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Selvagem: Doutora Klein, #2
Selvagem: Doutora Klein, #2
Selvagem: Doutora Klein, #2
E-book319 páginas7 horas

Selvagem: Doutora Klein, #2

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Sobre este e-book

Akim sabe que não é nenhuma jóia, mas seu coração está bastante comprometido para abandonar a luta. Perdidamente apaixonado por sua doutora, fará todo o possível para possuí-la, ainda que isso signifique um risco tão grande como perdê-la para sempre.

Brenda Klein é tudo o que jamais pensou encontrar em uma mulher. Só ela é quem dá sentido à sua vida. Não pensa em deixá-la ir, jamais. Brenda, por outro lado, terá que enfrentar seu coração diante de uma razão que se nega a deixar se convencer e uma sociedade que tornará isso ainda mais difícil.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento16 de mai. de 2019
ISBN9781547587094
Selvagem: Doutora Klein, #2

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    Selvagem - Diana Scott

    Prólogo

    Primeiro

    Um salto ao vazio

    Verdades ocultas

    Contigo

    Assim não

    Salve— se quem puder

    À luz do entardecer

    Hoje ou nunca

    Te aceito

    Beijos que matam

    Questão de tempo

    Último dia

    Esquecendo o ontem

    Para sempre

    A última noite

    Tudo acaba

    Realidade

    Volta à verdade

    Caminhando entre nuvens

    Não me deixe

    Espere por mim

    Tempo

    Mentiras

    De finais e princípios

    Os dias passam

    Fracassos

    Verdades e mentiras

    Prisioneiro de suas decisões

    Pedras no paraíso

    Um fim, um começo

    Uma imagem, mil palavras

    Ultimato

    Não te vejo

    Prólogo

    Em que momento a vida te obriga a percorrer por aquele túnel escuro e intrigante e que você sempre negou atravessar?

    Akim

    Brenda pensava e pensava recostada na cálida areia, buscando uma lógica da qual só o coração pode decifrar. Ela, que era completamente ajuizada e decisiva, se encontrava tentando negar uma paixão que ainda adormecida soluçava por escapar. As barras de um preconceito aprendido a balançava em uma tempestade de decisões que se penetravam em seu cérebro racional.

    Estirou— se sobre a toalha e os olhos se fecharam guardando o calor de um tímido sol que desaparecia aceitando sua derrota. Respirou fundo e uma pequena gota indiscreta escapou por baixo de suas suaves pálpebras. Única e tímida, a solitária lágrima, tentou aliviar, com seu delicado sabor de mar, uma culpa muito pesada de se carregar. Presente e futuro, realidade e desejos, sentimentos e obrigações se chocaram como um trem de alta velocidade numa tragédia impossível de evitar. Dez dias. Apenas dez dias foram necessários para derrubar alicerces que ela acreditava serem indestrutíveis. Dez manhãs e um olhar penetrante bastaram para que seus olhos de chocolate se fechassem buscando uma paixão sedenta por nascer. Quem decide sobre a verdade e a mentira? Quem define o real ou imaginário quando o coração é o louco motorista de seus desejos? Brenda fechou os punhos com força sobre a areia umedecida pela brisa noturna, e estirou seu refinado corpo tentando relaxar os músculos esgotados de tanto pensar. Deveria se sentir infame, traidora, mentirosa e outras centenas de adjetivos que as pessoas oferecem especialmente a mulheres de conduta duvidosa, mas nem todas as injúrias desta maléfica sociedade poderiam desmanchar o sorriso gravado no corpo de uma mulher amada. Uma respiração morna e suave se aproximou de seu ouvido e seu corpo se arrepiou o reconhecendo apenas pelo seu calor. Aquilo não estava certo, pensou entristecida. Seria arremessada ao inferno e as chaves fundidas no ardente caldeirão das pecadoras, tomaria um tapa da sociedade, mas como pode uma mulher recusar aquele oxigênio que dá sentido à sua vida?

    — Venha comigo... — Sussurrou Adão à sua Eva, e ela aceitou sem discutir.

