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Depois do Armagedom
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E-book352 páginas5 horas

Depois do Armagedom

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Sobre este e-book

Um holocausto nuclear mundial. Um perigoso serial killer se escondendo pelas ruas de Paris. Um mistério no México.

Essa coleção escrita pelo novelista e roteirista premiado Brian L. Porter apresenta algumas de suas melhores histórias. O conto título, ‘Depois do Armagedom’, retrata a consequência de um holocausto nuclear mundial, com uma reviravolta surpreendente no conto. ‘A Voz de Anton Bouchard’, que logo será adaptado em filme pela Thunderball Films, conta a história arrepiante do “Monstro Açougueiro”, um perigoso serial killer espreitando pelas ruas de Paris em um verão longo e quente. Faça uma viagem pela mente de um serial killer quando “Anton Bouchard” salta das páginas para deixar as ruas de Paris vermelhas com o sangue de suas vítimas.  

‘O Diabo que Você Conhece’ nos leva até o México, onde o capitão da polícia Juan Morales reconta seu envolvimento no caso do desaparecimento de vários meninos do coro da igreja. O conto seguinte, Avenida dos Mortos, está disponível no Kindle da Amazon. ‘Em Céu Vermelho pela Manhã’, um submarino nuclear emerge depois de uma longa e árdua patrulha para descobrir que o céu havia se tornado vermelho, todos os canais de comunicação estão mudos, e parece que a tripulação está completamente sozinha na imensidão dos oceanos. ‘SRIR’ e ‘Uma Abdução Alienígena’ leva o leitor para o munda da ficção científica, enquanto o mundo do paranormal é apresentado em ‘O Festival’. Esses e outros contos estão presentes nessa coleção, que também apresenta um texto escrito pela autora de horror convidada, Carole Gill, que contribui com seu conto ‘Elevado’.

IdiomaPortuguês
EditoraCreativia
Data de lançamento11 de jun. de 2018
ISBN9781547534371
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    Depois do Armagedom - Brian L. Porter

    Depois do Armagedom

    Brian L. Porter

    Dedicatória

    Em memória de Enid Ann Porter, 1914-2004. Ela nunca perdeu a fé em seu filho único.

    Para Juliet, minha alma gêmea e inspiração.

    E em memória de Malcolm Davies.

    Agradecimentos

    Minha gratidão vai para meu falecido amigo Malcolm Davies, que com seu profundo conhecimento pessoal sobre a Romênia foi de grande ajuda na criação do O Som do Silêncio. Minha esposa Juliet esteve, como sempre, ao meu lado por todo o caminho. O seu suporte é para sempre inestimável. Ken Copley e Sheila Noakes leram e releram cada história e me passaram seus julgamentos pessoais sobre tais. Se eles não as tivessem apreciado, as histórias não estariam nessa coleção. Finalmente, eu gostaria de dizer um muito obrigado para minha editora, Kristina Dalton. Sem sua persuasão, força e apoio sincero, o trabalho não teria chegado ao seu estado final e pronto.

    Do mesmo autor:

    A Study in Red – The Secret Journal of Jack the Ripper (Winner, The Preditors & Editors Best Thriller Novel Award, 2008).

    Legacy of the Ripper

    Requiem for the Ripper

    Pestilence

    Morte Roxa

    Glastonbury

    The Nemesis Cell

    Avenue of the Dead

    Behind Closed Doors

    Kiss of Life

    Coleção de contos

    The Voice of Anton Bouchard

    A Binary Convergence (with Graeme S Houston)

