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Perigosa Convivência
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E-book289 páginas4 horas

Perigosa Convivência

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Sobre este e-book

Por mais que tentasse, Kendra Clayton, vinte e oito anos, jamais morou fora de sua cidade natal Willow, Ohio. Agora ela trabalha em meio período como instrutora em um centro de letramento para adultos e complementa sua renda como recepcionista no restaurante de seu tio, onde tem contato com as fofocas locais. É uma vida tranquila, mas Kendra não perde as esperanças de que um dia o homem certo virá até sua porta. Enquanto isso, seu tédio sonolento está prestes a ser despertado brutalmente, e Kendra vai passar por algo emocionante _ mas não é o que ela tinha em mente.

Quando o namorado de sua amiga Bernie, um grande cafageste, é brutalmente assassinado, tanto ela como Kendra estão envolvidas no crime. O único jeito de Kendra salvas a si mesma _ e a amiga que ela acredita ser inocente _ é fazer suas próprias investigações. E quanto mais ela investiga, mais suspeitos encontra.

Jordan era um homem que as mulheres amavam e odiavam _ normalmente ao mesmo tempo. Agora alguém havia passado dos limites. Mas entre as conquistas de Jordan no passado e no presene _ e uma série de contas bancárias esvaziadas e corações cheios de vingança _ quem poderia ter cometido o assassinato? Enquanto a curiosidade de Kendra a leva cada vez mais fundo no caso, ela também sente uma atração inesperada por um homem que pode ter a chave para esse quebra-cabeça _ se ela conseguir sobreviver para resolver o crime.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento29 de abr. de 2016
ISBN9781507138816
Perigosa Convivência

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    Perigosa Convivência - Angela Henry

    PRÓLOGO

    ––––––––

    Jordan Wallace estacionou em frente ao muro da casa e desligou o carro. Ele checou o retrovisor. Com exceção da sutil entrada em seu cabelo, ele gostou do que viu. Você ainda tem charme, ele disse para seu reflexo e silenciosamente agradeceu o lado da família de sua mãe pela sua boa aparência. Ele tirou a anotação de dentro do bolso de sua camisa e a leu novamente.

    Talvez, a minha sorte esteja mudando, ele sussurrou. Olhou para a casa e o carro vermelho na estrada. É melhor a vadia estar em casa, ele pensou com um sorriso de satisfação. Ele sabia que ela pensaria dessa forma. Ele sempre conseguia o que queria... às vezes. Ele também  sabia o que esse encontro poderia significar. Se funcionasse, ele não teria que bajular ninguém de novo... bem, ao menos não por muito tempo. Ele precisou agradar Bernie para que ela o deixasse usar o carro enquanto o dele estava na oficina. Ele precisava concordar que viria àquele maldito programa de reconhecimento naquela tarde. Ele também teve de fazer uma promessa que naquele momento estava quebrando.

    Ele precisava ser ainda mais agradável com Bernie naquela noite. Talvez até mesmo se mudar do quarto de hóspede para a suíte principal. Afinal, alguém deveria pagar pelos reparos de seu carro porque ele estava completamente sem grana. Ele começou a ficar nervoso novamente quando pensou na maneira como seu carro foi riscado. Ele sabia quem tinha feito e ia dar um jeito nisso depois.

    Ele saiu do carro e olhou em volta logo antes de caminhar pela estrada. Tocou a campainha da porta e esperou por alguns minutos. Não houve resposta. Ele sentiu sua raiva aumentando.

    Eu não tenho tempo para essa besteira! ele sibilou depois de tocar a campainha pela segunda e terceira vez. Segurou as mãos e olhou dentro de uma das pequenas janelas que corriam ao longo de ambos os lados da porta. Aquilo que ele detectou foi um movimento? Estava tão escuro lá dentro. Por que ela estava com as cortinas fechadas? Jordan buscou no bolso de suas calças a chave para a porta da frente. Bernie teria um ataque se soubesse que ele ainda tinha aquela chave. Mas se esse encontro corresse bem, ele poderia beijá-la, e a essa cidade—e a todos os problemas que ele teve desde que chegou aqui­—diria adeus em breve. Ainda assim, não seria inteligente acabar com tudo. Ele sorriu com o pensamento e deixou-se entrar na casa escura.

