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Fio de Navalha: Segredos Ocultos
Fio de Navalha: Segredos Ocultos
Fio de Navalha: Segredos Ocultos
E-book432 páginas5 horas

Fio de Navalha: Segredos Ocultos

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Sobre este e-book

Fio de Navalha: Segredos Ocultos é um romance policial entre um delegado viúvo, pai de duas crianças é uma recém-formada jornalista, durante uma investigação de homicídio de um jovem poeta, escritor e estudante, ocorrido nas dependências de uma famosa instituição de ensino superior de Goiânia. Assim como outros objetos afiados, Fio de Navalha corta na carne o mundo acadêmico, expondo as relações entre professores e alunos, líderes estudantis e políticos; entretanto, a navalha, com seus lados cortantes, nos mostra que a morte por ela pode ser um jogo dúbio de interesse e/ou sobrevivência. Segredos Ocultos apresentam uma lista de suspeitos, entre homens e mulheres que se envolveram com o poeta, o escritor e o estudante, além de duas linhas de investigações: uma passional e outra política. Contudo, o livro não deixa de mostrar as barreiras impostas por uma grande paixão. Espero que este livro distraia você, que represente a aventura absolutamente original da imaginação. Feche seus olhos e sonhe com as palavras, se delicie com o romance, chore com as aventuras, descubra o homem, a mulher, o poeta, a vítima, o escritor, o político, o romântico e a vida que existe dentro de cada um de nós.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de set. de 2018
ISBN9788540025622
Fio de Navalha: Segredos Ocultos

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    Fio de Navalha - Claudiomar Oliveira do Nascimento

    Costa

    CAPÍTULO I

    O CORPO

    Depois de meses de exaustivas investigações do estranho assassinato do cantor sertanejo em ascensão Rick Viola, ocorrido em uma mansão no famoso condomínio de luxo Jardins Aldeia do Vale em Goiânia, o delegado de homicídio do 9º Departamento de Polícia do Estado de Goiás entrega o inquérito ao Poder Judiciário e dá por encerrada a investigação.

    Semanas depois, o delegado do caso, denominado pela imprensa de Moda e Viola, alegando problemas familiares pela perda da esposa por causa de uma doença terminal, solicita junto à Secretaria de Segurança Pública uma licença para cuidar dos filhos.

    Algumas semanas depois...

    Numa manhã goiana de sol limpo, trânsito lento, pessoas apressadas e ar seco, o delegado Oliveira recebeu uma ligação quando levava os filhos à escola. Era o inspetor chefe falando sobre um homicídio ocorrido em uma universidade tradicional do Estado.

    Car speaker ligado...

    Alô, delegado! Tudo bem?

    Sim, inspetor. O que houve para você ligar tão cedo assim? Desconfiado, ele questiona o amigo.

    O senhor não está sabendo?

    Sabendo o quê?

    Um caso grande, daqueles que o senhor gosta.

    Não estou interessado. Estou de licença, lembra?

    Sim. Mas esse ocorreu na badalada Universidade Nova. Insiste o inspetor. A melhor instituição privada de ensino superior do Estado e a sétima no ranking nacional.

    Mesmo assim, não estou interessado. Reafirma o delegado.

    Vendo que seria difícil convencê-lo, o inspetor muda o tom e diz:

    Querem o senhor no caso.

    Quem? Pergunta o delegado.

    O secretário de Segurança. Inclusive ele já ligou várias vezes perguntando se já havia entrado em contato com o senhor.

    Estou de licença, já disse. O delegado estava disposto a não aceitar aquela investigação, pois sabia que seria muito desgastante. Contudo, teve que mudar de ideia após ouvir do amigo que não se tratava de um pedido e sim uma ordem direta do alto escalão da Segurança Pública.

    Senhor, infelizmente terá que interrompê-la. São ordens.

    E porque ele não ligou pessoalmente, já que me quer tanto assim no caso?

