Mendo sem remendo
De F.M.M
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Sobre este e-book
na agulha das horas
Formatar a ânsia
Destinar-se
Acontecer no movimento,
no gesto, na decisão
Pertencer como a quantidade
Irradiar-se
Adormecer, com sofreguidão
Alvorecer-se
Envolver-se, então,
e só então
subordinar-se
não à matéria, mas à intenção
não ao infinito, mas à sua vibração
não à potência, mas à tensão
não ao conceito, mas à relação
Submeter-se,
não à fatalidade, mas à indeterminação
não à mágoa, mas à compaixão
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Mendo sem remendo - F.M.M
NÃO-INTRODUÇÃO
Por que não uma introdução,
Por que uma não-introdução,
Se a vida mesma chega é no arrebatar
Se mostrando de coisa grande no dar
E no querer, no desabrochar das horas,
mas também no tanto tomar,
No desfazer, no se perder?
E depois
Introdução a quê?
À saga da sorte?
À gente sem norte?
Ao que não se vê?
E para quê?
A palavra é como o beijo
Não se anuncia nem se apresenta
Se inicia não se termina
E se é finda
Nunca que começou
Por que uma introdução?
Quantas noites? Mil e uma?
Antes que o desejo possa acender
o lume difuso do outro em ser
Porque para viver
carece rasgar-se
muita vez
no após que for
e-mendoar-se
e no talvez
re-mendar-se
Mendo fez
arremendo de si
arremendossou-se
n
n d o
e M
d M n o e
arrebentou-se
que mais
em erres e bês
soçobrou-se
o que se sobrou, sobrou
por pouco demais
antes fora
quanto vale
o dito
no jeito
na forma
foi feito
foi direito
e foi bonito
rio bicho mato
no centro, o vento
e no vento, o mito
aqui se segue
o quase fim
sopro não soprado
sobrado sem sombra de sobras
bala de Rioba(l)do
atravessa
apressada
os gerais
certeira, precisa, letal
a vontade é que mata
o homem
é que
MENDO AO LIMITE
Corazón tenue, herido por los
ojos de las mujeres
García Lorca
Le lettere d’amore
quando c’è l’amore
per forza fanno ridere
Roberto Vecchioni & Álvaro de Campos
Hiroshima
Manhã
cedo
caminho
Hiroshima
outono
silêncio
de mártires
tento dizer
em vão
não pude,
Hiroshima
se lê em francês
mon amour
Hirrôshimá
como no filme
viver aqui
outra vida
tão outra
renascer
já não
passa
um cachorro gordo
dono magro
sábado
quantos sábados
fomos
um japonês
passante
volto
a minha já
tão minha rua
mas partirei
de tudo que é meu
partirei
sento
ao meio-fio
recordo os tankas
Takuboku
o punhado de areia
tua mão no meio
a sombra
da menina
que ninguém viu
de repente
na pedra
quente
silhueta
sem dimensão
um traço
tênue
um desenho
no chão
a menina
simulacro
na escada
na entrada
na casa
vestígio
do que era
no nada
crianças no parque
com