![f0114-01](https://article-imgs.scribdassets.com/37wq8psiyocov959/images/file78NTA66X.jpg)
Para ver e ouvir
![f00114-05](https://article-imgs.scribdassets.com/37wq8psiyocov959/images/fileAM47DE3V.jpg)
CACHAFRITO (Castelo de Vide)
É sempre comovente descortinar a história através dos sabores e gestos seculares que ainda hoje se repetem, como se a herança da memória, neste caso judaica, tivesse sido demasiado forte para ser esquecida.
Pratos como o “cachafrito” de borrrego, o “sarapatel”, o “cação com nozes” (receita do século XVII), fígado à moda de Castelo de Vide, “ratatau” (guisado de borrego com batatas) ou “sopa gata” são heranças da comunidade judaica que ainda hoje se confecionam e comem localmente.
Entre a brisa primaveril, deambulamos nas ruelas encantadas deste labirinto onde não nos perdemos porque ao lado temos um anfitrião muito especial, Carolino Tapadejo, “guardião” da Judiaria de Castelo de Vide, que nos conta o sofrimento por trás de cada fachada das casas aparentemente tão sedutoras. Uma estrela de David no chão marca o início da judiaria e a simbologia hermética gravada nas fachadas é-nos desvendada por Carolino, passo a passo. Dos ramos de oliveira deitados, a evocar a menorá, às cruzes gravadas pela Inquisição, tudo é um mundo a descortinar.
Castelo de Vide foi um dos locais de entrada das migrações de judeus provenientes de Leão e Castela, sabendo-se da existência de um núcleo já no século XIV.
Depois de 1496, houve algumas famílias que ficaram e se converteram, aparentemente, ao cristianismo, os chamados cristãos-novos. Por toda a região se revela visível património com marcas típicas judaicas.
Devido às violentas perseguições da Inquisição, os cristãos-novos deixaram de poder livremente matar animais por degola e começaram a aparar o sangue, em vez de o deitarem fora. Passaram, assim, a ter de criar pratos com as vísceras do animal e engendraram outras maneiras de se protegerem contra a impureza devido ao apertado controlo da Inquisição. Enchidos feitos de aves,