Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Vencendo a mente: Como uma executiva de sucesso superou o transtorno bipolar
Vencendo a mente: Como uma executiva de sucesso superou o transtorno bipolar
Vencendo a mente: Como uma executiva de sucesso superou o transtorno bipolar
E-book356 páginas5 horas

Vencendo a mente: Como uma executiva de sucesso superou o transtorno bipolar

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Aos 30 anos, Dyene Galantini conta com todos os itens para uma vida equilibrada: tem um bom emprego, é reconhecida por seus talentos na profissão e fora dela, constitui um casamento feliz e vem de uma família estruturada e harmoniosa. Mesmo assim, sofre crises profundas de depressão e angústia - que em seguida se transformam em uma energia inesgotável para criar e produzir.
No livro "Vencendo a Mente", Dyene Galantini compartilha sua história de descoberta, tratamento e superação do transtorno bipolar. Em capítulos curtos e envolventes, a obra traz um relato corajoso e realista de como a executiva conseguiu estabilizar a doença e torná-la parte de uma vida produtiva e feliz.
A autora fala por que escreveu o livro e como ela almeja inspirar portadores de doenças mentais e seus familiares na busca de qualidade de vida. Seu objetivo é contribuir para o diálogo sobre diversidade e inclusão.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de set. de 2017
ISBN9788594335005
Vencendo a mente: Como uma executiva de sucesso superou o transtorno bipolar

Relacionado a Vencendo a mente

Ebooks relacionados

Saúde Mental para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Vencendo a mente

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Vencendo a mente - Dyene Galantini

    capa

    Como uma executiva de sucesso

    superou o transtorno bipolar

    Vencendo%20a%20Mente.jpg

    Como uma executiva de sucesso

    superou o transtorno bipolar

    Dyene Galantini

    Rio de Janeiro - 2017

    Copyright 2017© 2017 Dyene Galantini

    1ª Edição, 2017

    Todos os direitos dessa edição são reservados à autora Dyene Galantini.

    Proibida a reprodução total ou parcial, a partir dessa obra, por qualquer meio ou processo eletrônico,

    digital ou mecânico sem a prévia autorização por escrito da autora. Essas proibições aplicam-se,

    também, às características gráficas e de sua editoração.

    A violação dos direitos autorais do autor (Lei 9.610/1998) é crime estabelecido

    pelo artigo 184 do código penal.

    Depósito Legal na Biblioteca Nacional conforme Lei 10.994, de 14 de dezembro de 2004.

    Capa e projeto gráfico:

    Marcello Sartori

    Diagramação:

    Suellen Balthazar

    Foto da contracapa:

    Filipe Medeiros

    Produção:

    Viviane Rodrigues

    Revisão:

    Maísa Capobiango

    Cooredenação Editorial:

    Mind Duet Comunicação e Marketing

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, BRASIL)

    Mind Duet Comunicação e Marketing

    Visite: www.vencendoamente.com.br / Entre em contato: contato@vencendoamente.com.br

    33648.png

    Galantini, Dyene

    Vencendo a Mente [livro eletrônico] : como uma executiva de sucesso superou o transtorno bipolar/ Dyene Galantini. – 1 ed. – Rio de Janeiro, 2017.

    1 Mb ; e-PUB

    .

    ISBN 978-85-94335-00-5

    1. Biografia 2. Carreira 3. Desenvolvimento pessoal e profissional

    CDD -616.8950092

    17-08399 NLM WM-207

    33846.png

    Índice para Catálogo Sistemático:

    1. Transtorno bipolar do humor : Portadores : Relatos pessoais : Ciências médicas

    616.8950092

    Ao meu marido, por me amar incondicionalmente.

    Ao meus pais, por terem me dado a vida

    e me proporcionado o que há de melhor.

    Aos meus irmãos pelo apoio

    contínuo e verdadeira amizade.

