Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Sequestro
O Sequestro
O Sequestro
E-book474 páginas6 horas

O Sequestro

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Brooklyn Parrish, uma socialite de Denver, parece ter uma vida maravilhosa até se tornar vítima de um roubo de carro que dá errado. Em apenas alguns minutos, sua vida é alterada para sempre. Ela é levada e mantida em cativeiro num local remoto da montanha, ficando lá vários dias em poder de três homens bastante violentos. Por fim, consegue fugir, mas acaba descalça, quase nua e perdida na gelada floresta do Colorado justamente no início do brutal inverno. Seu tormento parece não ter fim...

Intenso, este romance não é para os fracos de coração. Ele rapidamente leva os leitores a um frenesi que os manterá virando as páginas na ânsia de saber o que acontece em seguida. Inclui, ainda, um bônus: O Final Alternativo, que recomeça no capítulo 49 e leva o final da história numa direção totalmente diferente da apresentada originalmente.

IdiomaPortuguês
EditoraWodke
Data de lançamento28 de abr. de 2018
ISBN9781547524471
O Sequestro

Relacionado a O Sequestro

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de O Sequestro

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Sequestro - Wodke Hawkinson

    Caro leitor,

    Quando escrevemos O Sequestro, consideramos vários finais para o livro. No entanto, os personagens pareciam ter vida própria, e a história continuava virando na direção do romantismo, embora possamos ver claramente outros caminhos por onde poderíamos levar a trama.

    Em O Sequestro – Final Alternativo, iniciado no Capítulo 49, conduzimos a história numa nova direção. Como autores, foi intrigante para nós fazer nossos personagens viverem uma experiência completamente diferente daquela apresentada no original. Esperamos que você goste de ambas as versões.

    O Final Alternativo é dedicado a Randy N., pela ideia de dar um desfecho diferente para uma história existente.

    ~Wodke Hawkinson

    Agradecimentos

    Agradecemos nossos cônjuges e familiares

    pelo apoio e incentivo

    Sozinho olhando para a montanha

    Todos os pássaros voaram, foram embora;

    Uma nuvem solitária flutua tranquilamente.

    Nunca nos cansamos de olhar um pro outro

    Somente a montanha e eu.

    -Li Po

    Capítulo 1

    Ao entrar na garagem com seis carros, Brook pegou as chaves do Cayenne Turbo S. Com seus 520 cavalos de potência, ele era capaz de lidar até mesmo com as condições mais extremas. Clark sempre insistiu para que Brook o conduzisse no inverno. Mas hoje, no entanto, colocou a mão sobre a dela para impedir que ela pegasse as chaves.

    Por que não dirige a Ferrari? Esta pode ser a última oportunidade do ano para sair com ela. Ele sorriu e beijou sua bochecha, enquanto pegava as chaves do Spyker D8. Jogou a maleta pela porta traseira, deslizou pelo banco do motorista e apertou o controle do portão da garagem. Mandando um beijo para Brook, ele se foi naquele final de manhã outonal.

    Brook pegou as chaves do Spider, entrou no luxuoso interior, inseriu o endereço de destino no GPS e partiu. Movendo-se pela rua, atravessou mansões de milhões de dólares que ficavam em dois ou três hectares de terra bem cuidada. Saiu do condomínio, balançando a cabeça para Jerry na guarita. Ele acenou e sorriu. Brook o viu se curvar para registrar a hora da saída e o veículo que dirigia. A segurança no Pinion Plateau usava tecnologia de ponta. Ninguém entrava ou saía sem que sua presença fosse notada.

    A brisa carregava a ameaça da neve iminente, enquanto Brook abria caminho pela cidade. Eles já tinham passado por algumas pequenas nevascas, mas, por enquanto, as estradas estavam livres, e o Spider se movia tranquilamente, era apenas um pequeno sinal vermelho no visor do radar. Clark estava certo, o dia estava bonito, e Brook desfrutava da brilhante luz do sol matutino que se inclinava pelo para-brisa enquanto cuidava de seus afazeres.

    Ela sabia que a primeira grande nevasca não tardaria e que, então, dirigir se tornaria uma tarefa difícil, isso se a cidade não fechasse completamente. As previsões anunciavam uma verdadeira tormenta.

    No prompt do GPS, ela sinalizou uma curva à direita e pegou um percurso pouco familiar da estrada. A Ferrari era tão receptiva sob suas mãos quanto um amante.

