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O valor de uma promessa
O valor de uma promessa
O valor de uma promessa
E-book411 páginas6 horas

O valor de uma promessa

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Sobre este e-book

SINOPSE

Uma promessa de casamento.

– Olha, para que, não chore mais, te digo, que quando cresças não há ninguém que queira casar contigo, que por certo não vai haver ninguém já que é tão feia que não se pode nem olhar, vou casar-me contigo. Está claro?Assim vai parar de chorar?”– Elisa o olhou, sorriu de orelha a orelha e, com a pequena mão, segurou o polegar de Alan, selando a promessa que ele acabava de fazer.

Uma promessa de amor eterno.

“Prometo que sempre te amarei”, disse Marian a Eduardo.

Marian tinha sido a mulher mais falsa que já conhecera e Eduardo queria gritar em seu rosto que, se fosse a única mulher na terra, preferiria permanecer celibatário antes de cair em suas garras.

Duas mulheres lutando para conseguir respeito em uma cidade cheia de homens machistas. Uma luta que elas estão determinadas a vencer. E no meio dessa luta carregam em seus ombros o peso das promessas realizadas há muito tempo atrás.

Depois de vinte e três anos, que valor pode a promessa de casamento que Alan Martin fez aos sete anos de idade a Elisa Parker no dia em que nasceu?

Que é o valor tem “Sempre vou te amar”, de uma namorada que fugiu e voltou trinta e um anos depois?

Elisa e Alan, Marian e Eduardo, serão responsáveis ​​por descobrir nesta história cheia de situações divertidas e momentos emocionantes.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento19 de jul. de 2019
ISBN9781547598236
O valor de uma promessa

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    O valor de uma promessa - Susana Oro

    Esta história é ficção, qualquer semelhança com pessoas ou situações reais é mera coincidência.

    Para meus filhos, Franco e Nicolás.

    Índice

    CAPÍTULO 1

    CAPÍTULO 2

    CAPÍTULO 3

    CAPÍTULO 4

    CAPÍTULO 5

    CAPÍTULO 6

    CAPÍTULO 7

    CAPÍTULO 8

    CAPÍTULO 9

    CAPÍTULO 10

    CAPÍTULO 11

    CAPÍTULO 12

    CAPÍTULO 13

    CAPÍTULO 14

    CAPÍTULO 15

    CAPÍTULO 16

    CAPÍTULO 17

    CAPÍTULO 18

    CAPÍTULO 19

    CAPÍTULO 20

    CAPÍTULO 21

    CAPÍTULO 22

    CAPÍTULO 23

    CAPÍTULO 24

    CAPÍTULO 25

    EPÍLOGO

    SINOPSE

    BIOGRAFÍA

    CAPÍTULO 1

    Já estava prestes a nascer. Fazia cinco anos desde o dia em que sonhavam em ser pai de uma criança sem que a semente de Eduardo se lançasse raízes na barriga de Amanda, quem já não queria mais pensar em mamadeiras e fraldas. Mas a garota veio sem pedir permissão. Assim, sem mais delongas, apareceu um dia enchendo sua mãe com náuseas e desejos, morangos com creme, sorvete de amora, melão com presunto, maionese de frango e frango ao curry.

    O útero da mãe era um tambor que retumbava no corpo magro de Amanda. Por que não a deixavam sair? – Pum, pum, pum... Já estava cansada de flutuar lá quando havia vida lá fora e um belo mundo para conhecer. Empurrou com a cabeça tentando abrir a porta. A mãe sentiu-se partida em dois de dor, gritou e se agachou no chão, esperando que a contração passasse. Trinta e sete anos e ainda por cima mãe principiante. Não estava para esses enganos, exceto com uma garota que não tinha parado de se mover em sua barriga. Ela rogava para que não lhe arruinasse seu corpo.

    Eduardo Parker correu como uma alma que leva o diabo para ajudar sua esposa a se levantar. Ele era um homem com a cor do cabelo de trigo. Sete anos mais jovem que sua esposa, que se faziam evidentes ao vê-los juntos. Ele ainda tinha um rosto jovem e um corpo de músculos firmes ganhados pelo trabalho duro do campo. Esses olhos, de cor cinza claro, refletiam sua aparência cálida e sua natureza jovial. Era como se sorrisse com os olhos, sobretudo nesse momento, quando o sonho em ter a filha nos seus braços já era quase uma realidade.

