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Escatologia: Breve tratado teólogico-pastoral
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E-book196 páginas3 horas

Escatologia: Breve tratado teólogico-pastoral

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Sobre este e-book

Esta obra do Frei Clodovis Boff busca responder aos leitores, de acordo com a doutrina da Igreja, questionamentos que os cristãos se fazem sobre a vida após a morte. Com uma linguagem didática, mas sem perder o tom pastoral e espiritual, o autor sacia uma humanidade cansada de novidades e sedenta de verdade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de mai. de 2012
ISBN9788527613552
Escatologia: Breve tratado teólogico-pastoral

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    Escatologia - Clodovis M.Boff

    FREI CLODOVIS M. BOFF, OSM

    DOM MOACYR JOSÉ VITTI, C.S.S.,

    Por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica,

    Arcebispo Metropolitano de Curitiba

    IMPRIMATUR

    Dom Moacyr José Vitti, C.S.S., Arcebispo Metropolitano de Curitiba, após ler os escritos do Frei Clodovis M. Boff, O.S.M., ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO PASTORAL, aprova a publicação do mesmo.

    Os escritos situam-se na mais lídima doutrina da Igreja.

    Dada e passada nesta cidade arquiepiscopal de Curitiba, sob o nosso Sinal e Selo de nossas Armas, aos 22 de maio de 2012.

    SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO

    INTRODUÇÃO: FUNDAMENTOS

    I. FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS: SEREMOS EM BASE AO QUE SOMOS

    II. FUNDAMENTO CRISTOLÓGICO DA ESCATOLOGIA: O RESSUSCITADO

    ESCATOLOGIA INDIVIDUAL

    I. MORTE

    II. JUÍZO PARTICULAR

    III. PURGATÓRIO

    IV. CÉU: PLENITUDE DO DESEJO HUMANO

    V. INFERNO: ABSOLUTA FRUSTRAÇÃO

    ESCATOLOGIA COLETIVA

    I. EMBATE FINAL

    II. SEGUNDA VINDA DE CRISTO

    III. RESSURREIÇÃO DOS MORTOS

    IV. JUÍZO UNIVERSAL

    V. FIM DO MUNDO

    VI. RENOVAÇÃO DA CRIAÇÃO

    VII. VIDA ETERNA

    BIBLIOGRAFIA

    APRESENTAÇÃO

    Com este livreto não tenho outra intenção senão a de contribuir para aumentar a esperança do Povo de Deus nas inefáveis realidades que o esperam a partir das promessas divinas.

    Daí seu tom bíblico, didático, pastoral e espiritual. Dei-lhe também um caráter aberto, com referência a outras religiões e com algumas citações de caráter literário.

    Não pretendo aqui apresentar nada de original. Retomo apenas a grande doutrina da esperança cristã, que é por si só original bastante para dispensar quaisquer outras novidades.

    Existem à mão bons tratados de escatologia, a maioria dos quais defendem a escatologia da ressurreição na morte, em moda ainda hoje nos meios acadêmicos. Quero aqui me distanciar desta escatologia que julgo teologicamente errônea e não pastoralmente correta, e recuperar a tradicional escatologia do estado intermediário entre a morte pessoal e a ressurreição dos mortos.

    Nessa linha, recupero também a bela e preciosa ideia de alma e sua relação tensa, problemática, separável e finalmente reconciliável com o corpo. Por isso é que me deterei um pouco mais sobre a questão da morte e de sua superação.

    Abordo também a questão controversa da eternidade do inferno, buscando dar-lhe uma solução clara e consentânea com a grande tradição da fé.

    Neste pequeno livro, quero também pôr em destaque o aspecto dinâmico da vida eterna em base ao conceito de evo ou tempo-eternidade. Este conceito, resgatado, permite entender que na outra vida continuam a acontecer coisas. Haverá ainda história e estórias, se bem que de outro gênero. Será uma história ao mesmo tempo venturosa e aventurosa.

    Numa cultura espiritualmente desnutrida, mas sequiosa de espiritualidade, como é a nossa, a teologia precisa não tanto avançar horizontalmente e dizer coisas novas, quanto mergulhar em profundidade nas verdades perenes da fé, para redizê-las a uma humanidade cansada de novidades e sedenta de verdade.

    Só a verdade é sempre nova. Só ela nutre a alma e a liberta. E que é a escatologia senão a Pátria da Verdade, finalmente desvelada no rosto do Pai e do Filho e do Espírito Santo?

    INTRODUÇÃO: FUNDAMENTOS

    Nesta introdução poremos os fundamentos da escatologia: um fundamento natural, que é o próprio homem, e um fundamento sobrenatural, que é Cristo. O homem é pergunta pelas realidades últimas; e Cristo é sua resposta.