    Rapidamente Brook tinha saído da via principal. Não se importava com a aparência da área em que estava entrando. Enquanto esperava o sinal abrir, de forma tensa, bateu as unhas no volante. Alguns jovens que vagabundeavam pela esquina perceberam seu desconforto e começaram a observá-la com expressões divertidas. Ela se afastou assim que o sinal abriu.

    Tinha decidido se livrar logo desta tarefa antes de partir para as outras. Depois, almoçaria no Maurice. E então poderia ir para casa cuidar dos afazeres domésticos cotidianos, relaxar na banheira de hidromassagem e tomar banho, antes que Clark voltasse do trabalho. Talvez ela pedisse a Rachel que fizesse algo especial para o jantar. Poderia torná-lo mais íntimo. Clark estava trabalhando muitas horas nos últimos tempos, e eles estavam tendo pouco tempo juntos. Ao dirigir, pensou na falta de companheirismo que vinha sentindo no casamento recentemente. Sentia falta da proximidade que preenchia suas vidas antes... bem, antes da tragédia que havia mudado tudo. Balançou a cabeça, afastando as dolorosas memórias, e concentrou-se no motivo para esta tarefa particular.

    No café da manhã daquele dia, Clark, completamente fora do padrão habitual, pediu-lhe que lhe fizesse um favor. Ele queria que ela fosse a uma livraria no lado sul da cidade. Disse que tinha pesquisado, e esta seria a única loja por ele localizada que tinha uma cópia de um livro raro mencionado por seu chefe. Clark queria surpreender Harold com o livro no próximo aniversário. Ele enfatizou várias vezes que esta era a única loja no estado que tinha uma cópia, e ele não queria perder a chance da compra. O livro estava reservado no nome dele. Ela o observava, enquanto ele terminava de comer; viu-o tomar um gole final de café e depois começar a enfiar papéis na pasta. Parecia nervoso, inquieto, mas ela não podia imaginar o porquê. A conversa usual da manhã não tinha sido natural, e eles se separaram na garagem, pouco depois.

    Brook presumiu que Clark não tinha enviado seu assistente nesta missão por temer que Harold ouvisse sobre o livro, arruinando a surpresa. A ansiedade aumentou nela ao se ver em meio a estabelecimentos abandonados, misturados com lojas de produtos pornô, de tatuagem e de drogas. Os edifícios abandonados eram todos pichados. Em uma loja de drogas, dois grupos de jovens mal-encarados estavam sentados nos carros estacionado trocando insultos para lá e para cá. Mais adiante, gângsteres pavoneavam estrondosa e ameaçadoramente. Uma mulher sem-teto esfarrapada se misturava ao lixo da rua.

    Para piorar o desconforto de Brook, seu carro vermelho brilhante estava atraindo atenção indesejada dos observadores, a cobiça estava visível no rosto deles. Conforme os quarteirões passavam, o ambiente ficava mais sinistro. Carros rebaixados subiam e desciam a rua, homens com calças arriadas formavam pequenos grupos e se divertiam entre eles. Todos olharam para o carro dela, alguns descaradamente, outros, com discrição.

    Brook olhou para o visor do GPS e o comparou com o papel no qual Clark havia rabiscado o endereço da livraria. Ela parecia estar no lugar certo. Checou os nomes dos edifícios e encontrou Bill's Bawdy Book Barn entre o Fanny's Massage Parlour e o The Dragon's Den. Enquanto olhava horrorizada, o GPS informou que ela havia chegado a seu destino. Brook franziu a testa, murmurando com descrença. É este o lugar? Meu Deus! À direita havia um estacionamento estreito, o vento espalhava os resíduos do asfalto rachado. Ela virou e estacionou numa das vagas.

    Hesitou antes de sair do carro. Seus olhos aflitos foram de um lado para o outro e depois para o espelho retrovisor. Por que Clark a enviaria ali? Com certeza ele não imaginava como era ruim esta parte da cidade, caso contrário, decerto, teria vindo ele mesmo. Embora Brook não fosse intimidada facilmente, ela também não estava acostumada a se expor a este tipo de ambiente ou às vibrações de perigo que irradiavam daqueles homens na rua.

    Brook tomou coragem e saiu do carro. Sentiu-se exposta e vulnerável. Segurando a bolsa Bottega Veneta bem junto ao corpo, caminhou rápido do estacionamento para a calçada. Ao virar a esquina, talvez meia dúzia de passos depois, foi abordada por um jovem.

    Os cabelos castanhos estilizados pendiam em fios gordurosos ao redor do rosto; suas roupas estavam rasgadas e sujas. Ora, ora, ora. O que temos aqui? Foi para frente dela, bloqueando o caminho; Brook parou. Não sabia o que fazer. Venha para o Bobby, querida, disse o homem, esfregando a virilha sugestivamente. Vem que eu te mostro o que um homem de verdade pode fazer por você.