    Não sei senhor. Só sei que é para o senhor comparecer o mais rápido possível à cena do crime.

    E como está o local? Questionou o delegado.

    Cheio, a imprensa está presente em grande número. E pelo que estou escutando nas rádios, o caso já está repercutindo de forma assustadora.

    Ok. Vou deixar meus filhos na escola e deslocar até aí em seguida.

    Ok. Até daqui a pouco.

    Car speaker desligado.

    Embora os noticiários estivessem bombando sobre o caso, o delegado não ligou o rádio do seu carro, a fim de não prejudicar sua futura investigação.

    Após deixar os filhos na escola, ele se desloca para o local, quando ao parar em um semáforo, por alguns segundos, relembra da ex-esposa e de beijá-la após deixá-la no trabalho.

    Na cena do crime...

    - Bom dia, sargento!

    - Quem encontrou o corpo? Pergunta o elegante delegado que acabara de chegar à cena do crime, vestindo um dos seus tradicionais ternos risca de giz.

    - Foi o vigia, delegado. Diz o policial que respondeu ao pedido da central, sendo o primeiro a chegar ao local.

    - Quem é a vítima? Pergunta o delegado.

    - Seu nome é Carlos Eduardo Lopes de Oliveira, 28 anos, solteiro, acadêmico do 8º período noturno de Relações Internacionais. Relata o policial que atendeu à ocorrência.

    - O que mais vocês descobriram?

    - Foram quatro disparos à queima-roupa, o primeiro provavelmente atingiu, em cheio, o coração e os outros três foram no rosto.

    - Nossa, que estrago! Mal dá para ver o rosto. Comenta o inspetor que acompanha o delegado, após levantar o coberto que cobria a vítima.

    - O que você acha, inspetor? Foi obra de profissional? Pergunta Fábio Oliveira Rangel Bulhões, conhecido como delegado Oliveira.

    - Difícil de saber, delegado, pode ter sido ou não. O que percebo é que, pela posição do corpo e as marcas das perfurações, a vítima não reagiu. Quem fez isso queria ter certeza deque ele viria a óbito. Responde o inspetor chefe Tedesco, que em seguida pergunta:

    - O que o senhor acha?

    - Não parece ser de profissional e, sim, de uma pessoa bastante perturbada.

    - Como assim, delegado? Pergunta o inspetor.

    - Se o primeiro foi no coração, não havia necessidade dos outros três...

    - Faz sentido, delegado. Interrompe o inspetor.

    - Pessoas desequilibradas é que descarregam a arma ou continuam golpeando e não percebem que a pessoa já faleceu até o cair da ficha. O delegado termina de explicar.

    - Pelo estado de decomposição da parede muscular, delegado, a vítima deve ter chegado a óbito entre 20 e 22 horas. Ainda não sei com exatidão, terei que fazer alguns testes no laboratório. Disse a médica legista.

    - Que mancha estranha é essa, doutora? Era uma mancha roxa, indo para o lilás, que estava um pouco acima do ferimento da bala.

    - É das canetas que foram atingidas pelo projétil no disparo no coração. Responde a médica legista.

    - Doutora! Quero o laudo médico o mais rápido possível, de preferência ainda hoje!

    - Vou ver o que posso fazer. Responde a legista, que em seguida dá um sorriso para o delegado e comenta:

    - Delegado, o senhor continua primoroso. Referindo-se à barba e cabelo bem feitos, o caimento do conjunto risca de giz: paletó, colete e calça, e uma camisa azul-marinho que ele sempre usava por baixo do colete, gravata estreita, listrada Puccini e sapatos pretos estilo inglês tradicionais, com fivelas e cinto combinado com o sapato.

    - Obrigado. Não esqueça, preciso desse relatório o quanto antes.

    - Inspetor, o que mais nós temos? Pergunta o delegado olhando a retirada do corpo pelo pessoal do Instituto Médico Legal.

