Dimensão histórica da sociologia: dilemas e complexidade
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Dimensão histórica da sociologia - Maria Thereza Rosa Ribeiro
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Todo el mundo sabe que el presente será algún día historia.
Creo que la principal tarea del investigador social es intentar
concebirlo como historia, ahora, mientras es todavía el presente
y mientras está todavía en nuestras manos
el poder de modelarlo y dirigirlo.
(Paul Sweezy, El presente como historia, 1968. Prefácio)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
Maria Thereza Rosa Ribeiro
CAPÍTULO 1
HISTÓRIA, SOCIOLOGIA E MODERNIDADE
José Maurício Domingues
CAPÍTULO 2
A NOVA SOCIOLOGIA HISTÓRICA: CONTEXTOS, TRAJETÓRIAS, EVENTOS E COMPLEXIDADE NA ANÁLISE DA MUDANÇA SOCIAL
Karl Monsma
CAPÍTULO 3
A PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DE FLORESTAN FERNANDES EM A REVOLUÇÃO BURGUESA NO BRASIL
Eliane Veras Soares
CAPÍTULO 4
A SOCIOLOGIA ENRAIZADA DE JOSÉ DE SOUZA MARTINS
William Héctor Gómez Soto
SOBRE OS AUTORES
APRESENTAÇÃO
Esse livro é resultado do evento Ciclo de Palestras de Sociologia Histórica, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)¹, no período de 16 de abril a 29 de maio de 2014, em Pelotas (RS). Coube a mim a elaboração da proposta e coordenação do evento que recepcionou os palestrantes professores doutores Leopoldo Garcia Pinto Waizbort (PPGS-USP), José Maurício Domingues (IESP-UERJ), Karl Martin Monsma (PPGS-UFRGS), Eliane Veras Soares (PPGS-UFPE) e William Héctor Gómez Soto (PPGS-UFPel).
As palestras sobre sociologia histórica tiveram significativa repercussão na comunidade universitária, visível no debate e interesse dos participantes em aprofundar a complexidade das questões atinentes à sociologia e história, durante os seis encontros. Por conseguinte, o reconhecimento intra e extramuros universitários foi explicitado na acolhida dos objetivos de conhecer e aprofundar os principais aspectos teóricos, metodológicos e epistemológicos da conexão sociologia e história, pelos quais foram abordadas as temáticas: processo social, modernidade, desenvolvimento capitalista, dominação, modernidade brasileira.
Durante o evento, lancei a sugestão para reunirmos os textos dos palestrantes com o objetivo de compor o livro sobre sociologia histórica. Os palestrantes José Maurício Domingues, Karl Martin Monsma, Eliane Veras Soares e William Héctor Gómez Soto aceitaram essa proposta e se dedicaram ao ofício intelectual de redigir o texto adaptado para capítulo de livro. Por isso, agradeço aos autores pela confiança, sobretudo por compartilharem a intenção de circunscrever a esfera de investigação e debate teórico sobre sociologia e história, ou seja, a dimensão histórica da sociologia: dilemas e complexidade, que se insere na linha de pesquisa Teorias Sociais e Conhecimento
.
A partir da materialização do intento do livro, o projeto foi encaminhado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) para concorrer ao Edital FAPERGS / acordo CAPES 04/2014 – Programa de Editoração e Publicação de Obras Científicas -, pelo qual obteve aprovação.
O livro é composto por uma introdução e quatro capítulos. Nos dois primeiros capítulos os autores abordam aspectos descritivos e analíticos da conexão sociologia e história, atentando a dimensão global da produção da teoria sociológica e modernidade, inclusive a brasileira. Já o terceiro e o quarto, focam a perspectiva analítica da sociologia e história na obra de Florestan Fernandes e de José de Souza Martins, com vistas à interpretação crítica da sociedade brasileira.
Na Introdução, apresento uma breve identificação de aspectos teóricos, metodológicos e epistemológicos do objeto comum da sociologia e história nos aportes da tradição sociológica e de historiadores e sociólogos contemporâneos.
No primeiro capítulo, História, Sociologia e Modernidade
, José Maurício Domingues analisa a relação da teoria sociológica com a história e a modernidade, em sua dimensão global. Para tanto avança de uma perspectiva descritiva rumo a uma construção de cunho analítico capaz de pensar os mecanismos que presidem a gênese, desenvolvimento e transformação da modernidade. O campo de análise do autor também se estende à compreensão da modernidade brasileira e, tangencialmente, da América Latina, pela qual problematiza e confronta os estudos de curto alcance do pensamento social brasileiro com a sociologia histórica.
No segundo capítulo, A nova sociologia histórica: contextos, trajetórias, eventos e complexidade na análise da mudança social
, Karl Monsma foca o desenvolvimento da sociologia histórica desde os clássicos da sociologia, atentos ao estudo dos processos de mudança e modernidade, até o período de entre guerras e posterior, quando houve um arrefecimento em conectar sociologia e história na abordagem sociológica. Contudo, a sociologia histórica é retomada pelas duas gerações de estudiosos da escola norte-americana entre a década de 60 e 70, e de 80 e 90 do século XX. Ambas tinham em comum a rejeição do funcionalismo e do empirismo por suas implicações conservadoras e a busca por abordagens alternativas. O autor aborda características peculiares que distinguem os teóricos e respectivos estudos formadores do campo de conhecimento da sociologia histórica.