    Brook virou e correu de volta para o carro; os saltos tocando um acelerado staccato no chão. Atrás dela, Bobby ria cafajestemente, mas não fez nenhuma menção de segui-la. Ela acionou a abertura remota do carro, enquanto se aproximava dele. Estava decidida a entrar, trancar a porta e ir embora daquele lugar. A raiva a dominou, distraindo-a por um segundo ou dois. O que Clark estava pensando? Ela não tinha nada a ver com aquele lugar. Ele poderia enviar outra pessoa ou ligar e solicitar a entrega do livro em casa, porque ela não iria pegá-lo para ele. Ela se martirizou por não ter passado direto, sem parar ali.

    Enquanto entrava no carro, Brook sentiu um movimento atrás dela e virou a cabeça a tempo de ver um punho indo na direção de seu rosto. Não conseguiu soltar sequer um gritinho antes que o golpe atingisse sua cabeça. Caiu para trás, dentro do carro, atordoada. Lágrimas brotaram em seus olhos.

    Ela ouviu a voz áspera de um homem murmurar, Merda! Gente!.

    Ele a pegou, lançando-a bruscamente contra o console e pressionando suas costas no câmbio de marchas antes de empurrar suas pernas sem qualquer cerimônia, abrindo espaço no banco do motorista. Fale uma palavrinha e eu mato você, grunhiu ele. Pro chão! Agora, sua vadia!

    Brook caiu no chão, tremendo de medo e confusão, enquanto as lágrimas rolavam sem controle por suas bochechas. Perplexa, ela viu o homem deslizar uma chave pela ignição; não era a sua, ela ainda tinha discernimento o suficiente para perceber que segurava sua chave na mão. Brook abriu a boca e respirou fundo, preparada para berrar por socorro. Antes mesmo que ela pudesse dar um pio, uma arma foi pressionada contra sua têmpora. Não faça isso, senhora. Brook fechou a boca, obedecendo. Coloque a cabeça pra baixo e cubra com as mãos.

    Brook acatou; o coração quase saltando do peito. O que está acontecendo? O que ele quer? Para onde está me levando? Meu Deus, eu tenho que fugir! Esses e outros pensamentos borbulhavam em sua cabeça enquanto o carro se movia para a rua, para longe; o barulho dos pneus na estrada seguia o ritmo de seu coração, batendo rapidamente.

    Não me machuque, não me machuque, não me machuque, rogou Brook aos prantos. Quando ela se aconchegou no chão, suas palavras se tornaram um lamento que ela mal podia ouvir. Eles tinham andado uma pequena distância quando ela sentiu um golpe no carro e depois uma subida rumo à escuridão. Espreitando pelos cabelos, ela tentou ver onde estavam. O motorista saiu, o que fez brotarem nela esperanças. Talvez ele esteja saindo. Talvez esteja indo embora. Ela estava alcançando furtivamente a maçaneta, o coração saindo pela boca, quando a porta foi aberta e uma mão a agarrou pelo cabelo, puxando-a.

    Pra fora, agora, exigiu o agressor.

    Brook gritou quando a dor rasgou seu couro cabeludo. Sua mão foi direto à cabeça, e a chave que segurava escorregou pelos dedos sem que ela percebesse. Titubeante, foi do carro para uma superfície suja, machucando o joelho por baixo das calças de grife. Brook se levantou, trôpega, virando-se para o som das vozes. Checou suavemente o couro cabeludo, sentindo-se aliviada ao ver que não havia sangue nos dedos. Ao examinar os arredores, percebeu que estava na caçamba de um caminhão escuro e mofado. A única luz vinha da porta de carga, que estava aberta; seu leve brilho era suficiente para iluminar os três homens que a olhavam embasbacados. Mesmo aterrorizada, Brook tentou gravar seus rostos na memória. Ela queria ser capaz de descrevê-los com precisão para a polícia quando saísse daquela loucura. Encarou-os deliberadamente.

    Em argumentações com seu agressor estava um homem alto e magro; o cabelo castanho-médio liso caía sobre um olho e a maior parte do outro. Ele tinha bigode e uma pequena barba. Brook notou os dentes ruins quando ele os mostrou num grunhido para o primeiro homem. "Maldição! Pro inferno, Benny. Que diabos é isso?" Apontou para Brook, que os encarava com expressão de medo.

    Ok, Benny! Foi Benny que me atacou! Olhe bem para ele. Lembre-se dele!