    - Superficialmente, sabemos que os projéteis são de calibre 38 e que a vítima mantinha um ótimo relacionamento com os vigias. Segundo o vigia que encontrou o corpo, a vítima sempre trazia alguém até o terraço.

    - Como assim?

    - Bem, ele era escritor. Lembra aquele livro campeão de vendas no ano passado, escrito por um goiano, aquele que falava dos imigrantes nos Estados Unidos?

    - Lembro, era dele?

    - Sim, senhor. Além desse escreveu outros três livros de poemas, o último estava concorrendo ao prêmio Jabuti de literatura.

    - Tem mais? Pergunta o delegado.

    - Ele estava escrevendo um quinto livro.

    - Sobre o que era esse livro, inspetor?

    - Ainda não sei senhor, mas vou averiguar.

    - O que mais temos, inspetor?

    - Segundo o vigia, todos o adoravam, principalmente as mulheres.

    - Celebridade. Resmunga o delegado.

    - Inspetor?

    - Senhor.

    - Recolhe tudo e leva para a delegacia. Pede o delegado.

    - Pode deixar, delegado. Responde o inspetor chefe e em seguida pede desculpa pelo telefonema.

    - Delegado, desculpe por ter ligado para o senhor, mas foi ordem do secretário. Ele pediu para interromper sua licença e colocá-lo no caso.

    - Tudo bem, inspetor, depois converso com o secretário.

    Durante toda a manhã, os peritos recolheram materiais da cena do crime e os policiais interrogaram os vigias e outras pessoas. Por volta do meio-dia, o delegado respondeu às perguntas dos jornalistas, que aguardavam a coletiva. Todos queriam saber mais detalhes sobre o homicídio. Porém, o delegado apenas divulgou o nome da vítima, as circunstâncias em que ela foi encontrada e que, por enquanto, não tinha nenhuma pista do homicida.

    O ÚLTIMO POEMA

    Muitas perguntas ficaram abertas e uma grande pressão caiu sobre o delegado de homicídios do 9º Departamento de Polícia – DP. O caso repercutiu nacionalmente, muitas especulações e hipóteses foram levantadas. Haja vista, que a vítima era conhecida nacional e internacionalmente. A mídia, com sua fúria sensacionalista, mostrava detalhes da vida do poeta e escritor, destacando seus livros e prêmios.

    A universidade declarou luto oficial de uma semana e os alunos do curso preparam uma homenagem para se despedirem do amigo. Leram alguns dos seus poemas enquanto, lentamente, os senhores da funerária desciam o caixão até o fundo da cova. Muitos não queriam acreditar que estavam ali prestando homenagem a um amigo que tinha um futuro brilhante e alegrava a todos com suas palavras e amizade.

    Carlos Eduardo Lopes de Oliveira foi sepultado no Parque das Brisas, saída para Bela Vista de Goiás – cemitério de classe média, em uma área com aproximadamente 250.000 m² de natureza preservada. O lugar oferecia um ambiente de muita paz e tranquilidade, os jazigos se encontram em um amplo gramado, apenas identificados por placas de bronze. Um lugar onde tudo era cuidadosamente pensado para proporcionar tranquilidade, paz e bem-estar às famílias. Enterrado com a bandeira do seu time do coração sobre o caixão, com um exemplar de cada um dos seus livros, uma bíblia e um rosário, assim o último poema foi escrito.

    O inspetor Tedesco que acompanhara o enterro à distância, com o seu celular e uma câmera, tirou algumas fotos e fez gravações das pessoas presentes na cerimônia com a autorização do delegado Oliveira.

    Durante o sermão, na missa de sétimo dia, na paróquia da universidade, o Arcebispo Metropolitano de Goiânia lamentou a perda do brilhante jovem. Durante o evento, seus amigos novamente prestaram outras homenagens. Sua irmã adotiva, Flávia, emocionalmente abalada, declamou o poema Família, do seu primeiro livro – Poesias de um estudante – que resumia perfeitamente os valores que ele sempre buscou.

