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O mistério de Troia
O mistério de Troia
O mistério de Troia
E-book251 páginas3 horas

O mistério de Troia

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Sobre este e-book

O exílio forçado de Páris no futuro é a chave do passado de Bruno Theodoro, que sempre se sentiu meio fora de lugar, mesmo tendo Jhonny sempre por perto. Que os deuses sejam bondosos nesta aventura em que o passado, o presente e o futuro se entrelaçam vigorosamente.
O mistério de Troia é uma obra paradidática para adolescentes já experimentados na prática da leitura, ideal para adoção em escolas com séries finais. A leitura deverá ser acompanhada e orientada pelo professor. Aborda histórica e mitológicamente a legendária Guerra de Troia (século X a.C). O romance explora a linguagem não linear. Narrada em primeira pessoa, possui várias passagens poéticas e trabalha questões importantes como as relações sociais, perdas, choque entre gerações, saúde mental, mitologia, ciência e Filosofia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de mar. de 2014
ISBN9788534936972
O mistério de Troia

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    O mistério de Troia - João Pedro Roriz

    Rosto

    Índice

    INTRODUÇÃO

    O FRUTO DA DISCÓRDIA

    O TEMPO É UMA NAU

    ACABOU A FARRA DA INFÂNCIA

    TRÊS DEUSAS NA NOSSA TURMA

    A REALIDADE ERA UM SACO!

    EU NÃO SOU PRÍNCIPE

    NOTÍCIA BOMBÁSTICA

    VASO RUIM NÃO QUEBRA

    BECO ESCURO

    VIVEMOS MUITAS VIDAS NESTA VIDA

    O SINAL DE PÁRIS

    SOMOS FRUTOS DO PASSADO

    O EGEU NÃO É TÃO GRANDE QUANTO PENSÁVAMOS

    PARA QUE PARTIR PARA A MORTE?

    O ÓDIO É COMO A PESTE

    SOMOS A FUMAÇA EXALADA PELO FOGO DA GUERRA

    UMA FANTÁSTICA FÁBRICA DE MARAVILHAS

    É POSSÍVEL ENXERGAR NO ESCURO

    A VIDA É UMA GUERRA

    OS VENTOS DESTA TERRA CONTAM HISTÓRIAS

    A CORAGEM DOS LOUCOS

    AS MALDIÇÕES SE REPETEM

    FILHO DA NOITE E NETO DA MADRUGADA

    DE VOLTA À VIDA

    O SILÊNCIO DA INCREDULIDADE

    FOMOS VÍTIMAS DE UMA CILADA

    BALÉ DE CORES SEDENTAS

    CHEIRO DE SAUDADE

    INTRODUÇÃO

    Uma lenda grega antiga conta que todos os seres vivos da Terra foram criados pelos gigantes Prometeu e Epimeteu.

    Prometeu queria que os seres bípedes fossem dotados de razão e, por isso, usou o fogo sagrado do Olimpo para lhes dar vida.

    Zeus ficou muito irritado com o furto do fogo sagrado, puniu Prometeu e exterminou os hominídeos com um imenso dilúvio.

    Caberia aos deuses e ao único casal de hominídeos sobrevivente do cataclismo a obrigação de repovoar a Terra.

    Muitos dos que aqui viveram nesta época de transição foram posteriormente reconhecidos como verdadeiros heróis.

    imagem1

    Hélio, com o seu carro do Sol, corria atrás de estrelas fagueiras que alardeavam com luz os adormecidos pontos de negrura no espaço. Vulcano acendia uma fogueira e malhava alguns raios com brasa quente. Aos poucos, a vermelhidão tomava de assalto o campanário celeste e iluminava a noite para o evento mais esperado do século: o casamento do mortal Peleu com a ninfa do mar Tétis.

    Tétis usava um longo vestido, cuja cauda arrastava-se por mais de trinta quilômetros. Da terra, quem assistisse a tal cena diria que havia riscado o céu o mais caudaloso dos cometas.

    Apolo tocava a sua harpa e entoava sons harmônicos que atraíam as cores quentes e frias do Universo. Os deuses erguiam os braços, colhiam as cores e as devoravam com tentação mundana.

    Pequenas galáxias formavam-se ao longe, rochas chocavam-se e sóis abandonados por suas constelações morriam sozinhos e serenos, tal qual elefantes, no mais profundo silêncio do vácuo sideral.

    Por trás dos sorrisos, reinava a discórdia no coração dos deuses. Intimamente, eles se odiavam e digladiavam em silêncio. Tudo, absolutamente tudo para eles era motivo de disputas: o mais velho, o mais poderoso, o mais amado, o mais temido, o mais valente e o mais heroico.

