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O fim da internet
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E-book234 páginas3 horas

O fim da internet

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Sobre este e-book

O vício pela internet pode acabar com o mundo.


 

Tudo está relacionado com a existência do que chamam "O elixir da felicidade", que não é mais que um vício pela internet que se produz quando os indivíduos se conectam à rede enquanto usam óculos especiais. Com eles, conseguem um efeito que os faz se sentir felizes, mas que os converte em viciados. A tentativa de solucionar essa situação com um vírus informático que separe essas pessoas da rede, por parte dos governos, não só não ajuda, senão que complica a situação. Os problemas para a humanidade e para o Javier estão apenas começando. O autor demonstra em suas páginas o domínio do suspense. Em "O fim da internet" nada é o que parece. As viradas inesperadas deixam o leitor com a boca aberta. Ficção científica com toques de romance negro para desfrutar.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento6 de fev. de 2019
ISBN9781547568154
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    Pré-visualização do livro

    O fim da internet - Diego Galán Ruiz

    O fim da internet

    O elixir da felicidade

    A maioria das pessoas deixou de ir trabalhar, o mundo se converteu em um caos, e as nações decidiram no fatídico dia 16 de maio do ano 2023, em uma votação extraordinária da ONU, acabar com a internet. O sinal deixou de ser recebido em todo o mundo. Já era tarde demais para muitos, haviam se convertido em vegetais que só viviam para a internet e pela internet, sua cura não era possível, a reação dos governos chegou tarde. Essas pessoas morreram quase no ato. Eram como drogados que devido à falta de sua dose de drogas, ou seja, da internet, sofreram uma morte fulminante. Bem poucos não estavávamos enganchados: mais de 99% da população morreu ou ficou gravemente enferma, muitos ficaram em coma ou em estado catatônico, outros se suicidaram ao ver morrer seus entes queridos, alguns poucos milhares de pessoas ficamos com vida. Nenhum de meus familiares, amigos e conhecidos ficou com vida. Tinha 21 anos e o mundo que eu conhecia desapareceu embaixo do meu próprio nariz. Mas, como se havia chegado a essa situação tão crítica?

    Não havia passado nem um ano da invenção do chamado elixir da felicidade. Tudo aconteceu muito depressa, a comercialização desse produto se desenvolveu quase ao mesmo tempo de sua invenção, não se fizeram os testes pertinentes para constatar que não havia efeitos negativos para a saúde ou assim eu pensava. No começo tudo parecia ir bem. As pessoas nunca haviam sido tão felizes. Muitos acreditavam que a solução para todos os problemas da sociedade havia finalmente sido encontrada. Havia uma sensação muito parecida, assim se supõe, àquela que teria sentido um cruzado da idade média ao encontrar o Santo Graal. Mas um dia tudo mudou. Lembro-me de que eu estava na casa do meu amigo Carlos. Ele, como de costume, estava navegando pela internet. Fazia duas semanas que havia comprado o chamado elixir da felicidade. Eram simplesmente uns óculos muito parecidos aos que havia pouco mais de uma década se usavam para assistir a filmes em 3D. Não saberia dizer exatamente que efeito produziam, nunca cheguei a experimentá-los. Pelo contrário, Carlos ficou quase viciado naqueles óculos desde o primeiro momento de sua aquisição. Não perdia a oportunidade de usá-los, sempre que um momento livre tinha. Aquele dia não era uma exceção, teclando e usando os óculos, minha curiosidade era muito forte e eu tive que perguntar a ele:

    -Carlos, o quê sente quando usa os óculos?

    Ele me olhou fixamente com uma expressão de estranheza em seu rosto e disse, com um tom muito sereno, que fazia entrever que se encontrava em um momento de extremo relaxamento.

    -Não se pode expressar com palavras, experimente -não disse mais nada, e continuou teclando com a mesma expressão de serenidade que não deixou de mostrar no tempo que passei ali em sua casa.

    Enquanto me dirigia para casa pensava na grande mudança sofrida pelo meu amigo desde a aquisição do, de minha parte, mal chamado de elixir da felicidade. Carlos era um garoto fornido amante de todos os tipos de esportes, quase não teclava pela internet, mas isso já pertencia ao passado. Tinha se tornado um garoto sedentário, quase não se movia da frente da tela do computador, desde o  fatídico instante que colocou os óculos, sua vida mudou.

    Ainda absorto em meus pensamentos quando tocou meu celular, era a minha mãe. Quando atendi me disse em um tom muito nervoso que fosse rapidamente para casa. Perguntei o que estava acontecendo mas não quis me contar. Desliguei e intensifiquei minhas passadas. Queria chegar o mais rápido possível para saber o que estava acontecendo. Logo cheguei à minha casa, estava situada no bairro mais luxuoso da cidade, era uma grande mansão. Abri a porta e minha mãe ao me ver entrar me abraçou chorando.