    Em nossa mesa a vida aflora através dos sentimentos familiares./ A natureza humana se mostra nas palavras, gestos e pensamentos./ Todos os sentimentos que corroem o homem são postos abaixo./ Mesmo que a mesa esteja semifechada, nossos corações estarão abertos, /E a vida ainda nascerá no entre cantos do móvel de madeira e em nossos corações,/ Pois a cada dia a mesa cresce e novos membros surgem./ Nessa mesa a maldade humana que persegue a família foi banida./ Porque encontramos nos sentimentos expressos nos sorrisos das crianças /E nos lábios dos mais velhos que a vida em família é o nosso maior tesouro./ Nessa mesa a saudade dos entes que se foram /São lembranças nas histórias do dia a dia./ Porque essa mesa nada mais é do que sinônimo de união,/ Alegria e futuro expostos nos corações humanos.

    Ao terminar de ler, seus olhos lacrimejaram e seu coração gritava de dor. Contudo, sua dor foi suprida pelas palmas dos presentes.

    Durante a celebração ecumênica, o delegado tem um novo flashback de sua amada esposa. Recorda o quanto ela era dedicada à prática religiosa.

    Delegado! Delegado! O senhor está bem? Pergunta Rafael, que o acompanha.

    O quê? Responde o distraído delegado.

    O senhor está bem? Insiste Rafael.

    Sim, estou.

    É que o senhor nem percebeu que já está terminando a celebração.

    No final da missa, o secretário de Segurança Pública do Estado garantiu, junta à mídia que acompanhava tudo e para a família da vítima, que não iria poupar esforços para encontrar o culpado ou os culpados. Disse ainda aos familiares:

    Não conheci seu filho, mas presto minhas sinceras condolências e mais, o Governador não pode comparecer pessoalmente por motivo de agenda de Estado, mas estendeu seus pêsames por meio desse telegrama. O secretário entrega o telegrama enviado da China pelo Governador e pede empenho nas buscas por resultados. Ele sente muito pela perda do seu filho e promete disponibilizar todos os recursos necessários para a solução desse crime.

    Muito emocionada, a mãe de Carlos Eduardo agradeceu ao secretário e a todos os presentes. Flávia, que permanecera o tempo todo ao seu lado, abraçou confortando-a e juntas se dirigiram para casa junto ao pai.

    O delegado Oliveira, ao sair da igreja, foi abordado por alguns jornalistas presentes, mas se recusou a dar entrevista, apenas comentou:

    Estamos empenhados em resolver esse crime.

    Os repórteres insistiram ao máximo, contudo, só conseguiram obter a repetição da mesma frase, enquanto o delegado dirigia-se ao carro.

    Estamos empenhados em resolver esse crime.

    CAPÍTULO II

    A INVESTIGAÇÃO

    Droga! Droga! Como pode? Não temos nada ainda! Que droga! Vamos rever o que temos, inspetor. Esbraveja o delegado.

    Bem, a vítima tinha 28 anos, era solteiro, estudante de Relações Internacionais, escritor, poeta e morava com os pais. Segundo os depoimentos que temos, ele também era extremamente político, articulador, manipulador, sedutor, inteligente e namorador. Se o senhor quiser posso continuar os adjetivos que encontrei. Brinca o inspetor.

    Não precisa, já entendi. O que mais descobriram? Pergunta o delegado.

    Ele foi assassinado à noite e encontrado pelo vigia na manhã seguinte, no sexto andar do bloco D, da área IV da Universidade Nova de Goiânia, provavelmente o assassino conhecia bem o hábito da vítima ou planejou tudo muito bem. O inspetor apresenta os dados dos relatórios e, em seguida, questiona o delegado.

