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O Gato Angorá
O Gato Angorá
O Gato Angorá
E-book76 páginas38 minutos

O Gato Angorá

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Sobre este e-book

“Minicontices” foi um blogue criado pelo autor deste livro, com o objetivo de experimentar o fazer artístico relacionado aos minicontos. Tal ato de criação acabou configurando-se em uma das experiências estéticas mais epifânicas já vividas pelo autor; portanto, inesquecível e única. Já o blogue “Transe são” surgiu para abrigar os candidatos a minicontos que, por serem voluntariosos em demasia, caminharam rumo ao conto, sem, contudo, chegar a sê-lo; tornando-se, então, escrituras da transitoriedade. São, portanto, esses textos, tão diversos e plurissignificativos, que compõem esta presente edição.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de out. de 2018
O Gato Angorá

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    O Gato Angorá - Warley Matias De Souza

    Banal

    Quando ele era criança, falava porque tinha muito o que dizer. Mas a mãe, irritada, dizia Cala!. Por isso, mais rápido ele falava, porque tinha muito o que dizer, temeroso do inevitável Cala!.

    Ontem, a mãe ligou-lhe e reclamou que ele não conversava com ela, era assim tão monossilábico!

    Tem poucos amigos justamente porque fala pouco de amenidades, e pouca gente gosta de estar ao lado de uma pessoa que está todo o tempo pensando no sentido da vida e questionando a realidade.

    Já tentou ser banal, mas não consegue.

    Ducha higiênica

    Seus olhinhos pretos e cobiçosos fixaram-se na ducha higiênica. Ridículo confessar; mas seu sonho era ter uma daquelas em seu modesto banheiro.

    Com olhos lacrimejantes de inveja, confessou seu sonho para a dona da casa, que riu um riso nervoso diante de tão inesperado desejo.

    Os olhinhos pretos continuaram fixos no objeto de desejo, enquanto perdurava sobre os lábios ressecados um sorriso destituído de inteligência.

    Mato, privada (casinha ou fossa), banheiro sem bidê (decepção). Banheiro sem ducha higiênica.

    Mas, estranhamente, havia esperança.

    Olhar de louca

    Não tinha medo ou pudor, falava para quem quisesse ouvir:

    — Dinheiro não é problema. Sou rica!

    Até que um dia foi sequestrada.

    Com certa alegria, disse ao sequestrador:

    — Sou rica!

    Porém, ao observar atentamente os olhos de mulher perdidos em algum segredo distante, ele percebeu que estava diante de uma louca.

    Sonho de formiga

    Adormeceu depois de muitas punhetas diante de fotos de Marylin Monroe e James Dean.

    Sonhou com sonhos de Dalí.

    Acordou e, antes de lavar a boca, leu um pouco de Machado de Assis, um pouco de Clarice Lispector.

    Chorou diante do espelho quebrado do banheiro, era difícil o próprio reconhecimento.

    A opressora consciência é a causa da loucura.

    Por um momento, desejou desesperadamente ser formiga.

    Metacontice

    Óculos escuros de lentes redondas, hastes abertas sobre o lençol amarelo da cama recém-feita, sobre a qual repousa uma edição bonita de Esaú e Jacó, além de uma caneta preta, escrita fina.

    O escritor debruça-se sobre a cama e registra, em pedaço de papel rasgado às pressas, o momento único, a cena vista num relance revelador, ao abaixar-se, sentado em sua poltrona design anos 70, para amarrar os cadarços do par de tênis All Star preto.

    No final da escrita, o escritor suspira e sente mais uma vez o abismo da existência.

    Insônia

    Às quatro da madrugada, ainda não havia conseguido dormir, e um líquido ralo começava de novo a escorrer de seu nariz.

    Os últimos dias haviam sido difíceis: carências, masturbações, depressão e uma gripe a devastar-lhe o corpo esquelético.

    Sentiu-se solitário e maldisse os amigos que não tinha. Descobriu que a felicidade é uma questão de autoestima. Quis muito desligar-se da realidade e inebriar-se de afeto.

    Mas há pessoas que não estão no mundo a passeio.

    — Malditos amigos!

    Onírico

    Fumava, tinha um cigarro aceso em cada mão, os cabelos sobre a cara, e o olhar jogado ao nada, num alheamento falso de adolescente inseguro.

    Caminhei pelo labirinto, vi crianças, camas e lençóis.

    Mulheres faziam fila para ocupar um espaço reservado no banheiro masculino.

    E, quando voltei ao lugar de origem, ele estava deitado de bruços, o rosto

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