    -O quê houve mamãe? Por que está chorando? -perguntei preocupado ao vê-la chorar tão desconsoladamente.

    -Javier, aconteceu uma desgraça -disse quase tartamudeando, notava-se que estava muito afetada.

    -Mamãe, diga-me o que aconteceu -eu já não podia mais, não entendia nada e precisava de uma resposta.

    -É o Carlos -fez uma pausa antes de continuar, notava-se que algo grave havia acontecido com o meu amigo, sua mãe acabou de ligar- gostaria de não ter que lhe dar esta má notícia, seu amigo -antes de poder terminar o frase, rompeu a chorar.

    -Mas mamãe, diga-me. O quê aconteceu com o Carlos?

    -Morreu.

    Ao ouvir a palavra morto, eu me desmoronei e tive de me sentar. Não conseguia entender, havia pouco mais de meia hora que estava falando com ele, e em nenhum momento me pareceu que se encontrasse mal, nem notei nenhum sintoma que pudesse fazer suspeitar de que lhe acontecesse algo grave. Minha mãe se sentou ao meu lado e tentou me consolar, mas não havia consolo possível. Meu melhor amigo acabava de falecer.

    Aquele dia passei sem comer nada. Logo fui dormir, a tristeza me embargou a alma. Custou-me muito adormecer e quando por fim caí rendido os pesadelos se apropriaram de mim. Neles aparecia meu malogrado amigo e me suplicava que lhe tirasse os óculos.

    -Por que você não os tira? -disse a ele sem entender o que estava acontecendo.

    -Tire-os de mim, por favor, meus olhos doem muito -retrucou gritando de dor.

    Aproximei-me dele e tirei aqueles malditos óculos. Uma tétrica imagem apareceu diante de mim, não tinha olhos, de suas órbitas vazias saíam infinidade de vermes. Um calafrio percorreu meu corpo e gritei como nunca me lembrava de haver gritado. Fechei os olhos aterrorizado e quando voltei a abri-los encontrei minha mãe diante de mim assustada.

    -O quê houve, filho? Seus gritos me assustaram.

    -Perdão, mamãe, tive um pesadelo -naquele preciso momento uma pergunta rondou pela minha cabeça: poderiam ter algo a ver os óculos com a morte do Carlos?

    -Mamãe, quando ligou a mãe do Carlos ontem, exatamente, o que disse?

    -Só que seu filho acabava de morrer.

    -Nada mais? Não comentou como havia morrido?

    -A verdade é que não.

    -Ela pareceu muito afetada?

    -Ainda que pareça estranho tinha uma voz muito serena e não parecia em nenhum momento estar afetada pelo trágico acontecimento -notava-se que minha mãe não se encontrava cômoda falando sobre o assunto -e agora, se não se importa, preferiria não falar mais sobre isso.

    Decidi escutar a minha mãe, mas ainda fiquei com mais dúvidas: Por que a mãe do Carlos estava tão tranquila e serena? Não era normal, a perda de seu filho tinha que tê-la deixado muito tocada emocionalmente. Lembrei-me então de que ultimamente o Carlos também falava em um tom muito tranquilo e sereno. Era uma coincidência ou talvez havia algo mais?

    Eu me vesti e desci para tomar café, ainda não tinha me recuperado totalmente do acontecido, mas decidi que tinha que comer algo. Acabava de me sentar quando a tocou a campainha da porta.

    -Eu abro, mamãe -abri a porta e ante meu assombro um distintivo de polícia apareceu diante dos meus olhos. Um homem de uns cinquenta anos, loiro, olhos azuis, não muito alto, com o cabelo cacheado e aspecto desalinhado era seu portador.

    -Bom dia, sou o Agente Aníbal Harvey. E o senhor é o Javier Galán?

    -Sim, eu mesmo. A que se deve sua visita?

    -Estou encarregado da investigação do suposto suicídio de Carlos Ríos.

    -Disse suicídio. Não tinha morrido de morte natural?

    -Se não se importa, deixe-me entrar. Conversaremos melhor dentro da sua casa. Entremos que explicarei tudo.

    Eu o deixei entrar e nos sentamos no sofá, e em instantes entraram meus pais.

    -Papai, mamãe, este é o agente Aníbal. Está encarregado da investigação sobre a morte do Carlos.

    Meu pai, que era um homem muito sério e de maneira alguma acostumado a lidar com a polícia, mostrou-se muito distante o tempo todo, não se sentiu em nenhum momento cômodo. Minha mãe era totalmente diferente, estava encantada com a visita do policial. A curiosidade residia com ela, tinha vontade de saber o que realmente tinha acontecido. Eu, por  minha parte, não estava totalmente satisfeito, estava convencido de que o policial tinha sérias suspeitas de que eu sabia algo. Não era de se estranhar, fui a última pessoa a ver o Carlos com vida.