    – Filho da puta, – Amanda disse como se odiasse Eduardo. Ela não o odiava, mas estava incomodada por sete anos de diferença e pelo enorme trabalho de sedução que teve que elaborar para conseguir que se casasse com ela. Nesse momento de dor, os ressentimentos davam volta em sua mente e queria culpá-lo, por ser mais jovem, por não precisar de tantas providências para sempre estar atraente, por haver lutado tanto para que a aceitasse... E ainda, por não estar sofrendo o que estava padecendo. Depois de tudo, por causa de sua semente, sentia que estava morrendo. Tampouco se lembrava da felicidade de Eduardo e dos preparativos que haviam compartilhado durante os nove meses de gestação. Na verdade tinha sido oito meses e meio, porque a menina inquieta em seu útero decidiu sair antes da data prevista.

    – Sim, querida, você está certa – disse Eduardo, tentando apaziguá-la enquanto a segurava em seus braços. É melhor irmos à clínica, pois já conversei com Alfredo para lhe dizer que as contrações começaram – ele esclareceu, carregou a bolsa que deixara na cadeira e saiu com Amanda em seus braços.

    O capataz abriu prontamente a porta da camioneta enquanto lhe tirava a bolsa de Eduardo para colocá-la na cabine. A menina escolheu esse momento para dar outro empurrão. O que passava que não lhe abriam a porta? – Ela queria sair, olhar o mundo e sorrir para a vida. Novamente empurrou com a cabeça e Amanda se contorceu.

    – Está chegando, está chegando, droga. Já vem. Filho da puta! Eu te odeio pelo que você fez comigo, – Amanda gritou para Eduardo, que correu para se sentar na frente do volante e sem responder a sua esposa saiu levantando poeira com os pneus. Pegou o celular e ligou para Alfredo, o médico e amigo da família.

    – Estamos a caminho, Alfredo. As contrações estão uma após a outra – explicou Eduardo.

    – Bom – disse Alfredo, cobrindo o aparelho e soltando um grito que deve ter sido ouvido em toda a pequena clínica. – Já vem! Que todas as pessoas saibam que a garota Parker está chegando!

    Cidade pequena, Eduardo pensou, negou com a cabeça e não pôde deixar de sorrir. Em cinco minutos eles estariam ali, e também todos os vizinhos.

    Nuvens negras corriam galopando no céu. O sol desapareceu quando Eduardo estacionou na porta da clínica. Desceu e pegou Amanda, que gritou e se contorceu quando outra contração lhe fez ver estrelas. Nesse momento, um raio atravessou o céu e o trovão silenciou o grito da mulher. A chuva não esperou que eles entrassem, e sim decidiu cair sobre eles.

    Amanda ficou encharcada e com cabelos arrumados pelo cabeleireiro grudados no rosto. Ela cerrou os dentes, e Eduardo não soube se era por causa de contrações ou porque o penteado se desfizera, já que sua esposa era uma mulher que só se importava quando perdia sua impecável aparência.

    – Só mais alguns minutos e nós vamos ter a nossa pequena – disse Eduardo para tranquilizá-la.

    – Deveria ser só minha, já que não passou por isso. Malditos homens que se atribuem nosso próprio direito e não fazem nada – Amanda disse furiosamente enquanto outro empurrão lhe tirava a vontade de continuar insultando Eduardo.

    Eduardo preferiu não lhe dizer que havia oito meses se entregava a cada um de seus caprichos e suportando cada uma de suas tolices quando falava sobre quão bonita a garota seria. Mas em momentos como esse, quando recebia todo o seu veneno, todo o passado voltava à sua mente.

    Havia se casado com Amanda sem estar apaixonado. Ele havia deixado de acreditar no amor que era um sentimento prejudicial, e depois que ela insistira até cansar, decidiu que era melhor ter uma esposa que não amava para evitar as decepções. Ela tampouco não o amava, ela só se havia insistido porque era atraente e o considerava uma espécie de troféu. Era uma cabeça oca, sempre havia sido, e desde que havia ficado grávida, não falava de outra coisa a não ser da beleza que a filha teria tendo dois pais tão bonitos. Deixou de se lembrar as banalidades de Amanda. Em poucos minutos a garota dos seus sonhos os encheria de alegria e Amanda, quando a tivesse em seus braços, talvez se decidisse deixar de lado as frivolidades.