    I. FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS: SEREMOS EM BASE AO QUE SOMOS

    1. O termo escatologia e seu significado elementar

    Escatologia é uma palavra que vem do grego éschaton que significa último. É o tratado teológico relativo às realidades últimas, aquelas que dizem respeito ao destino seja do ser humano, seja de toda a criação. As que se referem ao ser humano individual são: a morte, o juízo particular, o purgatório, o céu e o inferno. Já as realidades coletivas últimas são: o embate final, a segunda vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos, o juízo universal, fim e renovação do mundo e a vida eterna. Na tradição clássica levam o nome de novíssimos, superlativo que em latim significa as coisas mais recentes e, por isso, últimas.

    Os dois grandes Símbolos da fé, o apostólico e o niceno-constantinopolitano, trazem o essencial da escatologia. Professam quatro grandes verdades escatológicas:

    1) a segunda vinda de Cristo: de onde há de vir… se diz no Símbolo apostólico; e de novo há de vir em sua glória, no segundo Símbolo;

    2) o juízo final: (há de vir) para julgar os vivos e os mortos se diz no Símbolo apostólico; para julgar os vivos e mortos, no segundo Símbolo. Céu e inferno, incluindo o purgatório, como resultado do julgamento, aqui são apenas evocados;

    3) a ressurreição geral no fim dos tempos: a ressurreição da carne é confessada no primeiro Símbolo; espero a ressurreição dos mortos, no segundo Símbolo;

    4) "e a vida eterna": assim reza o primeiro Símbolo; e a vida do mundo que há de vir, o segundo Símbolo.

    2. A escatologia na cultura atual

    Como a sociedade de hoje vê a questão dos fins últimos? A tendência da cultura moderna é privilegiar o tempo histórico (temporalismo) e não a vida depois da morte; a terra (terrenismo) e não o céu. Dando as costas ao futuro escatológico, as sociedades modernas se concentraram na construção do futuro histórico.

    Contudo, nas últimas décadas – tempos pós-modernos ou tardo-modernos – é a própria ideia de futuro histórico ou de utopia que entrou em crise. Poucos hoje sonham com o Socialismo e menos ainda com a Era de Aquarius.

    Mais: está em crise a própria ideia de fim último. Os únicos fins que se conhecem são os fins curtos e imediatos. É o hedonismo ou o presentismo de quem diz: Comamos e bebamos porque amanhã morreremos (1Cor 15,32).¹ Fica, por conseguinte, obscurecida a ideia do destino último e, portanto, do sentido da vida. Estamos na era do relativismo e do niilismo, que dele decorre.

    Esta é a cultura hegemônica, a que ainda predomina na academia e na mídia. Na sua raiz está o secularismo ou o ateísmo como estilo de vida. É comportar-se como se Deus não existisse ou viver sob o signo da morte de Deus (Nietzsche). Claro: isso só pode levar ao niilismo, enquanto, numa perspectiva sem Deus, tudo termina com a morte, tudo vai finalmente para o nada.² Basta ouvir duas vozes: a do jurista do III Reich: No fim de tudo, fala a morte: ‘Basta!’ (C. Schmitt); e a de um conhecido jornalista italiano: Fecharei os olhos sem saber por que os abri (I. Montanelli).

    Apesar disso, a cultura das grandes maiorias continua religiosa. O povo, em geral, pensa ainda numa perspectiva transcendente da vida. Esta é vista à luz da eternidade. Efetivamente, o povo não se conforma e nem se conformará nunca que tudo termine com a morte. Reza pelos mortos e se interessa pelo seu destino derradeiro.

    Não são apenas as grandes massas de hoje, mas, sobretudo, as de ontem, que são e continuam religiosas. A humanidade inteira, em todas as suas expressões culturais, sem exceção, sempre foi religiosa e sempre se interessou pelo além e sempre o postulou. Ela nunca se conformou com a morte, mas sempre acreditou em sua superação numa outra vida. Isso foi amplamente provado por historiadores e antropologos.³ Para todas as culturas, o homem é um ser-para-a-vida, um ser-para-a-imortalidade. Para todas elas, a morte do ser humano não é natural, mas pena. Essa intuição humana corresponde ao que a fé revelada confessa e esclarece: a morte é fruto do pecado (cf. Rm 5,12; 6,23).⁴

    Foi só a moderna cultura europeia, e apenas durante um século e meio (desde Feuerbach), que pretendeu ter feito a grande descoberta, de que aquilo tudo era ilusão e que o homem era um ser-para-a-morte ou ser-para-o-fim.⁵ Em verdade, quem caiu assim na ilusão fora a própria modernidade presunçosa e niilista. Felizmente, a ilusão secularista se reduziu, como vimos, a um breve parêntesis histórico e se limitou a uma pequena área do mundo: a Europa ocidental.

    O que houve, de fato, com a modernidade, foi um estreitamento fatal da razão, uma verdadeira capitis diminutio. Falou-se no eclipse de Deus (M. Buber, S. Acquaviva). Mas o eclipse está passando e o sol volta a brilhar. De fato, nas últimas décadas, mesmo entre as classes cultas, que até ontem se confessavam ateias ou agnósticas, reemerge hoje, com muita força, a questão religiosa. Há uma busca geral por espiritualidade, uma nova fome e sede de Deus. Com a falência das ideologias, cresce o interesse pelas questões espirituais e, com elas, pelas que se referem ao sentido último da pessoa e do universo.⁶ A escatologia volta à ordem do dia.