    Aos meus sobrinhos, por me rejuvenescerem.

    Prefácio

    Quando conheci Dyene, ela chegava da maternidade: bochechinhas rosadas, lindos olhos azuis e cabelinhos dourados. Eu já com quase dez anos de idade, ganhava uma boneca nova! Durante cerca de 18 anos convivemos de forma assídua até que cada uma seguisse um rumo diferente. Uma convivência rarefeita, bem esporádica não nos deixou perder o vínculo durante os quase 20 anos seguintes e, em 2015, eu entrevistava (orgulhosa!) a executiva Dyene Galantini sobre resiliência, para uma pesquisa acadêmica na área de Gestão. Até então, de nada sabia eu sobre o seu transtorno bipolar, tampouco sobre os momentos críticos no enfrentamento da doença. Eu não fazia idéia de que me sentava para entrevistar alguém que poderia me oferecer tantas perspectivas a respeito de resiliência. Em 2017, fui escolhida para ser sua coach. Segundo a minha coachee, ela desejava se (re)conectar ao seu propósito e realizar seus projetos. Dentre eles, publicar o seu livro. Um livro sobre superação.

    Adversidade e superação são palavras que soam pertinentes, robustas e adequadas quando o tsunami acontece lá fora, quando o problema, a dor e o esforço são do outro. Tragédias, separação, morte, doença parecem estar sempre acontecendo na casa ao lado, na vida alheia. Raramente, em nossas casas, em nossas vidas. Quando tudo desmorona ao nosso redor, todas essas palavras ganham outros contornos, outros sentidos.

    Nosso cotidiano é construído (e vivido) sob falsas premissas de previsibilidade e controle. Raramente passa por nossa cabeça a possibilidade de sermos surpreendidos por um motorista bêbado que nos atropela o corpo, os sonhos e todos os planos do resto de uma (outra) vida, ou de nos separarmos do grande amor, ou da partida (sempre) prematura de alguém que amamos. Sejamos honestos: quando foi que já nos cruzou a cabeça a possibilidade de sermos diagnosticados com alguma doença crônica ou fatal? Quantas vezes pensamos a respeito de que parte da cura, da superação cabe (rá) a nós mesmos?

    Seja porque tem um transtorno mental, seja porque convive com quem tem um transtorno mental, seja porque sabe que pode tornar o mundo um lugar com mais respeito, mais compaixão, mais coragem, mais humanidade, dentre os vários bons motivos para você se interessar por este livro, comece por uma simples pergunta: Diante dos reveses da vida, com que freqüência eu percebo e acesso a potência que habita em mim?

    O percurso de Dyene revelará que cada pessoa lida com as adversidades de uma maneira diferente, que cada um encontra respostas e novas possibilidades por caminhos únicos e que todos os caminhos, todos os processos, sem exceção, são relevantes.

    A jornada difícil para o controle da doença, os processos de mudança para conseguir (re)construir uma (outra) vida, as batalhas internas e externas contra os estigmas que recaem sobre os doentes mentais (e sobre tantos outros grupos minorizados), o enfrentamento da dor e da culpa, o (re)encontro com a fé e a convivência com outros doentes, uma convivência na verdade com a nudez de outras almas que, diante da doença, são apenas outras almas - tudo isso são partes importantes de uma narrativa única sobre superação.

    Vencendo a Mente é uma obra polivalente. Ao mesmo tempo, funciona como uma ferramenta singular para ajudar a entender e a lidar com o transtorno mental, expõe um depoimento a respeito de auto-aceitação, autoconhecimento, autogerenciamento e superação, e proporciona uma grande lição sobre responsabilização, empatia e respeito. Foi escrito por alguém que, diante de um grande revés da vida, encarou a nudez de sua alma e conseguiu apreender novos sentidos, encontrar respostas e seguir compartilhando caminhos com quem deseja ver e viver o mundo com outros olhos.