    Como Harry Porter

    Tilly's Tale

    Dylan's Tale

    Wolf

    Alistair the Alligator

    Os romances curtos de Brian L. Porter apareceram em numerosos jornais ao redor do mundo, em ambos os formatos impressos e digitais. Informação adicional pode ser encontrada visitando o website do autor em:

    http://www.inspectornorris.webs.com

    http://www.astudyinred.webs.com

    Uma Introdução para a Coleção

    Essa coleção de histórias curtas (e não tão curtas) por Brian L. Porter, contém uma mostra dos trabalhos do autor. Muitos temas estão apresentados dentro das páginas seguintes, mostrando a habilidade do autor para trocar do lado escuro e perturbador da natureza humana, apresentado em A Voz de Anton Bouchard ou Respirando para a Morte, para os contos de outros mundos e universos como em Uma Abdução Alienígena. Também encontramos nessa coleção contos que narram os possíveis futuros da humanidade, Megálito e Céu Vermelho ao Amanhecer entram nessa categoria, e vão deixar o leitor com muito que pensar. O Som do Silêncio fala sobre o terror de uma mulher, em uma viagem pelo interior da Romênia que se torna um verdadeiro pesadelo, e Corpos no Porão é uma ilustração de que os fatos que acontecem à nossa frente nem sempre fazem sentido, em vista do que acreditamos que seja a conclusão lógica.

    Para um puro terror, não perca a história Tóxico, um conto de advertência sobre ao que nosso uso desproporcional dos recursos do nosso planeta pode levar.

    Finalmente, o leitor é presenteado com uma amostra, em quatro capítulos, do último trabalho do autor, o próximo romance Sob Os Céus Mexicanos.

    Tendo aparecido primeiramente no conto O Diabo que Você Conhece, o detetive mexicano Juan Morales, que apareceu por último no livro Avenue of the Dead, prestes a ser publicado em versão impressa pela primeira vez pela Editora Creativia, com uma edição em formato Kindle. Agora ele retorna, uma vez mais, em seu caso mais complexo até agora, quando uma pequena aeronave cai no local de uma escavação arqueológica, revelando um segredo escondido há muito tempo. Logo, a queda fica em segundo lugar quando assassinato, roubo e intriga, impulsionam Morales para mais fundo no mundo do roubo de antiguidades e tráfico ilegal de humanos.

    Finalmente, eu agradeço à minha amiga e companheira de escrita Carole Gill, por permitir incluir uma de suas histórias curtas, Elevado, ao fim dessa coleção. Incluir o trabalho dela aqui é minha maneira de dizer obrigado a você, Carole, por me apresentar as pessoas maravilhosas da Creativia Publishing.

    A voz de Anton Bouchard

    (Uma jornada para dentro da mente de um serial killer)

    Introdução

    O que faz um serial killer? Alguns dos melhores psiquiatras, psicólogos e criminologistas do mundo moderno, já ponderaram sobre essa questão. Um serial killer nasce para isso? Um gene defeituoso em sua constituição biológica faria com que eles ficassem isentos de sentir ou ter compaixão pelos seus companheiros humanos, fazendo com que, inexoravelmente, a destruição da vida se tornasse uma coisa normal em sua existência diária? Será que eles herdam o desejo de matar? O filho de um assassino psicopata simplesmente seguiria as instruções genéticas passadas por seus pais? A ciência conseguiria classificar o mal que eles perpetuam como uma condição genética, algo que se possa tratar com drogas? A imprevisibilidade de um serial killer faz com que eles sejam mais difíceis de identificar e apreender. Mais frequentemente, a sorte tem o papel principal em trazer esses desajustados da sociedade à justiça. Infelizmente, a maior parte deles continua livres, e os corpos atribuídos a eles continuam a aumentar em número. Em alguns casos, somente a morte ou o envelhecimento do assassino acabam com seu reinado da morte.

    Há outra teoria, no entanto, uma que tem ganhado mais credibilidade nos anos recentes. Muitos ex-soldados, retornando de experiências violentas e traumáticas no campo de batalha, tem enfrentado cada vez mais dificuldades em se ajustar à vida civil depois de sua saída das forças armadas, alguns desses indivíduos acabam se tornando assassinos em uma vida civil. Incapazes de retornar à normalidade depois de dessensibilizados pela guerra, eles enxergam a morte como uma parte normal de sua existência diária e se sentem compelidos a continuar de onde suas carreiras militares terminaram. Então, a teoria diz que a mente pode se tornar tão moldada pelos eventos de sua vida, que o trauma poderia transformar um cidadão bem ajustado e respeitado em um dos assassinos mais odiosos e raivosos, o serial killer!