    A fé cristã volta a abrir os horizontes da esperança, em que se vê reavivar a aurora imensa das realidades escatológicas, contrastando fortemente com as luzes precárias que a cultura secularista acendeu na noite do mundo. O que nos espera é a glória do dia eterno. O que os olhos jamais viram, nem os ouvidos jamais ouviram e o coração humano nunca imaginou: é isso que Deus preparou para os que o temem (1Cor 2,9).

    3. O homem é um ser naturalmente escatológico

    Em verdade, a escatologia não é uma questão meramente conjuntural; é, antes, uma questão profundamente humana e, por isso, permanente. Ela diz respeito às perguntas mais desafiadoras e decisivas que os seres humanos podem fazer: Qual é o nosso destino? Para onde vamos? Que podemos esperar em definitivo? Para que vivemos, finalmente?

    Ora, somente o fim dá o sentido último a qualquer realidade. Uma frase só se entende bem quando leva o ponto final. Uma música só é apreciada no seu fluxo e só se desvela totalmente no acorde derradeiro. Um drama qualquer ou qualquer história só se torna compreensível depois de seu desfecho. Assim é com cada coisa: ela só se entende bem quando chegou ao termo. Só então está completa e pode ser bem compreendida. O consumado é também o revelado. Daí que a escatologia é a chave para entender a vida e seu sentido. Ela diz para onde vamos e, por consequência, qual é o rumo que devemos imprimir à nossa vida para chegarmos lá.

    A vida do homem, como qualquer relato, só tem sentido à luz de seu fim. Ela é como o caminho tortuoso que vai em direção ao cume de uma montanha: só se veem bem as voltas que ele dá, não em seu percurso, mas apenas a partir do alto, depois que se chega ao topo. Dizer que o homem é um ser escatológico é dizer que é um ser que tem um fim, que busca um fim.

    Mas qual é seu fim? Seu fim depende do que ele é. Ora, para falar tudo de uma vez, o homem é um ser espiritual, aberto ao transcendente. Logo, seu fim só pode ser o infinito. Sua felicidade absoluta só pode se achar no Absoluto: Deus. Pois, só nele descansa o coração humano – como viu Santo Agostinho: Senhor, tu nos fizeste para ti, e inquieto está o nosso coração até que não se aquiete em ti.

    4. A unidualidade ontológica do ser humano

    Sem uma antropologia correta não haverá uma escatologia correta. Seremos na base do que somos. De fato, o fim depende da identidade: tu serás em função do que és. Assim, a pergunta sobre o sentido remete à pergunta sobre a identidade. Mas, em vez de falar simplesmente da identidade do homem como tal (quem é o homem?), discutamos sobre sua constituição (como é feito o homem?), porque é a partir da pergunta de como se compõe o ser humano que se podem entender corretamente as realidades escatológicas, especialmente a morte.

    Quanto a isso, digamos que o ser humano não é, como Deus, uma realidade simples, mas, sim, uma realidade complexa. O Vaticano II ensina: o homem é corpo e alma, mas realmente uno (GS 14). É, pois, uma realidade unidual. Dizemos aí dual, não dualista, pois, corpo e alma não são duas coisas à parte, mas, antes, dois princípios, constituindo, juntos, uma realidade substancialmente unitária. Não são dois elementos justapostos, nem mesmo apenas fisicamente combinados, como o hidrogênio e o oxigênio para formar a água. Trata-se, antes, de duas dimensões heterogêneas, matéria e espírito, que, porém, se combinam ao modo de determinado e determinante.

    Para explicar essa união específica Santo Tomás de Aquino, inovando em seu tempo, insistiu que a alma humana é a forma do corpo, e não só seu motor, de modo que a união da alma e do corpo vem formar uma realidade unitária, o ser humano. Seria, pois, uma união substancial, não acidental.⁸ Para esse Doutor, a união alma/corpo é tão grande que se revela mais íntima do que a que existe entre a chama e o combustível ou entre a figura e a cera.⁹ É isso que dizemos quando falamos no ser humano como uma realidade unidual. De fato, o ser humano é um corpo animado ou uma alma corporificada; melhor, é um espírito encarnado ou um corpo espiritualizado. A união entre a alma e o corpo é tão real que, sem um desses princípios, não há mais propriamente pessoa humana, mas apenas, por um lado, um cadáver (em estado de decomposição) e, por outro, uma alma separada (em estado anômalo).¹⁰

    A unidade substancial entre a alma e o corpo é nossa experiência cotidiana. Quase tudo o que fazemos envolve esses dois elementos, isto é, nosso interior e nosso exterior, seja quando agimos, seja quando nos relacionamos. Essa união é tão grande que é vivida às vezes como fusão, em que não se distingue mais o dentro e o fora. É o que acontece nas experiências particularmente intensas de amor ou de ódio, de alegria ou de dor.

    A cultura atual sublinha tanto a unidade do ser humano que acaba minorando a dimensão de interioridade (alma), muitas vezes

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