    Delegado, só não entendo como é que cerca de duas mil pessoas que estudavam aquela noite naquela área não viram nem escutaram nada?

    - Ainda não sei, mas algo está errado ou alguém está mentindo, inspetor.

    O que mais temos? Pergunta o delegado.

    Foram quatro disparos curtos: um no coração e três no rosto, o que nos leva a suspeitar que se tratava de vingança. A arma usada foi um revólver 38, modelo 642, série especial. Fato já comprovado pela equipe de peritos do 9º DP.

    Dá para rastear a arma, inspetor?

    Acho impossível, delegado. Existe um mercado negro para esse tipo de arma, por se tratar de uma arma potente, leve e pequena. No entanto, vou dar uma olhada com nossos informantes da feira do rolo na Praça da Vila Nova e ver se descubro algo.

    O que os peritos encontraram na cena do crime, inspetor?

    Um livro com o sangue da vítima.

    Encontraram alguma impressão digital no livro?

    Apenas da vítima.

    Que livro é esse? Pergunta o delegado.

    O último livro que ele escreveu intitulado: Palavras ao vento: Encontros.

    Encontraram mais alguma impressão digital no local?

    Várias, delegado. O terraço é reservado para palestras e reuniões.

    Cheque todas e cruze as identidades, veja se há ligações com a vítima. Pede o delegado para comunicar à equipe que acompanha a narrativa dos fatos.

    Mas, senhor! São mais de 300!

    Cheque todas. Ordena novamente o delegado.

    Delegado, levamos as roupas para o laboratório e os pertences que se encontravam com a vítima para uma análise de resíduos e DNA. Talvez possamos encontrar algum vestígio ou pista do assassino.

    Fez bem, inspetor. Já verificou as canetas que estavam no bolso da vítima?

    Estão no laboratório, assim que tiver o laudo, repasso para o senhor.

    Como de praxe, o delegado continua fazendo questionamentos e orientando seus agentes para a elucidação do crime.

    O que conseguimos com os depoimentos, inspetor?

    Segundo a família, ele era um ótimo filho, além de carinhoso, prestativo e humilde. O único problema, segundo eles, é que passava horas isolado no seu quarto com seus computadores, e quando saia de casa não voltava cedo.

    Pede uma ordem de busca e apreensão dos pertences da vítima para a juíza Martha. O que mais temos? Continua o delegado.

    Segundo os professores, a vítima era um aluno exemplar, dedicado e bastante comunicativo. Os colegas de sala o respeitavam e o admiravam. De acordo com o pessoal do Centro Acadêmico, do qual foi presidente em 2008, ele não tinha inimigo ou desavenças políticas com ninguém, assim como no Diretório Central dos Estudantes, do qual era secretário-geral. Já o pessoal da Editora Livros & Cia, responsável pelos livros dele, disse que estava trabalhando em um novo livro intitulado Fio de Navalha: Segredos Ocultos, porém, não entregou nenhum texto para eles. O prazo para a entrega só terminaria em dezembro deste ano, senhor.

    Fio de Navalha, inspetor?

    Sim, senhor. Esse é o quinto livro que averiguamos nos nossos interrogatórios durante nossas diligências na universidade.

    O que mais vocês descobriam?

    Delegado, um diretor que pediu para não ser identificado por ter medo de perder o emprego, afirmou que via o dono da editora discutindo constantemente com a vítima, mas não soube explicar o porquê.

    A EDITORA

    Senhor Charles, de acordo com informações que tenho, o senhor não se dava muito bem com a vítima, estou certo? Pergunta o delegado para o dono da editora Livros & Cia.

    Tínhamos nossas diferenças, mas jamais iria matar minha galinha dos ovos de ouro. Sou o fundador dessa editora e trabalho nesse ramo há mais de 30 anos. Tenho comigo que o sucesso dos meus escritores é o meu sucesso, por isso, posso afirmar, com toda clareza, que não tenho nada a lucrar com a morte dele. Responde o Sr. Charles com raiva das colocações.