    Em verdade, nós devemos confessar que simplesmente não sabemos a resposta. Talvez um dia, especialistas e psiquiatras, descobrirão a causa da aberração que leva um indivíduo a perder tanto de sua humanidade básica que embarca no assassinato sistemático e, muitas vezes, ritualístico de seus companheiros.

    Até que esse dia chegue, nós podemos apenas continuar a torcer nossas mãos com horror e arquejar com as horríveis manchetes que gritam para nós na imprensa popular, enquanto a luta para a compreensão continua.

    Enquanto isso, as mentes de homens e mulheres como Anton Bouchard permanecem fechadas ao mundo, e continua o perigo claro e permanente para os infelizes que involuntariamente e tragicamente se tornam atraídos para a sua rede assassina. Então, da próxima vez que você passar por seu vizinho na rua, se lembre da história que se desdobra em frente aos seus olhos, e permaneça vigilante, sempre vigilante.

    Prólogo

    Verão, 2003

    Paris! O mero nome da grande metrópole francesa conjura pensamentos de romance e cultura. Com uma abundância de grandes palácios e galerias de arte, bandos de turistas invadem a cidade do amor ano após ano. Famílias felizes passam pela capital francesa em seu caminho para a Disney e milhares de turistas se reúnem para ver os pontos famosos do Arco do Triunfo, o Palácio do Eliseu e a Torre Eiffel.

    No entanto, no calor sufocante de um longo e lânguido verão, Paris, infelizmente, se tornou o foco de uma das maiores investigações criminais do início do novo século. Conhecido pela imprensa popular como O Monstro Açougueiro, uma ameaça aparentemente invisível, visava mulheres jovens e atraentes, sujeitando-as a torturas horríveis antes de, finalmente, dar um fim à vida delas de uma maneira brutal e sangrenta.

    Enquanto a polícia fazia sua investigação na sequência de assassinatos que ficava maior a cada semana, o público pedia pelo fim dos assassinatos e para a polícia fazer algo e levar esse monstro à justiça. O clamor por resultados e uma ação efetiva ficou cada vez mais alto conforme o número de mortos aumentava. Infelizmente para as pessoas de Paris, na ausência de um motivo identificável para os casos e da falta de qualquer tipo de evidência sólida, e com um assassino a solta que parecia ser capaz de cobrir seus rastros perfeitamente, antes de desaparecer como um fantasma em uma noite quente, a polícia parecia impotente em seus esforços para solucionar o caso.

    O assassino parecia escolher suas vítimas ao acaso e, com cada novo assassinato, o nível de brutalidade ficava cada vez pior. Logo, as ruas de Paris estariam vazias de mulheres depois do anoitecer. O medo iria dominar e Paris estava arriscada a se tornar uma área a ser evitada pelo sexo frágil. Tais eventos iriam levar a uma queda desastrosa no número de turistas que visitavam a cidade, com as subsequentes consequências financeiras sendo sentidas em toda a capital. Conforme o calor do verão aumentava, a tensão nas ruas e a pressão sobre a polícia para capturar o assassino se tornavam quase tão insuportável quanto a temperatura.

    Ninguém sabia em quem confiar e de quem suspeitar. As pessoas começaram a suspeitar de seus vizinhos, amigos se voltavam um contra o outro ao menor pretexto. Parecia que todos haviam se tornado suspeitos aos olhos dos outros na rua. Paris havia se tornado o centro da atenção da mídia mundial. CNN, CBS, ABC, a BBC e ITN; estavam todas lá para reportar a inevitável fascinação do público com os assassinatos horríveis. Curiosamente, cada âncora, operador de câmera e técnico das redes internacionais eram homens. Ninguém queria colocar sua equipe feminina em um perigo desnecessário.

    O calor inexorável caiu sobre a cidade, pendurado como uma pesada nuvem acima das ruas e praças sem ar, e muitas mulheres começaram a se recusar a saírem de casa durante a noite, pelo menos sem uma companhia confiável. Outras, ou por tolice ou desatentas, ou ambas as coisas, decidiam que não iriam permitir que a intimidação causada pelos assassinatos controlasse suas vidas, e, ignorando o perigo representado pelo criminoso, elas continuaram seus negócios com determinação. Algumas, é claro, não tiveram escolha. Elas tinham que trabalhar para sobreviver. A maior parte teve sorte e continuou a viver. Para algumas poucas infelizes, entretanto, sua sorte tragicamente acabou!

