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Natalino: O homem que jogou na loteria
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Natalino: O homem que jogou na loteria
E-book215 páginas3 horas

Natalino: O homem que jogou na loteria

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Sobre este e-book

Natalino, homem que teve sua origem em uma família humilde, vivia com seu grupo familiar composto por irmãos, sobrinhos e noras, em um lote na periferia de Belo Horizonte (Minas Gerais). O crescimento familiar ocasionou construções de puxadinhos e disputas territoriais por direito de ocupação no pequeno espaço. Natalino, sujeito introspectivo, comprou um lote com a finalidade de construir e casar-se, vislumbrando assim uma mudança radical em sua vida. O lote foi invadido e a namorada terminou o relacionamento com ele. Natalino revoltado passou expressar indiferença aos acontecimentos de sua vida e isso ocasionou-lhe um estado doentio. Um certo dia verificou ter acertado o grande prêmio de uma loteria. Confuso, desprezou a sorte esquecendo-se do bilhete. Passados dois meses os conflitos internos levou-o a repensar fazer o resgate do prêmio. Acusado, injustamente por parentes, de ter cometido o crime de pedofilia, Natalino provou sua inocência. Indignado decidiu casar-se com uma boneca de sex shop, isolou-se do mundo e foi viver seu asco ao ser humano.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento2 de jan. de 2018
ISBN9788593991875
Natalino: O homem que jogou na loteria

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    Pré-visualização do livro

    Natalino - José Maria Soares

    www.editoraviseu.com.br

    Sumário

    A família de Natalino

    Momentos de tensão

    A nova residência

    A espiã

    Negociando uma companheira

    A humanoide

    Conflitos com a nova companheira

    O psicopata

    O encontro

    Pagando a conta

    O gigolô

    O desprezo da amiga

    Indiferença e provocações

    O socorro a amiga

    A confissão de Luna

    Um plano audacioso

    O sequestro

    A prisão de Natalino

    Repugnância por si mesmo

    Ajuda ao amigo

    O encontro com Cida

    O sobrinho ingrato

    A recepção

    Conceição e a Espiã

    A família de Natalino

    Natalino Silva de Oliveira é natural de Belo Horizonte, que é a capital do estado de Minas Gerais. Nascido no primeiro minuto do dia 25 de dezembro de 1974. Ele é filho de Maria Nazaré Silva de Oliveira e João Antônio de Oliveira.

    Natalino, caçula da família, tem três Irmãos e duas irmãs. O irmão mais velho, Joãozinho, completou 59 anos no ano de 2010. Joãozinho é casado com Silvia e eles têm duas filhas e dois filhos que são: Antônio com 36, Mariinha com 34, Zenaide com 32 e Marquinhos com 30 anos à época. Carlos, o segundo irmão mais velho, é casado com Judite e tinha 57anos. Eles têm dois filhos e uma filha: Tadeu com 34, Júlio com 30 e Sara com 35. Fátima, a mais velha das irmãs, tinha 54 anos no referido ano. Ela é casada com Fabinho e tem um filho e uma filha: Raul 34 anos e Marta com 29 anos. O irmão Roberto com 53 anos. Ele é viúvo e tem duas filhas: Renata com 28 e Regina com 23. A irmã, Conceição, tinha 44 anos, é mãe solteira de Osmar que completou 24 anos no mês de dezembro de 2010.

    Os pais de Natalino eram oriundos do Centro Oeste de Minas Gerais. Assim que se casaram, no ano de 1952, mudaram-se para Belo Horizonte. O senhor João, inicialmente, trabalhava em um açougue e dona Maria, em uma padaria. Após o nascimento de Joãozinho, em 1953, dona Maria Nazaré assumiu a condição de trabalhadora do lar e uma vez por semana lavava e passava roupa da família de seu antigo patrão. Senhor João, a partir do ano de 1955, tornou-se motorista e passou a trabalhar com o caminhão de um frigorífico. Em 1960, fez empréstimo bancário, e comprou um caminhão Chevrolet Gigante ano 1946. Com o caminhão, ele iniciou atividades autônomas fazendo transportes em geral. A dificuldade financeira e o custo de manutenção do veículo eram altos e fizeram com que ele vendesse o caminhão no ano de 1963.

