Brincar e se-movimentar: o que as crianças querem e precisam do mundo, do adulto e delas mesmas
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Brincar e se-movimentar - Andrize R. Costa
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico este trabalho aos meus pais, João Pinto da Costa Neto e Alma Marlene Ramires, e ao meu irmão, Mateus Ramires Costa. Minha família, com quem aprendi a nunca desistir de um sonho e a ter sempre fé em Deus. São nas histórias de nossas vidas que busco afeto para a pesquisa.
APRESENTAÇÃO
Apresentar este livro é rever o percurso do meu trabalho dos últimos sete anos enquanto pesquisadora e curiosa sobre o ser criança. Compreender os sentidos e significados do brincar, como um direito em sua vida, é compreendê-lo como humano que se movimenta.
O interesse pelas crianças vem se consolidando, mas ainda há muito o que fazer para divulgar o significado e a importância do brincar e para entender esse processo como cultural, histórico, educacional, social e emocional.
Neste estudo tive como objetivo central uma reflexão diferenciada sobre o ser criança, seus desejos e necessidades, e me preocupei em investigar o que elas realmente querem e precisam para seu desenvolvimento humano. O foco central da pesquisa constituiu-se, assim, num estudo teórico, mas que permitiu um diálogo com a prática, ou seja, a realidade empírica. Dessa forma, diferentes aportes teóricos, como a Filosofia, a Sociologia e a Psicologia Gestáltica, foram utilizados para aprofundar o entendimento e avançar em proposições com relação ao objetivo de pesquisa. Ficou evidente, já nos primeiros passos da investigação, um forte gerenciamento da criança, possível de ser visto também como um culto hegemônico em nossas creches atualmente. Nesse contexto, a criança é sempre a mais prejudicada, pois é obrigada a absorver uma gama de expectativas e esperanças de mudanças, muitas vezes esquecendo-se do que ela é, quer e deseja do mundo. Assim, afirmo no decorrer desta pesquisa que, ao depositar na criança suas intenções, o adulto rouba a sua condição de ser criança e de viver o presente sem preocupar-se com o passado e, principalmente, com o seu futuro. Para tanto, busquei aprofundar nesta obra não só aspectos históricos relacionados à criança, Educação Infantil e Educação Física, mas também expor como se encontram os estudos referentes a essa problemática, bem como apontar alguns pressupostos para a compreensão desse ser criança. Dentre esses pressupostos, aponto um novo olhar para a brincadeira, que é entendida como o próprio Brincar e Se-Movimentar
da criança, ou seja, é por meio do seu livre Brincar e Se-Movimentar
que a criança dialoga, interage e percebe o mundo, os outros e a si mesma, e, principalmente, se expressa, mostrando-nos quais são seus desejos, medos, prazeres, angústias, necessidades, traumas, enfim, seus sentimentos. Cabe a nós auxiliá-las, participando mediante um ativo acompanhamento e descobrindo com elas o caminho para um desenvolvimento integral que possa contribuir de forma significativa para uma formação mais emancipada. Nos momentos finais, aponto como o Brincar e Se-Movimentar
se apresenta e vem representando as poucas oportunidades, tanto das crianças quanto dos adultos, de se encontrarem naquilo que fazem e viverem o presente de suas vidas de forma mais intensa e plena. Afinal o Brincar e Se-Movimentar
, além de ser uma necessidade natural, também é o meio que ela precisa para crescer e desenvolver-se à sua maneira. Do ponto de vista da Educação Física, o respeito ao brincar e a consciência no presente do que se faz parecem ser uma maneira de procedermos, enquanto professores, no sentindo de sermos facilitadores na luta da criança pela sobrevivência. Assim, finalizo esta obra com uma série de preocupações e questionamentos a mais do que quando foi iniciada, acerca do aumento do problema que alguns autores chamam de Gerenciamento Infantil
, ou seja, controle total sobre a vida da criança pelo adulto e a ausência de poder da Educação, em especial da Educação Física, de interferir nesse processo. A falta de autoridade educacional em poder dizer que no lugar de uma Educação Infantil nos moldes formais da escolarização precoce se promova, real e praticamente, conforme destacamos nesta pesquisa, um ativo acompanhamento ao processo de desenvolvimento integral da criança via Brincar e Se-Movimentar
.