    Um

    ––––––––

    Eu, Kendra Clayton, sou uma pessoa muito tranquila. Mellow é meu nome do meio. Na verdade, Janelle é meu nome do meio. Mas você entendeu. Eu nunca fui o tipo de pessoa que se deixa incomodar por muitas coisas. Mas até uma pessoa despreocupada como eu tem um limite. Depois de esperar por mais de uma hora em um estacionamento vazio no meio da noite, eu o alcancei. Além disso, meus pés estavam me matando, e você sabe que quando se sente dor, tudo dói. Olhei para a minha amiga Bernie e vi que que seu lábio inferior estava empurrado para fora e seus olhos se estreitavam em uma expressão que era um cruzamento entre uma careta e uma carranca. Para dizer a verdade, não era a sua expressão mais amigável. E se eu não estivesse tão incomodada, eu diria para ela nunca mais fazer essa cara de novo. Eu finalmente cheguei a um ponto em que a paciência e o bom senso estavam em uma difícil batalha. Depois de me dizer que ela queria esperar mais dez minutos, minha paciência acabou como se rapidamente evaporasse pelo ar da noite.

    Isso é ridículo, eu suspirei exasperada.  Vou levar você para casa.

    Mas, ela começou a dizer antes de eu levantar minha mão para silenciá-la.

    Nem em dez minutos ou dez segundos, agora. Está ficando tarde e eu estou cansada. Então entre no carro! Como eu disse, raramente fico incomodada assim, mas ser feita de tola e estar cansada foi um belo jeito de atrapalhar a minha disposição.

    Bem, então está bem, se você tem certeza que não é muito fora do seu caminho, ela disse delicadamente enquanto abriu a porta do meu carro e entrou.

    Era fora do meu caminho. Bernie morava do outro lado da cidade. Mas eu não iria deixá-la continuar esperando no escuro para seu namorado apanhá-la quando há horas já era óbvio que o idiota não viria.

    Eu realmente agradeço, Kendra. Eu não sei o que pode ter acontecido ao Jordan essa noite. Ele pegou meu carro. O dele está na oficina, ela completou rapidamente, no caso de eu pensar que ele usava o carro dela quando quisesse, assim como a casa dela e o dinheiro dela, os quais eu já sabia que ele usava.

    Eu o telefonei várias vezes, e ele não atende. Espero que não tenha acontecido nada. Sua voz era quase de choro.

    Eu tinha uma boa ideia de onde Jordan estava: vagando por aí. Mas eu não falaria minha opinião para Bernie. Bernice Gibson foi minha parceira de trabalho no Centro Clark de Letramento pelos últimos três anos. Sou uma instrutora junto ao programa do curso supletivo e Bernie é a tutora do centro e coordenadora.

    Essa noite, ocorreu o programa de reconhecimento anual do centro de letramento em honra a todos os formandos do curso supletivo desse ano e todos os estudantes que trabalharam duro durante todo o ano. A cerimônia foi agradável. Logo após a recepção eu percebi que havia algo incomodando Bernie. Em primeiro lugar, ela não comeu, o que definitivamente não era normal para ela. Bernie e eu compartilhamos o amor pela comida, principalmente com doces. A maioria das vezes em que estamos juntas é no Estelle’s, o restaurante de meu tio Alex, ou na casa de uma de nós experimentando alguma nova receita.

    Aquele último pedaço de bolo de cenoura está chamando você. É melhor você pegá-lo antes que alguém o faça. Eu disse a ela.

    Oh, eu vou, ela disse vagamente enquanto olhava ao redor na sala.

    Quem você está procurando?

    Jordan disse que viria hoje. Achei que ele já estaria aqui a essa hora.

    Tenho certeza que ele não deixaria de vir por nada, eu disse. Mas eu não consegui controlar o sarcasmo em minha voz porque Bernie me deu um de seus olhares que significam ‘não comece a falar do Jordan’ e saiu andando.