    Não pôde pensar, somente reagir. Seu corpo pecaminoso e traiçoeiro respondeu a seu comando tal qual escrava diante seu mestre. Amor, luxúria, paixão, ternura, verdade, mentira, todas as palavras vazias diante um corpo apaixonado que não lhe permite reconhecer a vontade do dever.

    Uma mão áspera acariciou seu seio que, agora nu, refrescava— se com a brisa marítima, enquanto lábios carnudos beijavam seu pescoço. Estirou— se para trás buscando um maior contato e um sorriso masculino lhe atravessou. As pálpebras fechadas nunca precisaram se abrir. Reconhecia seu cheiro, suas mãos e esse delicado calor que emanava de seu hálito antes de roçar sua pele. Ao seu lado as paixões eram um segredo pecaminoso que não nos atrevemos a contar, mas que ele sabia exatamente como torná— las realidade.

    Os braços musculosos a seguraram pela cintura e joelhos, e a ergueram como uma garotinha entorpecida. Uma boca luxuriosa a enlouquecia enquanto o som do mar ficava cada vez mais distante. Suas mãos femininas se arrastaram pelo seu torso até se cruzarem em volta de seu pescoço enquanto sua boca aceitava cada carícia. Brenda sentiu— se transportada a esse lugar do qual os poetas escrevem, mas pouquíssimos conhecem. Esse pelo qual muitas suspiram, outras buscam desesperadas e algumas aceitam que jamais encontrarão.

    Não haveria sensação melhor. Abraçada, amada e desejada, era como estar no céu. O paraíso existia e estava ali entre seus braços. Brenda respondeu a cada beijo e a cada carícia sentindo— se uma mulher completa. Uma protagonista de seu próprio conto de fadas, uma que podia viver sua paixão sem se sentir culpada ou responsável por ninguém mais a não ser ela mesma.

    Com o mais delicado dos cuidados foi depositada em uma suave cama e pela primeira vez abriu os olhos para reconhecer seu refúgio. Um olhar tão azul e tão profundo como o mais escuro dos céus flamejava de desejo por ela. Sua pele se ouriçou ansiosa e seus seios se ergueram desejando serem amados. Um homem com um olhar feroz e penetrante estava a ponto de devorá— la enquanto seu coração pulsava com esperança de ser consumido.

    «Sinto muito...», pensou antes de perder a consciência entre as ondas de um mar de beijos e carícias que dançavam ao ritmo de seus gemidos.

    Primeiro

    ...Covarde por não tentar, covarde por não reconhecer o que sentes, covarde por não aceitar que meus batimentos te despertam cada manhã, covarde por ir embora sem me escutar dizer te amo...

    Akim

    Dez dias atrás...

    Brenda desembarcou no aeroporto de Ibiza, caminhou até a saída, mostrou o passaporte, pegou a mala e tudo isso sem dizer uma só palavra. Rachel caminhou igualmente silenciosa, algo bastante incomum nela, mas o que dizer a sua melhor amiga ao vê— la totally broken e sem ter nem um pingo de ideia do que se passa em sua crazy mind?

    A antiga estrela do showbiz alçou elegantemente os cinco dedos da mão direita, fazendo— os dançar maliciosamente e parar um taxista que se aproximou sorridente e as ajudou a guardar suas duas pequenas bolsas. Pequenas não, pequenininhas! Pensou incomodada. Esse é o preço que se paga por fugir apavorada de maridos interessados em descobrir a verdade, pensou mal— humorada.

    A pior das desgraças pairou sobre ela essa tarde. Fazer as malas em quinze minutos. My God! Que mulher em seu são juízo se vê obrigada a preparar não uma, e sim duas malas! Em apenas quinze minutos!! Pensou apertando a testa. Guarda alguns poucos trapos sem poder escolher as marcas de moda da nova temporada e foge como um gato diante de um banho. Dois biquínis, alguns conjuntos de roupa íntima, dois jeans, um vestido de noite por via das dúvidas e mãos à obra. Todas as roupas horrivelmente dobradas ao lado dos indispensáveis sete pares de sapatos guardados na bolsa, esta sim, uma preciosa Keepall da Louis Vuitton. Já tínhamos chegado até aqui! Disse, aborrecida, pensando que nem morta usaria uma dessas bolsas de mercadinho de bairro que alguns seres engordurados, conhecidos como pobres, costumam utilizar como bolsa de viagem. Rachel se sentou ao lado de sua very best friend enquanto indicava a rota ao prestativo taxista. Observou pela décima quinta vez a sua amiga que com o olhar perdido seguia sem falar nada.