    Sobre os pés dos noivos, foram depositados os presentes dos deuses: uma armadura de ouro, uma lança de madeira inquebrável e dois cavalos imortais, Bálios e Xanto.

    Zeus assistia à cerimônia cercado pelas mais rarefeitas nuvens do monte Olimpo e podia ver que no ventre de Tétis desenvolvia-se uma forma de vida. Feliz, bradou o nome daquele que estava por nascer: Aquiles, o futuro herói da Grécia.

    Tétis recebeu uma chuva de aplausos e flores. Hermes, sempre presente ao lado de seu pai, indagou:

    - Aquiles significa sem lábios. Qual é o motivo desse nome?

    Zeus respondeu:

    - Eis um herói que dirá poucas palavras, mas que será autor de grandes façanhas bélicas.

    Hermes ficou maravilhado:

    - Então, será esse o jovem divino que comandará o Grande Exército?

    - Sim – respondeu Zeus. – Há poucos anos, meu filho Éaco, pai de Peleu, afirmou que nem mesmo os poderosos donos do Olimpo seriam capazes de destruir as muralhas de Troia erguidas por ele. Indignado, eu amaldiçoei aquelas terras. As muralhas deverão sofrer o ataque do maior exército já visto na Terra, liderado pelo filho do filho de seu construtor.

    - E este homem será Aquiles?

    - Sim, Hermes – respondeu Zeus. – Muros são construídos e destruídos periodicamente, mas agora estamos prestes a assistir a uma guerra sem precedentes na História da humanidade.

    Hermes silenciou-se, assustado com as perspectivas de seu pai. Enquanto isso, Tétis e Peleu, animados, ocupavam-se com os presentes ofertados pelos deuses. Entre os objetos, havia uma maçã embrulhada para presente. Tétis pegou a fruta e, surpresa, indagou:

    - Oh, quem nos deu esse presente tão criativo?

    Ninguém disse nada. Tétis olhou para a maçã e, encantada, leu:

    - Para a mais bela. Quem é o autor dessa charada?

    Mais uma vez, ninguém se pronunciou.

    - O mistério permanece – suspirou Tétis.

    Hera, a deusa do casamento e esposa de Zeus, tomada pela fúria, disse:

    - Com que direito alguém a chamaria de a mais bela, ninfa? Nós nunca realizamos tal concurso, e um presente como esse, para mim, é mais do que uma afronta!

    Afrodite tomou a palavra:

    - Eu sou a deusa da sexualidade, mãe do Amor e modelo da perfeição feminina. Logo, poderei ser a mais bela!

    Atena também exigiu o posto de a mais bela para si:

    - Eu sou a representação da sabedoria. Mente e corpo, segundo alguns sábios, são indissociáveis. Logo, eu também posso ser a mais bela.

    Zeus tomou em suas mãos um raio forjado por Vulcano e atirou-o contra a Terra. As mulheres rapidamente se calaram.

    – Não haverá concurso – bradou Zeus. – A maçã ficará com Tétis.

    Hera, indignada, apontou para a ninfa do mar e disse:

    - Então eu amaldiçoo o filho desta mulher!

    Tétis sentiu a espinha gelar. Automaticamente levou às mãos à barriga. Hera continuou:

    - Aquiles comandará o exército grego até os muros de Troia erigidos por seu avô. Mas morrerá se conseguir transpassá-los.

    Tétis deu um grito:

    - Não! Meu filho!

    - A maldição está lançada, ninfa do mar – disse Hera.

    - Por favor, não! - implorou Tétis. – Eu dou a maçã para você, mas não sacrifique o meu filho!

    Zeus levantou-se de seu trono e, com autoridade, colocou um fim naquela discussão:

    - Tétis está desistindo da maçã. Portanto, decretarei a minha decisão final. Facultarei a Aquiles, meu bisneto, a decisão de lutar. Se ele escolher não lutar na grande guerra, Troia vencerá seus inimigos. Se ele escolher lutar, o exército comandado por ele poderá vencer, mas Aquiles morrerá caso consiga transpor as muralhas da cidade.

    Peleu tomou a palavra:

    - Prefiro ser pai de um guerreiro que morrerá honrosamente em combate do que ter um filho covarde que foge da luta.

    Zeus pegou um raio e atirou sobre a Terra:

    - Cale-se!

