Mudar Faz Bem
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Sobre este e-book
presente? Mudanças são constantes. Tudo muda o tempo todo. A grande questão é como lidamos com esses novos caminhos
ao longo da vida. Em Mudar faz bem, Regina Volpato mostra que é possível lidar com todas as mudanças com leveza, enfrentando as incertezas com bom humor e menos rigidez. Um livro inspirador sobre o encontro consigo mesmo durante sua jornada. Seja enfrentando seus medos, assumindo suas fraquezas, encarando-se no espelho, ou abrindo espaço para o novo.
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Mudar Faz Bem - Regina Volpato
MUDAR É PRECISO
De todas as mudanças na minha vida, a mais importante foi ter dado à luz minha filha. Desde o instante em que me descobri grávida, algo muito profundo começou a ser processado não só no meu corpo, como na minha alma. A partir da gestação passei a ser outra pessoa.
Outros valores. Outros gostos. Outro entendimento sobre mim, sobre as pessoas, sobre o mundo. O meu paladar mudou. O tom da minha voz mudou, o meu vocabulário mudou. Descobri novas ambições. Pode parecer paradoxal, e talvez seja mesmo, mas a compreensão de começo e fim, vida e morte, ficou muito clara para mim desde a experiência da maternidade.
Mudanças são constantes na minha vida, desde muito pequena. Seja porque meus pais mudavam sempre de cidade, seja por conta de trabalho. Ou pelo fato de eu mesma perceber minhas alterações internas. Passei a gostar dos fluxos que se alternavam. Dos meus pensamentos inconstantes, das verdades provisórias. Para dar conta das críticas que me cercavam – afinal, mudar gera estranhamento e insegurança –, criei um mundo imaginário onde eu podia brincar comigo mesma, sem censura, sem amarras, sem padrões.
Esse exercício me ajudou muito a ter jogo de cintura. A viver de maneira mais prazerosa e divertida. Sem resistência desnecessária e desgastante. Mudei de emprego e até de profissão algumas vezes. Mudei de casa, de cidade. Alternei meu estado civil. A cada mudança, mais amadurecimento. Mais conhecimento. Mais certezas e incertezas. Menos rigidez. Mudar é parte da vida. E quanto antes nos dermos conta disso, melhor.
Finais e começos são inseparáveis. Despedir-se de uma fase e saudar uma nova é revigorante.
Desejo que meu livro ajude você nesse processo inerente à vida. Não creio que ele precise ser consumido na ordem que se apresenta. Use sua autonomia! Leia na ordem que desejar, que parecer mais interessante a você.
Desde quando iniciei o trabalho neste livro até a sua conclusão, ou seja, uns nove meses, minha vida já mudou de maneira espantosa! Nesse período de nove meses – uma gestação! – foram tantos os acontecimentos que me obrigaram a rever a noção sobre mim, minha identidade e minha essência que me pego a pensar se já não seria o momento de elaborar outro livro. Tudo muda. O tempo todo...
Eu cultivava uma aspiração inconfessável de me arriscar na carreira de escritora. E a possibilidade de realização de mais esse desafio veio de maneira surpreendente, coroando mais uma de tantas mudanças na minha trajetória.
Há muitos anos, quando eu ainda trabalhava na TV e mantinha um blog, um garoto entrou em contato comigo para falar sobre um projeto dele, o Esqueça um livro. A ideia era simples e criativa, bastava esquecer um livro num local público. Esqueci
um livro depois de lê-lo, com o pedido para que quem o encontrasse fizesse o mesmo: lesse o livro e depois o esquecesse em outro lugar. Não só aderi ao projeto como também divulguei no blog.
Tempos depois, recebo um e-mail do mesmo garoto. Já homem, formado e editor. De amigos virtuais passamos a parceiros de trabalho depois que ele me fez o convite para a realização do meu sonho secreto: produzir este livro pela Editora Planeta!
Não me sentia capaz de elaborar uma obra literária. Porém, aberta às mudanças, inclinada a aceitar desafios e incentivos, topei a proposta. Sou muito grata a essa oportunidade! Feliz por poder colher os frutos da semente que eu e, hoje, meu caríssimo editor Felipe Brandão, plantamos com a única pretensão de incentivar e facilitar a sua leitura.
Induzimos as mudanças e possibilitamos que elas ocorram sem nos darmos conta disso!
Boa leitura. Que suas mudanças sejam prazerosas e tornem a sua vida mais feliz.
Com amor,
Regina
LEVEZA PARA OS DIAS COMUNS
Minha vida mudou para melhor quando me dei conta de que não somos educados para viver o amor corretamente. Não sabemos amar, não sabemos desfrutar do amor. Somos adestrados para viver o amor como se fosse uma relação que precisa sempre ter muitos problemas. Associamos relacionamentos sérios com sacrifício, sofrimento, culpa, complicação. É como se fosse um combinado indissociável: amor tem de ser complicado e pesado, com crises.