    Benny a olhou com seus olhos profundos e escuros. Ele tinha altura e constituição médias. O rosto era longo e afunilava num queixo pontudo com barba rala. O parco bigode ia de sobre os lábios até as laterais do rosto. O cabelo, com altura acima da gola, era bem penteado e partido de lado, quase tapando um dos olhos. Sua roupa parecia mais com a de um homem de negócios, era totalmente contraditória com suas ações, pensou Brook quando notou a calça cáqui, a camisa de botões, o blazer e os mocassins. Ela registrou suas impressões para futura referência.

    "Ela voltou para o carro cedo demais, Pete. Porra! Ela não deveria estar lá. Não era parte do plano. E também havia muitas pessoas por perto. Eu não poderia apenas despejá-la no estacionamento sem ser visto. Benny deu de ombros ao analisar Brook. De qualquer forma, olhe para ela. É lindinha."

    Lindinha? É sério isso? Lindinha porra nenhuma! Pete balançou a cabeça.

    Pete! O cara com dentes ruins é o Pete. Brook fez um registro mental. Benny me sequestrou e Pete é seu cúmplice

    O terceiro cara era um caminhoneiro, pura e simplesmente. Calça jeans, camisa de botões aberta sobre uma camiseta e tênis. Sua barriga pendia sobre uma grande fivela de cinto com formato do Texas. Ficando grisalho, o cabelo tinha corte militar e ele estava bem barbeado. Cuspiu para o lado e disse: Não dou porra nenhuma pra isso aí. Todos vocês têm que cair fora de meu caminhão. Preciso levar esta mercadoria e não quero parte nenhuma de seja lá qual for o problema que esta senhora possa trazer. Apontou para Brook ao fazer tal declaração. Brook sentiu o coração apertar dolorosamente quando os três a olharam.

    Vá cuidar dessa merda de negócio seu, babaca, disse Benny. Ignorando a raiva no rosto do caminhoneiro, virou-se para o cara alto. É simples, vamos ter que levar ela com a gente, Pete. Vamos, vamos nessa.

    Caramba, Benny! Jase vai ficar pau da vida, anunciou Pete.

    Foda-se o Jase, cuspiu Benny com raiva, mas Brook percebeu certa preocupação por trás de sua bravata.

    Enquanto os dois discutiam, Brook viu uma chance de fugir. Começou a recuar em direção à porta de carga, que estava aberta. Devagar e calmamente, tremendo muito, colocou um pé de cada vez para trás e se moveu nesta direção, mantendo os olhos nos homens o tempo todo. Chegou até a porta, virou-se e correu de forma desajeitada pela rampa; os saltos a retardavam. Atrás, ouviu o caminhoneiro rir e dizer: Sua mulherzinha está fugindo.

    Merda!, gritou Pete.

    Brook correu pela vida naquele beco deserto. Ela ouviu uma baque quando alguém saltou no chão atrás dela. Precisava se livrar dos saltos, mas sabia que não podia perder tempo parando para tirá-los. Com os olhos fixos à frente e respirando fundo, gritou: Socorro! SOCORRO!. Não avistou ninguém, e não houve qualquer resposta a seus gritos.

    Brook não chegou longe, foi logo atacada por trás e derrubada. Seu rosto bateu no chão, mas ela logo o levantou, esfregando a bochecha ao espalhar uma pilha de lixo de uma lata derrubada. As mangas da bela jaqueta estavam manchadas com o lixo apodrecido, o odor queimava suas narinas. Ela gritou de dor e medo quando sentiu o peso de seu agressor detê-la.

    Sua vadia estúpida, grunhiu Benny, deitado sobre ela. Por que você quer que seja assim? Você está tornando tudo mais difícil do que tem que ser.

    Brook ouviu o cantar de pneus e teve esperanças, mesmo infundadas, de que fosse alguém chegando para resgatá-la. Tentou levantar a cabeça para pedir socorro de novo, mas seu grito foi interrompido quando Benny a arrastou e a colocou de pé. Uma SUV derrapou e parou em uma vaga ao lado deles; a pintura verde e profunda brilhava à luz do sol. As janelas eram tão escuras que Brook não conseguia ver o motorista. Benny abriu a porta de trás e a atirou para dentro, arrastando-se para lá depois dela. Por fim, enfiou a cabeça dela no banco.

    Vai!, rosnou ele para o motorista.