    Capítulo 1

    Anton se sentou ouvindo silenciosamente, a cabeça levemente inclinada para um lado, determinado a não perder nenhuma palavra. Ele escutou o som da voz do outro; hipnótica, a entonação suave, ainda assim persuasiva. Como sempre, Anton se sentiu hipnotizado pela reverberação quase musical dentro de sua cabeça sempre que ouvia aquela voz. Arrebatado pela voz suave, ele se sentiu como se estivesse em um casulo, separado do mundo ao seu redor, nada e ninguém mais existia, apenas a voz importava, e Anton escutava, cativado e ao mesmo tempo, preso em sua mente. A voz lentamente desapareceu, recuando para o fundo, e Anton inconscientemente respondeu em uma voz baixa:

    – Eu sei, eu sei. Eu entendo o que precisa ser feito.

    – Você está bem, m’sieur?

    A voz da garçonete cortou subitamente os pensamentos de Anton. Ela havia chegado à sua mesa com a intenção de encher novamente sua xícara de café quando ouviu que ele estava falando, aparentemente consigo mesmo. Havia preocupação em sua voz quando ela fez a pergunta.

    – Hmm? O que você quer? – disparou Anton, com um veneno não disfarçado.

    – Me desculpe m’sieur, eu apenas imaginei se você gostaria de mais uma xícara de café.

    A garota segurava o bule de aço inoxidável brilhante com o café, como demonstração de sua oferta. A reação de Anton a havia assustado e ela, deliberadamente, não fez contato com o olhar com seu cliente mal-humorado.

    – Sim, por favor, me desculpe por reclamar, estava apenas pensando em voz alta. – Anton falou.

    A garota se permitiu relaxar um pouco e sorriu em reconhecimento da desculpa dele, rapidamente encheu a xícara dele e virou-se, ansiosa para se afastar do homem estranho e carrancudo sentando ao lado da janela. Ele observou enquanto ela se retirava para trás do balcão alto no outro lado do café. Seus olhos penetraram profundamente nas costas dela enquanto caminhava, notando cada detalhe de sua caminhada, o balanço suave de seus quadris, seu cabelo, os fios loiros em seus ombros enquanto se movia, e o som dos sapatos quando tocavam o chão polido e brilhante.

    Anton gostou do que viu. A garota era seu tipo. Ela iria preencher suas necessidades mais do que admiravelmente. O nome no crachá preso ao uniforme dela estava identificado como Michelle. Sim, Anton iria ver Michelle novamente. Como se fosse uma sugestão, ele ouviu a voz mais uma vez. Sua irritação com a garota, sua reação exagerada, seu súbito lampejo de raiva desapareceu, imediatamente esquecido enquanto ele escutava silenciosamente, atentamente, a cabeça inclinada para o lado. Assim que a voz recuou mais uma vez, Anton olhou para suas mãos; elas estavam tremendo. Ele colocou suas palmas apoiadas sobre a toalha de mesa quadriculada rosa e branca, pressionando-as contra a mesa até que pararam de tremer. Anton sentiu como se estivesse se afogando, afogando em um mar de um luto incontrolável e inimaginável, aliado a um sentido de perda de realidade. Tentou pensar racionalmente sobre a maneira como sua vida havia começado a sair de seu controle.

    Quando isso havia começado? Ele se fez essa pergunta, várias e várias vezes, enquanto estava sentado bebendo a terceira xícara de café preto e doce, olhando as pessoas que passavam do outro lado da janela do café; apenas mais um cliente anônimo em mais um café-bar anônimo. Quando aquele desejo de sangue que o consumia começou a envolver sua vida? Quando foi a primeira vez que a voz dentro de seu cérebro o enviou para realizar o que tinha que ser feito? E isso realmente tinha que ser feito; ele sabia disso tão certo quanto sabia seu nome, apesar de que ninguém nunca iria entender. Ele sabia com uma certeza tão firme quanto sua crença na voz. Não que ele concordasse com tudo o que a voz havia lhe dito, é claro. Ele era inteligente demais para isso! Ah não, às vezes discutia com a voz dentro dele até que seu rosto ficasse azul, mas de alguma forma, a voz sempre parecia vencer, dominar e subjugar seu senso de lógica, seu racional. Se a polícia um dia o prendesse, ele sabia, com toda certeza, que seria difamado, odiado, provavelmente declarado insano. Obviamente ele não era insano, apesar de que somente ele pudesse atestar isso, se fosse perguntado.