    Vencendo a Mente representa também um começo. Publicar este livro revelando a sua identidade é o resultado de vencer o medo do estigma, para conectar todos os pontos de sua trajetória na realização de um propósito. Isso não foi uma decisão fácil e não é uma tarefa solitária.

    Mais do que um livro, você está diante de um projeto. Um projeto que pretende esclarecer sobre a doença, legitimar e apoiar pacientes, esclarecer e ajudar familiares a encontrar elementos alavancadores da resiliência necessária, educar os normais e, sobretudo, proporcionar uma plataforma de conexão, compaixão e amor incondicional, que consiga cumprir a árdua missão de mitigar estigmas, abrir portas e revelar esperança e perspectiva a todos que enfrentam doenças mentais e tantas outras adversidades.

    Leia Vencendo a Mente e, depois da leitura, vá direto ao mais importante: conecte-se ao seu propósito, reveja seus comportamentos e, de forma resiliente, aja, faça diferente! No ambiente de trabalho, na convivência social, na convivência familiar, faça diferente por você, por aqueles que você ama e por aqueles que, por meio de elos invisíveis, possam se beneficiar de suas (novas) ações.

    Boa leitura!

    Cristina Goldschmidt, MSc.

    Senior Coach PCC/ICF

    Managing Partner  

    Consulting CG  

    Aqui e agora

    A agenda lotada indica mais um dia de trabalho. O desafio dessa vez é um evento de Energia em Bogotá, que tenho seis semanas para executar - além das minhas atribuições com as outras linhas de negócio nas áreas de Química, Automotivo, Finanças, Aero defesa e Segurança, Marítima e Design de Produto.

    Pastas para cada projeto colorem minha mesa, e o sorriso dos meus sobrinhos no porta-retrato atrás de mim me lembra do que realmente importa. Respiro fundo.

    A primeira reunião do dia é com a equipe latino-americana de Energia, onde discutimos o evento. A agenda complexa e com termos técnicos, os prazos curtíssimos, os experts de altíssimo nível, vice-presidentes exigentes e o excesso de trabalho já são parte da rotina, não a exceção. A ata da reunião bem detalhada com claras definições de responsabilidades e prazos a serem cumpridos me dá uma clareza e tranquilidade de que o projeto será executado com excelência, assim como todos os outros foram.

    A segurança de que o trabalho pode ser feito não é um palpite. Vem com 20 anos de marketing, um mestrado nos EUA, um MBA no Brasil, constante atualização e uma vontade diária de aprender e desaprender ideias obsoletas. Nos últimos cinco anos, liderei times em Dubai, Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Brasil, México e vários países da Ásia. Lidei com presidentes de empresas e associações, assim como ex-embaixadores.

    Imediatamente entro na segunda teleconferência, dessa vez com meu funcionário no México. Um pouco apreensivo, ele questiona, com a devida razão, que o prazo está muito curto. Porém, com dados e métricas de casos de sucesso, consigo comprovar que pode ser feito, afinal, gerenciei bem mais de cem eventos nos meus cinco anos de empresa. Apresento a ele o plano tático, que foi discutido na reunião, a exigência e a necessidade da celeridade no mundo dos negócios nos exige uma organização e adaptação cada vez mais alta, disse. Conte comigo, ele afirma.

    Se tem algo que mais me dá prazer no meu trabalho é gestão de pessoas e desenvolvimento de equipe. Elevar as competências técnicas e comportamentais e desafiar o time a produzir resultados de alta performance é o que mais me gratifica. Aumentar a autoconfiança, vê-los assumir posições de liderança e ver resultado nos indicadores financeiros, me indica que estou no caminho certo.

    Após essa reunião, pauso para o café. Aproveito para conversar com a auxiliar administrativa sobre o andamento dos novos processos implementados. Há um ano atrás, fui convidada para liderar nossos escritórios do Rio e São Paulo, um acúmulo de função que executo junto com minhas atribuições na área de marketing.