    O que aconteceu? Por que Brenda não responde às minhas chamadas? Por que mudaram de destino? Os gritos de Max ainda zumbiam nos ouvidos de Rachel. O que está acontecendo? Por que não vêm para Paris? Onde está minha mulher?. Gritava raivoso.

    E como diabos eu deveria saber? Em um momento estavam preparando uma doce viagem a Paris e no minuto seguinte estavam mudando as passagens para o primeiro lugar que ocorrera para esconder uma amiga que não parava de chorar e se lamentar nos braços de Connor. Menos mal que era tão boa atriz que inventou um libreto digno de Hollywood e conseguiu apaziguar um dos mais questionadores maridos. Adoecer sua tia da Espanha resultou ser sua obra épica. Digna de melhor diretor e atriz principal. Sim, pode ser que não ter nenhuma tia doente na Espanha não ajudasse na solidez da mentira, mas quando a água chega até o pescoço, a criatividade se sobressai de formas bem curiosas, disse ela sorrindo para si mesma.

    Rachel suspirou nervosa e decidiu, assim como Brenda, se perder na paisagem por trás da janela. Muitíssimas dúvidas lhe incomodavam, mas não era o momento de atormentar Brenda com perguntas. Quando estivesse pronta, falaria. Assim era Brenda, sempre buscando o melhor momento e ela a compreendia e a respeitava acima de tudo. Ambas eram muito, mas muito diferentes, e é ali, no contraste, onde se forjam as verdadeiras amizades. Como Versace e Armani, pensou animada, que por mais diferentes que sejam, ao se combinarem, se tornam especialmente divinas. Sim, assim elas eram, divinas cada uma em seus estilos. Sua Brenda, sensível, carinhosa, responsável, educada e com um caráter tão contido quanto uma gordinha em uma cinta Triumph. Um dia explodirá, lhe dizia Connor, e parece que esse dia havia chegado. Por que e por quem? Essa já era farinha de outro saco.

    Uma mão pequena e trêmula colocou— se sobre a sua e Rachel deixou de pensar para acariciá— la e lhe transmitir coragem. Não precisava perguntar, as explicações chegariam já. Se Brenda quisesse, estaria bem ali. Afinal, depois de tudo, quantas vezes foi Brenda quem se arriscou por ela? Incontáveis, pensou sorrindo ao recordar de suas travessuras de menininha no colégio interno privado. Agora era uma mulher adulta. Ela era Rachel Salazar, estrela de um par de filmes, dois anúncios de cremes depilatórios e a brilhante participação em quatro capítulos da grande novela Memórias de um macho, pensou levantando o pescoço e olhando soberba. A grande Rachel disposta a borrar seu rímel por sua única amiga.

    — Por onde? — Brenda falou quase sem energia e Rachel quis morrer de pena.

    — Por ali –. Apontou em linha reta com uma segurança que não possuía. Afinal, ela também nunca esteve lá.

    Ambas tentaram abrir espaço entre uma multidão de mulheres de todas as idades e países que se concentravam gritando no lobby do hotel ainda mais cheio que a entrada. Mocinhas e não tão mocinhas ostentavam semblantes sorridentes. Todas vestiam a mesma camiseta e Rachel observou o logo impresso no centro. Um punho cerrado para o alto e dois dedos elevados em sinal de vitória. Sorriu naquele instante reconhecendo ao grupo Amazonas de Londres.

    Não tinha muita certeza se a reserva no mesmo hotel que suas queridas Amazonas tinha sido uma boa ideia, mas a velocidade dos acontecimentos não lhe permitiu pensar noutra alternativa menos desastrosa. Adoecer sua tia em Ibiza em plena temporada lhe pareceu uma boa desculpa, ainda que agora começasse a duvidar um pouquinho.

    — Queridas Pink. Pela igualdade salarial. Nem uma sozinha! — Gritou uma fanática de apenas um metro e meio e com o punho cerrado.