    Bernie e eu nos damos muito bem, a menos quando se trata de Jordan. Não é que eu tenha ciúmes. É só que eu odeio ver uma mulher tão boa quando Bernie sendo enganada por um idiota escorregadio como o Jordan. Jordan Wallace chegou a Willow, Ohio, um pouco mais de dez anos atrás. Bernie o conheceu quando ele começou a alugar a casa que ela possuía e onde ela morou antes de ir viver com sua mãe doente.

    Tudo a respeito dele é um pouco extremo demais para mim. Ele é extremamente gentil, de um jeito bajulador, extremamente bem vestido, extremamente charmoso, e extremamente pretensioso. Ele não parece ter um trabalho também. Bernie diz que é um consultor de negócios autônomo. Eu não acredito nisso nem por um minuto. Pelo que eu vi, o único negócio em que Jordan parece estar envolvido é usar sua boa aparência e charme para conseguir o que ele quer das mulheres.

    Bernie e eu fomos no carro em silêncio. Decidi evitar qualquer menção a Jordan.

    Eu achei que a Regina fez um belo discurso essa noite, não acha? Perguntei, tentando puxar assunto.

    Ela fez sim, com certeza. Bernie concordou. Sou orgulhosa daquela garota, ela disse com o primeiro sorriso verdadeiro que eu vi naquela noite.

    Regina é uma aluna do programa de curso supletivo. Ela mal conseguia ler quando começou a vir ao centro de alfabetização, aos dezoito anos. Agora, dois anos depois, após muito trabalho duro e ajuda de Bernie, que é sua tutora, ela está em nível de leitura de colegial e está prestes a fazer o teste final do curso supletivo. O discurso que ela deu no programa dessa noite foi a respeito de como a sua autoestima e sua autoconfiança se elevaram junto a sua capacidade de leitura. Foi tão comovente que quase todos os olhos estavam lacrimejantes na casa. 

    Comecei a comentar sobre o trabalho maravilhoso que os organizadores fizeram na recepção, quando de repente um carro surgiu de uma rua lateral e cortou à minha direita, chegando a poucos centímetros de bater no meu carro. Eu afundei o pé no freio. Bernie e eu fomos jogadas para frente em nossos assentos. Instintivamente joguei meu braço atravessando o peito de Bernie. Eu não sei por que as pessoas fazem isso. Não é como se fosse evitar que a pessoa voasse através do parabrisa se o impacto fosse grande o bastante. Olhei a tempo de ver um carro cheio de adolescentes, rap tocando bem alto, e acelerou rua abaixo.

    Eu juro que essas malditas crianças vão matar alguém um dia! Meu coração estava batendo tão rápido que eu achei que ia pular fora do meu peito.

    Olhei para Bernie. O sorriso que estava em seu rosto foi embora e foi substituído por um tenso olhar.

    Olha, estou cheia dessa merda! ela disse de repente. Eu estava chocada. Eu raramente via Bernie xingar.

    Eu sei o que você quer dizer. Essas crianças dirigem como uns idiotas.

    Não, não estou falando disso, ela disse fazendo um gesto de desdém com sua mão. Estou falando de Jordan.

    Agora eu estava realmente chocada. Por mais que Jordan tratasse Bernie mal às vezes, eu nunca a ouvi dizer alguma coisa negativa sobre ele.

    Você sabe que essa não é a primeira vez que ele faz isso comigo, Kendra, ela continuou a dizer, com raiva.

    Eu sabia muito bem quantas vezes Jordan desapontou Bernie e eu a consolei. Decidi ficar calada e a deixei desabafar.

    E eu também sei onde ele está: com aquela vadiazinha que aluga minha casa!

    Então ela de fato sabia sobre Jordan e Vanessa Brumsfield.  Eu sempre me perguntei como ela poderia não saber quando parecia que todo mundo na cidade sabia. Vanessa Brumsfield é uma pequena morena que começou a alugar a casa de Bernie logo depois de Jordan_ que com a insistência de Bernie_ começou a morar com ela. A mãe de Bernie deixou a casa da família e uma grande soma de dinheiro quando morreu. Bernie nunca vendeu sua casa e a utilizou como propriedade para aluguel.

