Dois em Um
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Sobre este e-book
Duas almas, um corpo. Aventura era a vida de Luna. Quem diria que ia continuar depois da morte? Lutando pela chance de permitir que a morte de sua tripulação nunca aconteça, a guerreira pirata deve sobreviver uma série de testes enquanto divide um novo corpo com seu dono original. Este conto é uma aventura compacta, onde fantasia e ficção cientifica se unem com bom humor dentro de um corpo bundudo.
Tadeu Rezende
Tadeu Rezende, nascido em ’97, é um carioca que – graças aos nômades modernos que são seus pais – morou em incontáveis cidades diferentes até acabar aluno de Letras Inglês na UFPB.
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Dois em Um - Tadeu Rezende
Candidata: Nº214, Combatente/ Destino: LPTA 13/ Objetivo do Teste: Examinar mudanças fisiológicas e metafisicas nos momentos levando à, durante e após a morte./ Nota: Garanta a morte da candidata a qualquer custo.
— Arquivo Oficial do Laboratório de Pesquisa em Transplantes de Almas. Site acessado no dia 29 de Abril, 2322.
Luna nunca foi muito apegada a objetos materiais. Espadas e roupas eram ferramentas; ouro e riquezas só tinha valor pelas experiências que podiam comprar. As vords, por outro lado… elas sim mereciam um pouco de apego.
Luna Spiritus, pirata por diversão, estava de pé no deque de seu barco, este que prosseguia suavemente por águas calmas, banhado pela luz pálida da lua e o brilho da essência eterna.
Ela era uma mulher de estatura pequena, corpo ágil. As cores dela naquela noite eram branco, cobre, verde, e preto. Branco para sua pele, pálida como leite. Cobre para seu longo cabelo castanho. Verde para seus olhos esmeralda, que brilhavam com excitação. E preto para seu uniforme furtivo, completo com uma jaqueta de couro.
Em uma mão Luna trazia seu arco de confiança. Na outra ela estava admirando a sua vord. A vord era um objeto mágico, uma varinha com dois palmos de comprimento; um cristal azul do tamanho de uma moeda estava incrustado em sua ponta. O cristal brilhava com uma luz azul suave, mas quem olhasse mais de perto veria a tempestade. Dentro do cristal, essência girava ao redor de si como um pequeno furacão feito de nevoa branca, girando e torcendo num movimento furiosos que Luna sempre achou um tanto hipnotizante. Graças a esse pequeno cristal, Luna conseguia controlar o vento.
O barco desacelerou até parar. A embarcação de Luna, o Lua Crescente, era relativamente pequena. O Lua tinha velas negras e nenhuma bandeira hasteada.
Duzentos metros adiante, outra embarcação flutuava na água — um navio três vezes maior que o Lua Crescente. A embarcação comercial estava ancorada para a noite. Em seu mastro voava a bandeira jade da Companhia Salvorina de Comércio. Este navio era o alvo da noite.
Luna estava na polpa do Lua Crescente. Uma mulher alta se aproximou dela, usando um capuz e uma mascara de coruja.
Estamos prontos, capitã Águia,
ela disse.
Águia era Luna. Os apelidos não tinham sido ideia dela, mas a tripulação estava preocupada com anonimato, então Luna não se opôs. Entretanto, ela também não participava, se contentando com uma mascara simples que cobria a parte inferior de seu rosto.
Luna prendeu sua varinha no cinto e deu uma tapinha no ombro da Coruja. Hora de trabalhar. Ela virou-se para ver os outros membros da tripulação, que já tinham formado um semicírculo no deque. Eram sete ao todo, todos mascarados. Isso fazia nove tripulantes, contando Luna e Coruja.
Muito bem, meus queridos animais,
Luna disse. Na noite quieta, até os sussurros dela pareciam gritos. Mais uma vez é hora de tirar os olhos do chão e olhar pra frente. De dia vocês são carpinteiros, médicos, prostitutas, todas as pessoas de bem, passivas. Mas aqui!
Luna ergueu os braços. Aqui vocês são a noite. Vocês são as flechas, eu sou o arco e eu nunca erro! Confiem na minha mira e lembrem: qual é a primeira regra?
Sete vozes soaram em uníssono: Sem mortes!
Isso mesmo,
Luna disse. Ela virou-se em direção ao navio inimigo. Vamos animar essa noite.
Luna aceitou uma flecha de Coruja. Esta tinha o dobro do tamanho de uma flecha normal, confeccionada a partir de uma madeira negra e resiste. A ponta e a pena também eram negras, uma corda estava enrolada ao redor do corpo da flecha. A corda ia até o chão, onde se amontoava perto dos pés de Luna.
Colocando a flecha no arco, Luna focou no alvo. Parte da tripulação do outro navio tinha se reunido no deque. Eles estavam tendo uma discussão que parecia séria. O problema parecia ser a figura de capuz que estava sendo arrastada para o outro lado do navio. Será que iam jogar a pessoa no mar? Não importava. A distração era vantagem para Luna.
Se concentrando, Luna focou seu sexto sentido, estendendo sua aura através das águas em direção à embarcação inimiga. Ela sentiu a presença e localização de cada pessoa no outro navio, assim como a presença de sua tripulação atrás dela.
Trinta pessoas ao todo,
Luna disse. Tem sete no convés, o resto está dormindo nos deques inferiores. Não tem ninguém acordado nessas áreas, parece que a comoção no convés distraiu todo mundo. Vamos assegurar o deque sem acordar o pessoal de baixo. Macaco, Lobo, vocês fazem o de sempre, entendido?
Sim senhora,
os dois responderam.
Luna acenou. Ela ergueu o arco, mirou no lado do navio inimigo, puxou a corda, respirou fundo e ativou sua vord.
A varinha ainda estava na cintura de Luna. Ao comando mental dela, essência fluiu do cristal para o corpo de Luna. Era como uma nuvem de nevoa gelada sendo absorvida por seu corpo. Luna comandou a essência braço acima, até que a energia emanou de sua pele, fundindo-se com o ar e dando Luna controle sobre o mesmo.
Ao comando dela, ar fluiu em direção à ponta da flecha. Luna fez o ar girar, formando um turbilhão ao redor da ponta da flecham que ameaçava arrancar o arco inteiro de suas mãos. Luna soltou a