    — Nenhuma sem seus direitos!! — Exaltaram as outras apunhalando o céu.

    Rachel, incapaz de se conter, levantou a mão para gritar junto às manifestantes que se espremiam cada vez mais e mais na lotada recepção. Brenda a observou com os olhos fora de suas órbitas tentando gritar Por que?!. E Rachel se amaldiçoou por seu caráter incontrolável.

    Característica típica de nós, as grandes, pensou ao recordar a Marilyn. Seria melhor que se explicasse antes que a Brenda lhe causasse um derrame.

    — Veja, acontece que...

    — Rachel! Sua cachorra. Não imagina o quanto me alegra te ver.

    — Bem, não vim exatamente para... — Disse tentando se explicar quando uma senhora tão corpulenta como uma baleia encalhada se precipitou e a espremeu entre seus braços macios.

    Rachel abria a boca como um peixe fora d’água enquanto Brenda buscava algo para jogar na sua cabeça e poder liberar a sua amiga que estava começando a ficar num azul quase roxo. A doutora já tinha seu celular para o alto e xingando por não ter estendido a garantia do seu caríssimo iPhone, quando a atriz conseguiu se libertar por conta própria.

    — Vai ver... — Disse tossindo e tentando recuperar o oxigênio. — My friend e eu...

    A mulher corpulenta observou a Brenda e sem aviso prévio se lançou sobre a doutora que, atônita, e com o celular ainda para o alto, era absorvida por uma imensidade de um corpulento carinho.

    — Buffy, esta é a Rachel, e se soltá— la certamente te dirá o quão encantada ela está em te conhecer –. Comentou com tom irônico ao ver a perfeita doutora Klein sugada por uma mulher de enorme coração.

    Brenda foi liberada e levantou o pescoço buscando trazer algum oxigênio aos seus pulmões quando essa mesma pequenona de bochechas rosadas e ancas largas continuava gritando com entusiasmo.

    — Pinks, somos belas, somos capazes, somos únicas! E quem somos?!

    — Amazonas! Somos Amazonas! Aú, aú!! –. Gritaram todas em coro e punho cerrado.

    A doutora tentava entender algo do que estava acontecendo, mas não teve nem oportunidade de perguntar. Buffy, que ainda a segurava pelas costas, juntou— se ao entusiasmo das fanáticas. Levantou o braço com tal força que, por um momento, Brenda foi jogada pelo impulso tal como bola de futebol chutada por um bêbado. Se Rachel não estivesse adiante para amortecer o golpe, com certeza teria varrido o chão com os dentes. Ambas amigas tentavam recuperar o equilíbrio quando uma senhorita com uma placa para o alto sinalizou o caminho das Amazonas que a seguiram como devotas acaloradas diante seu messias.

    — Rachel! Nos vemos de noite. Verá como a Carol ficará feliz quando eu falar que você está aqui.

    O grupo se foi deixando a recepção desolada e uma Brenda confusa.

    — Sweet, não me olha assim. Não matei ninguém –. Disse com voz de mulher infratora.

    — Mas quem são, desde quando, por quê...? — Brenda esculpia as perguntas em uma torrente incoerente de dúvidas enquanto tentava resgatar sua bolsa que, ninguém sabe o porquê, se encontrava no outro lado da recepção.

    — Senhorita Salazar, Senhorita Klein. Quartos 271 e 274. Estas são as chaves de vocês. O café da manhã é servido das nove às onze e está incluso em suas reservas. Jantares a partir das oito. Para maiores informações não hesitem em me chamar –. Disse uma funcionária muito gentil e com um lindo coque alto enquanto lhes estendia as chaves dos 271 e 274, respectivamente.

    — Esperanza, por favor, acompanhe nossas convidadas.

    — Vocês podem me acompanhar, por gentileza –. Disse uma jovenzinha com um largo sorriso e falando perfeitamente inglês.

    Brenda assumiu relutantemente que as explicações seriam adiadas. As mulheres aceitaram a sugestão da ascensorista e entraram no elevador sem dizer uma só palavra, embora Rachel pudesse sentir o olhar acusador de sua amiga. Estava claro que ali existia mais de uma friend com segredos obscuros, e ela era uma.

