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Rubi Boto: Letras de música e outros escritos
Rubi Boto: Letras de música e outros escritos
Rubi Boto: Letras de música e outros escritos
E-book181 páginas1 hora

Rubi Boto: Letras de música e outros escritos

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Sobre este e-book

Este é um daqueles livros que, quando você termina de ler, deixa escapar um breve suspiro de satisfação. O livro é delicado e ao mesmo tempo irreverente, com temas doces de lembranças de infância e também críticas espirituosas de acontecimentos atuais. Aqui você vai encontrar, desde letras de lindas canções a diálogos entre as personalidades do inconsciente do autor.
Rafael Torres, além de compositor e músico, nos mostra aqui que é também um talentoso escritor, que sabe brincar com as palavras, fazendo uso de diversos artifícios que demonstram sua apurada maestria e domínio da língua portuguesa.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento15 de ago. de 2022
ISBN9786525423180
Rubi Boto: Letras de música e outros escritos

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    Rubi Boto - Rafael Torres

    M

    anual da leveza

    Nunca tinha tido essa vontade de

    Dançar, de ouvir boleros,

    Passear pelas calçadas de manhã

    Mas quando te conheci por dentro

    Concebi poemas, valsas de Viena

    Pop-rocks de Liverpool

    Tudo que de azul

    Tudo menos blue

    Seria capaz de redigir o

    Habeas corpus do capeta

    Fazer letra pra canções de Tom Jobim

    Que a prosódia ficasse de lado

    Por alguns versinhos, esse vinho

    Esse lençol, essa pele

    Esse Vivaldi

    Esse Fellini

    Pronto, deita tua cabeça

    Preta, minha preta

    Prova pra que brilham os astros

    Num instante o coração tem

    A velocidade das asas de

    Um beija-flor

    De manhã olho pro lado

    E não vejo ninguém

    Cadê você?

    Cadê Rodin?

    Cadê Drummond?

    Cadê Chopin?

    Coração saindo pela boca

    Quase solto um grito

    Então, lá vem você

    Trazendo o café da manhã

    Voltam os Chopins

    Vai-te em paz, divã

    O brioche e o sorriso escancarado

    Um fado em Lisboa

    O aboio de um vaqueiro do sertão...

    2018

    Pêndulo

    Repare no pêndulo

    Sua existência moto-perpétua

    Dá razão a um lado

    Dá vazão ao outro

    Pendurado em nada, flerta

    Com o que o tempo lhe dá

    Repare no pêndulo

    Sua proposta ambivalente

    Anuncia um tic

    Prenuncia um tac

    Se de um lado há joio, o trigo

    No outro aparecerá

    Sim, não

    Vida, morte

    Sul, norte

    Ponta-cabeça

    Claro, que não

    Extrema-unção

    Metro-nome

    Cá-mente

    Min-to (minto)

    E o centro, existe ou não?

    Por ele só se passa depressa

    Se bem que, a ele,

    Sempre se regressa

    No dedo, devoto, o voto

    Todo penso é torto

    Que botão aperto

    Pra esse mundo mudar?

    Pra cá, a razão

    Pra lá, só conversa fiada

    Pra cá, ele não

    Pra lá, ele cara lavada

    E a grande questão

    É onde ficam Deus

    E o capiroto

    Difícil precisar

    Mas preciso falar

    Ouvi dizer que Deus

    Como eu

    Era canhoto

    11.10.2018

    Por que saber?

    fado

    Por que saber?

    Do meu passado, meu futuro, meu presente?

    Por que saber?

    Das minhas coisas, meus cadernos, meus caixões?

    Por que saber?

    De duas, uma: ou és feliz ou consciente

    Do que te fiz

    Tens que saber que não saber é o que convém

    Sei que é cruel

    Ser enganado dói no peito tão pesado

    Mas vou dizer

    Não queira estar no meu lugar de charlatão

    Quanto da tua vida foi entregue

    Aos meus anseios?

    Os meus prantos nos teus seios

    Contrabandos, devaneios...

    E eis que me rebaixo e barateio a perguntar

    Por que saber? Por que saber? Por que saber?