    – Que dia ruim para nascer – disse uma velha olhando pela janela da sala de espera que dava para a rua.

    – Quantas lágrimas essa menina vai derramar – disse outro, apontando para o dilúvio que havia explodido quando Eduardo sacou Amanda para fora da camionete.

    – Você notou que Eduardo cruzou com um gato preto? – perguntou outra deixando ver sua cara de espanto.

    – Sim, sim, e ainda por cima Eduardo por baixo de uma escada – esclareceu outra, e as quatro se benzeram para que as desgraças não as atingissem.

    Eduardo avançou pelo corredor carregando sua linda esposa, que se contorcia de dor em seus braços.

    – Já passa querida, já verás que em um sussurro nossa amada menina haverá chegado. – Ele tentava acalmá-la quando abriu a porta vaivém da sala de plantão.

    – Suspiro, gostaria de te ver agora dando esse suspiro. Maldito homem, tudo isso é por tua luxúria. Eu te odeio, eu te odeio... Nunca mais vai me tocar. Você me ouve. Oh, Deus...! Oh, minha querida mãe, porque não me disse que isso era tão difícil! Se eu soubesse, não haveria me casado.

    Eduardo levantou as sobrancelhas, havia-lhe perseguido até ficar louco para se casar com ela, e agora o culpava, pensou, mas não disse uma palavra. Mais alguns passos e conseguiria colocar sua esposa em uma maca para deixá-la nas mãos hábeis de uma enfermeira.

    Pela fronte de Amanda escorriam gotas de suor e de seus olhos saíam grossas lágrimas, tão grossas quantas gotas de chuva caindo sobre o vidro da janela. Aquele cabelo cor de cenoura com cachos sempre arrumados estava grudado em seu rosto, e seus impressionantes olhos amendoados de uma linda cor dourada, se viam transtornados de fúria e dor.

    Eduardo nunca tinha visto Amanda naquele estado desgrenhado e enraivecido, nem sequer quando se levantava com os cabelos emaranhados e os olhos inchados depois de uma noite ruim. Ela, a mulher mais elegante da cidade, parecia uma harpia nesse momento.

    – Te desprezo, te odeio, me ouve! Quero-te você fora da minha cama! Nunca te amei! Entendeu? – Amanda gritou. E ele sabia muito bem, mas fazia o impossível para que o casamento funcionasse.

    – Eduardo, todas dizem o mesmo, é melhor fazer ouvidos moucos às suas palavras, – comentou a enfermeira, enquanto preparava Amanda para a chegada do médico, que havia saído para fazer um lanche antes de atender ao parto da mulher de seu amigo. Estava em pleno trabalho preparatório e sendo uma mãe principiante, Alfredo estava certo de que teriam uma boa quantidade de tempo de espera até que nascesse a menina.

    Por recomendação da enfermeira, Eduardo foi até a sala de espera. Amanda estava sendo atendida pelas pessoas da clínica e duas amigas, que lhe secavam o suor da testa e a ajudavam a respirar quando a atacava outra contração. Eduardo gostaria de expulsar todos para ser o único a atendê-la e acalmá-la, mas sua esposa preferira expulsá-lo, e ele não iria contradizê-la.

    Metade dos provincianos estava reunida na sala de espera. Muitas mulheres e poucos homens. As mulheres tinham essa curiosidade inata que as fazia estar presente em cada acontecimento importante, como nascimentos, casamentos e velórios.

    Em um canto, Eduardo viu o homem que amava como a um pai. Eles eram vizinhos e tinha sido o melhor amigo de seu pai. Ele sorriu, mas no instante se apagou o gesto e ele franziu a testa ao ver que Quino estava acompanhado de seu terrível neto Alan, o filho de Marian, pensou com uma mistura de dor e ressentimento.

    O demônio seguira o avô dele, se disse Eduardo e cerrou os punhos. Esse menino era a coisa mais selvagem que havia visto em sua vida, e só tinha apenas sete anos de idade. Tinha suas razões. Todos sabiam que seus pais tinham lutado por três anos para passar a posse a outro e o pobre havia ficado cheio de ressentimentos, que descarregava nos seus avós e nos vizinhos da cidade. Recordar a mãe da criança lhe causava nostalgia a Eduardo. Mas a afastou, Marian não merecia sua nostalgia, além do mais era um homem casado e que em poucos minutos seria um pai dedicado a sua filha.