    A ascensorista abriu a porta do quarto, mostrou— lhes as instruções do ar condicionado e Rachel implorava que o tempo parasse para poder fugir e não ter que ser sincera.

    — Que. Que! Que? –. Gritou quando a empregada fechava a porta.

    — Tudo bem. Vou te contar tudo, mas não me olhe assim. Sweet, você fica horrível quando franze a testa, te falei sobre aquele creme...?

    — Rachel! Não te olho assim –. Disse enquanto acariciava sua pequena ruga.

    — Ok, ok, keep calm. Deixe— me ver como te conto...

    — Pelo começo costuma ser melhor.

    — Já já — disse irônica — Está bem. Venho sendo Amazona há seis anos, já te disse isso. Bem, não essas Amazonas... quero dizer, sim uma dessas Amazonas, mas não uma dessas de filme grego, embora a verdade é que se me propusessem eu acho que...

    — Seis? Seis anos? — Tinha dito seis anos?

    Rachel se sentou constrangida. Compreendia as dúvidas de Brenda.

    — Yes. Sorry –. Disse com os ombros caídos enquanto sentada na ampla cama delineava com seu dedo a folha bordada do cobertor — Quer saber por quê?

    Sim, entre muitas outras coisas, pensou, mas calou para não interromper.

    — Sweet, eu nunca fui nem tão especial nem tão inteligente como você ou como Connor...

    — Não diga isso... — Respondeu indignada mas Rachel pediu silêncio com a mão para continuar sua entristecida declaração.

    — Quando descobri que os quarenta haviam me alcançado antes de meu grande papel de protagonista, soube que minha carreira estava perdida. Sonhos de anos inocentes se desmancharam numa grande torta de creme e caramelo repleta de velas.

    — Rachel isso não é assim... — Brenda se recostou ao seu lado

    Ambas descansavam sobre o colchão com suas cabeças encostas como quando eram pequenas e esperavam em um frio internato que as buscassem uns pais ausentes demais para sentirem falta.

    — Sim, Sweet, essa é a verdade. Sou uma estrela, mas não pintada. Meu papel ainda não chegou, mas não se preocupe, já superei... Houve uma época em que me senti inútil e imprestável. Velha e inútil. Mas tudo isso já passou. Agora me vejo como realmente sou — Disse tentando ocultar a obscura realidade — Sou uma estrela com luz própria, com ou sem papel, a grande Rachel Salazar, goste quem gostar.

    Brenda sorriu sem vontade

    — Por que não confiou em mim? — A pergunta transmitiu uma pena que fez com que Rachel se sentisse ainda pior.

    — Sweet — respondeu com especial ternura –, somos melhores amigas e sei que conto com você, assim como você pode contar comigo, mas existem certas provas de vida que devemos assumir alone. E essa foi a minha. Sabe, como quando tem que trocar a cor da tinta, mas não sabe qual cor escolher. Você experimenta e pronto. Ninguém pode te dar seu cabelo nem seu rosto, então comigo foi o mesmo. Enfrentei minhas dúvidas e assumi meus... anos?

    Brenda negou com a cabeça tentando se desviar de um tema que estava claro que para ela era tão doloroso.

    — Por que As Amazonas?

    — Casualidade, acidente, não sei, a verdade é que não lembro bem. Digamos que quando me dei conta já estava na primeira reunião. Sabe de uma coisa, Sweet? É curioso mas quando estou com elas me sinto especial. Ali todas temos algo que nos faz sentir importantes. Nós nos sentimos... — Rachel respirou com profundidade e continuou — mulheres sem pecados. Dignas de merecermos o melhor.

    — Eu poderia ter te ajudado... — Brenda falou com um pequeno indício de ciúmes em suas palavras. Quão boa psicóloga era se não foi capaz de ajudar a sua melhor amiga quando ela mais precisava?

    — Mas é claro que podia — disse sorrindo e olhando para ela — Sempre pôde, mas precisava ser eu quem começasse a caminhar. Às vezes os segredos precisam de tempo para amadurecer antes de serem vistos... — Comentou com duplo sentido em suas palavras.