    Eu me lembrava de Vanessa desde o colegial. Ela havia sido uma daquelas garotas repulsivamente falantes que esteve envolvida em tudo desde o clube de teatro até animadora de torcida. Eu me lembro de ouvir boatos que o pai de Vanessa a deserdou quando ela se casou com um homem negro. Vanessa está agora separada do marido, é por isso que está alugando a casa de Bernie.

    Kendra, você me faria um favor e me levaria a minha casa antiga? Bernie perguntou.

    Eu senti cheiro de confusão e não estava a fim de entrar no meio dela. Eu tive uma repentina imagem mental de duas mulheres adultas enroladas lutando no jardim enquanto Jordan permanece em pé com seu sorriso de dentes de tubarão. Não parecia normal alguém ter tantos dentes.

    Escute, Bernie, por que você não vai para casa e se acalma primeiro antes de confrontar alguém? Ele pode nem estar lá. Ela me olhou como se eu tivesse enlouquecido. 

    Eu não vou confrontar ninguém! Tudo que eu quero é meu carro. Ela pode ficar com Jordan, e ela pode arrastá-lo por aí até que seu carro saia da oficina!

    Eu não pude deixar de me perguntar o que causou essa repentina mudança de opinião. Ter quase voado pelo parabrisa há um segundo a teria feito iluminar a mente?  Mas de alguma forma, eu duvidava disso.

    O que está acontecendo? Primeiro você está quase chorando porque ele não apareceu, agora você está pronta para chutar a bunda dele, e tudo dentro de meia hora. Dei uma olhada para Bernie. Ela estava torcendo a tira de couro em sua bolsa como se quisesse espremer dali uma boa resposta para a minha questão.

    Apenas estou cansada de me sentir uma tola, é só isso. Desde que ele se mudou, as coisas têm ido ladeira abaixo entre nós. Ele pede dinheiro emprestado para mim a torto e a direito, ele não levanta um dedo para se explicar, e ele espera que eu fique esperando por ele!

    Eu estava me segurando para dizer Eu avisei. Mas eu podia ver o quão triste ela estava e não queria cutucá-la quando ela estava tão para baixo, então mantive a boca calada. 

    Eu sei o quanto você odeia Jordan, e não estou a fim de ouvir ‘Eu avisei’, como se estivesse lendo meus pensamentos. Eu esperava que as coisas fossem ficar melhores, mas não ficaram. Eu descobri há duas semanas que ele está andando com a garota que aluga a minha casa. Eu deveria saber que algo estava acontecendo quando ele começou a se oferecer para ir lá e pegar o aluguel. A primeira vez que eu pedi que ele fizesse isso, reagiu e me disse que só faria isso uma vez porque ele não era um maldito garoto de recado. Depois disso, ele estava sempre por lá toda vez que ela tinha algum probleminha com qualquer coisa, o que acontecia o tempo todo. Agora eu sei o que realmente está havendo!

    Acho que isso ocorreu para o bem, Bernie, Eu disse a ela. Eu apenas estou surpresa como você o suportou por tanto tempo. Eu o teria mandado fazer as malas muito antes! Eu não teria me envolvido com ele em primeiro lugar. Mas senti que era melhor manter isso para mim mesma.

    A mente de Bernie estava dando voltas tão rápidas que achei que sua cabeça sairia de seu pescoço.

    Bem quando você alcança a minha idade e você tenta se agarrar a algo porque está cansada de ficar sozinha, veremos o quanto você está disposta a suportar! Ela lançou um olhar para mim.

    Agora era a minha vez de olhar para ela como se ela estivesse louca. Nunca parou de me impressionar a maneira como o medo da solidão faz com que mulheres perfeitamente sãs aguentem situações que elas nunca tolerariam em suas vidas. Bernie era mais velha que eu, e eu sempre olhei para ela como a mais velha e mais sábia irmã que eu nunca tive. Eu sabia que a morte de sua mãe três anos atrás e a morte repentina de seu irmão, Ben, ano passado a devastaram. Mas eu não tinha ideia do quão vulnerável ela se tornou.