    Capítulo 2

    Lance recuou, admirando o armário que acabara de instalar. Quando se lembrou das horas que havia passado podando árvores, cortando tábuas, lixando e finalizando as superfícies, teve uma sensação de orgulho, um sentimento de realização. Não precisou correr neste projeto. O tempo tinha deixado de ter o significado habitual quando ele rompeu com a sociedade. Não havia relógios para socar, nem reuniões para assistir. As horas não importavam mais, apenas as estações.

    O armário seria perfeito para armazenar os pequenos itens que usava para seu design de joias e escultura. Além disso, combinava perfeitamente com a parede de madeira bruta da choupana, articulando com a bancada de trabalho que ele já havia construído.

    Ele se lembrou de quando colocou os olhos no lugar pela primeira vez, uma estrutura antiga, arruinada, dilapidada, cercada de hectares e hectares da floresta do Colorado. Sim, ele era Sullivan Proctor na época. Mas isso já tinha três anos. Hoje, ele era um homem diferente. Adotara o primeiro nome de seus avós paternos e maternos e agora era conhecido como Lance Matthew.

    Guardou suas ferramentas e foi para a sala principal da casa.

    No canto, o fogão à lenha irradiava um calor reconfortante. As paredes tinham ferramentas e utensílios de cozinha pendurados. Do teto pendiam várias ervas, cebolas curadas e cachos de alho prontos para o uso. Na parte de cima do loft ficavam roupas, peles de animais e cobertores extras. Lance tinha aprendido a tornar útil quase qualquer coisa.

    Ao longo de uma das paredes surgia uma lareira bastante grande que ele havia construído depois de carregar pedra por pedra do rio. Hoje, havia toras prontinhas para o fogo que ele acenderia ao cair da noite. De vez em quando, uma panela era colocada sobre as chamas, talvez para cozinhar lentamente um guisado ou assar um coelho ou peru. A claraboia acima, formada a partir de um pedaço de fibra de vidro ondulada transparente que ele havia resgatado e recuperado, permitia uma luz suave e um pouquinho de calor do sol, filtrado pelos galhos circundantes. Os tapetes tecidos à mão suavizavam o chão de pedras que ele tinha fixado meticulosamente durante seu primeiro ano no lugar.

    Lance olhou por uma das pequenas janelas da choupana; as persianas confortáveis se abriam para a luz do dia. Embora o sol brilhasse, os sinais indicadores do inverno que se aproximava rapidamente eram óbvios, como a geada que cobria os ramos e folhas todas as manhãs, quando ele se levantava, e a atmosfera de expectativa no ar. Lance sentiu nos ossos que este seria um inverno longo e frio.

    Queria acrescentar algumas prateleiras à câmara frigorífica antes da primeira grande nevasca e estocá-la com toda a caça e peixe que pudesse pegar. Também era hora de abater o pequeno rebanho de cabras selvagens e sua heterogênea coleção de galinhas e patos.

    Era desafiador evitar a deterioração da carne sem eletricidade. No primeiro ano do autoimposto exílio, animais selvagens roubaram a provisão de seu estoque externo, e ele descobriu que a carne tendia a estragar se ele a mantivesse dentro de casa. Mas ele aprendeu muito desde então.

    Em seu segundo ano na montanha, ele construiu a câmara frigorífica usando projetos encontrados num livro. Um armário sem isolamento cheio de prateleiras manteria o alimento frio durante os meses de inverno ao mesmo tempo em que eliminaria a possibilidade de animais selvagens levá-lo. Uma vez acabada a fase aguda da estação, as paredes finas, mas robustas, manteriam a carne congelada e protegida durante todo o inverno.

    Ele precisava do primeiro congelamento antes de encher totalmente sua despensa, mas já estava na hora de preparar as carnes, juntar lenha, armazenar as raízes na adega de pedras rasas que ele tinha feito e ir à cidade pelas últimas vezes para comprar suprimentos, alimentos para animais e também vender o último lote de artesanato retro futurista. Na verdade, seus dias estavam tão cheios de afazeres agora, que ele nunca experimentava o tédio e a inquietação que ocasionalmente o atormentavam em sua vida antiga. Havia muito trabalho a fazer, mas trabalho que ele mesmo havia programado, trabalho útil, necessário.

    Ele pensou com satisfação no próximo inverno que passaria abrigado em casa, trabalhando em pequenos projetos, enquanto a neve caísse e empilhasse lá fora. Uma vez que o inverno se instalasse, seria difícil sair, por qualquer motivo que fosse. Lance estava longe da mesmice; ele adorava isso. O mundo civilizado, com suas intrusões, tristeza e memórias, nas montanhas parecia um sonho distante e ruim. Negociar conveniências modernas para manter esta paz de espírito era um pequeno preço a pagar.