    Calma! Não o acuso de nada, senhor, estou apenas esclarecendo os fatos. Diz o delegado.

    Estou profundamente triste pela morte dele.

    O senhor sabe se ele tinha inimigo?

    Que me lembre, não. O que tinha de sobra era talento.

    Onde o senhor estava na sexta-feira, 13 de maio de 2011, entre as 20 horas e 22 horas?

    Aqui, trabalhando. Minha secretária e o chefe do parque gráfico podem confirmar. Nesse dia estávamos finalizando um novo trabalho, por isso acompanhei de perto. Sempre faço isso quando é um novo trabalho.

    Inspetor! Com um simples olhar do delegado o inspetor sai para checar as informações.

    Por que vocês discutiram no dia em que ele entregou o seu terceiro livro?

    Não sei, de onde você tirou isso? Pergunta o Sr. Charles surpreso pela pergunta.

    Temos informações seguras a respeito das suas constantes discussões com a vítima, estou errado?

    Não, apenas tentava colocar na cabeça daquele arrogante que não poderia publicar do jeito como estava, senão teríamos enormes perdas judiciais.

    Como assim?

    No dia em que ele apresentou os originais do terceiro livro da série Palavras ao Vento: Encontros, disse que queria fazer uma homenagem às pessoas que o ajudaram na confecção dos poemas. Até aí tudo bem, mas muitas das poesias eram dedicas e inspiradas em mulheres, e muitas dessas eram casadas ou mantinham um relacionamento estável, por isso, não concordei.

    Entendo. Então ele mantinha relacionamentos com essas mulheres?

    Mantinha. Sempre que escrevia algo novo tinha uma mulher envolvida, muito dos poemas eram escritos na hora, às vezes, no motel, nas casas delas, na universidade, nos bares e daí por diante. Ele era uma espécie de amante, marido, namorado, amigo e, às vezes, até psicólogo.

    Um gigolô, então? Pergunta o delegado.

    Não, senhor. Ele é que cuidava muito bem dessas mulheres, nunca recebeu nenhum centavo. Segundo ele, apenas prazer e inspiração.

    O senhor conhece muito a respeito da vida dos seus empregados. Comenta ironicamente o delegado.

    Sei aquilo que eles querem contar, sou um bom ouvinte, por isso sou editor.

    Por um acaso, o senhor não teria os originais dos poemas? Teria?

    Não, apenas os vi naquele dia, mas como recusei publicá-los, ele os levou de volta.

    Obrigado, Sr. Charles! Tenha uma boa tarde. Agradeceu o delegado pelas informações. Ao sair da editora, já no estacionamento o delegado comenta com o inspetor:

    Agora temos elementos para instaurar uma linha de investigação. Em seguida voltam para a DP.

    Na editora...

    Já falei para você se acalmar, é apenas uma investigação de rotina. Pede a pessoa do outro lado da linha.

    Mas...

    Não tem, mas. Interrompe-o

    Se eles descobrirem.

    Vou repetir para que fique bem claro. Tenha calma e colabore com as investigações.

    Na DP...

    Como assim, delegado?

    Investigaremos essas inspirações.

    O senhor acha que pode ter sido alguma delas.

    Não sei, mas temos que investigar todas as hipóteses, já que não existe crime perfeito e, sim, mal investigado.

    Onde é que estamos errando? Pergunta o pensativo delegado em sua sala na delegacia.

    Não sei, senhor.

    Você checou o álibi dele?

    Conferi, sim, procede.

    Enquanto isso, em algum escritório de Goiânia...

    Senhor, acho que teremos problemas com o Sr. Charles.

    Por quê?

    Ele recebeu a visita da polícia e está bastante preocupado.

    Que polícia?