Mas não é bem assim.
Qual a dificuldade em viver o amor de forma leve? Muitas vezes tenho a sensação de que um amor vivido sem esse peso é classificado como apenas um caso
. Como se apenas um caso
fosse pouca coisa, como se não fosse suficiente ou possível. O propósito de um caso é o encontro em si, para trocar carinho, risadas e pouco, ou nada, além disso. Não há planos para o futuro, mesmo que se trate do dia seguinte. Se há prazer no convívio com alguém, e esse relacionamento é leve, não pressupondo uma porção de cobranças e crises clichês, por que diminuí-lo como se fosse apenas um caso
? Quem sabe a alternativa para uma vida amorosa tranquila, feliz, serena e que nos faz bem seja vivê-la como se fosse apenas um caso
? Em geral, observo que caso
é quando os encontros acontecem sem muito planejamento e muitas expectativas.
Por que procurar motivos para consertar ou melhorar o outro e a si próprio? Sinto que esse seja o caminho para o fracasso da relação. Entendo como fracasso de uma relação amorosa quando o amor de hoje vira o desafeto de amanhã. Se for assim, não vale a pena. Não vale a pena ter nada com ninguém. Por que correr o risco de perder o afeto de alguém, transformá-lo em desafeto por conta das ciladas do dia a dia? Refiro-me a coisas pequenas que podem ser relevadas. Mas o certo não é assim.
O certo somos nós quem fazemos. Os rótulos não definem, complicam. Diminuem a experiência. Reduzem o afeto. Se o nome da relação é caso, flerte, noivado, atendimento (o público LGBTQ entenderá), namoro... não importa.
No entanto, percebo que quando o título da relação muda, altera-se a manifestação do afeto e as responsabilidades. Fomos criados numa cultura em que a culpa está sempre presente e latente. E isso não está relacionado a religião. É algo maior. É uma película que envolve a todos o tempo inteiro. Estamos sob esse manto sem sequer nos darmos conta dele. É uma verdade absoluta, que precede tudo.
Porém, acredito que não precisa (e muitas vezes não pode!) ser assim. A arte de ser leve precisa ser cultivada. Mas, infelizmente, nos traímos o tempo todo... E não me refiro apenas às relações amorosas que envolvem sexo. Falo de todas elas. Das relações amorosas entre irmãos, pais e filhos, mães e filhas, amigos. Quantas vezes nos dedicamos a conversar a sério com as pessoas à nossa volta sobre questões importantes e depois de algum tempo constatamos que não eram importantes coisa nenhuma? Era um pretexto para exercer essa atividade que acreditamos ser a de cuidar da relação. Um pedágio desnecessário que consome tempo, compromete o amor, reduz a admiração. Numa discussão com culpa e sacrifício, fala-se o que não quer. Ouve-se o que não precisa. Para quê? Para legitimar o que o amor já legitima. Cuidar da relação é viver o amor, é cuidar do outro. É respeito, paciência, tolerância.
É claro que algumas vezes é necessário conversar e rever a relação e o que foi acordado. Mas é preciso encontrar uma forma de tratar a crise de um jeito criativo, produtivo e que resulte em algo positivo, que não seja somente discussão pela discussão. Se for assim, tudo vai se acumulando até atingir um ponto que um ou outro anuncia: Não quero mais
. E, então, a troco de nada, chega ao fim uma relação que poderia ter sido legal.
Não importa o nome, se é caso, namoro sério, passatempo. Quando o amor está presente, ele se basta. O que falta é treino para viver uma relação amorosa de forma leve. Sem cair na armadilha de querer melhorar o outro ou tentar ser melhor para o outro. Tudo bobagem! Melhor ou pior sob qual aspecto? Quem está no julgamento? Qual é o pecado de ser como é e aceitar o outro como ele verdadeiramente é? Se não podemos ser autênticos numa relação amorosa, onde seremos? Com desconhecidos? Quando poderemos ser livres e leves? Quem é o juiz disso tudo? Onde estão as regras que tolhem e excluem o espontâneo?
Acolher. Essa é a palavra-chave. Acolher o outro. Acolher a si mesmo. As nossas imperfeições nos definem. O que temos de perfeito é o coletivo visível em nós. O imperfeito, único, esquisito, estranho, diferente, é o que nos faz ser um eu. Abrir mão dessa parte é abrir mão de nós mesmos. É nos abandonarmos.
