Memória das mulheres operárias da CVI
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Memória das mulheres operárias da CVI - Márcio Ronaldo Rodrigues Vieira
Márcio Vieira
Memória das Mulheres Operárias da CVI
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Coordenação Editorial: Kátia Ayache
Revisão: Nara Dias
Capa: Matheus de Alexandro
Diagramação: Matheus de Alexandro
Edição em Versão Impressa: 2014
Edição em Versão Digital: 2014
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Dedicatória
A Márcia, Marvin e Juan, que representam a minha vida.
Ao Dr. Ivan Agra, por ser um anjo em minha vida.
Agradecimentos
São tantos e tão especiais...
Às mulheres operárias da Vila Operária de Valença-BA, fontes orais desta pesquisa, mães guerreiras, rostos incentivadores e marcados pela labuta, mulheres de Atenas, elas foram minha motivação principal. Através delas homenageio todas as mulheres, nunca esquecerei tanta ternura, tanto carinho, vocês se tornaram minhas companheiras e amigas.
À Uneb, minha universidade, onde vivem meus colegas e meus amigos, em especial ao campus XV, onde labuto e exerço minha docência.
Aos meus pais e família, por incentivar-me, querendo sempre o melhor para mim, oferecendo amor, exemplo e verdade. Martiniano e Joana in memoriam; D. Maria Trindade (mãe e sogra) e seu Manoel Leão (pai e sogro) in memoriam; Anísia Maria de Jesus (Nêga), uma pessoa especial.
À Dra. Carmélia Miranda – minha orientadora –, pela paciência e dedicação ao ensinar-me, em todos os momentos, o caminho mais adequado para a realização desta obra.
Aos meus colegas professores, honrados membros da Banca, Dra. Marise Santana e Dr. Emanuel Luis Roque Soares, pela generosidade em participar deste processo.
A todos os professores que fizeram parte do mestrado, por terem me ajudado a caminhar, apontando direções tão significativas nesta etapa da minha vida.
A todos os colegas do curso, por terem me proporcionado momentos de discussões tão ricos e de grande relevância para a formação de habilidades teóricas e práticas, adquiridas por mim no decorrer do curso. Vocês me ajudaram bastante!
À Uneb campus VI, pela oportunidade desta experiência e onde passei muitos momentos felizes.
Ao meu Departamento Uneb campus XV de Valença-BA, ao Prof.Paulo José Gonçalves, representando todos meus colegas de trabalho, aos funcionários e alunos deste Departamento de Educação.
A algumas pessoas simples do meu cotidiano que me ajudaram com um gesto de bondade, o casal maravilhoso Ana Lícia e Rodelson.
Por fim, aos meus dois príncipes, Marvim e Juan, razão da minha existência.
O único beijo deste livro é para você, Márcia, amor de toda a minha vida, muito obrigado por tudo.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas Quando eles embarcam, soldados Elas tecem longos bordados Mil quarentenas E quando eles voltam sedentos Querem arrancar, violentos Carícias plenas Obscenas.
Chico Buarque
Sumário
Folha de Rosto
Créditos da Obra
Dedicatória
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
Capítulo 1: A Fábrica e a Cidade
1. A Cidade de Valença: Um Recorte Histórico da Cidade Industrial
2. A Fábrica da Cvi: Um Retrato da História de Valença
3. A Vila Operária: Comunidade, Moradia e o Entorno da Fábrica
Capítulo 2 : O Trabalho Na Fábrica: Vivências Cotidianas Das Mulheres Operárias Na Cvi
1. O Cotidiano das Mulheres na Cvi
2. As Mulheres que Fiam e Tecem
3. A Religiosidade e a Maternidade das Mulheres na Cvi
4. As Mulheres e a Prática Sindical
Capítulo 3: A Casa, o Trabalho Doméstico, Relações Sociais e As Mulheres Operárias
1. A Família Operária e o Trabalho Doméstico
2. Formalidade e Informalidade no Trabalho
3. A Cultura, o Lazer e as Relações Sociais
Conclusão
Posfácio
Referências
Paco Editorial
Lista de Gráficos e Figuras
Figura 1 – Mapa da Região do Baixo Sul
Figura 2 – Praça da Bandeira
Figura 3 – Portão da CVI em 28/10/2009
Figura 4 – Companhia Valença Industrial
Figura 5 – Barca industrial
Figura 6 – Fábrica da CVI em 1970.