    A partir de então, passou a trabalhar como motorista no transporte coletivo da capital. No ano de 1965, foi vendida a fazenda de seus falecidos pais e ele recebeu sua parte da herança. O dinheiro arrecadado na venda da fazenda e de outras posses foi divido entre ele e seus 10 irmãos. Senhor João comprou um lote, na Usina do Onça, atual bairro Tupi, e, um táxi. No lote ele fez uma pequena casa com dois quartos, sala e cozinha. Um quarto era para o casal e outro, para as meninas. Os meninos dormiam na sala. O projeto previa a ampliação da moradia de acordo com a disponibilidade financeira. Com o táxi, ele trabalhou até o final de sua vida. Senhor João Antônio teve um enfarte e faleceu trabalhando ao 69 anos de idade no ano de 1996. O homem trafegava pela Rua Jacuí, encostou o veículo no canto direito da pista, pediu desculpas para o passageiro e despediu-se da vida.

    Após o falecimento do chefe da família, acirraram-se várias desavenças. Dona Nazaré, como era chamada Maria Nazaré Silva de Oliveira, havia falecido durante o parto de Natalino no ano de 1974. Os interesses levaram a família a atribuir culpas a Natalino pelo falecimento da Mãe.

    No ano de 1972, a casa já estava ampliada. Possuía três quartos, sala, copa, banheiro e cozinha. No ano de 1973, Joãozinho ficou noivo e iniciou a construção de um barracão nos fundos do lote. O barracão de quarto e cozinha ficou pronto em 1975 quando ele se casou com Silvia. Em 1976, com o nascimento de Antônio, ele acrescentou um quarto ao barraco. No ano de 1977, com Silvia grávida de Mariinha, ele fez um segundo andar no imóvel. Com o nascimento de Zenaide e Marquinhos, ele estruturou a construção com sala, copa e cozinha no primeiro andar e três quartos, no segundo.

    Carlos casou-se com Judite no ano de 1976. Para morar, com ajuda de seu pai, construiu um barracão utilizando a metade da medida da laje da casa de senhor João. No ano seguinte, Fátima casou-se com Fabinho, construiu sua casa na segunda metade da laje da casa de seu pai. A casa do senhor João tornou-se um prédio de dois andares.

    Em 1983, Roberto ficou noivo de Ignez e construiu um barracão de três cômodos em um espaço vazio no lado direito do lote da família. Mais tarde, ele construiu um segundo andar para melhor acomodar as filhas Renata e Regina.

    A partir de 1983, somente Natalino e Conceição dividiam o primeiro andar da casa com o senhor João. Em 1988, acrescentou-se à casa Osmar, que é filho de Conceição. Ela, após o falecimento do pai, exigiu que se fizesse uma parede interna no primeiro andar da casa, determinando assim a criação de dois barracões independentes. Onde era o quarto sala e cozinha, seria ajustado para Natalino. E na outra parte, Conceição e Osmar. Inicialmente, Natalino quis convencê-la a morarem juntos. Ela recusou e para evitar conflitos ele aceitou a condição.

    No ano de 2008, o lote da família havia se tornado um pequeno aglomerado. A medida que os sobrinhos de Natalino se casavam, eram construídos outros barracos ou puxadinhos para acomodar a nova família. Nesse ano, o local já era composto por treze barracões.

    Os conflitos familiares eram frequentes. Joãozinho tornou-se o mediador dos buchichos. Ele era festeiro e agrupava as famílias de Carlos, Fátima e Roberto nas intermináveis festas de finais de semana. Nessas reuniões divertiam-se com consumo de álcool, tira gosto, truco, articulações do espaço onde viviam e os sucessos musicais do momento. Conceição, Osmar e Natalino raramente frequentavam esses encontros. Quando participavam, nunca excediam meia hora no local.

    Joãozinho trabalhava com o táxi durante o dia e Natalino à noite. Isso até o ano de 2010. Em função da concessão ser herança do pai, as irmãs Fátima e Conceição pediam participação no faturamento diário do táxi. Roberto, por ser mais velho que Natalino, achava-se no direito de ocupar o lugar do mesmo como motorista noturno do veículo. Os burburinhos foram se intensificando a ponto de gerar ameaças verbais. Antônio, filho de Joãozinho, chateado por não obter permissão para fazer um puxadinho entre a casa de Natalino e a rua, espalhou que era Natalino quem impedia a participação de Nazaré e Conceição no faturamento do carro. Ele também fazia campanha pelos direitos de Roberto no táxi. Natalino não havia permitido a construção do puxado porque esse cobriria todas as janelas de seu barraco. Foi criado um consenso que as discórdias familiares eram urdidas por Natalino. Com exceção de Osmar, ninguém o cumprimentava ou respondia seus cumprimentos. Natalino, ressentido com o abandono, decidiu desprezar a convivência e entregou seu direito ao táxi ao irmão Roberto. A partir desse ano ele passou a trabalhar de motorista auxiliar pagando diárias em táxi de terceiros.