    Agentes da delegacia de homicídio. Segundo ele, estão investigando o homicídio daquele colaborador.

    Só isso? Pergunta o chefe.

    É sim, senhor.

    Alguma coisa que envolva meu nome?

    Não, senhor.

    Ok. Mantenha-me informado.

    CAPÍTULO III

    A REPÓRTER

    Durante toda a semana houve um grande alvoroço da mídia impressa que mostrava tudo sobre o crime e a vida do rapaz de classe média, dedicado e exemplar. A sociedade estava chocada com a morte brutal do jovem escritor. Muito se especulou, mas nada chegou tão perto como os textos da recém-formada jornalista Denise Guarani Lobo, do Diário Popular.

    Em um dos seus textos, ela publicou parte do livro que a vítima estava escrevendo, sendo um choque para todos e, principalmente, para o delegado Oliveira, que não entendia como ela havia conseguido aquele material. O texto foi manchete de capa do jornal, que trazia como título: Fio de Navalha, nome do livro-diário que a vítima estava escrevendo e partes bombásticas dos bastidores da comunidade da Universidade Nova, resumidas pela repórter. O texto referia-se às orgias promovidas pelos professores com alunos e aos bastidores políticos das instituições estudantis da universidade, tudo escrito superficialmente.

    Ao ler as notícias pela manhã, o secretário de Segurança Pública ligou para o delegado Oliveira pedindo esclarecimentos e cobrando providências sobre o vazamento de informações.

    Na tentativa de acalmar seu chefe, o delegado garantiu que nenhuma informação havia saído de sua equipe ou de seu departamento e que durante as investigações preliminares, nos depoimentos, não havia nada que mencionasse o que estava escrito no jornal, inclusive o próprio pessoal da editora que também estava chocado, pois nem eles haviam recebido nenhum texto do novo livro.

    Depois de conversar com o seu superior, o delegado, juntamente com o inspetor Tedesco, foi até o jornal Diário Popular falar com os responsáveis pela matéria.

    No jornal encontraram apenas o editor, a jornalista estava fazendo trabalho de campo. O delegado conversou um pouco com o editor chefe e depois deixou seu cartão de visita, pedindo para que a jornalista entrasse em contato assim que retornasse. No caminho de volta, pararam em uma livraria e compraram os livros da vítima que, por sinal, eram os mais vendidos.

    Delegado, por que o senhor está comprando esses livros? Perguntou o inspetor.

    Quero entender melhor a vítima, estou cansado de ler aqueles depoimentos vazios e respostas duvidosas. Quem sabe encontramos alguma pista.

    Duvido! Esses escritores são cheios de fantasias e mistérios. Diz o inspetor.

    Eu sei. Mas, no fundo eles sempre querem falar algo.

    De volta, na delegacia, os técnicos conseguiram descobrir as senhas dos computares que haviam sido apreendidos na casa da vítima. Nos computadores encontraram os originais dos livros e um arquivo oculto, muito bem protegido.

    Durante as tentativas de se obter a quebra da senha desse arquivo, os técnicos perceberam que a vítima entendia muito bem de programação e havia criado um complexo mecanismo de proteção, dificultando bastante o trabalho deles.

    Senhores! Quero um relatório de tudo que tem nesses computadores, tudo mesmo. Pede o delegado aos técnicos do laboratório de informática do 9º DP.

    Delegado, tem uma repórter querendo falar com o senhor. Diz uma policial ao interfone.

    Transfere para minha sala. Agorinha subo. Pede o delegado.

    Senhor, ela já está na sua sala.

    Ok. Irei atendê-la. Obrigado, policial.

    Senhorita Denise Guarani, presumo?

    Sou eu. E o senhor é o delegado Fábio Oliveira?

    Pode me chamar de Oliveira. Pede o delegado.

    Aceita uma água, um café ou um suco, Srta. Denise?

    Não, obrigada. Agradece ela ao delegado.