    O policial não nos deixou de maneira alguma com dúvidas. Aparentemente Carlos se jogou da varanda instantes depois da minha saída. Algumas pessoas que viram como se precipitava à rua, ouviram-no gritar: meus olhos, meus olhos.

    -Perdoe-me, senhor agente. Estava usando uns óculos quando se jogou? -perguntei e tinha certeza de que assim era.

    -Não. De que óculos está falando? -disse o agente com cara de estranheza.

    -Já ouviu falar do elixir da felicidade?

    -Sim, ouvi algo, mas não sei do que se trata.

    -Pois, esse tal elixir são realmente uns óculos.

    -O quê fazem esses óculos, se posso saber? -perguntou intrigado.

    -Não sei, nunca os coloquei.

    -Eu sei -meu pai que havia estado em silêncio até aquele preciso instante nos surpreendeu a todos. Não tinha nem ideia de que houvesse experimentado os óculos-. Fazem você sentir uma felicidade tão grande e um relaxamento tão enorme que todos os seus problemas desaparecem.

    -Jorge, não sabia que você tinha esses óculos -disse minha mãe com uma expressão entre o assombro e o aborrecimento.

    -Perdoe-me, não dei nenhuma importância. Achei que não se importaria, Vanessa. Eu os comprei na semana passada.

    -Perdoe-me, papai, mas tenho uma pequena dúvida. Qual a relação entre os óculos e a internet? Carlos sempre os usava quando teclava.

    -É muito simples, só funcionam quando você está navegando ou conversando pela internet.

    O agente Aníbal, que estava escutando entusiasmado a nossa conversa, decidiu que era hora de falar ele.

    -Perdoem-me, senhores, mas acho que isto não nos leva a nenhum lugar. Só vim perguntar ao senhor Javier se o Carlos lhe disse ou o lhe fez entrever, em algum momento ontem ou em dias anteriores, que tivesse intenção de tirar a própria vida -Parecia um pouco aborrecido ,que por alguns instantes, passássemos por cima dele e nos puséssemos a conversar entre nós. Não achou nenhuma graça.

    -A verdade é que não. Sinto muito não poder ajudá-lo.

    -Não importa. Caso se lembre de algo, ligue-me. Aqui está o meu número de telefone -apontou para o número em um pequeno papel. Levantou-se, despidiu-se de nós e se dirigiu até a porta.

    -Fique tranquilo, eu o farei -abri a porta e me despedi dele, ato contínuo a fechei e me dirigi até onde estavam meus pais sentados.

    Meus pais estavam discutindo. Minha mãe não havia aceitado bem a compra dos óculos sem havê-la consultado, e eu tentei manter a paz.

    -Não leve a mal, mamãe, papai não o fez de má fé. Pensava que você não se importaria -meu pai me piscou o olho como sinal de aprovação. Minha mãe em contrapartida parecia não totalmente satisfeita e continuou a censurar meu pai por sua atitude.

    Decidi não me meter mais na discussão. Dirigi-me à cozinha, comi algo e saí para dar uma volta. Enquanto fechava a porta ainda podia ouvir meus pais discutindo. Se algo fazia bem minha mãe, era que não dava nunca o braço a torcer se achava que estava certa.

    Caminhei por um tempo sem rumo fixo, meus pensamentos se centraram nas últimas palavras de Carlos, que assim como no meu sonho se queixava de dor em seus olhos. Eu me arrependi por não ter feito uma última pergunta ao agente Aníbal. Tinha curiosidade em saber se seus olhos estavam danificados. Se assim fosse, a relação com os óculos pareceria lógica, e talvez fossem a causa de sua morte. Assim mesmo me dei conta de que era importantíssimo ter certeza disso, pois mais pessoas, entre elas meu pai, poderiam estar em perigo.

    Vazio

    No dia depois da visita do agente Aníbal, uma sensação de vazio se apoderou de mim. Toda a minha vontade de averiguar o acontecido desapareceu. Não era capaz de explicar o que sentia. Em realidade apenas um vazio, como se algo ou alguém tivesse absorvido minha energia vital. Meus pais se comportavam de uma maneira tão suspeita como estranha. Falavam às escondidas e se me vissem chegar se calavam de súbito. Quando perguntava sobre o que conversavam, eles me diziam que nada de importante, apenas assuntos de negócios que a mim, segundo sua opinião, não tinham por que me interessar. Ante essa situação que me fazia sentir tão incômodo, para mim era preferível estar na rua que em minha própria casa.

    Mas fora de casa continuava sentindo talvez mais, se possível, um vazio que até podia chegar a me deixar sem ar em meus pulmões

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