Jornalismo em Tempos de Ditadura: A Relação da Imprensa com os Ditadores
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Jornalismo em Tempos de Ditadura - Bruno Moraes Pereira da Costa
final
PREFÁCIO
Ao pensar em liberdade e autonomia no Brasil contemporâneo, de início, é impossível livrar o pensamento e os sentimentos dos significados de ditadura
. Dessa palavra, que seria apenas mais um verbete nos dicionários não fosse o seu rastro de sangue, surgem sentidos e imagens diversas, todas sombrias, doloridas, vivos cortes no corpo da memória. Dentre essas imagens, há duas que, aqui, incomodam, doem, marcam a história tanto quanto avivam a busca e o sentido do agir e do pensar em um ethos, uma maneira de vivenciar as relações sociais de forma a desejar que, nelas, as marcas não sejam construídas pela exploração nem pela desigualdade e menos ainda pela tortura. São elas: a imagem de Gregório Bezerra, militante do PCB, com o corpo ensanguentado, amarrado pelo pescoço e com os pés em carne viva sendo arrastado pelas ruas de Recife; e a imagem do corpo do jornalista Vladimir Herzog pendurado por uma corda em uma cela do DOI-Codi paulista. A partir desses dois quadros da história recente brasileira, tantos outros seguem formando um roteiro fantasmagórico de negação da liberdade, da inteligência, do pensamento crítico e da atividade criadora, enfim, um roteiro de negação da vida e da utopia.
O livro de Bruno Moraes Pereira da Costa, portanto, vai muito além do jornalismo, embora norteado pela noção vigente de imprensa
. O que revela, com seu estudo, são aspectos das relações sociais da sociedade brasileira e da América Latina em um passado tão presente que torna difícil localizá-lo cronologicamente em anos anteriores. Isso porque os mortos não desapareceram. Diferentes em suas histórias e caráter, não foram esquecidos por motivos também distintos.
Vivem ainda tanto aqueles que morreram na condição mais vil e degradante da condição humana, sob tortura, quanto aqueles que, embora mantendo a aparência de vivos, são mortos-vivos que perderam a dignidade e a condição humana: os torturadores, seus chefes e seus ideólogos.
Aqueles que, sob tortura, perderam a vida biológica por acreditar que podiam sonhar e construir outra sociedade, ainda vivem em cada ideia, em cada gesto rebelde, em cada ato libertário contra as paredes da opressão, contra as crueldades da repressão, da desigualdade, da destruição do planeta, contra o atraso representado pela violência do racismo, pelo machismo e pela homofobia.
Já aqueles que torturaram, ordenaram, oprimiram, apoiaram e idealizaram a dantesca e degradante ação do poder ditatorial, sobrevivem na condição de seres desumanizados e passeiam, ainda que em clara decomposição, pelas instituições, pelas cidades, ruas e redutos ativos do mais conservador e atrasado pensamento das sociedades. Essa sobrevivência ativa, tanto dos indivíduos quanto do pensamento que justificou ideologicamente a ditadura, se manteve porque, ao contrário de outros países, não houve processos, julgamento, e menos ainda punições ao verdadeiro crime contra a humanidade que é a tortura, mais ainda a tortura como política de Estado.
Nos dias de hoje, além da simpatia e apoio a ditaduras mostrados nas manifestações, passeatas e ações naquilo que seria uma retomada do pensamento conservador e direitista, no Brasil uma continuidade do terror continua a deixar o rastro de sangue e demência instaurado pelo golpe militar de 1964 que culminou na ditadura: a continuidade da tortura aos chamados presos comuns, sinônimo de pobres e desassistidos junto ao desrespeito, achincalhe e descaso com os direitos da pessoa humana. Os atuais massacres, chacinas, execuções e outras ações cometidas, inclusive com participação de policiais, também remontam ao tempo dos Esquadrões da Morte e da licença para torturar e matar tanto um opositor ao regime quanto um suspeito de qualquer coisa. As vozes mórbidas que pedem a pena de morte e a redução da idade penal, que apoiam a justiça com as próprias mãos e os linchamentos, brotam tanto da ignorância perpetuada no senso comum por um noticiário falacioso quanto da crosta ideológica que sustentou a ditadura, a partir tanto do controle do ensino quanto de um aparato midiático comprometido com a estruturação de um regime de exceção.
