Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Candomblé da Bahia: Resistência e identidade de um povo de fé
Candomblé da Bahia: Resistência e identidade de um povo de fé
Candomblé da Bahia: Resistência e identidade de um povo de fé
E-book112 páginas1 hora

Candomblé da Bahia: Resistência e identidade de um povo de fé

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A intenção deste livro é somente apontar uma trilha, acender uma chama, apagar o medo e, com a licença e as bênçãos dos Orixás (santos, voduns, inquices, caboclos, encantados, anjos da guarda), abrir uma porta, uma fresta que seja, para a percepção, sem preconceitos, de um mundo diferente, mágico e real, rico e pouco conhecido, mesmo tão presente: a religião e o culto aos Orixás nos terreiros de candomblé da Bahia. Axé.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de abr. de 2020
ISBN9786586539073
Candomblé da Bahia: Resistência e identidade de um povo de fé

Relacionado a Candomblé da Bahia

Ebooks relacionados

Religião e Espiritualidade para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Candomblé da Bahia

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Candomblé da Bahia - José de Jesus Barreto

    Candomblé da Bahia por José de Jesus BarretoCandomblé da Bahia por José de Jesus Barreto

    Copyright © 2020 José de Jesus Barreto

    Copyright © 2020 Solisluna Design Editora

    Edição

    Enéas Guerra

    Valéria Pergentino

    Design e Editoração

    Valéria Pergentino

    Elaine Quirelli

    Capa e Ilustrações

    Enéas Guerra

    (ilustração da capa baseada em foto de Pierre Verger)

    Fotografias

    Isabel Gouvea

    Agradecimento especial

    Cida Nóbrega

    Revisão do texto

    Maria José Bacelar Guimarães

    E-ISBN

    978-65-86539-07-3

    Todos os direitos desta edição reservados à Solisluna Design Editora Ltda

    editora@solislunadesign.com.br

    www.solisluna.com.br

    Sumário

    PREFÁCIO

    A BAHIA

    O TRÁFICO

    A RELIGIÃO

    AS IRMANDADES

    O CANDOMBLÉ

    OS TERREIROS

    OS ORIXÁS

    SINCRETISMO

    AS FESTAS

    GLOSSÁRIO

    BIBLIOGRAFIA

    NOTAS

    Landmarks

    Cover

    Frontmatter

    Bibliography

    Glossary

    O ser humano é livre para abraçar qualquer crença. A fé não se impõe, nem se chega a ela pelo intelecto. Chega-se ao Orixá pelo coração.¹

    maria stella de azevedo santos

    Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá

    PREFÁCIO

    Da Bahia costuma-se dizer que o melhor está preservado nas histórias de vida de seu povo. São relatos de uma gente simples que nada têm a ver com os escritos oficiais. São casos recheados de crenças e certezas improváveis que retratam um jeito singular de ser e de viver.

    Narrativas como a de um moço trajado de branco que nunca esqueceu o som dos atabaques distantes que enchia de mistério as noites do Subúrbio Ferroviário de Salvador e sua alma de criança, nos anos 50 passados. O toque monótono e repetitivo do couro instigava sua curiosidade infantil e acalentava nele sonhos de um outro mundo, mágico, encantado. Maiorzinho, escapava da vigilância severa da mãe católica, desafiava o medo e seguia a trilha dos batuques que, de tempos em tempos, festejavam São Jorge, Santa Bárbara, Cosme e Damião, orixás e caboclos. Esticado, na ponta dos pés, o queixo na janela, espremido entre dezenas de outros meninos que esperavam a hora da distribuição da comida do santo, apreciava atônito aquele ritual, coração na boca, os olhos pequenos para registrar tudo o que acontecia naquela sala apertada, enfeitada de bandeirolas e folhas verdes, atulhada de gente de cor vestida de branco que falava e cantava numa linguagem incompreensível a seus ouvidos. A despeito do clima de festa – a dança, o canto, o ritmo, o chão batido coberto de areia fina e folhas de pitanga –, o tom era solene, de respeito, mesmo do lado de fora. Num canto da sala, num altar improvisado e colorido com papel celofane, ficavam entronizadas as imagens das divindades homenageadas. O santo pegou!, gritava alguém, enquanto os tocadores batiam mais forte nos atabaques e o burburinho se formava em torno de uma figura ou outra que girava com um ar esquisito, parecendo que ia cair. O medo cerrava os olhos da criançada que não achava pernas para sair do lugar, entorpecida e magnetizada pela energia que emanava, o bafo do calor e o cheiro de incenso exalando da sala repleta. O guri voltava para casa enfeitiçado e não conseguia dormir à noite, revendo as imagens, tentando compreender o incompreensível. Mas o coração repousava ciente de que alguma coisa de sagrado acontecera.

    Anos depois de uma formação católica rígida em colégio interno, aquele menino já adulto reencontrou-se por acaso com o mistério. Pra que vosmecê vai comer esse acarajé com pimenta no dia de hoje?, perguntou-lhe a baiana cheia de contas e balangandãs, uma negra gorda e lustrosa, daquelas de quem nunca se esquece a fisionomia, dona de um tabuleiro ao lado do Mercado Modelo, na cidade baixa da velha Salvador. Era tarde de verão de uma sexta-feira, algumas batidas de limão embaralhavam as ideias e a fome apertara. E por que não?, indagou o moço de volta, já afiando o pensamento para o debate. Em vão. Ela riu gostoso, mostrando os dentes alvos, olhou com maternal superioridade e religou (o termo religião vem daí, do latim re-ligare) a alma dele ao mistério, assim falando:

    – Meu filho, sua cabeça é de Oxalá, e Oxalá não come azeite e muito menos pimenta, ainda mais hoje, que é sexta-feira, dia dele. Senti seu santo logo que você chegou aqui perto. Deixe eu lhe dizer, não tome cachaça também, dia de hoje. Vista branco e acenda uma vela pra ele, seu pai, toda sexta.

    Perplexo, o moço curvou-se para pedir a bênção e, de quebra, ganhou um belo colar de contas brancas que ela retirou do pescoço e passou sobre a cabeça dele, ajeitando-o no pescoço sob a camisa. Passou a fome, o efeito da cachaça, e ele foi para casa matutando no acontecido.

    Decidido a tirar aquela revelação a limpo, andou consultando mães e pais de santo que jogavam e liam a mesma mensagem nos búzios: Oxalá o protegia. Era como se uma porta lhe tivesse sido aberta, como se dentro dele acendesse uma luz. E, mesmo sem nunca ter se entregado aos ritos da iniciação, só por estar ciente de que uma divindade regia sua cabeça foi o bastante para se sentir em paz, protegido, abrigado no traje branco de todo dia.

    ***

    A pretensão deste trabalho é tão somente apontar uma trilha, acender uma chama, apagar o medo e, com a licença e as bênçãos dos Orixás (santos, voduns, inquices, caboclos, encantados, anjos da guarda), abrir uma porta, uma fresta que seja, para a percepção, sem preconceitos, de um mundo diferente, mágico e real, rico e pouco conhecido, mesmo tão presente: a religião e o culto aos Orixás nos terreiros de candomblé da Bahia. Axé.

    Este trabalho é dedicado ao povo de santo da Bahia.

    A BAHIA

    Berço de uma nova nação, misturada e única

    Poucos conseguiram retratar em palavras a alma baiana como o escritor Jorge Amado. Em 1983, por ocasião de uma conferência sobre a cultura e a

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1