    Bernie, me desculpe. Eu não quis ofender você. É só que eu sempre achei que você merece algo melhor que o Jordan, eu disse, tentando aliviar a tensão que de repente surgiu entre nós.

    Não, eu que peço desculpas. Eu não deveria ter exagerado daquela maneira, ela disse, sorrindo para mim. Dei um suspiro de alívio. 

    Apenas me leve para lá. Eu sei que ele está lá com ela. Eu tenho um conjunto de chaves extra. Eu só vou pegar meu carro e ir embora. Acredite em mim, essa é a gota d’água, e eu não tenho nada mais a dizer para o homem. Se ele não estiver lá, você pode me levar para casa.

    Tudo bem, mas só se você tiver certeza que ficará bem.

    Ficarei bem.

    Eu fiz uma curva à direita na esquina e segui para a Rua dos Arqueiros onde Bernie costumava morar. Eu estava aliviada por não ter que dirigir todo o caminho em direção ao lado norte da cidade e depois voltar. De repente, me lembrei de como estava cansada.

    A Rua dos Arqueiros era em uma vizinhança quieta, a rua possuía faixa dupla em uma mão e faixa simples na outra, era de classe média baixa com uma mistura de casas bem cuidadas de um ou dois andares, que foram construídas nos anos quarenta. A casa de Bernie era pequena, com tijolos à vista ao estilo de fazenda, ao final do quarteirão.

    Enquanto nos aproximamos da casa, eu pude ver o Lexus azul de Bernie estacionado em frente. Um Mustang vermelho conversível que eu supus ser de Vanessa estava estacionado na rua. Eu não podia ver luzes ligadas em frente à casa. Concluí que estavam em algum lugar no fundo, como no quarto. Estacionei ao lado do carro de Bernie. Pude notar que apesar do que disse, Bernie estava muito chateada por encontrar o carro dela aqui.

    Eu sabia que ele estaria aqui, ela disse com a voz tremendo e com lágrimas.

    Eu me pergunto, quanto tempo vai demorar até ele perceber que o carro não está aqui? Perguntei.

    Oh, tenho certeza que vai demorar um pouco. Imagino que eles estão muito ocupados no momento, ela disse amargamente.

    Você deveria fazer um registro de que seu carro foi roubado. Isso ensinaria a ele uma lição, Eu disse, meio brincando, tentando melhorar o clima.

    Sim, seria ótimo ver a arrogância dele detrás das grades. Ele nem ao menos vale o esforço. Ela saiu do carro, as chaves em mãos. Obrigada, Kendra. Ligarei para você no fim de semana, e talvez possamos jantar juntas ou algo assim.

    Ligue mais tarde se você quiser conversar.

    Uma chuva leve começou a cair, dando à rua uma aparência brilhosa sob as luzes dos postes. Enquanto eu dirigia indo embora, olhei no retrovisor e vi Bernie em pé ao lado de seu carro olhando para a casa. Bernie, entre logo no carro e vá para casa, eu sussurrei alto. Talvez a ajudaria a lidar melhor com a traição de Jordan se ela o confrontasse. Tudo que eu sabia é que eu estava pronta para ir para casa. Eu estava cansada e a visão de um banho quente e vinho se apoderaram de meus pensamentos enquanto fiz a curva no quarteirão.

    Minha mente deveria estar menos em casa e mais na rua porque precisei frear, evitando colidir com um garoto em uma bicicleta que veio pedalando de um beco entre a Rua dos Arqueiros e a Avenida do Córrego. Vi de relance um boné preto de baseball e um poncho de chuva fluorescente laranja. Eu não pude ver o rosto dele porque ele estava curvado para baixo por cima do guidão de sua bicicleta. Observei o garoto sair como um tiro através da rua de volta ao beco do outro lado. Provavelmente com pressa para voltar para casa em que ele pertencia. Dois acidentes quase aconteceram em uma noite, isso já era suficiente para mim. Era hora de ir para casa.