Essa herança e sua continuidade advêm da tentativa de consolidação de um bloco histórico que sustentaria o regime ditatorial. Alinharam-se, portanto, militares e setores dominantes a serviço de um modelo socioeconômico construído a partir de um pensamento que se pretendia único e inquestionável, capitalista, concentrador e livre para perpetuar a exploração do trabalho, as desigualdades e a destruição das culturas e povos que não se enquadram no modelo idealizado pelo Ocidente para o mundo todo.
São essas características e esse alinhamento entre capital, empresas e militares que levaram um dos mais lúcidos e combativos intelectuais brasileiros, Octávio Ianni, a qualificar o Regime Militar Brasileiro como a ditadura do grande capital
, em obra memorável com o mesmo título. Outro intelectual comprometido com a emancipação, Antônio Callado, que viveu sob duas ditaduras, a do Estado Novo e a de 1964, afirmou:
Não vamos mais escapar aos nossos próprios erros e omissões. Ou aos nossos remorsos. Livros de advertência e de expiação hão de nos tirar o sono e o sossego, retratando e documentando com afinco, com detalhes, o martírio dos desaparecidos [...].
O alerta está no prefácio do livro Censura política na imprensa brasileira: 1968-1978 de Paolo Marconi, lançado em 1980, período no qual as forças que sustentavam o regime ditatorial já se encontravam em conflito, e o próprio, tropeçando em cadáveres, em gritos de horror e assustado com as luzes libertárias que começavam a sair dos guetos e a ganhar ruas e praças, já se deteriorava enquanto poder absoluto.
Se livros têm, entre outros, o destino de promover advertências, retratar e documentar, o que Bruno Moraes Pereira da Costa apresenta aqui como resultado de sua pesquisa também é um repúdio ao martírio dos desaparecidos
, tanto quanto um aceno para a continuidade da luta pela liberdade e autonomia. Uma luta que, na contemporaneidade, passa, necessariamente, pela crítica e denúncia dos conluios e arranjos políticos existentes entre grandes empresas, o capital privado nacional e internacional e os agentes portadores de poder que aspiram assumir o controle do Estado, da sociedade e seus rumos. Isso envolve qualquer instância, os aparatos repressivos, judiciário, econômico ou de qualquer outra origem que se pretende dominante e hegemônica.
A crítica aprofundada e mordaz só pode avançar nos seus propósitos libertários se, reconhecendo a história, entender que os grandes monopólios da informação e da comunicação no Brasil e na América Latina, as grandes empresas hoje midiáticas, iniciaram suas trajetórias políticas e econômicas com as ditaduras que assolaram o continente a partir da década de 1960. Suas histórias se confundem com essas ditaduras a despeito da questão da censura à livre circulação de informação no período vigente do arbítrio e do terror. Cresceram e se tornaram mais poderosas, amparando e mesmo louvando as ações dos militares, entre elas a tortura e o desaparecimento dos opositores civis e mesmo militares.
Como pensar isoladamente a questão da censura e da própria liberdade de imprensa ou, ainda, de forma mais profunda, a questão da liberdade de expressão? O que primeiro as ditaduras atacaram e cercearam foi essa liberdade, na perspectiva de calar, silenciar toda a sociedade. Ou, ainda, como entender, refletir sobre o indivíduo, o profissional de jornalismo, seja repórter ou responsável por qualquer outra atividade dentro do campo da comunicação e da informação? Se há contradições, divergências e diferentes posturas, este livro traz elementos para alimentar esses questionamentos.
Na ação político-ideológica das ditaduras latino-americanas, seguiu-se, então, o ataque à liberdade de imprensa no sentido de calar possíveis dissidentes e de organizar o apoio aos golpes dados contra as democracias e governos legítimos. No que se refere à liberdade de expressão, a ação repressiva envolveu todo e qualquer setor ativo e pensante que pudesse questionar os regimes instaurados, ou seja, evolveu o ensino e a educação, os partidos políticos, as lutas e organizações de trabalhadores, movimentos sociais indígenas, negros e de moradores. Quanto ao fato da grande imprensa não noticiar esses atos repressivos, a análise fica entre considerar uma censura oficial, existente de fato, e a conivência das grandes empresas, não só jornalísticas, diga-se, com os objetivos das ditaduras instauradas a serviço do grande capital internacional e