    Natalino, após as desavenças, saía de sua casa às 5 horas e retornava às 22 horas. Ele trabalhava de domingo a domingo das 6 às 18 horas. Aos sábados, domingos e às quartas-feiras, encontrava com sua namorada Elza. Justificava a intensa carga horária de trabalho à necessidade de comprar um lote e construir sua própria casa. Elza, era caixa de supermercado, trabalhava todos os dias da semana até às 16 horas. O dia de folga da namorada era rotativo e quando coincidia ser em um domingo ou feriado era de costume ele não trabalhar.

    No final do ano de 2010, com suas economias Natalino pagou uma entrada e comprou um lote financiado em um bairro de Ribeirão das Neves. No mês de setembro do ano de 2011 foi ao lote para fazer medidas, comprar o material e cercá-lo com arame farpado. Para sua surpresa ao chegar no local constatou que o lote havia sido invadido e cinco barracões ocupavam o espaço. Carregava a certeza que seu lote era o de número treze na quadra sete. Imaginou que aquelas famílias haviam se enganado e construído no lote errado. Deu a questão por fácil solução. Era apenas ir à imobiliária, entrar em um acordo e pedir a troca dos lotes. Decidiu bater à porta e conversar com os futuros vizinhos. Atenderam-no dois homens na faixa dos trinta anos e um adolescente. Perguntaram o que ele queria e assim que Natalino iniciou sua explicação os homens mandaram-no embora. Ele quis insistir na fala. Os homens disseram que o lote havia sido dele e perguntaram se ele queria confusão. Percebendo as armas expostas nas cinturas dos sujeitos, Natalino abaixou a cabeça, virou-se e foi embora. Foi até a imobiliária reclamar. Ouviu que aquele era um problema dele e que a questão seria resolvida na polícia ou na justiça, não na imobiliária. Parou de pagar as notas promissórias e seu nome foi protestado em cartório. Desolado por considerar que o nome era o único bem que ele possuía, não admitia seu nome sujo. Entristeceu, pegou um resfriado e passou a ter crises de tosse durante a noite. Osmar, percebendo mudanças na rotina do tio, procurou-o e ao saber das confusões indicou-lhe um advogado.

    O advogado pediu-lhe que fizesse uma ocorrência policial para em seguida acionar na justiça os invasores e a imobiliária. Ao fazer a ocorrência, soube ele através dos policiais que os invasores eram conhecidos delinquentes na região e não eram ligados a qualquer movimento de moradia. O advogado alertou ao Natalino que não ficasse ansioso e que no devido tempo tudo seria resolvido. Natalino quis saber se em dois ou três meses a solução já estaria resolvida. O advogado respondeu que aquilo era um processo e por isso teria seus trâmites. Era a segurança jurídica. Natalino insistiu e teve como resposta que de três meses a seis anos, provavelmente, já se teria uma solução.

    A cada dia a introspecção de Natalino aumentava. Os encontros com a namorada ficaram restritos a poucos minutos às tardes de domingo. Ao voltar do trabalho ia direto para sua casa e ali permanecia com as portas e janelas fechadas. Não respondia cumprimentos à exceção dos vindos de Osmar. Tinha sensação que a morte andava ao seu lado esperando o momento oportuno para apagar a chama de sua vida. Sentia dormência e formigamento nos pés e mãos, sudorese, ritmo cardíaco acelerado, náuseas, tonturas, tremores e calafrios.

    No final do mês de novembro, após quinze dias sem encontrá-la, recebeu um bilhete de Elza. O bilhete, que fora colocado debaixo de sua porta, era sucinto e terminava com o relacionamento. No instante que encontrou o bilhete foi imediatamente à casa da namorada buscar explicações. Elza não o recebeu e mandou um recado, através de seu irmão, para que ele não a perturbasse. A insistência de Natalino foi em vão. Elza mandou um segundo recado que dizia – Está tudo terminado e agora estou de namoro com seu sobrinho Antônio.

    Imediatamente, sentiu dores no peito, ritmo cardíaco acelerado e foi possuído por uma vertigem. O irmão de Elza deu-lhe água para beber, massageou seu pulso com álcool e o levou para sua casa. No dia seguinte, ainda debilitado, soube através de Osmar que Antônio era quem havia colocado o bilhete debaixo da porta. Natalino desconjurou o sobrinho malvado e prometeu que um dia ele teria o seu troco.

    No mês de dezembro, com a saúde frágil, conseguiu trabalhar somente durante a primeira semana. Osmar o aconselhou procurar um médico, porém Natalino recusou. No dia vinte de dezembro, ele saiu para ir à farmácia pela manhã. Quando retornou, flagrou Osmar ligando um par de fios em sua rede elétrica para furtar-lhe energia. Ele apenas disse:

    - Até tu, Osmar?