No terceiro capítulo, "A perspectiva sociológica de Florestan Fernandes em A revolução burguesa no Brasil", Eliane Veras Soares problematiza a obra de Florestan Fernandes, A Revolução Burguesa no Brasil, publicada em 1974, por meio de um diálogo entre a análise construída sobre o processo da Revolução Burguesa no Brasil e a sua concepção de sociologia e do papel do sociólogo na periferia do capitalismo. No plano geral, a autora aborda a concepção de sociologia histórica subjacente às obras de Florestan Fernandes; no particular, o desenho metodológico de A Revolução Burguesa no Brasil.
No quarto capítulo, A sociologia enraizada de José de Souza Martins
, William Héctor Gómez Soto realiza uma análise da sociologia de José de Souza Martins, destacando a perspectiva teórica e metodológica no conjunto de sua obra, cujo traço principal é o seu enraizamento no processo histórico na formação da sociedade capitalista brasileira. O autor destaca o diálogo de Martins com os clássicos da sociologia, a concepção de sociologia, o método dialético de Karl Marx e o método e teoria de Henri Lefebvre.
Por fim, desejamos ao leitor que encontre na riqueza dos argumentos e na exposição de cada um dos autores, estímulo para compreensão das diferentes perspectivas da teoria sociológica e de novos questionamentos advindos da observação do conjunto de relações, cuja historicidade individual e coletiva evidenciam a complexidade do elo entre o social e a história.
INTRODUÇÃO
Maria Thereza Rosa Ribeiro
Dimensão histórica da sociologia
Por considerar que o conjunto da realidade social possui um caráter histórico, bem como valores humanistas, não se pode negligenciá-los na compreensão dos processos de mudança e reprodução social. Assim, alguns problemas são levantados para pensar a sociologia, a história e a sociologia histórica: por que nos interessamos pelo passado? O que significa o presente histórico? Quais são as diferenças de explicação histórica entre a sociologia e a história? Todo objeto de estudo da sociologia é passível de esclarecimento histórico?
Nessa perspectiva, o objetivo da presente obra é tratar da conexão entre sociologia e história tendo em vista os aspectos teóricos, metodológicos e epistemológicos que fornecem recursos heurísticos à compreensão do desenvolvimento capitalista, da modernidade, dos processos políticos e sociais, de realidades das quais emergem novas relações sociais que contrastam com padrões de comportamento existentes. Ainda que, em parte, estes persistam na sociedade em processo de mudança. Percebida a situação de conflito entre o novo e o velho, o estado de polaridade de padrões sociais suporta uma estrutura que os engloba, por mecanismos de assimilação que estruturam relações de dependência do velho modelo que é reconfigurado pelo controle e dominação do novo padrão de atitude econômica, social, cultural.
Por conseguinte, o objetivo específico dessa obra é demonstrar a relevância das teorias sociais que sustenta a construção de problemas, conceitos e métodos para operacionalizar a pesquisa empírica tendo em vista perceber o processo social que leva à mudança e à permanência de relações sociais. Dessa forma também se evidenciam os limites da generalização sociológica de processos sociais que provêm dos complexos e diferentes níveis de integração e da diferenciação de sistemas sociais². Objetiva-se entender a complexidade dos fenômenos sociais a partir dos dilemas e conflitos emergentes de situações diferenciadas em contexto globais. Isso envolve, igualmente, a consideração ao trabalho de pesquisa que abarca a seleção de dados e escolhas de variáveis significativas para interpretar e comparar processos históricos dentro da mesma sociedade, bem como de uma sociedade a outra.
Para tanto se percebe a sociologia histórica como o campo de estudo da sociedade que tem como alvo analítico observar as alterações estrutural-funcionais e interacionais ocorridas no fluxo do tempo das relações sociais. A sociologia e história entrelaçam-se na busca das causas e consequências intrínsecas ao encadeamento de ações e acontecimentos que sucedem no tempo e coexistem no espaço configurado por diferentes temporalidades. A sociologia interpreta a mudança, o conflito e a disposição individual e coletiva das relações humanas, dos fenômenos pelos quais as condições sociais são explicadas por fatores socioculturais, políticos, econômicos, jurídicos, psicológicos, assim como pelos efeitos que operam numa situação histórica.
Entre os autores da sociologia clássica não se pode deixar de mencionar que a relação história e sociologia foi enunciada pela filosofia da história de Augusto Comte nas obras Cours de philosophie positive (1869) e Système de politique positive (1879), nas quais Comte hipostasia o desenvolvimento da sociedade, atribuindo às forças governadas pela necessidade do processo histórico – entendido como aparição de uma série de acontecimentos que se correlacionam no curso linear com oscilações progressivas -, o caráter de leis invariáveis de sucessão e semelhança que determina as etapas da evolução humana. Essa tendência inexorável do progresso humano, acarretaria, no estado final, a unanimidade das crenças prognosticada no futuro, l’avenir social coincide com a superação da ordem social anterior³.
Na esteira dos clássicos há o encontro com Karl Marx, que fundamenta no Prefácio de Contribuição da Crítica da Economia Política de 1859, o desenvolvimento histórico das formações econômicas da sociedade - os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno -, por meio da análise das forças produtivas, das relações sociais de produção, do Estado e da ideologia⁴. No Prefácio, Marx expõe os relacionamentos causais entre essas quatro variáveis para conceber a sociedade como totalidade das relações de produção
que "constitui a estrutura econômica da sociedade, a base