    O time de liderança local é bem diversificado, composto também por líderes mais sêniores do que eu, o que torna uma experiência riquíssima em gestão de pessoas já que preciso liderar de baixo para cima.

    Volto para minha sala, ligo para a Argentina e discuto uma parceria com a maior associação petroquímica da região. Durante a ligação, me interrompem para aprovar uma despesa do escritório e meu estagiário aproveita para entrar para me mostrar a nova arte final de uma peça publicitária que chegou. Tudo resolvido.

    Bloqueei tempo na agenda para responder os e-mails até a hora do almoço e noto que recebi dois convites de uma das câmaras de comércio: um para fazer parte do Comitê de Responsabilidade Social e outro do Comitê de Marketing. Ambos comitês são devidamente alinhados com meus valores e objetivos pessoais e de carreira e não tem conflito de interesse com a empresa que trabalho. Aceito ambos.

    Termino os e-mails e almoço no escritório com os outros funcionários. O assunto flui de uma forma extremamente agradável e uma sensação de felicidade passa como uma brisa. Parte por dar um extremo valor a estar empregada num país de 14 milhões de desempregados. Parte por fazer o que eu gosto, como eu gosto e onde eu gosto. Parte por ter condições de fazer o que, por algum tempo, pareceu impossível.

    A minha tarde desse dia comum pareceu como a manhã. Ligações, reuniões, decisões, planos estratégicos e táticos e quantidades industriais de café espresso e água.

    No meu longo caminho para casa, escuto música e reflito sobre meu dia. No que eu teria feito diferente ou qual a abordagem correta eu poderia ter usado. Faço uma lista mental de quem eu deveria conversar no dia seguinte para que o andamento dos projetos siga de uma forma eficaz e eficiente.

    O trânsito caótico do Rio de Janeiro não me estressa ou tira minha energia. Ao ver ônibus lotados, agradeço e aprecio o privilégio de ter um carro. Ao ver vendedores ambulantes no meio de uma estrada perigosa, valorizo meu trabalho.

    Chego em casa, dou um longo abraço no meu marido e sento para ler por uma hora. São três livros ao mesmo tempo, um em cada lugar da casa. Nunca ficção pois acho a realidade bem mais interessante e atraente.

    Vou para a academia e, depois de anos de inconsistência, descubro a fórmula da assiduidade: um personal trainer que virou amigo. É um compromisso que, a não ser por viagens a negócios ou extremo cansaço, não cancelo. No fundo, vou para bater papo, mas o exercício entra nos intervalos. E assim estamos por mais de dois anos. O cuidado pessoal é prioridade em minha vida.

    Na volta, janto com meu marido e sem televisão, colocamos o papo em dia. Com gargalhadas e abraços, sempre parece que não nos vemos há muito tempo. Bate até saudade. E o olhar cúmplice com a sensação de que superamos o maior dos desafios, nos une e conforta.

    A meditação entra na maioria dos dias. Me dá clareza, me dá força, acalma a mente. Minhas orações ficaram silenciosas. Dedico as meditações a pessoas queridas, amigos e parentes passando dificuldades e desconhecidos. Não peço nada... apenas escuto e aprecio o que vem e como vem. Às vezes, as melhores preces são aquelas que não são atendidas.

    Quem me conhece hoje, uma executiva de sucesso trabalhando há anos numa multinacional, não suspeita que há dez anos atrás, fui diagnosticada com transtorno bipolar, uma doença mental que afeta 4% dos adultos e pode levar a morte. Há anos, levo uma vida produtiva e normal devido ao auxílio de medicamentos, auto reflexão e meus grupos de apoio.