    Quando te vi

    A descobrir os telegramas, tolas cartas

    Eu percebi

    No teu olhar o nosso amor desmoronar

    Por que saber?

    Verdades são como punhais enfileirados

    Agora vou

    Me submeter, só ter direito, aos teus facões

    Do criado-mudo tenho mágoa

    Ele, de mudo não tem nada

    Na gaveta cabe até mais que a verdade

    Sei, meu pedestal ruiu e fico a perguntar

    Por que saber? Por que saber? Por que saber?

    27.01.2019

    Contos britânicos

    — Margaret?

    — Sim, Dorothy?

    — Observe! Não é aquele Argonauta, o Rafael?

    Blimey! É mesmo ele!

    — Não é peculiar?

    — O quê, querida?

    — Ele não tem metade do porte que lhe atribuía!

    — Oh, Dorothy! É tão venenosa!

    — Margaret?

    — Sim, Dorothy?

    — Acho que devemos admitir que estamos perdidas.

    — Imagine só! Eu sei perfeitamente o trajeto para Kensington.

    — Não é Kensington que me preocupa.

    — Oh, Dorothy! É tão pessimista!

    — Margaret?

    — Sim, Dorothy?

    — Quando vai finalmente se livrar de Maximilian?

    — Não compreendo! O que há de errado com Max?

    — Seu queixo é por demais proeminente, se é que me entende...

    — Mas isso é nonsense!

    — Além disso, Mildred e as meninas têm comentado...

    — O quê?

    — Ele tem más companhias!

    — Mas o que há de errado com Wilfred e Jeremy?

    — Verrugas e um nariz notável.

    — Chega, Dorothy! Sua terapia com o novo analista espanhol não serve de nada?

    — Estebán? Com aquele cheiro terrível de tabaco?

    — Oh, céus! Você é incorrigível!

    — Margaret?

    — Sim, Dorothy?

    — Tenho a impressão de que a última opereta de Arnold foi mal sucedida.

    — Ora, não é uma questão de achar. Ou ela o foi ou não. E, nesse caso, detesto desapontá-la, mas foi muito bem sucedida.

    — Sim, Covent Garden esteve insuportavelmente apinhado por semanas. Mas achei a obra um tanto...

    — Sim?

    Silly.

    — Mas por Deus! Nada é capaz de agradá-la?

    — Claro que sim!

    — Dê-me um exemplo convincente!

    — A penúltima opereta de Arnold. Sobre o trágico caso com as irmãs Totty. A selvageria, o suicídio... É simplesmente encantador.

    — Dorothy, você é hopeless! A opereta era sobre o Brasil, não sobre as irmãs Totty!

    — Ah, que desapontador! Achei que o Brasil fosse uma metáfora.

    De voos

    para minha sobrinha

    Pega a condução que desce na primeira estação

    Vem e traz na mala aquilo de que fala a escuridão

    Pega o avião que faz a trajetória em contramão

    Que traz toda uma história do desejo

    Sobre o luar

    Prega na parede fotos e cartazes de uma atriz

    De cabelos roxos, de olhos puxados, Guaranis

    Toda a decisão vermelha

    A confusão vermelha

    A confissão vermelha

    A concessão vermelha

    A solidão

    Pega a minha mão

    Me leva pra esse mundo, esse salão

    Em que dançaste já tantos balés

    Quem sabe que romances já tivestes

    Ao sonhar

    Nada pelo rio que desemboca em outra dimensão

    Em que os orixás estão do nosso lado em profusão

    Pega o caminhão que nunca para numa interseção

    Que nunca faz retorno, vai direto

    Até o luar

    2018

    Faça seu desenho, por mais, digamos, infeliz que seja, nessa página. Isso haverá de tornar seu exemplar único e você terá criado seu primeiro Rubi Boto!

    Ana Luísa

    para minha sobrinha

    Ana Luísa

    Dos carnaubais

    Quando cansar me avisa

    O que eu queria te dizer

    Era tão prosaico

    Que nem vou falar pra não te preocupar

    Ana Luísa

    Deixa de drama

    Molhou minha camisa

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