    Amanda começou a gritar como se a matassem. Eduardo andava nervoso sobre a sala de espera, ida e volta, ida e volta, ida e volta... Deveria ser ele quem estivesse com sua esposa, se repetiu e cerrou os punhos quando se lembrou de que o haviam expulsado como se fosse um estranho. Ele era o pai da criança, droga, se disse e respirou profundo várias vezes para se acalmar.

    Poucos minutos depois, Alfredo entrou correndo na sala de parto, e depois de alguns gritos e insultos mais de sua esposa, o silêncio se apoderou do lugar, que foi quebrado por um grito lamentoso seguido pelo lamento lastimoso de Amanda.

    Eduardo estremeceu. Sua filha, sua querida filha não havia chorado, pensou e sentiu que lhe faltava o ar. Olhou aos vizinhos tentando encontrar uma resposta, mas todos ficaram em silêncio e observaram a porta vaivém onde Alfredo deveria sair para dar a má notícia, mas ninguém apareceu, nem Alfredo e nem as enfermeiras.

    Em um canto, ao lado de um vaso de plantas de folhas verdes, Alan sorriu ironicamente ao observar os rostos assustados das pessoas que tinham vindo ao encontro da garota. Ele havia seguido o avô se esgueirando pelos arbustos e troncos de árvores, ignorando o conselho da avó para que ficasse com ela. Alan sabia que, uma vez que seu avô o visse na clínica não o expulsaria. Se todos iam ao nascimento da menina de Eduardo, por que não ele? – Depois de tudo, tinha o mesmo direito que os outros de estar lá. Inclusive, poderia dar uma pequena beliscada na menina para que fosse aprendendo de pequenina a não mexer com ele, pensou sem deixar de lado sorriso zombeteiro.

    Seu avô o sacudiu para que tivesse compostura. Alan franziu a testa, insultou-o e chutou-o na perna para deixar claro que ninguém poderia desafiá-lo. Quino perdeu o equilíbrio por um momento e reprimiu a vontade de repreender seu neto. Apenas sete anos de idade e ninguém ousava contradizê-lo, desafiá-lo, muito menos corrigi-lo, muito menos educá-lo. Seu neto era um selvagem e continuaria porque Quino e sua esposa, Rosário haviam desistido de suas tentativas em civilizá-lo. Que se arranjasse como pudesse, essa fora à última decisão que haviam tomado após as suas milhares tentativas de instruí-lo.

    Um murmúrio indecifrável tomou conta do quarto, e Eduardo escutou desesperadamente os comentários. Deve estar morta, Não, não, talvez tenha um problema genético, É mãe principiante e está mais perto dos quarenta do que dos trinta, talvez a menina tenha nascido com um problema mental, Cala a boca, Lola que algumas mulheres hão tido filhos saudáveis, inclusive aos cinquenta.

    Quino Martin, que ainda estava dolorido pelo chute que o neto terrível acabara de lhe dar, mancou até o amigo Eduardo e lhe deu uma palmada no ombro. Tantos anos de amizade o permitiram que conhecesse a angústia que estava sofrendo nesse momento de incerteza, já que ninguém saiu para informá-los o que estava acontecendo na sala de parto. Mas ele não disse nada. O que podia lhe dizer? Só ficou ao seu lado fazendo-lhe companhia enquanto esperavam que alguma enfermeira ou Alfredo saísse para dar a notícia, que não deveria ser muito encorajadora.

    As gotas de chuva seguiam golpeando o vidro e os comentários das pessoas foram desviados para outras direções. Alguns disseram que a chuva anunciava maus presságios para a garota Parker. Outros, que a natureza estava dando conta das lágrimas que derramaria no futuro, ou que quanto mais chovesse, mais a criança choraria em sua vida adulta; se é que estivesse com vida.

    Alan escutava espantado como muitas coisas iam acontecer com a filha de Eduardo, e decidiu aproveitar o alvoroço para entrar nessa habitação onde estava viva ou morta a menina dos Parker.