Auguro, portanto, que este livro auxilie e melhore o conhecimento sobre esses seres de mais tenra idade. Talvez seja por isso que Theodor Adorno (2003), em seu Livro Educação e Emancipação, disse que se queremos salvar o mundo temos que dar mais atenção à primeira infância.
A autora
Universidade Federal do Pará – Belém/PA
PREFÁCIO
Em tempos de domínio humano pela tecnologia, quem mais é atingida, em seu Ser-Estar-no-Mundo, é a criança. Crianças adquirem precocemente uma incrível capacidade de lidar com todas as novas atrações eletrônicas, principalmente celulares e computadores. Os adultos ficam maravilhados com isso e incentivam cada vez mais o uso irrestrito de tais equipamentos por crianças de idades cada vez mais precoces. Já existem indícios de que crianças de 3 anos conseguem dialogar com seus amiguinhos(as) por e-mail ou mensagens de celulares.
Isso tudo é do conhecimento de pais e professores em quase todo o mundo, porém, onde fica a necessidade que toda criança tem de brincar e se movimentar? Essa preocupação parece que ainda não tocou suficientemente a atenção de profissionais de Educação Física, pelo menos em nosso país. Existe ainda um número muito reduzido de pesquisas sobre a temática, e a maioria das publicações da área sobre os temas criança, jogo e desenvolvimento ainda se refere muito mais aos aspectos influenciadores ao bom
desenvolvimento da criança quando se envolver com a prática de jogos e brincadeiras. São propostas para desenvolver a criança para um futuro melhor, assim como faz a escola, que também só existe para desenvolver a criança para o futuro mundo do adulto. Assim, aspectos cognitivos em geral são destacados nos fatores de desenvolvimento.
As pesquisas sobre a temática da Criança e seu Brincar e Se-Movimentar
com um grupo de estudos, que apresenta mestrandos e doutorandos em Programas de Pós-Graduação em Educação Física de diferentes universidades brasileiras, mas principalmente da UFSC de Florianópolis, já tem mais de 15 anos.
Inicialmente, essa foi uma tentativa de trazer para um terreno mais objetivo e real as teorias filosóficas do Se-Movimentar Humano, as quais, como principal orientador dessas dissertações e teses, venho desenvolvendo desde a década de 80, especialmente a partir de teóricos holandeses e alemães. A ideia inicial era desenvolver não apenas concepções teóricas novas sobre a fundamental necessidade da criança com o Brincar e Se-Movimentar
, mas sugerir ideias e práticas para um profissional de Educação Física poder atuar na Educação Infantil e outras instâncias em que sua presença com crianças era requerida.
Com os estudos mais recentes com autores como Maturana e Verder-Zöller, Oaklander, Honoré e Merleau-Ponty, entre outros, conseguiu-se aprofundar temáticas como o Ser Criança, que inclui desde o seu desenvolvimento geral e global até o aprender, sentir e agir de crianças donde se derivou a importância e até mesmo a necessidade humana, que começamos a chamar de Brincar e Se-movimentar
.
Nesta obra, poderia destacar pelo menos dois aspectos inovadores dessa discussão. O primeiro trata de uma abordagem, sempre complicada, sobre o desenvolvimento da criança, em que se prioriza uma visão não fragmentada no biológico, psicológico, cognitivo e motor, como em geral pode ser visto quando o desenvolvimento infantil (como tratam) é apresentado em fases. Aqui se deu importância a uma visão global ou integral como chamamos, para justamente entender o todo do Ser Criança, se Ser-Aí (Dasein) no mundo da cultura, do social e especialmente do seu brincar e se-movimentar.
Entendo que um ser humano, e em especial a criança, nunca é igual a outro, ele é uma verdadeira impressão digital
, original, e apresenta marcas e características inconfundíveis em relação a outros indivíduos. Desse modo, não poderia haver fatores de desenvolvimento correspondentes às idades
, como muito se pode ler nas literaturas especializadas. Esse conceito, quando aplicado às crianças, leva justamente ao exagero de comparar graus de desenvolvimento
, que implica em reconhecer um melhor e/ou um pior desenvolvimento. Nesta obra, a autora destaca a relação de respeito e responsabilidade de adultos, pais e professores para com as crianças. Concordo que quando pais e professores deixam-se influenciar por ideias científicas
de que uma criança de 5 anos, por exemplo, já deve ser capaz de conhecer e saber fazer