Há Sombras No Quarto Dos Fundos
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Há Sombras No Quarto Dos Fundos - Emerson Monteiro Da Silva
Emerson Monteiro da Silva
Há
Sombras no
Quarto dos
fundos
Salvador
2021
1
Dedico este livro à
minha avó Maria Bárbara.
2
Esclarecimentos
sta é segunda edição de Há Sombras no Quarto dos Fundos. Embora este seja o E meu primeiro livro publicado, não foi o primeiro escrito, antes dele já havia feito mais dois, porém somente a primeira aventura do investigador Pedro da Mata me passou a segurança de arriscar uma publicação. Depois de muita procura, esforço e falta de incentivo, em 2016 finalmente consegui materializar este misto de suspense/policial. Quanto ao enredo... Este é o relato do caso que despertou os dons do detetive, mas que dons são estes? Digamos que alguns deles causam inveja a qualquer investigador, os outros dons, dificilmente alguém gostaria de ter. Pra quem não conhece a história eu não vou estragar a surpresa. Sejam bem vindos à primeira aventura documentada do investigador da policia civil de Salvador, o nem sempre simpático: Pedro da Mata.
3
Capítulo 1
28 de março de 2001, Itapuã, Salvador.
pós atravessar um portão já corroído pela ferrugem, caminhou por um jardim
A tomado por uma infinidade de plantas, a casa que antes se apresentava abandonada, agora estava abarrotada de policiais vasculhando tudo por todos os lados e gente da imprensa bisbilhotando como de costume. Ele não se sentia bem junto de repórteres, os achava exploradores da miséria alheia, mas o que o irritou ainda mais foi a cena exposta no quarto dos fundos, ainda sentia repulsa ao ver situações em que seres humanos agiam como monstros.
Eram exatas oito horas da manhã, uma quarta-feira insuportavelmente quente, quando o investigador da polícia Pedro da Mata chegou ao local do crime. A visão que teve o fez esquecer qualquer sensação climática, mesmo com quase dez anos de trabalho, nunca havia visto algo tão bizarro, salvo em filmes na televisão ou no cinema, em seu relatório iria descrever exatamente o que viu.
Um quarto mal iluminado, de dois metros e meio quadrados onde, numa cama velha jazia uma adolescente violentada e morta, cheia de marcas pelo corpo, na parede, escrita com o sangue da própria vítima, uma frase: Eu voltei e ninguém mais vai ter sossego!
4
Depois de dar uma rápida olhada, Pedro se dirige a um dos colegas:
— O que temos até agora?
— Não muito, garota branca, um e sessenta e cinco
de
altura,
cabelos
castanhos,
pesando
aproximadamente cinqüenta quilos, violação e laceração em várias partes do corpo. O crime aconteceu muito cedo e a única testemunha está em estado de choque numa clínica, por enquanto está sendo notificado como um caso de estupro seguido de homicídio.
— Não sei, mas acho que tem mais coisa nisso aí, já perguntaram aos vizinhos?
— A maioria alegou não ter ouvido nem visto nada.
— Me dê o nome da clínica onde está a testemunha, vou até a casa em frente falar com os moradores.
Um policial novato chamou a atenção de Pedro.
— Ô dotor
, venha ver o que acabamos de achar!
São rastros que se dirigem para esta trilha no mato.
As pegadas pareciam de sapatos já gastos, uma trilha foi aberta no meio do mato crescido que ocupava toda a extensão do quintal, as plantas tinham aproximadamente um metro e meio, com certeza o assassino em sua pressa de sair foi atropelando-as, o que acabou fazendo um caminho em direção a uma abertura 5
no muro que ficava no limite do terreno da casa, atrás, um declive cheio de árvores e mais mato, provavelmente uma área sem dono e que ninguém fazia questão de cuidar, um lugar apropriado para alguém se esconder por uns tempos.
— Isso complica as coisas.
— O que disse? – pergunta o novato.
Pedro suspirou, tentando se acalmar, nem sempre tinha paciência com policiais sem experiência.
— Quero dizer que agora parece que temos outro suspeito!
— Como assim outro suspeito?
— O garoto. Não acha estranho que ele tenha agido sozinho? Quero dizer... Todo esse estrago aparenta ter sido feito por um adulto ou mais de uma pessoa.
