Negras Crônicas: Escurecendo os fatos
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Sobre este e-book
Mulheres negras na literatura, na arte e na sociedade. Estamos aqui, "escurecendo os fatos".
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Pré-visualização do livro
Negras Crônicas - Ana Oli
Ficha Catalográfica:
Título original: Negras Crônicas: escurecendo os fatos
Editor Chefe: Villardo Prior
Preparação: Eduarda Rodrigues Moura
Revisão: Texto Nota 10
Projeto gráfico e diagramação: César Oliveira
Capa: Cristiane de Oliveira
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
T000n
Negras Crônicas: escurecendo os fatos
1.ed. — Rio de Janeiro : Editora Villardo, 2019.
152 p.
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
COPYRIGHT 2018
EDITORA VILLARDO
ISBN: 978-85-92885-22-9
10-08-2019
W
1- Crônicas
2- Literatura Nacional
EDITORA VILLARDO
Av. das Américas, 700 - Bloco 7
Barra da Tijuca - Rio de Janeiro / RJ
Negra
Negra mulata, mula, te falo na lata que não há quem faça seu sorriso cair.
Nega preta, forte marreta, me põe entre as pernas e não me deixa sair.
Esquece a escola, tá aí na sacola um ouro pra ti.
É menino ou menina mais uma criança que me vê partir?
Criola mulata, faz força e cospe o fruto do ventre que não quer mais parir.
Pretinha dengosa, morena fogosa, a cor do pecado se deita na cama e diz que me ama, que eu quero ouvir.
Negra maldita, danada, bonita, que me seduziu.
Mulata preguiça, quer ir pra justiça me extorquir.
Criola capeta, me deu à cabeça, vai ter que parir.
Neguinha imunda, foi lá na macumba pra me amarrar.
Preta sujeita, esquece o caminho, eu sigo sozinho, os filhos são seus.
Morena pecado, do corpo fechado, não quer mais amor.
***
Negras Crônicas - escurecendo os fatos é um projeto literário que conta, através da perspectiva de mulheres negras, suas vivências em uma sociedade racista e machista que insiste em olhá-las como coisas, objetos ou pedaços de carne. Boa para transar mas não para amar. Mulheres que sentem diariamente a dor do desrespeito, da exclusão, da marginalização, humilhação e descaso. Mas não é só isso, o livro também mostra sua capacidade de expor um pensamento crítico sobre a nossa realidade.
Mulheres negras na literatura, na arte e na sociedade. Estamos aqui, escurecendo os fatos
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Cristiane de Oliveira
Idealizadora do projeto | @tianeoliveira
Pretinhas
Kaliana Oliveira da Hora
— Case-se com um homem do cabelo e pele iguais à minha para que seus filhos tenham um cabelo molinho!
Sentiu-se constrangida quando escutou a mãe do amigo pronunciar essas palavras. Não sabia dar nomes ao ocorrido. Simplesmente não sabia. Não contou para a mãe, para as tias ou para as primas.
Aprendeu a se calar ainda menina.
Passados anos, encontrou uma menina preta no local onde trabalhava.
Com riso no rosto, Luíza lhe disse:
— Quero ter um cabelo como o seu!
— E por que não tem? Deixa eu ver seu cabelo?
Não pôde tocar. Não ouviu sua voz. Ouvia seu choro!
Então a irmã da menina lhe falou do desejo dela de ter o cabelo ondulado como o da irmã! Dos absurdos que ela escutava na escola e do silêncio dos(as) educadores(as).
A jovem conversou com a mãe da menina. Mara ficou de ir à escola saber como a instituição estava lidando com os conflitos étnicos, ler livros e ver desenhos com recorte étnico-racial com a garota.
Carolina não viu mais Luíza. Sabia que as duas, as dez, as mil meninas pretas que conhecia experimentaram situações semelhantes.
Chegou em casa. Lembrou-se da senhora, da sugestão racista, da menina chorosa.
Deitou-se na cama. Dormiu. Sonhou. Avistou a porta, pela qual fugiu diversas vezes na infância, entreaberta. Olhou para os lados. Correu até a casa do amigo. Esbarrou na mãe de João.
— Seu filho acordou?
— Não.
Elas se olharam. A senhora tocou os cabelos crespos e volumosos da menina e lhe disse:
— Case-se com um homem do cabelo e pele iguais à minha para que seus filhos tenham um cabelo molinho!
— Cabelo molinho? Meu cabelo é macio! Casar? Eu, casar? Como casar? Com um homem? E se gostar de meninos? E se gostar de meninas? Filhos? Eu já tenho uma filha do cabelo green power e da pele preta! Eu tenho um circo pra montar! Um skate pra brincar! Umas bonecas para arrumar! Quero correr atrás de umas bolas de sabão, alcançá-las e estourá-las! Chama o João porque eu não fugi de casa por acaso! O dia já começou! O Sol está lindo! A gente já pode brincar!
— Despert’amor!
Acordou com o chamado e a mão preta da companheira acariciando seu corpo.