    Depois de anos debatendo, optei por contar a minha estória para dar luz e tirar do escuro um tabu que existe em nossa sociedade. A maioria das pessoas que conseguiram encontrar a fórmula do equilíbrio se escondem com medo de serem estigmatizadas. Então, histórias de estabilização como a minha, não são divulgadas. E, famílias e pacientes com doenças mentais, perdem a esperança e a visão de que é possível ter o prognóstico de uma vida feliz e produtiva.

    Introdução

    Esta é a história da minha vida com transtorno bipolar, da minha busca por sentido e respostas e de como lutei e continuo a lutar contra essa enigmática doença biológica, frequentemente devastadora.

    Antes de haver um entendimento claro das minhas mudanças de humor, a maioria das pessoas me dizia que todo mundo passa por bons e maus momentos e sugeria todos os tipos de motivos: estresse, trabalho, relacionamentos e até mesmo meus hábitos alimentares. No começo, achei que estava passando por uma fase, já que alguém tão saudável, alegre e equilibrada quanto eu não podia estar sofrendo de um transtorno mental.

    Depois de algumas semanas, percebi que, apesar das minhas expectativas otimistas, o que eu tinha era muito sério. Por sorte, procurei ajuda assim que os sintomas começaram. Levei tempo para me ajustar e aceitar a realidade dessa doença de longa duração. Quando percebi do que eu realmente sofria, encarei o fato de que minha condição me afeta não só intelectualmente, mas física, emocional e socialmente.

    Primeiro, me senti vulnerável e confusa. Questionei muitas vezes o universo, tentando entender o motivo de eu estar vivenciando sentimentos tão assoladores. Estariam todos na minha cabeça, como algumas pessoas sugeriam? Nos meus piores momentos, eu ficava indagando: Por que eu? De certa forma, eu acreditava que doenças crônicas e fatalidades só aconteciam em noticiários noturnos e nos programas de entrevista, não na minha casa. Somente após anos de pesquisa, consegui aceitar meu diagnóstico.

    Poucos dias depois do meu diagnóstico inicial, comecei a escrever este livro. Ao mesmo tempo, eu ainda estava tentando entender como iria encaixar a doença na minha movimentada agenda. Mal sabia eu que essa doença iria mudar completamente minha vida, incluindo a maneira como eu pensava, sentia e me comportava.

    Este livro foi meu jeito de lidar com o transtorno bipolar. Ele reflete minhas indagações e minha busca para encontrar meu lugar na sociedade e a paz interior. Acho que na vida de todas as pessoas há um momento decisivo em que nos perguntamos: qual é nossa missão na Terra? Quem somos e para onde vamos?

    Fiz as mesmas perguntas e incluí algumas que são muito familiares às pessoas que sofrem com o transtorno bipolar e outros transtornos mentais: por que minha mente está sendo torturada? Por que ouço conversas que ninguém mais ouve? Por que preciso tomar remédios? Vou conseguir trabalhar de novo? Por que as pessoas não me entendem? Para onde foram todos os meus amigos? O que estou sentindo? Por que eu mudei? É minha mente? Meu cérebro? Será que algum dia terei a vida que quero ter? Isso significa que precisarei desistir dos meus sonhos?

    Havia tantas perguntas e tantas respostas diferentes para escolher. Logo concluí que toda história é única. Cada pessoa lida com a adversidade de formas diferentes, mas todas elas são relevantes.

    A internet foi uma solução rápida para a curiosidade sobre meu estado mental. Passei horas juntando dicas e informações que solucionariam meu enigma (ou seria meu tormento?). Em uma das minhas pesquisas, descobri um grupo de apoio para pessoas com bipolaridade, depressão e outros distúrbios relacionados.

    Como recompensa pelo meu sentimento de urgência, encontrei um grupo no mesmo dia. Desde a minha primeira visita, minha luta foi facilitada. Ver pessoas na mesma condição fez com que eu me sentisse menos solitária. Ver pais sentindo-se desamparados e, ao mesmo tempo, desesperados para ajudar seus filhos fez com que eu me lembrasse dos meus pais, meu irmão e irmãs, todos lutando para fazer por mim o melhor que podiam. Conforme o tempo passava, minha angústia por lidar com meus sintomas e com meu isolamento diminuía.