    A partir desse dia, passou a recusar os cumprimentos do sobrinho dileto. Em uma de suas idas à farmácia, entrou em uma lotérica e comprou um bilhete da Mega-Sena da virada. No dia quinze de janeiro, ao varrer a casa, encontrou o bilhete que estava debaixo da cama e colocou o mesmo em uma prateleira do armário da cozinha. No dia 20, ele retornou ao trabalho e um passageiro falou-lhe do grande prêmio que saiu para Belo Horizonte e o ganhador ainda não havia se manifestado. Disse-lhe também que o infeliz estava perdendo rendimentos da ordem de dois milhões e quatrocentos mil reais por mês. Natalino lembrou-se do seu jogo. Ao retornar à sua casa, esqueceu de fazer a conferência. O assunto havia tomado conta da cidade. Após ouvir várias vezes a mesma história, no último dia do mês de janeiro, conferiu o bilhete. A verificação foi feita uma centena de vezes e ele não acreditava que estava premiado. Guardou o mesmo debaixo do colchão, foi até a lotérica do bairro, pedir o resultado oficial. Conferiu novamente, por várias vezes, e não acreditava que era um milionário.

    Momentos de tensão

    Agitado, Natalino tomou um copo de água com açúcar. As mãos tremiam e ele não sabia o que fazer. Após um dia inteiro agitado, deitou-se na cama e dormiu um sono pesado. Acordou de madrugada com o lençol encharcado de suor. Tomou um banho de água fria e pôs-se a pensar no que fazer para receber o prêmio sem ser percebido. Concluiu que ninguém deveria saber, pois o risco era iminente. Vinha em seus pensamentos a possibilidade da descoberta por uma pessoa má. Para ele, naquele momento, ninguém era confiável. Os dois únicos seres humanos que ele havia dado crédito eram Elza e Osmar. A ex-namorada juntou-se com o safado de seu sobrinho Antônio a fim de macular contra ele e o Osmar fizera um gato para furtar-lhe energia. Os irmãos, esses nem pensar. O que eles queriam eram vê-lo na sarjeta. Acreditava que se os parentes soubessem de ele ser o premiado, seriam capazes de arrumar um tambor de ácido e derreter seu corpo para não deixar vestígio. Depois eles digladiariam entre si, a fim de apossar do bilhete, até que todos fossem eliminados. Ao final, ele seria o psicopata que fugiu após os crimes e o dinheiro ficaria na conta de ninguém. Definitivamente, nenhuma pessoa saberia da história.

    Desolado, Natalino decidiu que destruiria o bilhete. Mudaria para um lugar qualquer à beira de um rio e viveria uma vida de eremita. O ser humano com suas maldades não o merecia. Procurou o bilhete para incinerá-lo e não o encontrou. Imaginou que os parentes haviam roubado. Concluiu: dos males, o menor. Mais um dia havia se passado e nem café da manhã ele havia tomado. Para ter forças, na nova empreitada de sua vida, deveria cuidar melhor de si. Esquentou comida que tinha na geladeira e alimentou-se. Dormiu em paz. Sonhou com a vida contemplativa em harmonia com a natureza. Ao acordar, agora feliz, decidiu que sorriria para todos os seres e animais que ele encontrasse. Imaginou-se à beira de um rio de águas calmas e à sua volta pássaros, pés de frutas silvestres, peixes deslizando calmamente pelas águas cristalinas. Estaria no céu.

    Iniciou os preparos de sua mala para a mudança. Começou a pensar para onde ir. Para relaxar ligou a televisão. Estava passando o jornal da manhã. A primeira notícia foi de uma desocupação judicial. Foi noticiado a reintegração de posse de um acampamento dos sem-terra. Houve confronto entre os acampados e a polícia. Ao final, após atos de violência, os posseiros foram expulsos do local. Enquanto se dava o intervalo para propaganda ele começou a pensar: Para onde eu irei? Qualquer cantinho de um metro quadrado desse país que eu quiser ficar vai ter alguém que vai dizer que é proprietário. O que eu farei quando chegar um batalhão para cumprir as ordens judiciais de reintegração da posse? Farei uma faixa pedindo justiça? Enfrentarei a polícia com pau e pedra? Não, eu não poderia fazer isso. A minha opção foi de paz e amor. Terei que pegar minha tralha e sair cabisbaixo e pedir desculpa pela transgressão da lei. A programação jornalística retorna e com ela a notícia do milionário ganhador da loteria que ainda não havia aparecido para

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