Nas garras do pecado

De Breno Lennox

Vale a pena cometer um pecado em nome de um bem maior?

Para juntar dinheiro e se casar com sua amada, um rapaz religioso começa a trabalhar como jardineiro para uma rica viúva sem saber que o emprego é apenas uma artimanha para a mulher satisfazer uma fantasia secreta.

• Idioma: Português
• Editora: 101 Seleções
• Data de lançamento: 15 de fev. de 2021

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Parte 1 – Bernardo, o penitente

― Não vale a pena cometer um pecado em nome de um bem maior? – pergunta Bernardo, sorrindo sem graça.

― Mas... Três vezes? – pergunta padre Raimundo, pegando uma caixa de lenços.

Bernardo abaixa a cabeça. Ele é negro e tem 19 anos. Alto e esguio, é o rapaz mais bonito de Campo Limpo. O rosto de galãzinho de novela comprova isso. Ele está sentado diante da mesa do padre Raimundo, pároco da Paróquia de Santo Antônio, um homem de 63 anos que tem os cabelos pintados de acaju. É branco feito leite, mas seu rosto é rosado, como se usasse maquiagem.

Padre Raimundo tira um lenço da caixa e começa a limpar as mãos.

― Por que, filho? Por que três vezes?

― É a minha namorada, padre. Ela é pura tentação. Ela só me chama pra ir vê-la quando a mãe dela sai. Já pedi pra ela parar. Falei sobre o inferno. Mas... – Bernardo sente um nó na garganta – mas ela não me escuta. Pra aliviar a tensão e não cometer um pecado grave, eu tive que fazer o que eu fiz. Me perdoe.

Padre Raimundo joga o lenço no cestinho de lixo e coloca os cotovelos sobre a mesa e apoia o queixo sobre os dedos entrelaçados.

― Você tem que ser mais forte, filho. Não vê que o caminho do homem puro é cheio de provações? Eu até louvo a sua força em rejeitar o ato sexual antes do casamento, mas o que você fez no banheiro não deixa de ser grave.

Novamente, o padre tira um lenço da caixa e começa a limpar as mãos.

― Quer se salvar?

― Sim, padre.

― Quer a vida eterna no paraíso?

― Quero.

― NÃO PARECE! – grita o padre, amassando o lenço – parece que você quer é mais queimar no mármore do inferno.

― Não, eu não quero – responde Bernardo, entrando em desespero.

― Quer sim, filho, você quer queimar no fogo do inferno, sim. É isso o que acontece com quem se masturba três vezes em uma semana. Você pecou. Pecou feio.

― Eu sou fraco – diz Bernardo, chorando.

Padre Raimundo pega a caixa com lenços e levanta-se. Dá a volta na mesa e aproxima-se de Bernardo e lhe oferece a caixa. O rapaz pega um lenço e enxuga os olhos. Padre Raimundo começa a acariciar a cabeça raspada de seu penitente. Com a voz serena, ele diz:

― Cada vez que você se entrega à tentação, você fica mais fraco. E o diabo gosta dos fracos. Quanto mais fraco você ficar, mais o diabo vai lhe tentar e mais pecados você vai cometer, e quanto mais pecados você cometer, mais longe de Deus você ficará. Então chegará um dia em que você pode até pensar que pecar não é algo assim tão ruim e que, pelo contrário, é algo bom e prazeroso. Até pode ser, mas há um probleminha. Sabe qual é? O problema do pecado é que, cedo ou tarde, o diabo cobra a fatura.

Neste instante, Bernardo escuta o sino da igreja bater três horas:

BLÉIMMMM!

BLÉIMMMM!

BLÉIMMMM!

Padre Raimundo dá a absolvição para Bernardo e pede que ele reze dez Pai Nosso e vinte Ave Maria quando chegar em casa.

Antes de ir embora, Bernardo tira a carteira de trabalho do bolso.

— Padre, será que o senhor poderia benzer a minha carteira? – pede o