    Denise, apenas, delegado. Referindo-se ao tratamento de senhorita.

    Ok. Desculpe-me. Pede o delegado. Em seguida pergunta:

    O que você tem a dizer sobre Fio de Navalha? Que loucura é aquela que você escreveu? Onde foi que você viu essa conversa?

    Desculpe, delegado, mas acho que o senhor está enganado, não tem nenhuma loucura em minhas palavras, tudo o que escrevi veio de fontes confiáveis.

    Que fontes são essas?

    Sigilo profissional. Não posso revelar minhas fontes, por questão de ética. O senhor sabe que o artigo 5º, inciso XIV da Constituição estabelece, de forma inequívoca: É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

    Sou formado em Direito, mocinha, não precisa citar a Constituição, sei das suas diretrizes.

    Ah! Desculpe-me, achei que o senhor havia esquecido. Retruca com ironia.

    Delegado, com licença! O inspetor Tedesco interrompe a conversa e adentra a sala.

    O que foi, inspetor?

    Acho que o senhor tem que ver isso.

    Estou ocupado, não está vendo?

    Mas, foi o senhor mesmo que pediu que comunicasse se encontrássemos algo nos computadores.

    Desculpe, Srta. Denise. Só um minutinho.

    O que foi, inspetor? Perguntou o delegado.

    Bonita, quem é? Pergunta o amigo com um sorriso maldoso.

    Aquela repórter do Diário Popular. Depois que respondeu, o delegado perguntou em tom de poucos amigos.

    O que você quer, inspetor?

    Os técnicos conseguiram abrir o arquivo oculto.

    E daí?

    Fio de Navalha!

    O quê!?

    Fio de Navalha, senhor! Os originais do novo livro da vítima.

    Ótimo! Espere-me no laboratório. Daqui a pouco vou lá.

    Desculpas, senhorita.

    Denise, por favor, delegado. Pede a repórter.

    Desculpe-me. Não consigo tratar as pessoas somente pelo nome.

    Entendo. Mas, pode me chamar de Denise, por favor. Insistiu a repórter.

    Suponhamos que exista esse livro-diário que a senhorita está falando, poderia vê-lo ou lê-lo, talvez ele possa nos ajudar nas investigações.

    Sinto muito, não tenho todo o material do livro, apenas algumas partes. Porém, acho que o senhor já encontrou o que quer.

    Como assim?

    Pude perceber pelo espanto do seu inspetor e pela forma como o senhor mudou o rumo da nossa conversa depois que fomos interrompidos. Estou certa?

    Por enquanto é só, senhorita. Se precisar entro em contato com você. Passar bem.

    O LABORATÓRIO

    No laboratório, os técnicos mostraram todo o conteúdo dos computadores para o delegado, imprimiram os arquivos do novo livro-diário e cruzaram as informações que encontraram com os depoimentos que tinham e, diante dos dados recolhidos, pré-traçaram um perfil da vítima.

    Vejamos o que temos agora, inspetor. Diz o delegado.

    Já temos o perfil da vítima e alguns depoimentos. Diz o inspetor, que continua:

    De acordo com o site de relacionamento que ele usava 90% dos seus amigos eram mulheres, sua lista de contatos em um sítio de mensagens instantâneas chegava a 98% de mulheres e mais...

    Temos mais de 250 depoimentos na página dele nessa rede social, todos de fãs, mulheres por sinal, 130 páginas do novo livro e várias fotos. Seria um assassino virtual? Brinca o inspetor, que é repreendido pelo delegado.

    Mais respeito, inspetor, isso é uma investigação séria.

    Desculpas, senhor! Averiguamos que a vítima prestava assessoria política para o deputado estadual Coisinha da Silva, do PRD - Partido Rural Democrata.

    Alguém já conversou com o deputado? Pergunta o delegado.

    Diretamente, não, senhor. Responde o inspetor.

    Conversei por telefone

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