    Anton tinha quarenta e oito anos, e seu cabelo castanho escuro, uma vez luxuriante, se tornara prematuramente cinza. Ele agora o mantinha deliberadamente muito curto, de maneira a não enfatizar o processo de envelhecimento precoce que o acometeu logo após a chegada da voz. Continuava em ótima forma física e mantinha-se reto enquanto caminhava, sua alta estatura se elevava sobre a maioria de seus semelhantes enquanto passava pela rua. Sua perturbação interna poderia, talvez, ter sido traída por uma tristeza visível que aparecia em seus olhos, mas poucas pessoas se importavam para olhar tão de perto.

    Ele permitiu a si mesmo se perder em seus pensamentos por um minuto ou dois, antes de responder a sua própria pergunta, revelada nos cantos mais profundos de sua mente.

    Três anos, ou quase isso, ele concluiu subitamente. Foi quando isso começou, quando ele ouviu pela primeira vez aquela voz irritante e incessante, bem fundo em sua mente. Logo após as celebrações do milênio, foi quando ela começou. Ele sorriu como se estivesse satisfeito, como se tivesse resolvido um problema que estivesse pesando em sua mente, e quando a solução surgiu, foi interrompido em seu devaneio pelo som de uma voz familiar, porém indesejada.

    – Anton, como você está? Já faz tanto tempo. Por onde você tem andado?

    André Deladier foi primeiro repórter, e segundamente seu cunhado, ou deveria dizer ex-cunhado? Hoje em dia ele não podia ter muita certeza. Certamente, ele era a última pessoa que Anton gostaria de ver ou conversar. Ver André o fez se lembrar da dor, das agonias terríveis que havia sofrido com a perda de sua querida Felicité, a irmã mais nova de André. Ela havia sido a esposa de Anton, seu amor, sua vida. Médica especialista em doenças tropicais, ela havia dedicado seis meses de sua vida para ajudar a diminuir o sofrimento dos pobres no Sudão, apenas para retornar e morrer horrivelmente, por causa de uma Febre Hemorrágica contraída durante suas assistências na África. No começo, cheio de felicidade e contentamento que sua bela esposa havia retornado, Anton havia observado enquanto os órgãos dela eram lentamente absorvidos por aquela doença terrível, viu as lindas feições dela serem distorcidas pela dor, tinha visto uma vez características bonitas distorcidas pela dor, testemunhou o horror, enquanto o sangue parecia escorrer de todas as partes do corpo dela, de seus ouvidos, de seus globos oculares e de seu nariz. Ele assistiu com um horror desamparado, incapaz de impedir que os órgãos dela lentamente se liquefizessem, o corpo dela gradualmente se destruindo de dentro para fora, se tornando pouco mais do que uma polpa sem forma. Ele chorou, gritou com Deus, com os médicos, com qualquer um que ouvisse, mas ninguém podia ajudar sua esposa. Anton assistiu enquanto o corpo de sua mulher, assolado por aquela terrível doença, derreteu em frente aos seus olhos. Os médicos tentaram tudo o que podiam, mas nada pode salvar sua querida Felicité, era tarde demais, e sua morte veio como um eventual alívio para ela e um sinal para ele. Foi quando a voz falou pela primeira vez, na noite em que ela o deixou, aquela noite tão longa, tão escura, tão solitária, quando ele fechou seus olhos, tentando em vão dormir e viu apenas sangue, nada além de sangue, e então soube o que tinha que fazer. A mente de Anton deslizou para uma nova dimensão, e ele nunca mais seria o mesmo homem que havia sido antes de ter testemunhado o horror absoluto da morte de Felicité.