    O céu vibrou e as estrelas estilhaçaram-se como vidro. Zeus disse:

    - Rei Peleu, não queira ser um espelho para o seu filho, pois você falhou em suas missões na Terra e jamais soube dignificar a sua linhagem divina.

    Hermes completou, às gargalhadas:

    – É como diz o herói Romário: você calado é um poeta, rei Peleu.

    Todos riram junto com Hermes. Zeus lançou um olhar de censura para o filho, e este estancou o riso. Peleu, orgulhoso, calou-se, mas de seus olhos brotaram lágrimas de sangue. Tétis colocou a maçã no chão, montou em Bálio e saiu em disparada. Peleu vestiu a armadura de ouro, pegou a lança de madeira, subiu em Xanto e cavalgou ao lado de sua mulher em direção à Terra.

    Diante das deusas, Zeus determinou:

    - Deixarei que as três deusas escolham, em comum acordo, o juiz ideal para o concurso de beleza. Por enquanto, essa maçã ficará em meu poder.

    As deusas concordaram. Aos poucos, todos os deuses retornaram aos seus respectivos lares. Hermes apanhou a maçã e, desconfiado, indagou:

    - Quem será que enviou esta maçã à noiva?

    - Desconfio da deusa Discórdia - respondeu Zeus. – Foi a única deusa que não recebeu um convite para a cerimônia.

    - Eu nunca imaginei que uma maçã pudesse causar tantos conflitos – disse Hermes, atônito. - Onde o senhor pensa em esconder esse fruto da discórdia, meu pai?

    – Penso em entregá-lo a um guardião – respondeu Zeus.

    - Ótima ideia, senhor! – exclamou Hermes. – Mas quem?

    Zeus coçou o queixo sob a barba:

    - Estou pensando naquele curioso casal que conheci em minhas andanças pelo Paraíso.

    imagem2

    Eu já tive 14 anos um dia. Em 2012, eu era um adolescente, gostava de sair e curtia muito o hip-hop . Não curtia tanto futebol como a maioria dos meus amigos, mas me amarrava em praticar parkour e tinha verdadeira fascinação por tecnologia.

    Eu ria muito do meu avô Agelau com a sua ridícula Lettera 82, uma máquina de escrever antiga que ele usava.

    - Fala sério, vô! - eu dizia. - Hoje em dia ninguém mais usa esse dinossauro. Tudo hoje é na base do notebook, da internet e da viagem virtual.

    Ele folheava um volume da Enciclopédia Barsa e me olhava por cima dos óculos. Eu morria de rir:

    - Enciclopédia Barsa, vô? Quem é que usa isso hoje em dia? É só comprar um CD com esse conteúdo e instalar no computador.

    Agora veja só aonde chegamos. Aposto que os meus leitores vão rir das coisas ultrapassadas que estou citando aqui.

    Mesmo depois de publicar dois livros best-sellers para o público juvenil, eu fico assim pensando: será que os adolescentes de hoje vão se interessar pelas minhas histórias nostálgicas, mesmo com o mundo todo aos seus pés?

    Será que o segredo contado neste livro – segredo este que guardei por longos 50 anos - não será algo banal para alguém que está próximo a fazer turismo no espaço sideral, que joga futebol com personagens holográficos projetados pelo videogame, que vai às salas de cinema que colocam os espectadores dentro das cenas, e que usam as digitais do dedo polegar para pagar as compras do shopping center?

    - O cheque no valor de dois milhões será enviado em poucos dias para a sua casa, senhor Bruno – disse o meu agente literário. – O editor liberou esse pagamento parcial, mas está reclamando que o senhor ainda não entregou o seu novo livro para análise. O senhor já terminou de escrever O mistério de Troia?

    - Ainda não – respondi. - Preciso de um pouco mais de tempo. Esse livro é muito importante para mim.

    Meu agente literário tapou o microfone acoplado no colarinho de sua camisa magnética e disse-me em segredo:

    - Senhor Bruno, o pessoal da editora está ficando nervoso, pois já existe capa, projeto gráfico e um mega esquema de publicidade montados para esse livro. Dê-me apenas uma data, qualquer data, e eu tentarei tranquilizar o editor.

    Eu respirei profundamente e disse:

    - O tempo é uma nau que navega rapidamente pelos mares. Você está na proa e já tem conhecimentos sobre o futuro. Eu estou viajando na popa, pois quero olhar o caminho que foi percorrido. Apesar disso, estamos no mesmo barco e, inevitavelmente, chegaremos juntos ao nosso destino.