    O grupo de apoio me deu esperança para acreditar que eu iria melhorar. Eles contaram histórias sobre as próprias lutas e como as superaram. E o mais importante: deram-me esperança de que eu poderia lidar com a minha enfermidade da forma correta.

    Certo dia, perguntei à minha terapeuta por que os grupos de apoio eram tão importantes na minha recuperação. Ela me explicou que, quando eu compartilhava meu problema, me sentia menos sozinha e tinha mais coragem para encarar a realidade da doença. Os grupos faziam com que meus sentimentos fossem validados.

    Espero que este livro chegue a pessoas que precisam de apoio, legitimação e ajuda. Torço para que minha história ajude-as a melhorar e dê esperança de que é possível ter uma vida gratificante, apesar da doença. Isso serve para pacientes, mas também para a família e os amigos que apoiam alguém que sofre de um transtorno mental.

    Este livro também é destinado aos normais crônicos, como uma ferramenta para entender essa doença invisível que atinge nossos lares como um furacão, ao mesmo tempo em que nos dá a oportunidade de reconstruir nossas vidas maravilhosamente.

    Um transtorno mental não é uma punição. É similar a uma doença cardíaca, um câncer ou diabetes: algo que pode acontecer com qualquer um, mesmo comigo... mesmo com você.

    SUMÁRIO

    PARTE I

    Quando tudo começou

    New York, New York

    Ajuda

    Entre médicos

    Caos no paraíso

    Se o amor curasse...

    Carta de amor

    O mal necessário

    Chorando blues

    Como Bob Dylan, só que melhor

    Contrate-me como sou

    Preciso de ajuda

    Algo errado

    O aroma da sabedoria

    Egoísta

    Querida vovó

    Uma viagem inesperada

    Encarando o medo

    PARTE II

    Aí vem a chuva

    Vamos começar

    Muito bem, obrigada

    Grandes mentes

    Pausa para fumar

    Interação

    Lições

    Apenas respire

    Outro dia

    O plano

    Você tem visita

    Amor líquido

    PARTE III

    Abertamente

    Psicose

    Depressão

    A outra

    Estações

    Viagem para San Antonio

    Ajudando o próximo

    Coisas preciosas

    A ciência da fé

    Louca por ele

    A bela na fera

    Ela é louca

    Vítima? Eu?

    Bons dias. Bons tempos

    Mentes saudáveis pensam da mesma forma

    Fadiga

    Passo a passo

    PARTE IV

    Levante- se e faça

    Possibilidades

    Devo ficar ou devo partir?

    Hora da história

    Pense. Sinta. Aja

    O poder dos entes queridos

    Exercitando a esperança

    Um passo em direção à satisfação

    A voz interior

    Solução orientada

    Compreendendo a saúde mental

    Recuperação holística

    O modelo da recuperação

    A vida que almejo

    Uma viagem atribulada

    A beleza do contraste

    Sistema de apoio

    A honra em servir

    Força interior

    Laços familiares

    Doença da mente

    Qual é a sua história?

    Agradecimentos

    PARTE I

    "O sucesso não deve ser medido pela

    posição que alguém alcançou na vida

    e sim pelos obstáculos superados."

    Booker T Washington

    capa

    Quando tudo começou

    Devo dizer que tive uma infância muito boa. Minha família, além de ser presente em minha vida, sempre foi extremamente carinhosa. Meus pais deram a mim e a meus irmãos uma ótima educação, um lar estável e oportunidades para que fossemos bem-sucedidos.

    O ambiente era ideal para uma infância normal. Entretanto, hoje percebo que um transtorno mental não escolhe casas ou toca campainhas: ele aparece sem ser convidado e lentamente torna-se parte da vida das pessoas.