    Agora ele se virou para encarar Deladier, vendo a semelhança de sua esposa no rosto do irmão, os olhos, o mesmo nariz aquilino, até mesmo tinham o mesmo cabelo loiro, e o ódio de Anton por André simplesmente aumentou, com a lembrança que o rosto do homem representava.

    – Vá embora André, eu não tenho tempo para falar com você.

    – Mas Anton, todos nós estivemos preocupados com você.

    Ele estava se referindo à sua esposa Arlette e ao filho Bernárd. A passagem dos anos havia feito com que Anton tivesse ciúme irracional pelo fato de André ainda ter sua esposa, sua família. Já fazia mais de um ano desde que Anton havia visto Arlette e seu sobrinho. André infelizmente tinha o infeliz hábito de esbarrar em Anton nos momentos mais importunos, já que os dois seguiam com suas vidas no trabalho diário. Por que esse homem não podia deixa-lo em paz?

    – André, quantas vezes eu tenho que dizer isso? Vá embora! Eu só quero ser deixado em paz, eu não tenho tempo nem o desejo de me envolver em conversas furadas com você ou qualquer outra pessoa.

    Deladier olhou para Anton com uma mistura de pena e frustração estampada em seu rosto. Ele percebeu o quanto Anton havia envelhecido em pouco tempo. Quanto à óbvia mostra de temperamento com relação à intrusão em sua tristeza, André havia tido conversas similares com o marido de sua falecida irmã em várias ocasiões nos anos recentes, e ele sabia que a probabilidade de Anton aceitar um de seus vários convites continuava virtualmente não existente, mas a memória do amor de sua irmã pelo marido o fazia tentar.

    – Anton, Anton, eu vou embora, se é isso que você quer, mas você tem que voltar à realidade algum dia. Felicité se foi. Por mais triste e trágica que tenha sido a morte dela, e não se esqueça de que eu também a amava, você tem que seguir em frente. Você não pode ficar de luto para sempre.

    – Eu tenho meu trabalho. – Anton disse, ele olhou fundo nos olhos de André, e algo naquele olhar proporcionou a André todo o encorajamento que ele precisava para se afastar apressadamente da cena, apesar de que, enquanto se afastava, Deladier não pôde resistir a um último comentário:

    – Por favor, apenas se lembre de que trabalho não é tudo na vida. Você está preocupado com a morte, o dia todo, todos os dias. Você não consegue abandoná-la!

    – Adeus, André. – retorquiu Anton, pensando consigo mesmo: Você está tão certo, querido cunhado, eu estou preocupado com a morte, especialmente aquelas que eu planejo, aquelas que me mostram a dor, o sangue, os choros e gritos, o requintado tormento final que se manifesta nos últimos segundos de vida. É isso que faz a morte valer à pena, mas você nunca entenderia se eu lhe contasse, e nem ninguém mais. Vocês são todos insignificantes e mente-fechadas demais para entender a essência, a beleza do que eu faço.

    André havia desaparecido de vista quando ele terminou sua meditação. Anton não havia nem mesmo percebido a partida do homem. Ele deixou alguns euros na mesa, sem esperar pelo seu troco. Pegou sua jaqueta que estava pendurada no encosto da cadeira, e se apressou para fora do café.

    Ele encontrou seu carro onde havia deixado e dirigiu o Peugeot, os dois quilômetros de volta para seu escritório, onde se ocupou com o trabalho administrativo por algumas horas, antes de tomar a decisão de encerrar seu dia. Ele mal podia esperar para chegar em casa. Anton tinha um importante trabalho à frente e queria se refrescar, se preparar para a tarefa que se dispôs. Apesar dessa necessidade urgente, Anton tomou um desvio em seu caminho para casa, dirigindo por um caminho mais longo pelas ruas de Paris. Precisava clarear sua mente, ventilar depois de um longo dia de trabalho. A viagem iria fazer isso.