    O agente ficou fora do ar durante alguns segundos. Eu pensei ter feito alguma conexão com aquele ser humano, mas ele parecia gostar de ser uma máquina. Destapou o microfone que estava no colarinho da camisa térmica e disse:

    - Quero adiantar que a editora lançará O Mistério de Troia também na versão Easy Brain.

    Ótimo, a mais nova bizarrice tecnológica a serviço do mercado editorial. Quando eu era um adolescente em 2012, eu pensava que em 2062 o mundo estaria abarrotado de carros voadores e outras coisas incríveis. Mas eu nunca poderia imaginar que o vício pelos computadores levaria alguém a implantar um chip dentro da própria cabeça para baixar conteúdos da internet diretamente para o cérebro.

    -... mesmo com toda essa controvérsia sobre o Easy Brain e os possíveis males a médio e longo prazo – discursou o meu agente literário -, não podemos negar que é uma maravilha tecnológica. Minha irmã mandou implantar o chip no cérebro de minha sobrinha logo após o seu nascimento e hoje ela diz mamãe em sete línguas.

    Crianças falsamente geniais. Que caminho tomarão quando crescerem e descobrirem que são uma farsa?

    - O editor quer mais livros sobre mitologia – disse o agente. - Ao terminar esse, poderá escrever outro. O tema é universal e será traduzido para o inglês e para o espanhol.

    - Só escreverei outro livro se eu não conseguir alcançar o meu objetivo com O Mistério de Troia.

    - O senhor está falando de dinheiro? – indagou o agente. - Não se preocupe, pois faremos os devidos adiantamentos. Só precisarei de um título e de uma boa ideia para convencer os editores. Ah, eu já ia esquecendo: o editor me perguntou se o livro O Mistério de Troia será escrito em primeira pessoa, que nem os outros.

    Eu respondi:

    - Sim, pois são memórias de minha vida.

    O agente riu:

    - Ah claro, é mesmo! Ótimo, ótimo! É isso que eu acho fantástico em sua obra. Você escreve em primeira pessoa, como se a história fosse real.

    Pelo visto, eu também sou considerado uma farsa. Aliás, como sempre fui. Lembro-me do dia em que precisei fazer uma redação sobre a Guerra de Troia em 2007, quando ainda cursava o quinto ano do Fundamental. Eu estava sem paciência para pesquisar sobre o assunto, lembrei-me do filme do Brad Pitt e, com a cara de pau que Zeus me deu, escrevi o seguinte texto:

    DOR DE CORNO É APELIDO!

    O maior corno da história tem nome e endereço: Menelau, rei de Esparta.

    Considerado um dos líderes mais importantes de seu tempo, teve a bela esposa Helena raptada durante a noite por um de seus maiores aliados, Páris, o príncipe de Troia.

    O problema é que Menelau era irmão do poderoso Agamenon, Rei de Micenas (e não o colunista do jornal O Globo) e obrigou todos os líderes da Grécia a partir rumo a Troia para pegar Helena de volta.

    Foi assim que nasceu um dos conflitos mais conhecidos da era antiga, a Guerra de Troia.

    Mas como todo mundo sabe, é melhor ser um corno manso do que um corno revoltado. Menelau caiu diante da espada de Heitor, irmão de Páris, e os gregos demoraram aproximadamente dez anos para conseguir invadir Troia.

    Mas os gregos só conseguiram vencer a guerra porque Ulisses, também conhecido como Odisseu, teve a ideia de ofertar aos troianos um cavalo enorme recheado de soldados gregos. Os troianos aceitaram a oferta, botaram o cavalo para dentro da cidade fortificada e foram dormir. No meio da noite, os soldados gregos abriram os portões da cidade e o exército de Agamenon saiu matando geral.

    Mas nem tudo é dor, destruição e miséria, né, gente? Páris virou uma cidade da França, Helena se tornou uma obsessão do novelista Manoel Carlos, enquanto Ulisses e Aquiles viraram pronomes de indicação da língua portuguesa.

    A minha professora não tinha o menor senso de humor e eu acabei tirando nota cinco. Ela disse que o filme Troia era uma adaptação livre e não tinha nada a ver com a história contada por Homero. Que saco!

    - Ah, professora, por favor, minha mãe vai brigar comigo por causa dessa nota – reclamei.

    A professora respondeu:

    - Bruno, esse seu olho azul pode funcionar com a sua mãe, mas comigo não funciona não.

    Anos mais tarde, eu percebi que precisaria de pouco mais do que trinta linhas, duas laudas e dez minutos para contar o que realmente aconteceu em Troia, cidade onde

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