Contrato com Vampiros
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Contrato com Vampiros - Délcio Teobaldo
© 2015 Délcio Teobaldo
Companhia Editora de Pernambuco
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Cep 50100-140 – Recife – pe
Fone: 81 3183.2700
T314 Teobaldo, Délcio
Contrato com vampiros/Délcio Teobaldo. – Recife:
Cepe, 2015.
64p. : il.
1. Ficção Infantojuvenil – Pernambuco.
2. Vampiros – Literatura Infantojuvenil. I. Título.
ISBN 978-85-7858-319-4
02.jpgPara Maurício Mendonça Falcão
que se encanta com o novo
e com o mistério
03.jpg1ª página
Não disse oh! Nem ah!
São dez horas e dezessete minutos de uma noite qualquer. Ano, local, nada disso importa. Tudo me parece tão desnecessariamente igual: a lua sobre minha cabeça; as estrelas mudando de posição; as pessoas indo e vindo, como manadas de ovelhas pro corredor do abate. Vou na contramão. Meu mundo é à parte. Estou seguindo um Vampiro. Assim mesmo, com V maiúsculo. Foi como se apresentou a mim.
– Sou o Vampiro.
Disse e me deu o contato personalizado vampiro@vampiro.vam. Estávamos a sós, num desses encontros casuais (podem me cobrar, prometo contar depois); então foi natural minha surpresa. Não disse oh! Nem ah!
Jamais poderia expressar surpresa nem satisfação por estar ali, cara a cara com o Vampiro. Sei que são capazes de ler nossas emoções com tanta facilidade e clareza quanto não lemos manuais de games.
Guardei o cartão e assim como prometi a vocês que vou contar como o conheci, também lhe prometi passar meus contatos. Lição número dois: nunca se deixe impressionar pelas gentilezas de um vampiro. É como lhe fazer um convite pra que entre em sua casa. Seja amável, sempre, pra não levantar suspeitas, mas nunca passe a impressão de que vai se jogar, inteiramente, nos seus braços. Nunca!
– Me manda uma mensagem que assim vou saber onde te achar.
Esta frase tem tanto de sedução quanto de ameaça, não acham? Tática dos vampiros pra nos encabular; pra nos deixar vermelhos de vergonha. Uma cara corada é tudo de que precisam pra avaliar, no olho, nosso tipo sanguíneo, a textura, a pureza, enfim, o sabor da sua bebida predileta.
– Gostei da sua camiseta. O vermelho fica lindo em você.
Não disse? Depois dessa nos despedimos, não com beijinhos no rosto, como se faz com qualquer amigo, porque minha camiseta não tinha gola e calculei, a distância entre minha bochecha e a jugular é muito próxima; daí, não me arriscaria, em hipótese nenhuma, a virar comida de vampiro.
2ª PÁGINA
Ainda bem que me segurei
Naquela noite, voltei pra casa pisando sobre a sombra pra não perder o rumo. Falar nisso, eu devia ter olhado se ele tinha sombra, se era pálido como o papel de arroz da loja do senhor Takai Honshu; se os olhos eram vermelhos; se brilhavam no escuro.
Deveria, também, mas perdi a oportunidade e, se depender de mim, vai ficar só na curiosidade e desejo, segui-lo quando pegou a avenida e ia dobrar a primeira esquina, na verdade, uma encruzilhada: dizem que vampiros, assim como os morcegos, evitam movimentos, seja numa caminhada ou num voo, em que precisem executar uma guinada em ângulo reto. Isso inclui esquinas e encruzilhadas. Então é provável que, pra evitar a esquina, tenha voado até sua casa. Suponho.
Deixei passar a oportunidade de comprovar essa verdade. Não me perdoo, embora não negue que fiquei observando-o; não muito de perto, porque minha atitude e intenção ficariam evidentes demais; nem tão de longe, porque não posso demonstrar que suspeito de algo anormal. Afinal de contas, ele se parece, ou melhor, é igualzinho a qualquer carinha que conheço: usa perfume forte, mas não tanto que tire dele o cheiro e a aparência de que está há uma semana sem banho; veste-se de preto, com muitos adereços de metal pra dar brilho e chacoalhar por aí; tem alargador, com motivos tribais, nas duas orelhas; uma mandala de hena tatuada no ombro e usa piercings – um no nariz e outro na sobrancelha. Disse que possuía um terceiro, na língua e só agora, pensando nisso, vejo que vacilei. Poderia pedir pra me mostrar e então veria as suas presas