Figura 7 – Vila Operária em 12/10/2009
Figura 8 – Vila Operária
Figura 9 – Vila Operária em 12/10/2009
Figura 10 – D. Berenice Sousa Andrade, 80 anos, 28/10/2009
Figura 11 – D. Adelzuita Almeida, 82 anos, 28/10/2009
Figura 12 – D. Hildete Carqueja de Melo, 78 anos, 28/10/2009
Figura 13 – D. Edleuza Gonçalves, 66 anos, 28/10/2009
Figura 14 – Altar de Nossa Senhora do Amparo
Figura 15 – D. Jailza Leite Souza, 55 anos, em 28/10/2009
Figura 16 – D. Maria da Glória Oliveira Santos, 72 anos, em 28/10/2009
Figura 17 – D. Beatriz Silva Sousa, 80 anos, em 28/10/2009
Figura 18 – D. Iraildes Almeida da Silva, 52 anos, em 28/10/2009
Figura 19 – D. Delza de Vasconcelos Soares, 77 anos, em 28/10/2009
Figura 20 – A Recreativa
Prefácio
Dra. Carmélia Aparecida Miranda
Universidade do Estado da Bahia
É com grande satisfação e carinho, que vejo hoje uma pesquisa de Mestrado, com um quilate de competência investigativa ser transformada numa obra de referência para a história das mulheres trabalhadoras na indústria, de autoria do professor Márcio Ronaldo Rodrigues Vieira, cujo resultado demonstra uma exaustiva e competente pesquisa. Este é um momento, que posso traduzir, como feliz, uma vez que acompanhei passo a passo a construção desse trabalho, como orientadora e agora fazendo o prefácio de uma obra relevante para a Historiografia Contemporânea, para a História do Trabalho e também para os estudiosos da História Oral e da memória. A referida obra vem contribuir para a uma lacuna, que a historiografia tradicional deixou escapar, dar voz aos sujeitos comuns, até então silenciada pela história dos grandes eventos
e dos grandes homens
. Assim, o livro Memória das mulheres operárias da Companhia Valença Industrial (CVI)
, faz parte de um grupo de trabalhos que perceberam a história como uma construção de vários sujeitos. Ao lê-lo, percebemos como essas mulheres estavam presentes ativamente no cotidiano da sociedade. Apreendemos suas vidas, suas artimanhas, seu labor, suas dificuldades diárias, seu respeito ou rechaço às convenções.
Mulheres simples, que, no seu fazer-se, no seu cotidiano, colaboraram para a construção e para a consolidação de uma fábrica de tecidos, que marcou a economia do município de Valença, localizado no Estado da Bahia. Eram aquelas mãos que fiavam, que desempenhavam diferentes papéis dentro de uma complexidade de produção.
A pesquisa aqui apresentada seguiu as teias da história de vida de mulheres operárias, que dedicaram parte de sua vida ao trabalho, à labuta do dia-a-dia, tendo como pressuposto o sustento da casa e de seus filhos. As suas ausências nos seus lares eram compensadas pelo pão, o qual alimentava a sua família. Vivendo o mundo do trabalho, pouco tempo sobrava para as outras atividades, mas estas mulheres guerreiras tinham uma dupla jornada, davam conta do trabalho na fábrica e dos afazeres domésticos.
Assim, Márcio Vieira, analisando as diferentes fontes de pesquisa conseguiu compor o seu trabalho. Com a perspicácia de um padre, confessando os seus fiéis, ouve as histórias narradas por estas operárias, sobre suas vivências cotidianas, seu trabalho e sua família, busca a documentação sobre a Companhia de Valença Industrial. Nesse percurso, no cruzamento dessas fontes, possuído por uma sensibilidade, constrói a história dessas mulheres no mundo do trabalho. Assim, percebe-se a relevância desta investigação, compreendendo a mudança que o trabalho trouxe para o cotidiano das operárias, tanto na esfera pública quanto na privada, as vantagens e desvantagens de se ter um emprego com carteira assinada, de ser registrado
. Para estas trabalhadoras, a carteira assinada, salário certo no início do mês era sinal de orgulho, era uma conquista, segurança e uma velhice garantida com a aposentadoria.