    Paradinho com suas pernas nuas salpicadas de argila e camiseta branca esticada de tanto repuxá-la com as mãos, Alan ajustou o laço que prendia seus calções para que não caísse, e caminhou como um adulto até a borda da maca. Ele viu Amanda deitada com o rosto enterrado no travesseiro chorando copiosamente, e o médico de roupão azul embalando um bebê coberto por um cobertor macio como algodão.

    – Deixe-me vê-la – Alan exigiu do médico. Ele falou em voz alta e com a cabeça erguida para ele soubesse que estava ali. – Está morta ou é boba?

    – E o que você faz aqui se ninguém te convidou a entrar? – Alfredo disse boquiaberto quando viu o neto travesso de Quino na sala de parto.

    – Pouco me importa se me convidem ou não. Eu entro, – disse arrogantemente enquanto lhe dava um chute suas canelas para que se retorcesse e lhe deixasse ver a menina morta.

    O médico, que atuava de obstetra, se necessário, curvou-se de dor e Alan pode dar uma boa olhada no bebê, que sorria para ele com uma boca enorme e olhava para ele com olhos maiores do que todo o rosto. Tinha os cabelos tão arrepiados que parecia o espantalho que ele fizera para que os pássaros não comessem o milho que seu avô semeou.

    – Puaf! Sim é feia e não está morta como dizem lá fora. Nunca, nunca vi alguém tão feio. De que sorris, menina tonta? Acaso não te colocaram na frente do espelho.

    Ao ver que a garota fez beicinho por suas palavras, Alan Martin, pela primeira vez em sua curta vida, sentiu uma estranha sensação de tristeza invadi-lo, e um desagradável nó de angústia fechou sua garganta. Nunca se emocionava e nem chorava por nada, pensou quando descobriu que umas lágrimas ameaçavam escapar de seus olhos. Ele piscou várias vezes para contê-las e se indignou por sua fraqueza. Ele era o menino mais ousado e travesso da cidade, o que fazia o que quisesse, o que ninguém contradizia. Por que tinha que sentir um ardor em seus olhos por uma menina horrível que estava prestes a chorar? Se ele apenas estava dizendo a verdade. Ela era tão feia que sua mãe chorava desconsolada por ver o rosto horrível da filha que tivera. Mas, apesar de sua indignação, ele tentava consolá-la.

    – Não chore menina tonta, que suponho que vai chorar muitíssimo quando for grande e ninguém queira se casar contigo por ser tão feia.

    A impertinência do menino por entrar na sala de parto sem ninguém ter convidado, rompeu a incerteza e as especulações dos vizinhos. Eduardo havia entrado depois do menino, seguido pelas mulheres e homens que aguardavam o feliz acontecimento. Atrás do garoto, Eduardo Parker deixava sair o ar que estava preso em sua garganta quando não ouviu sua filha chorar e um sorriso lhe curvou os lábios. O neto de Quino não estava elogiando sua filha, pelo contrário, mas o que importava se o primordial era que sua filha estava viva.

    Quino Martín, por outro lado, observava desnorteado seu neto, que pela primeira vez mostrava uma pequena fraqueza na frente de alguém. Seu neto era frio como um iceberg desde que sua mãe o abandonara, e essa atitude do menino lhe emocionou.

    Para surpresa de Alan, a menina risonha deixou uma lágrima deslizar por seu rosto enrugado e ele não aguentou mais a angústia de vê-la chorar. Nunca havia lhe passado algo assim, e apesar da fúria que sentia por esse nó que tinha na garganta e não o deixava respirar, se sentou no chão e pediu ao médico que o deixasse segurá-la.

    Ante ao gesto afirmativo de Eduardo, o médico entregou-lhe a menina. Lá ele a embalou contra seu peito sem perceber que seu avô, o pai da menina e metade da cidade que havia ido conhecê-la, desconcertados o olhavam. Ninguém ousou falar, apenas o observaram sem entender a relação entre o menino e a recém-nascida.