    Lance puxou a jaqueta, pendurou a bolsa de lona no ombro e foi verificar as redes e armadilhas espalhadas pelo jardim. Uma panela de suculentos peixes fritos e nabos fervidos daria um almoço bom e saudável. Agarrando seu arco, fechou e segurou a porta com cuidado, admirando mais uma vez quanto o lugar se misturava ao fundo engenhosamente. Quando ele adicionou a pequena choupana, ergueu os poucos cômodos extras em torno das árvores, ao invés de cortá-las. Na verdade, seu quarto e sua oficina tinham árvores crescendo até o teto e fora do telhado. Isso não só o agradava esteticamente, mas também dava estabilidade adicional à estrutura. Os anexos haviam sido construídos na vertical, o que ajudava a camuflar a casa, dando a ilusão de que ela era apenas uma parte da floresta circundante. Sua casa estava bem escondida. Segura.

    Um pássaro cantou acima, enquanto Lance caminhava por entre os pinheiros e serpenteava pelas encostas. Ele sempre teve o cuidado de pegar rotas diferentes, de modo a não deixar marcas e rastros pelo caminho que pudessem levar à choupana. Lance valorizava a privacidade.

    Capítulo 3

    Depois de empurrar Brook para o banco de trás, Benny jogou um cobertor sobre sua cabeça, cobrindo-a. Ela ficou ofegante, o pano sujo pressionado contra o nariz e a boca dificultava a respiração. Com muito cuidado, Brook finalmente conseguiu levantar o braço e tirar o cobertor do rosto. Ao inalar o cheiro de carro novo, Brook ficou agradecida por ter um pouquinho de ar.

    Tentou focar, prestar atenção na conversa, mas estava tão assustada que era difícil se concentrar. Enquanto analisava sua situação, lembrou-se do celular dentro da bolsa. Com cuidado, movendo-se sempre bem devagar, conseguiu posicionar a bolsa de modo a pegá-lo. Por alguma razão, ela despertou suspeitas em Benny. Em um segundo ele puxou o cobertor para longe dela. Ao ver o telefone, arrancou-o de sua mão.

    Que porra é essa que você acha que tá fazendo?, gritou, empurrando o telefone de volta para a bolsa e jogando-a no banco da frente. Me dê a mão.

    Não!

    Me dê, anda. Ele agarrou sua mão, dobrando o pulso para trás. A dor irradiou pelo braço e de volta à mão. Benny olhou bem nos olhos dela, ainda segurando os dedos com punho de ferro. Suas pupilas se dilataram levemente e ele lambeu os lábios. O medo dela se intensificou.

    Não faça mais nenhuma porra dessas. Sua voz estava mais profunda que antes, excitada. Você vai me irritar. Por fim, ele a soltou e jogou o cobertor de volta em sua cabeça.

    Brook soluçou silenciosamente, massageando o pulso. Ela podia ouvir os tons abafados dos homens falando e se esforçou para pescar algumas palavras, incompreensíveis devido ao estrondo de música estridente que saía dos alto-falantes. Ela esperava ouvir os planos deles para ela, mas a música estava alta demais. Brook nunca tinha ouvido aquele tipo de música antes, discursos inflamados, guitarras distorcidas, baterias crescentes. Parecia que os músicos estavam destruindo os instrumentos. O vocalista gritava repetidamente: "Death jam! Death jam!" A cabeça de Brook começou a pulsar no compasso de seus acelerados batimentos cardíacos.

    O tempo passou. Ela não fazia ideia do quanto haviam rodado. Pouco depois, a música foi desligada, e os dois homens ficaram em silêncio. A frequência cardíaca diminuiu um pouco, e ela tentou analisar a situação.

    Como ela havia se metido nisso? Tinha ido atrás de um livro para Clark. Onde? Em um lugar horrível. Por que ele a mandou para lá? Não havia uma razão plausível, a menos que ele a quisesse ali naquele momento. Não! Isso era loucura. Por que Clark iria querer que alguém a sequestrasse? Não fazia sentido. Ele não tinha nada a ganhar com isso, a menos que a quisesse morta. Um frio terror se apossou dela, e foram vários minutos até que ela pudesse se concentrar no dilema novamente. Não, ela não acreditava que Clark estivesse envolvido. Ele não poderia estar. Mas Benny tinha uma chave. Ela se lembrou de um dos sequestradores dizendo que não estava no plano ela estar lá. Que plano?