Temos que ter certeza de que essas pegadas não estavam aí antes do crime
— Sim Da Mata, mas...
— Mas tudo indica que o culpado seja mesmo o garoto?
— Até agora sim, fizemos exames das digitais de quem escreveu na parede, quando chegamos o menino estava no chão desmaiado e com as mãos sujas com o sangue da vítima, mas ele não parece o tipo de quem usa sapatos velhos e desgastados como o senhor mesmo 6
deduziu. Algum mendigo poderia ter presenciado a cena e fugido.
— Pode ser! Mas esse alguém poderia usar a mão do garoto como pincel. Pois eu vou visitar o menino agora mesmo!
Dizendo isto, Pedro sai da casa e nota um fato curioso, não havia pessoas além dos repórteres e policiais por perto, mas podia sentir cada um dos moradores por trás das janelas e portas esperando acabar o movimento para voltarem ás suas vidas, logicamente estavam com medo, mas teriam que ser muito unidos para terem a mesma atitude.
Ele queria sair daquele ambiente pesado, apressou os passos e foi para fora, passou por vários colegas que lhe perguntavam inúmeras coisas, mas ele apenas suspendia a mão e balançava um pouco a cabeça como se não pudesse ou não quisesse falar nada, depois foi a vez dos repórteres que quase o soterraram, um deles até acertou sem querer o microfone em seu olho esquerdo.
— Por favor, senhor investigador, o que tem de novo no caso? – falava uma moça bonita com cara de quem trabalhava numa emissora grande e importante.
— O garoto, foi ele o assassino, não foi? Diga investigador, não esconda nada da gente! – desta vez, um sujeito desagradável de dicção péssima e pior capacidade de formular perguntas.
— O senhor não tem nada a declarar? – desta vez um repórter de um jornal com um gravador na mão.
7
— Vou falar sim, peço encarecidamente que desapareçam daqui, estão atrapalhando as investigações e perturbando a paz dos já chocados moradores desta rua, eu poderia até ordenar que os policiais escoltassem vocês pra fora, mas eu acho que não vai ser preciso, vai?
Imediatamente todos abaixaram seus microfones e gravadores e saíram resmungando, ele sabia que isso não iria segurá-los por muito tempo, mas falaria com seus superiores para dar alguma informação na intenção de acalmar os nervos da população e com isso não haver confusão nas investigações.
— Que cara grosso, quem ele pensa que é? – o repórter antipático não parava de reclamar enquanto saía do local.
Seus resmungos não passam despercebidos por Pedro que volta alguns passos e puxa o repórter pela camisa.
— Olha aqui, seu almofadinha
! Nunca critique um policial antes de passar um pouco pelo que a gente passa, entendeu? Quanto à sua pergunta, sou apenas uma pessoa que está fazendo algo de útil para aliviar o sofrimento daquela família que sofreu uma perda terrível.
Agora sai da minha frente, antes que eu perca o pouco de paciência que ainda me resta!
O repórter ficou pálido e sua única reação foi dirigir-se às pressas para a van da TV que o esperava.
Pedro entrou em seu carro e antes mesmo de colocar o cinto de segurança, abaixou a cabeça e pensou 8
no que acabou de fazer: foi extremamente rude com a imprensa, tudo bem que não gostasse deles, mas nunca imaginou que um dia teria uma reação daquelas. O que viu foi realmente chocante e o deixou muito nervoso.
Aquela menina ali, tão inocente, podia ver a ingenuidade nos olhos vidrados já sem vida, no entanto, não foi a primeira vez que sentia um incômodo daqueles, uma sensação estranha que o perturbava, algo de estranho aconteceu com ele desde que entrou naquela casa.
Enquanto conduzia seu automóvel tentava lembrar-se, mas não conseguia e isso o incomodava muito.
Dirigiu-se à clínica, quando chegou à porta do quarto da testemunha, foi barrado por uma enfermeira.
— Não pode entrar aí, o paciente não tem condições de falar nada, deixe ele em paz!
— Moça, um assassino pode estar a solta e este garoto pode ser importante para solucionarmos o caso, por isso não me atrapalhe!
E empurrando-a, ele entra no