    – Já basta de ser chorona. Isso faz você ainda mais feia do que você já é. Deixa de chorar que ninguém vai amá-la... – assombrosamente a menina não chorava aos gritos como qualquer bebê, e sim soltou algumas grossas lágrimas de seus olhos, como se não pudesse se conter. Alan viu que a pobre e feia menina tentava sorrir apesar de seu choro silencioso, e isso o golpeou como se seus sete anos de travessura, de fazer os professores chorar e atingir os mais fracos da escola tivesse desaparecido de sua vida. Esse bebê que lhe sorria para conquistá-lo o transformava em um menino fraco. Apesar de sua raiva, pelo que ela conseguia dele, não pôde evitar em lhe consolar como achava melhor. – Olhe, para que não chore mais, te digo, que quando te faça grande não haverá ninguém que vá querer casar contigo, que certamente não vai haver ninguém já que é tão feia que não se pode olhar, eu vou me casar contigo. Está claro? Assim vai deixar de chorar? A garota olhava-o, sorriu-lhe de orelha a orelha e com a mãozinha agarrou o polegar de Alan selando a promessa que ele lhe acabara de fazer.

    Eduardo estava tão empolgado ao saber que sua pequena estava viva e aparentemente saudável, que não prestou muita atenção ao que havia acontecido entre Alan e a garota. Ele se agachou ao lado do menino e sorriu ao ver sua pobre filha com os cabelos arrepiados como um porco-espinho, sorrindo-lhe como se o reconhecesse. Seus olhos e boca eram grandes demais para ser de uma recém-nascida, e estava tão enrugada que parecia uma mulher idosa em seus últimos momentos da vida, não um bebê recém-nascido. Mas para Eduardo, aquele sorriso cativante fez com que se sentisse o pai mais orgulhoso do mundo e, sem tirá-la de Alan, perguntou-lhe.

    – Eu posso carregar minha filha?

    – Bem, mas não a atires no chão e a deixe pior do que já é. Se até parece um espantalho. Ela sim que manteria o milho do meu avô saudável até a colheita – disse Alan, levantando-se do chão quando Eduardo tirou a menina de seus braços.

    Tudo sucedeu rápido demais. Amanda se precipitou da maca para tentar arrancar a menina de Eduardo, enquanto lhe explicava que esta não era sua filha. Insultou, chutou e gritou na frente dos moradores que haviam lhe trocado a menina, que alguém tão pouco agraciada poderia ser sua filha, e que a afastassem de sua vista, porque não conseguia olhá-la.

    Exclamações dos vizinhos impediram que os presentes vissem o gesto de dor e indignação de Eduardo ante as palavras de sua mulher. Tampouco escutaram suas palavras: Como você pode ser tão desprezível? Eu prefiro você longe de nossas vidas antes que minha filha sofra as consequências da frivolidade de sua mãe. Não merece ser a mãe dessa menina. Amanda caiu no chão, sua bata coberta de sangue, mas o que assustou a todos era o ódio com que olhava a menina.

    Eduardo não soube em que momento sua filha foi levada por uma enfermeira, ele estava horrorizado com o que via. Alfredo e duas enfermeiras tentavam levantar Amanda, que estava chutando e gritando como louca. Quando o conseguiram, após longos minutos de atenção, conseguiram estabilizá-la, mas ela não ajudou na recuperação. Essa menina havia chegado para lhe arruinar sua vida. Ela, apesar da grave condição de saúde rejeitou sua própria filha com um gesto de mão, quando alguma enfermeira a trazia para segurá-la no peito. Eu não posso ter alguém tão feio no meu peito, dizia a Eduardo, e suportava o desprezo de seu marido antes essas palavras pejorativas para sua filha. Não posso aceitar que seja minha filha, repetiu uma e outra vez quando estava agonizando sem conseguir que Eduardo lhe dedicasse um olhar de carinho.

    Minutos antes de morrer, perdeu o ar de uma rainha e pediu Eduardo que a perdoasse pelo que havia feito no passado. Um arrependimento tardio e desesperado que Eduardo não entendeu, igualmente assentia com a cabeça, embora não soubesse o que estava perdoando. Acreditou que lhe pedia perdão era por tê-lo pressionado a se casar com ela. Ele não tinha nada a lhe perdoar, depois de tudo ele havia aceitado o casamento enquanto estava em suas ​​faculdades mentais sãs. Tinha se arrependido de casar com alguém tão frívolo, mas o único culpado daquela decisão havia sido ele.

    O que Eduardo não lhe perdoou foi o desprezo que mostrou para a menina que haviam tido, e desde que ela morreu se dedicou a alma e a vida para fazer Elisa feliz. Uma batalha difícil de conseguir, considerando que sua mãe tinha preferido morrer por ter dado à luz uma menina feia.