    Seus pensamentos fervilhavam enquanto o carro continuava seu caminho pela estrada. Por fim, Brook caiu num sono inquieto, induzido pelo nervosismo, feliz por fugir da realidade. Acordou quando a porta do carro abriu e um ar frio deslizou por suas pernas.

    Sai fora daí! Uma mão áspera agarrou seu tornozelo, puxando-a.

    Brook gritou, dando um chute.

    Sua vadia escrota. Benny a puxou, e ela caiu com um grunhido no chão, machucando o cóccix. Levanta esta bunda daí.

    Brook arrancou o cobertor da cabeça e, cambaleante, ficou de pé. Esfregou o cóccix, perguntando-se se estava quebrado. Com lágrimas nos olhos, perguntou: Onde estamos?

    Sem perguntas, disse a voz fria do motorista, Pete. Aqui, a gente é que faz perguntas. Isso não é a porra de uma entrevista. Agora, vá lá pra dentro.

    Ele a empurrou para uma casa tipo bangalô que, na certa, tinha vivido dias melhores. A pintura azul-escuro estava descascando, as janelas estavam cobertas de plástico, e o telhado tinha sido remendado com telhas de várias cores diferentes. A cobertura especial colocada em uma parte da parede externa tinha se soltado e batia insistentemente com a brisa fria. Brook procurou um número na casa, mas não viu nenhum. O que mais tinha no quintal era pontas caídas de pinheiros e sujeira, tudo rodeado de galhos grossos. Havia vários veículos ao redor, alguns amontoados. A entrada do local desaparecia por entre as árvores; não havia barulho de trânsito nem sinal de estrada.

    Brook cambaleou até a casa e varreu a floresta circundante com os olhos, procurando uma chance de fugir. Ela sabia que o que a aguardava dentro da casa não era bom.

    Pete a empurrou pela entrada, e Brook ouviu Benny rindo atrás. Ela se agarrou à primeira coisa que conseguiu; era outro homem. Ele tinha uma pele escura, possivelmente era latino ou cubano. O cabelo preto pendia direto para o meio das costas. Ele usava um pequeno bigode e barba. Os óculos escuros estavam no topo da cabeça. Os braços e o peito musculosos ficavam visíveis na camiseta preta colante. Ele tinha tatuagens ao longo dos dois braços e na parte de cima do pescoço.

    Que porra é essa? O homem a afastou, olhando-a de cima a baixo, como se ela fosse um pedaço de carne que ele estivesse inspecionando.

    Brook tentou se soltar da mão do homem, mas ele simplesmente apertou ainda mais, machucando a pele macia da parte superior do braço.

    Ela veio com o carro, Jase, gabou-se Benny.

    Com o carro? Que porra é essa que está dizendo, com o carro? Que carro?

    O Spider. Ela estava nele, havia muita gente em volta para jogá-la, explicou Benny.

    Ela estava dirigindo o Spider? A voz de Jase era fria. Ora, ora, isso não é do caralho? O que você propõe que façamos com ela?

    Tenho certeza de que podemos pensar em algo. Benny piscou e ergueu as sobrancelhas.

    É melhor deixar que eu pense, Benny, advertiu Jase. Você não é bom nisso.

    Pete riu.

    Cala a boca, Pete, interrompeu Benny.

    Calem a boca vocês dois. Deixem o homem pensar um pouquinho, disse Jase.

    Enquanto ele falava, Brook soltou seu braço e procurou uma rota de fuga. Estavam numa pequena sala de estar. Tinha um sofá manchado contra a parede e um par de poltronas reclináveis colocadas aleatoriamente de um lado. Na frente do sofá, havia uma mesa de café coberta de latas de cerveja, cinzeiros transbordantes e revistas. Próximo à cadeira, havia um criado-mudo com uma luminária. O lugar tinha um ar frio estagnado, como se estivesse fechado por algum tempo. Brook podia ver parte da cozinha por uma porta, mas ela estava escura. Era impossível ver se havia uma saída nos fundos. Checou o outro lado da sala de estar.

    Uma jovem de uns vinte e poucos anos estava de pé no vão do corredor; o cabelo marrom e liso pendia na cintura, ela tinha uma pequena joia de brilho fosco do lado do nariz, e os olhos estavam turvos por drogas ou bebidas. Ela parecia indiferente ao drama que se desenrolava diante dela.

    Brook decidiu fazer uma abordagem corajosa. Tremendo por dentro, ela ficou de pé, ergueu os ombros e partiu em direção à porta. Estou indo, disse, buscando um tom educado. Não vou falar nada sobre nenhum de vocês, mas tenho que sair daqui. Meu marido vai me procurar.