Uma das grandes qualidades deste livro, entre outras, é sua atenção aos detalhes sobre o trabalho no cotidiano da fábrica e sobre as atuações dessas mulheres operárias na prática sindical. Outro aspecto relevante é sobre a trajetória da cidade de Valença, como cenário da CVI e sobre a Vila Industrial, que deixou marcas significativas. A casa, o trabalho doméstico, as relações sociais desses sujeitos aparecem em suas formas de trabalho, e nas atividades culturais e de lazer. A fábrica estimulava a produção; estas eram tratadas como aquelas que deveriam produzir e dar lucro.
Aqueles que trabalham com História oral, memória, história das mulheres, trabalho e cultura, certamente, vão se deliciar com as estratégias usadas por essas mulheres para dar conta de suas vivências cotidianas, por exemplo: a capacidade, apesar da uniformização que a CVI requeria, fugir do estigma de operária e seguir suas vidas como qualquer outro trabalhador. Entretanto os especialistas em outras áreas também ficarão fascinados – além de ser excepcionalmente bem escrito e, portanto, acessível ao leigo
nestes assuntos – o livro sempre contextualiza as história de vidas, integrando-os a uma discussão mais ampla sobre a história social das mulheres. Aliás, em seu empenho de relacionar a história de Valença com a história da CVI e das mulheres operárias, na perspectiva da micro-história, o livro de Márcio Ronaldo Rodrigues Vieira lembra a grande obra da historiadora Maria Odila Leite da Silva Dias, Quotidiano e poder em S. Paulo no século XIX
, que retrata a história das mulheres em São Paulo do século XIX. Na referida obra, a autora discorre sobre as agruras, que passaram as mulheres pobres, que precisavam sustentar os seus filhos, enfrentando inúmeras dificuldades. Nessa perspectiva a obra em foco busca pôr em evidência as relações femininas cotidianas na sociedade paulista do século XIX, faz isso por meio da análise de fontes da época. Segundo a autora, para descobrir as riquezas das relações sociais femininas, é necessário esmiuçar as informações, ler as entrelinhas do documento, filtrar aquilo que o documento não necessariamente se propôs a relatar
.
Gostaria, nesse momento, de parabenizar Márcio Ronaldo Rodrigues Vieira pela arrojada obra, aqui prefaciada, que, tenho certeza, que entrará para o rol de títulos essenciais sobre a história do cotidiano das mulheres e para a historiografia local, regional, nacional e internacional, pois este aspecto vem se revelando um campo profícuo de estudo historiográfico e, através dele, podemos perceber os inúmeros elementos que formam a sociedade e, por conseguinte, a vida da mesma.
Introdução
A temática desta obra, Memória das Mulheres Operárias da CVI,¹ teve início a partir de uma visita à Vila Operária da CVI (Companhia Valença Industrial), no final de 2006, após ter contato com algumas destas senhoras e com a história da velha fábrica, que fica às margens do Rio Una na cidade de Valença, Bahia².
Após este contato com as mulheres na Vila Operária, percebi que o tema não era a fábrica, mas história de vida destas mulheres que trabalharam neste local, as vivências, o cotidiano, o trabalho de operária numa época do apogeu da industrialização do país, a produção da subjetividade no contato com a maquinaria, a moradia na Vila Operária, as famílias destas mulheres, seus romances, namoros e casamentos, a religiosidade, a cultura; todo o tema era uma fonte inspiradora para a pesquisa.
Busquei amparo no Programa de Pós-Graduação em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional, Mestrado Multidisciplinar da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Campus V, em Santo Antonio de Jesus-BA, onde fui acolhido, e, após as motivações que recebi e os estímulos, busquei fundamentar a pesquisa nos autores que relacionam o tema memória.
Este livro, que requer um aprofundamento dos dados aqui colhidos, é uma tentativa de construir a história de vida destas mulheres. Nesse sentido, as narrativas são de fundamental importância para o