    Eu moro em cerca de cinco quarteirões de distância da Rua dos Arqueiros em um duplex em Dorset. Às vezes fico surpresa por ainda morar nessa cidade. Quando eu era criança, tinha tanta certeza de que teria uma vida excitante em uma cidade importante longe de Willow, cuja população é de seis mil. Não parece que isso vai acontecer. Dez anos depois do colegial, ainda estou aqui. O único momento em que vivi em algum lugar além de Willow foi quando eu estava no estado de Ohio obtendo meu diploma de licenciatura em inglês. Depois da formatura, me mudei de volta para casa com grandes esperanças e comecei a enviar currículos. Entretanto, os empregos de professora eram raros. Comecei a trabalhar como recepcionista no restaurante de meu tio Alex. Depois de muitos meses _ muitos para fazer as contas _ eu finalmente encontrei um cargo para ensinar inglês no colegial de uma das escolas locais. O trabalho não era compensador. Eu passei mais tempo disciplinando adolescentes que se achavam espertos e que supunham saber tudo do que passei ensinando. Depois de um ano, perdi meu emprego devido ao corte de gastos. Então, voltei a ser recepcionista, que eu na verdade, gostava mais.

    Bernie ia frequentemente no restaurante de meu tio. Nós sempre conversávamos quando ela chegava. Foi assim que descobri que o centro de letramento em que ela trabalhava possuía uma vaga para instrutor em seu programa de ensino supletivo. Eu consegui o emprego e permaneci lá desde então. Descobri que lidar com adultos é muito recompensador. É ótimo ensinar pessoas que querem aprender e que vieram à aula, em muitos casos, porque eles querem estar lá e não porque eles têm que estar.

    Além disso, não preciso dizer que não tiramos proveito dos casos especiais. Por exemplo, havia uma mulher que usava apenas canetinhas porque ela estava convencida de que usar um lápis lhe causaria envenenamento por chumbo, ou o homem que escrevia tudo em código secreto para ninguém o copiasse. Meu período no centro de letramento foi uma experiência que abriu meus olhos. É uma pena que o trabalho não seja em tempo integral. Eu complemento minha renda trabalhando como recepcionista no restaurante de meu tio.

    Estacionei em frente ao duplex e percebi que a senhora Carson, a mulher de quem eu alugo o imóvel, estava sentada na varanda como era seu hábito todas as noites. A senhora Carson é amiga de minha avó, o que tem suas vantagens, uma delas é um bom acordo no aluguel. Claro, o lado negativo é que minha avó, graças à senhora Carson, sempre parece saber o que eu faço _ seja a hora que eu acordo de manhã, o que chegou para mim no correio, ou quem passou a noite comigo, o que não acontece há um bom tempo. Minha avó normalmente sabe tudo e não hesita em comentar. Não que ela venha direto me dizer o que sabe. Ela normalmente deixa escapar em uma conversa casual. Claro, eu nunca poderia questioná-la sobre como ela sabe tanto a respeito da minha vida. Eu sei que é apenas o jeito de ela cuidar de mim para meus pais, que se mudaram para a Flórida depois que meu pai obteve a aposentadoria prematuramente em seu trabalho há dois anos.

    Eu esperava subir os degraus até meu apartamento com apenas um simples olá antes que a senhora Carson pudesse me parar e me contar sobre sua nova coleção de doenças, imaginárias ou não.

    ’Noite, Kendra.

    Olá, senhora Carson. Como está essa noite?

    Oh, não posso reclamar muito, além d’a minha artrite estar reagindo com a chuva e tudo mais, ela disse esfregando o joelho. Minha pressão sanguínea está alta também. Você sabe que um derrame foi o que levou minha mãe há anos atrás. Provavelmente irei da mesma maneira. Ela estava vestida em seu habitual vestido despojado e chinelos desbotados. Seu cabelo grisalho grosso estava trançado formando uma coroa no topo de sua cabeça. Mesmo em seus setenta anos, sua pele de chocolate,

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