Não há relação amorosa que justifique tal abandono. Ser leve começa como uma prática e, como tal, é exercida com certa dificuldade no começo. Pressupõe afinco. Não há atalho nem medicação para acelerar o processo. Depois, quando se torna um hábito, a vida passa a ser diferente. E a maior conquista de todas quando se domina a arte de ser leve é enxergar todas as possibilidades de amar. E vivenciá-las sem culpa. Leve.
ENFRENTANDO OS MEDOS
Creio ser uma pessoa corajosa. Entendo que ter coragem não é a ausência do medo. É ter garra para enfrentar a vida, apesar de todos os temores. Mesmo assim, quantas vezes me vi aterrorizada, ameaçada, muito amedrontada! São vários tipos de medo. Os clássicos, como não dar conta de criar minha filha, por exemplo, ou não conseguir atingir as metas que me imponho. E os corriqueiros, como tropeçar numa situação em que estou em evidência ou ter medo da violência.
Por se tratar de um instinto, fui buscar na natureza como os animais reagem quando estão com medo. São três as reações possíveis: atacar, fugir ou fingir-se de morto. Depois disso, me dei conta de quantas vezes na vida eu poderia ter me fingido de morta
, mas ataquei ou fugi. Por que me obriguei a agir? Que senso de urgência é esse que nos impede de deixar o tempo atuar, a intuição se manifestar? Que mal há em não fazer nada num primeiro momento?
Fingir-se de morto pode dar a impressão de apatia, depressão, resignação. E isso é considerado feio! Quem não tem atitude é malvisto, como se estivesse doente. Fingir-se de morto é mergulhar em si mesmo. E esse mergulho é pouco apreciado. Não fazer parte da massa que atua (mesmo que indiscriminadamente) causa estranheza a todos os envolvidos e pode até ofender, dependendo do ambiente em que se vive. A primeira reação é o diagnóstico de depressão, e isso pressupõe medicação. Não se pode ter depressão! Viver esse processo é proibido! É preciso estar sempre de alto-astral, ser extrovertido, com disposição para entender e rir das piadas, aceitar os convites, dar opiniões impactantes, estar bem informado. Mesmo que por dentro a tristeza seja gigante, mesmo que haja uma depressão diagnosticada, é necessário ocultá-la porque é feio ser depressivo.
Quantas vezes me fantasiei de Regina
para encarar as pessoas quando minha vontade era a de ficar deitadinha, quieta, sozinha comigo mesma? E quantas outras situações passei em que amigos que realmente gostam de mim se preocuparam porque eu estava quieta demais...
Não estou defendendo a não medicação de uma doença séria. Mas entendo que a depressão seja um alerta, um sinal que deve ser observado com cuidado e critério antes da prescrição do medicamento. E este, quando necessário, tem a função de colaborar com o processo de cura, é parte do tratamento, e não deve ocultar ou mascarar os reais motivos que culminaram na depressão.
Apesar disso, o que observo é que as pessoas vão se medicando e tentando sufocar a angústia, o sofrimento, vão se fantasiando de elas mesmas
, fingindo alegria e otimismo. Às vezes, vem uma excitação que, para funcionar, precisa ser tão intensa quanto a vontade de reclusão. Tudo vai aumentando e muitas vezes foge do controle. Não consideramos que o medo possa ser um aliado como na natureza, onde vem para aguçar todos os sentidos dos animais. Não deixa de ser uma proteção sentir medo algumas vezes. Isso impede um passo arriscado em direção ao predador. Na minha vida, pode servir como alerta: para eu parar e me conhecer, para eu questionar os meus caminhos, me perguntar se não estou exausta demais, correndo demais, e se chegou a hora de parar.
Não é confortável. Começa como um incômodo, para ser sincera. Às vezes, não é prazeroso... Contudo, me questiono o que é prazeroso ou não. Porque o mergulho para dentro de mim mesma é dolorido – sem dúvida, é –, mas depois traz um ganho tão recompensador que acredito que a jornada vale a pena. O que eu me recuso é a me medicar apenas porque estou com medo. Essa associação precipitada do medo, do frio na barriga com síndrome do pânico, com transtorno de ansiedade, com algo proibido, eu não compro. Muitas vezes, sento e choro. Choro muito. Espero a inspiração me visitar antes de decidir o que fazer.
Entre atacar, fugir e me fingir de morta, a última alternativa pode ser a mais sábia no momento em que o medo me atinge. Conhecer melhor a mim mesma e ao outro. Analisar o que a vida está querendo me dizer. Quase sempre o medo vem com a intuição. E, quando a intuição apita, eu aprendi: paro e observo. Minha intuição capta o que eu ainda nem sei o que é, mas que já está acontecendo. Ela já está me dando pistas, alternativas para eu lidar com determinado acontecimento.
Ocorre também de o medo aparecer para anunciar uma coisa boa. Mas a vontade de manter