    Afortunadamente, este problema tinha sido resolvido rapidamente, mas não foi assim com as palavras de Alan Martin, que foram gravadas pelos provincianos por mais anos do que Eduardo teria desejado.

    Alan nunca imaginou que aquelas palavras que disse no dia em que nasceu Elisa Parker, tão feia que dava pena olhá-la tinha sido ouvido por metade dos moradores que haviam conhecido na própria carne as milhares de traquinagens dele. Ali estava à senhora Olga que costumava encontrar a lata de lixo virada diante da sua porta; e Margarita, a professora da segunda série que tinha quebrado em três partes a perna esquerda quando ele jogou uma casca de banana enquanto descia os degraus da igreja. Também Don Pepe, que o seguia correndo pelas ruas de terra quando roubava o doce do quiosque; e Senhora Felicita que não havia podido sair sozinha por uma semana de sua casa porque ele tinha escondido a bengala no rio e as águas da noite a tinham levado. Tampouco se lembrava que estava ouvindo um garoto da quarta série que costumava esmurrá-lo nos olhos no recreio. Graças a esse menino estúpido, alguns dias mais tarde, todos os seus companheiros souberam de sua fraqueza e da promessa de casamento que havia feito a Elisa Parker.

    A morte de Amanda os distraiu por um longo mês. Mas quando tudo foi se acomodando ​​e o tema não rendeu mais comentários, lhe tocou a vez da promessa de casamento de Alan, que correu como rastro de pólvora através da vila e o menino travesso de outra época se viu acossado por seus vizinhos por causa de suas próprias palavras.

    Nunca se esqueça o valor da palavra empenhada, costumavam lhe dizer os anciãos que se sentavam nos bancos na praça para ver o dia. No meu tempo essa promessa valia mais do que qualquer documento assinado diziam as senhoras de rolos na cabeça quando iam para mercadinho do Manolo para fazer as suas compras diárias. Homens da idade de seu avô, cinquenta anos, lhe batiam no ombro e o felicitavam por sua coragem, e os mais novos tinham lhe pego pela bobagem, insultando-o sempre que ele caminhava com suas bermudas amarradas para não perdê-la.

    Alan Martin tentava negá-lo, disse-lhes que tinham escutado mal, os acusou de mentir, e, finalmente, se envolveu em batalhas verbais e pontapés. Mas tudo o que fez foi reavivar a chama, porque quanto mais se enfurecia, os vizinhos mais insistiam em lhe recordar suas palavras.

    Pouco a pouco estava perdendo a selvageria, e o menino que um dia intimidara mais de um vizinho, começou a andar incerto pelas ruas que antes haviam sido propriedade exclusiva dele.

    Ele se escondia entre as árvores quando saía de sua casa para que ninguém o lembrasse dessa promessa ou tirasse sarro de suas palavras. Tremia toda vez que viu os jovens encostados contra o tronco de uma árvore esperando para ridicularizá-lo por sua promessa estúpida. Inclusive chegou ao ponto de urinar nas calças quando as garotas de quinze anos lhe pediram para quebrar a promessa que fez a Elisa para se prometer a elas. Apesar das complicações e embaraços que essas palavras lhe trouxeram, ele seguiu a se defender com insultos e golpes, sem entender que sua atitude era a razão pela qual essas palavras não eram esquecidas.

    Alguns meses depois do nascimento da menina, Alan disse a sua avó, Rosário, que quando ele disse que se casaria com Elisa, na verdade pretendia dizer que seria seu amigo. Mas o dito já estava dito e, por mais que Rosário tentasse corrigir o erro conceitual das palavras de seu netinho, ninguém a ouviu e todos continuaram brincando com a promessa do menino.

    Seu avô Quino também tentava desviar as águas, mas essas águas estavam marcando sulcos tão profundos que não havia nada e ninguém poderia mudá-las. É por isso que, em um bom dia de sol com o ar do sul batendo nas pastagens, Quino sentou seu neto em uma pedra e lhe falou.

    – Olhe, filho, eu entendo tua raiva, mas devo dizer-lhe como funciona a mente das pessoas aqui. Quanto mais se irrita e tenta negar suas palavras, mais vão insistir para que as reconheça e as cumpra. Indiferença, filho, é a única coisa que serve para desviar o rumo que suas palavras estão seguindo.