    O clima super quente havia trazido os turistas para encher a cidade, e enquanto dirigia passando pelas multidões, não conseguiu evitar perceber que as saias das garotas pareciam estar ficando cada vez mais curtas, shorts estavam em abundância e, até mesmo os homens de negócio da cidade haviam deixado de lado seus casacos e estavam, na maior parte, caminhando nas ruas com camisas de manga curta, muitos dispensando a gravata. O calor tinha o efeito de afrouxar as inibições dos jovens, e em muitos casos, dos não tão jovens. A quantidade de pele feminina à mostra agiu como a chama ardente de uma vela para uma mariposa. Anton ouviu a voz urgente em sua mente e reconheceu a convocação. Ele se sentia exaltado, e mais do que pronto.

    Capítulo 2

    Enquanto Anton passou sua tarde planejando sua estadia noturna, na sede da polícia de Sureté, acontecia uma reunião entre o Vice-Comissário de polícia de Paris e o Doutor Henri de la Croix, um respeitado expert no campo de perfil de serial killer. Entre eles, esperavam identificar alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse ajudar a polícia na sua busca pelo assassino, cujos crimes continuavam a aterrorizar a população da cidade. Eles já haviam se encontrado duas vezes antes, quando os crimes continuaram a acontecer, mas pensava-se que esse terceiro encontro era necessário devido ao aumento da severidade das lesões que estavam sendo infligidas nas vítimas, e também de maneira a aliviar a contínua pressão sendo exercida sobre os investigadores pelo ângulo da sociedade. A polícia, ansiosa para mostrar que estava fazendo algo, precisava demonstrar uma prontidão a explorar toda e qualquer via que podiam. Talvez isso fosse ajudar.

    – Então, Doutor, você tem todos os fatos como nós os conhecemos. O que, e se alguma coisa, eles dizem para você?

    – Como eu lhe disse da última vez, os fatos como você os chama, nos dizem muito pouco. Tudo o que nós temos são os relatórios da equipe forense das cenas dos crimes, e os resultados post-mortem de cada uma das vítimas. Nada disso nos diz algo sobre o assassino.

    – Mas certamente, depois de todo esse tempo, ele deve ter deixado alguma pista de sua personalidade nas cenas, não é mesmo?

    – Bem, sim. Existe uma sugestão, pelo fato de que ele não deixa nenhum traço de evidência, de que esse homem é inteligente, e muito escrupuloso em seus hábitos. Ele provavelmente vive da mesma maneira como mata, isso quer dizer que a casa dele será limpa e arrumada, dificilmente terá alguma coisa fora de lugar, e ele pode sofrer do que nós conhecemos como Transtorno Obsessivo Compulsivo, talvez lavando suas mãos ou arrumando seu quarto, várias vezes ao dia.

    – Então, você está certo de que é um homem, Doutor?

    – Mas é claro. Nenhuma mulher poderia cometer tais crimes contra seu próprio sexo. Disso que tenho absoluta certeza. Ele é certamente um homem, e como eu disse, um muito inteligente. Ele sabe que qualquer evidência vai, inevitavelmente, acabar levando até ele, então é absolutamente meticuloso em limpar qualquer traço de si mesmo e da arma do crime das cenas.

    – Alguma ideia de qual seja a idade dele, Doutor?

    – Meu trabalho não é adivinhar, Simon. Tudo o que posso dizer é que ele é, provavelmente, um homem maduro, possivelmente em uma posição de confiança. Talvez seja por isso que as garotas saem com ele, em primeiro lugar, porque elas o conhecem e confiam nele, por causa de quem ele é, ou talvez do que ele é!

    – O que? Você quer dizer que ele talvez seja um padre ou um médico, ou...

    – Hey, espere um minuto. Eu não disse nada dessas coisas. Eu estava apenas falando sobre uma ideia. Não deveria ter dito o que disse. Não tenho nenhuma evidência real para sugerir tal perfil no estágio que nós estamos.

    – Está bem, Doutor. Eu não vou colocar palavras em sua boca. Tudo o que estou dizendo é que você pode estar certo. Afinal das contas, quando você olha para alguns dos ferimentos infligidos contra as vítimas, poderia muito bem ser o trabalho de um médico, você não acha?

    – Olhe Simon, você soa como as pessoas em Londres há mais de um século atrás, quando foi feita a

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