colher como se fosse a última. Ramalho Ortigão chamava-lhe monumento nacional e equipava-a aos Jerónimos ou à custódia de Gil Vicente.
Um dos grandes mistérios da cozinha é decifrá-la como uma forma de linguagem. Uma maneira de expressar emoções e de comunicar. Quando pensamos em canja, só a palavra já é um poema que rescende. Tal como Eça o intuiu.
Uma canja bem-feita, com todos os matadores (algo cada vez mais raro, diga-se de passagem), cura-nos de todos os males. Se estamos abatidos, arrebita-nos e se estamos com frio, aquece-nos. Os nossos antepassados cedo o entenderam e, de novo, a sustentabilidade marca pontos na culinária, porque se aproveita tudo.
A água de cozer a galinha tem uma imensidão de nutrientes que remoçam uma alminha, em segundos. E é fácil de fazer. Daí a expressão “É canja!”. Mesmo assim, são poucos os que conseguem executá-la no ponto.
Para seguir, passo a passo, a confeção de