    O que você quer que a gente faça, Jase?, perguntou Pete, enquanto caminhava para bloquear a porta.

    Que merda, Pete! Vocês já fizeram mais que o suficiente. Tanto você quanto Benny. Jase deu três passos e agarrou Brook pelo braço, puxando-a para si, as costas dela na frente dele. Ele tinha um cheiro fortemente de patchouli. Ela encheu o pulmão com o cheiro avassalador e lutou para se libertar, mas ele a segurou firme. Você não vai a lugar nenhum, meu bem. Acho que por hora vamos mantê-la aqui como um brinquedinho. Passou a mão em volta e pegou um de seus seios, enquanto pressionava vigorosamente sua pélvis contra as macias nádegas dela.

    Brook se contorceu e gritou, renunciando às falsas bravatas. Quando percebeu que isso só o excitava mais, ficou hesitante. Por favor, não me machuque, soluçou. Meu marido tem dinheiro. Ele pagará vocês. Apenas não façam nada comigo.

    Por falar em dinheiro, ela tinha uma bolsa. Esperem, vou pegá-la. O tom ansioso de Pete mostrava a Brook que ele tinha o hábito de tentar agradar Jase, que era, sem dúvida, o macho alfa do pequeno grupo. Pete saiu da casa e voltou um minuto depois com a bolsa. Sentou-se no sofá e começou a vasculhar o conteúdo. Ao ver as mãos dele em sua bolsa, Brook ferveu de ódio, mas o medo manteve sua raiva sob controle.

    Pete pegou a carteira e abriu. Vamos ver o que temos aqui. Ei, o nome de nossa nova amiga é Brooklyn!

    Qual o sobrenome dela? Bridge?, indagou Benny, divertindo-se com a própria esperteza. Todos, exceto Jase e Brook, juntaram-se à farra.

    Essa é boa, riu Pete. Jase revirou os olhos.

    Sim, você é sempre um comediante do caralho, Benny. Jase não estava sorrindo.

    Brook. Meu nome é Brook, balbuciou ela. Seu nome completo era só para pessoas com quem ela realmente se importava; era odioso ouvi-lo saindo da boca daqueles vermes.

    Tanto faz, garota, riu Jase. Seu nome não significa merda nenhuma para mim. Acho que de agora em diante você será apenas ‘a vadia’.

    Ora, ora, ora, disse Pete. Conseguimos alguns cartões de crédito! Ele continuou sua busca. E algum dinheiro.

    "Entregue-os, agora", rosnou Jase, ainda segurando Brook firme nos braços. Relutante, Pete colocou o dinheiro e os cartões na mão estendida de Jase, que segurava Brook com firmeza com um braço, enquanto colocava as coisas no bolso traseiro.

    O que mais ela tem aí?, perguntou Jase.

    Só porcarias, disse Pete, ainda vasculhando a bolsa. Agenda de endereços, maquiagem, lixa de unha, talão de cheques, celular. Ele tirou um absorvente e sacudiu no ar. E um Kotex... Riu novamente.

    Por enquanto, coloque tudo de volta no lugar. Passarei os olhos nisso mais tarde, instruiu Jase. Pete colocou as coisas de volta na bolsa e jogou-a sobre o bagunçado criado-mudo. Brook, com o coração acelerado e a testa suada, tentou se afastar de Jase, mas ele a puxou firme contra o corpo.

    Por favor, gemeu ela com a voz vacilante. Deixe-me ir. Sei que meu marido pagará para me ter de volta.

    Hummm, respirou Jase no pescoço dela enquanto continuava a apertá-la por trás, pressionando fortemente com a respiração acelerada. Vamos cuidar disso. Ele afastou o cabelo dela e o olhar caiu nos brincos. Tire as joias, disse com a voz rouca.

    Brook bufou. Não! Você não pode levá-las, são minhas.

    Senhora, disse Jase, irritado. "Vou pegar o que eu quiser. Antes de termos terminado com você, teremos mais do que pecinhas de suas joias de merda. Ele soltou seus braços. Agora, tire."

    Brook chorava suavemente enquanto tirava os brincos, o colar e a pulseira. Tinham sido presentes de Beth, sua única verdadeira amiga, melhor amiga desde a infância. Ela os entregou a Jase. A raiva a queimava por dentro, fazendo brotar lágrimas de desamparo nos olhos enquanto ele enfiava as coisas no bolso.

    Benny e Pete assistiam a tudo com óbvio divertimento. Brook olhou para eles e estremeceu com o olhar de pura excitação que viu em seus olhos.

    "Cara, olhe a pedra na

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1