    Certo dia, vi meu bisavô atirar em um homem que invadiu nossa casa. Eu era uma criança, talvez de 5 ou 6 anos. O invasor usava um terno listrado em preto e branco, uma gravata borboleta preta e um chapéu. Não me lembro do rosto, mas com certeza não me esqueci dele sangrando até a morte ao lado da cortina da minha sala de estar. No dia seguinte, o corpo não estava mais lá.

    Ainda assustada, contei a todos da minha casa o que tinha acontecido. Infelizmente, ninguém acreditou em mim. Não havia provas para sustentar minha história: ninguém ouviu os tiros, não havia sangue no chão e meu bisavô não dormiu em nossa casa naquela noite. Até hoje, acredito que esse evento realmente aconteceu. Não era coisa da minha imaginação.

    Cerca de 10 anos se passaram e eu era uma adolescente feliz vivendo a três horas do Rio de Janeiro, em um paraíso chamado Mambucaba. Nessa bucólica vila residencial, entre o oceano e as montanhas, todos se conheciam e, ao invés de nos dirigirmos aos adultos com senhor e senhora, usávamos tio e tia. Era um lugar muito seguro em todos os sentidos.

    Desde a infância, eu era a personificação da produtividade e da conquista. Tinha aulas – muitas – e, em cada uma delas, me dedicava com prazer. Depois da escola, eu fazia balé, jazz, sapateado, inglês, francês e piano. Eu estava envolvida com a igreja católica, onde me voluntariei em um programa de jovens. Também praticava esportes como tênis, vôlei e basquete, apesar da minha baixa estatura. Mais ou menos nessa época, publiquei minha primeira poesia em um livro chamado Poetas brasileiros de hoje. Eu estava muito ocupada com meus livros, minha família e meus amigos.

    Ah... livros! Desde muito cedo, os livros foram uma grande paixão. Todo natal, eu ganhava um livro e lia-o de ponta a ponta ao longo da noite, sem parar. Os livros saciavam minha sede por conhecimento.

    Meu gênero favorito era autobiografia. Entender a vida das pessoas e como elas superavam as dificuldades sempre me fascinou.

    Todos ficavam imaginando como eu conseguia encaixar tantas atividades na minha agenda. Acho que nunca precisei dormir muito. Sempre levantei cedo e me orgulhei por ser ativa e estar constantemente em movimento - uma pessoa dinâmica.

    Ao mesmo tempo, os moradores de Mambucaba torciam por mim. Especial, única e abençoada era como alguns de meus professores me descreviam. Lembro-me de quando o pai de um amigo da escola me disse que ele podia ver minha aura iluminada. Ele era um membro distinto de uma igreja que acreditava em reencarnação.

    Eu não apenas cresci me sentindo especial, como também comecei a acreditar, depois de alguns anos, que tinha alguns poderes especiais. Mesmo quando criança, eu era muito intuitiva e perceptiva ao ler as pessoas. Por fim, senti que podia ler mentes ou mudar certas coisas do futuro. Minhas suposições começaram a se tornar previsões. Nessa época, minha mente começou a pregar peças em mim. Toda noite, eu ouvia um falatório alto que não conseguia entender. Às vezes era muito alto. Eu colocava as mãos nos ouvidos e pedia a Deus que fizesse aquilo parar. À procura por algumas respostas, acabei me envolvendo ainda mais com a igreja, tentando entender aquilo. Porém, de certa forma, nada fazia sentido para mim.

    Todos os dias, por volta das cinco da tarde, eu ficava ansiosa com a aproximação da hora de dormir. Apesar de aquilo ter sido praticamente insuportável, nunca passou pela minha cabeça compartilhar minhas alucinações com ninguém. Sempre fui muito próxima da minha família, mas guardei esse segredo por muitos anos. Sentia que era uma punição que eu merecia por ser querida por todos e

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1