    Brenda não pode contestar. Ambas ficaram caladas analisando a pintura desgastada do teto. As duas pensavam, mas analisando mundos diferentes. Rachel estava feliz por ter sido sincera. Não gostava de reconhecer que o peso dos anos lhe dava medo e que sofria pela centena de oportunidades perdidas, mas com as Amazonas havia descoberto que ainda faltavam milhares para descobrir, Brenda no entanto, se sentia pior que antes, agora não só era uma má esposa, como também uma má amiga, uma má psicóloga... uma má... mulher. As duas, deitadas na cama, analisavam seus mundos enquanto os minutos se perdiam sob o rouco som de um ar condicionado ansioso para aposentar. Rachel esperou e esperou. Estava certa que Brenda se abriria. O que lhe aconteceu que não oferecia nem a metade do que exigia? A atriz sorriu sem vontade olhando a branca pintura da parede. Sua amiga não estava muito melhor que ela mesma seis anos atrás. A maravilhosa doutora Klein, essa a quem todos acudiam para solucionar seus problemas, se encontrava perdida e sem forças para confiar...

    Pobrezinha, pensou entristecida. Brenda se encontrava a ponto de perceber que a perfeita doutora Klein merecia ter momentos de imperfeição. Rachel pensou e pensou em mil e uma formas para fazer com que Brenda se abrisse. Contra— atacaria com toda a sua artilharia. Brenda sairia dessa profunda pena que tinha de si mesma. Ia ajudar a sua amiga doa a quem doer. Estava disposta a iniciar seu ataque verbal quando um suave som de respiração profunda lhe fez sorrir. Era Brenda e estava totalmente adormecida. Depois de um punhado bom de calmantes que ela e Connor conseguiram fazê— la tomar, por fim conseguiu descansar.

    — Descanse, minha Sweet — Disse enquanto maternalmente lhe cobria com um delicado cobertor — Estarei aqui quando acordar.

    Um salto ao vazio

    Tenho medo de não saber se um dia voltará, de reconhecer que sem ti já não existem estrelas com as quais sonhar...

    Akim

    Era o décimo quinto WhatsApp de Lola, e Akim teria jogado o telefone no buraco se não fosse por não conseguir arcar com o desperdício de comprar um novo. Essa mulher tinha o poder de tirá— lo do sério. Resmungou aborrecido. Sua cabeça doía tanto como mil demônios juntos, mas ainda assim lançava com raiva os sacos de cimento que batiam ao cair no chão, levantando ao redor uma nuvem escura de material. Levava vinte viagens dessas, mas não estava cansado. A fúria e o rancor corriam pelo seu sangue. Ela se foi. Nesta altura marido e mulher desfrutariam um das carícias do outro. Talvez estivessem tomando café de mãos dadas contemplando a paisagem de Paris através de uma cara cama de hotel, logo se amariam descaradamente e se prometeriam amor eterno, enquanto Akim se dessangrava por dentro. Amaldiçoou uma e outra vez esses pensamentos destrutivos que desde sempre o dominavam e buscou desesperado em seu bolso a endemoniada carcaça para responder a última mensagem de Lola, nos vemos esta noite. Jogou o celular sobre a mochila e se preparou para carregar outro saco de cimento.

    Se cansasse o suficiente e dormisse com Lola umas mil vezes, talvez assim deixasse de sentir como o peito se partia em dois ao imaginar sua doutora nos braços de outro. Bem como se fechasse muito forte os olhos tentando esquecê— la o tempo passaria, seus pulmões deixariam de respirar, o sepultariam sob a terra e então assim deixaria de pensar nesses cruéis olhos de chocolate que o perseguia até em seus mais lúgubres pesadelos.

    Devia odiá— la, tinha que odiá— la, então por que não deixava de desejá— la! Uma noite com Lola teria resultado numa experiência gratificante, porém muito momentânea.

    Recordando a noite anterior, as memórias invencíveis se amontoaram em sua cabeça intrigando— o com um sentimento de culpa que não desejava sentir. Pensar como tinha lhe acariciado...

    Na noite passada caminhou nu até o banheiro sentindo o frio debaixo de seus pés. Suas entranhas se reviravam por dentro. Sentia— se sujo e enojado. Quantas vezes chamou por ela? Quantas pronunciou seu nome investindo com força a quem

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