    Mas seu neto era jovem demais para entender que sua salvação vinha do lado da indiferença. Na verdade, ele usou a indiferença, o problema foi que ele fez isso com a única pessoa que não merecia isso, Elisa Parker. Ela, desde o seu nascimento, tornou-se um pesadelo que veio arruinar sua vida e enfraquecer sua armadura como uma criança insolente sem sentimentos. Não ajudava que a mãe tivesse morrido porque não tolerava ter uma filha tão feia. Alan era perspicaz e inteligente, e o motivo da morte de Amanda, que era outro dos temas recorrentes na cidade, encheu-o de tristeza pela garota feia. E ele sabia que estaria acorrentado à Elisa Parker por toda a vida, que chegou ao mundo para enchê-lo de problemas.

    E assim o tempo passou, e como Alan vinha suportando os insultos desde os sete anos, Elisa começou a entender as consequências dessa promessa quando tinha dez anos e Alan dezessete anos, uma vez que não podiam se mover pacificamente nas ruas da cidade sem ser submetidos aos comentários jocosos e piadas dos provincianos, que se divertiam muito sem perceber o sofrimento dos dois. Elisa e Alan andavam se esgueirando pela cidade, escondendo-se atrás das paredes da igreja e do centro de esportes, ou se camuflando entre os pinheiros e palmeiras que cercavam a praça. Alguma coluna de iluminação pública servia para ir rodeando-la enquanto os vizinhos mais fervorosos passavam pelos caminhos. Os ligustros[1] de Dona Dora também serviam para escondê-los.

    Algumas vezes, coincidiram no mesmo esconderijo, e Alan a olhava com uma intensidade que fazia Elisa estremecer, mas depois de um momento, ele sacudia a cabeça e disse: Não melhorou em nada desde que nasceu, Elisa, segue sendo tão feia como no primeiro dia que te vi ou como diabos pude dizer essas palavras, se nunca pensei em cumpri-las ou, não se iluda que de solteirona eu não vou te salvar ou amaldiçoado dia que tive a curiosidade de ir te conhecer; e se ia, expondo-se as provocações para não ter de estar em sua presença um minuto mais. Como doíam suas palavras cruéis, eram como chicotadas que machucavam seu coração e lhe faziam brotar aquelas malditas lágrimas silenciosas que não podia conter quando Alan a lembrava da sua fealdade.

    Alan, na sua adolescência o único que desejava era fugir o mais longe possível de todos os provincianos da cidade e da garota Parker. E a fuga tão esperada veio aos vinte anos, quando aceitou a proposta de sua mãe para se juntar à empresa que criara à força do suor e lágrimas em Nova York. De modo algum havia perdoado a Marian por abandoná-lo como um cachorro, mas necessitava fugir e ela tinha a chave para sair da cidade.

    Apesar da distância nunca pode escapar de seus pensamentos, que estavam fincados naquela cidade, e, sobretudo naquela garota de treze anos que paradinha na borda da calçada, derramava lágrimas silenciosas enquanto ele se afastava no ônibus. Alan nem sequer lhe dera um aceno de saudação, e esse último desprezo o perseguiu durante anos.

    Alan tinha voltado a vê-la toda vez que visitava seus avós. Ela seguia perseguindo-o às escondidas, em várias ocasiões, a havia descoberto atrás de uma árvore ou de uma parede, espiando-o com esse olhar de adoração que o deixava furioso. Ele não era um ídolo, mas o vilão, dizia a si mesmo, e o demonstrara isso em uma de suas visitas à cidade, quando Elisa já tinha vinte e um anos de idade.

    A partir desse dia, ela aprendeu a lição, e só em saber que ele estava na cidade desaparecia de sua vista.

    Como ele poderia culpá-la se havia querido que o odiasse?

    CAPÍTULO 2

    ––––––––

    – Onde já se viu que um homem que sempre trouxe sustento para a casa tem que viver do que sua filha ganha em sua lojinha! – Eduardo Parker resmungou, andando como um tigre enjaulado por toda a sala.

    Essas cenas eram comuns na casa dos Parker.

    Elisa, que estava se maquiando em seu quarto, sorriu. Seu pai era um homem orgulhoso, e dois anos perdendo a colheita por causa da natureza o punham nervoso. Toda manhã fazia o mesmo escândalo porque

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