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O Legado de Andrata
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O Legado de Andrata
E-book261 páginas3 horas

O Legado de Andrata

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Sobre este e-book

1983. Uma família estranhamente desaparece sem deixar nenhum rastro. A Polícia Federal é convocada e assume o caso, mas nenhuma impressão digital, sinal de arrombamento ou evidência de que o local tenha sido invadido é encontrada. Um alerta foi enviado para todos os aeroportos, rodovias e estradas secundárias, mas meses se passam sem que notícias ou pistas sobre o paradeiro da família apareçam. O governo indenizou os parentes das vítimas e, com o tempo, o caso foi arquivado e todos foram dados como "desaparecidos".
Trinta e cinco anos depois, novos desaparecimentos similares começam a acontecer, então o governo é obrigado a usar a Polícia Secreta do Brasil para resolver o problema antes que esse estranho evento faça mais vítimas.
A única pista plausível é um vídeo, que leva os agentes Rubens Paiva e Alice Maciel ao Pantanal sul-mato-grossense, na cidade de Aquidauana. Uma conspiração sem precedentes revela segredos adormecidos naquela cidade, mas vivos por todo o mundo.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento11 de ago. de 2023
ISBN9786525456195
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    Pré-visualização do livro

    O Legado de Andrata - Eduardo Silva

    Prólogo

    Ibiporã, Londrina, PR

    Domingo, 10 de julho de 1983

    22h15min

    O Sr. Roberto Antunes estava deitado no sofá da sala assistindo à gravação do jogo do seu time do coração, largado apenas de bermuda e com sua garrafa de cerveja na mão. Roberto não era muito alto; tinha seus um metro e setenta e cinco, uma barriga começando a dar sinais de cervejas e chopes localizados, olhos azuis por trás das lentes grandes e quadradas dos óculos e cabelos que se negavam a ficar onde deviam. Desde sua adolescência, as famosas entradas na dianteira do couro cabeludo deram sinais de vida e, com o tempo, elas deixaram bem claro que haviam chegado para ficar. Hoje, com seus quarenta e dois anos, a calvície já era bem nítida no topo da cabeça. Um charme a mais, ele costumava dizer.

    Ele torcia pelo time em meio a gritos e palavrões. Durante a semana, não conseguira assistir ao jogo por conta das horas extras no trabalho. Roberto morava no Bairro Esperança com sua família há mais de dez anos e trabalhava há nove em uma frigorífica em Cambé, a alguns quilômetros dali. Tinha de atravessar o centro da cidade, enfrentar um trânsito repleto de motoristas impacientes, trabalhar nove horas seguidas com uma hora e meia de almoço e depois percorrer todo o trajeto de volta para casa. Não obstante, Roberto não ousava reclamar; era um funcionário exemplar e todos o adoravam. Em poucos anos, havia se tornado gerente de setor de qualidade e as coisas começaram a melhorar para ele e sua família.

    Sr. Roberto tinha uma boa vida, como costumava dizer. Sua adorável esposa fazia parte do clube de leitura da cidade há cinco anos, amava tricô e conseguia sempre manter a casa em ordem. Ana era dona de um corpo saudável, pele clara, como a do marido, cabelos loiros na altura da cintura, olhos esverdeados e uma beleza que chamava a atenção por onde ela passava. Gostava de usar vestidos leves e de cores claras, laços de tecido de cores iguais para segurar o cabelo em um rabo de cavalo e sapatos combinando.

    Ana se considerava a típica dona de casa. Ela havia sido convidada, por duas vezes, para ser presidente da Associação de Moradores do Bairro, mas sempre declinava o convite dizendo não ter o talento necessário sequer para gerir uma casa, quanto mais um bairro, mas sempre era a primeira a organizar os saraus de leitura e as festas comunitárias da vizinhança. Ela gostava de ostentar seus troféus da competição de resenhas de livros, de melhor organizadora de eventos e até mesmo as medalhas de melhor cozinheira de guloseimas. D.ª Ana tinha a fama de chef quando o assunto era empadão de frango ou as suas deliciosas rabanadas de final de ano.

    Elizabete, Bete, a filha mais nova do casal, adorava balé. Seus cabelos eram lisos e longos, muito parecidos com os de sua mãe, mas os olhos eram idênticos aos de seu pai. Com onze anos, ela já tinha cinco troféus exibidos na estante da sala, ao lado dos da mãe. Bete não se considerava popular na escola, mas os troféus que ganhara nos últimos anos diziam o contrário. As meninas queriam ser suas amigas e pediam-lhe dicas de como ser popular, se dar bem na dança e até mesmo de como conquistar os rapazes. Ela ficava encantada com tanta gente querendo ter sua amizade, mas, ainda assim, não se considerava popular. Teve algumas paqueras, mas, segundo os padrões da sociedade, não estava com idade para namorar — e nem ela (nem o pai) queriam saber disso no momento.

    Fabrício era o filho mais velho, estava na fase rebelde do rock e não era tão popular quanto a irmã, mas tinha um pequeno séquito que o seguia. Eles andavam de preto pelos corredores da escola, e embora Fabrício tivesse os cabelos loiros, pintava-os de preto, pois queria se destacar do restante da família. Para um garoto de treze anos, ele era bem alto, quase do tamanho de seu pai e, ao contrário da irmã, tinha os olhos verdes como os da mãe. Ele nunca ia direto para casa depois das aulas. Fabrício e os colegas gostavam de ir até uma loja de discos no centro da cidade e ficar horas ouvindo Billy Idol tocando Rebel Yell, cuja letra dizia: "Tempo do meu lado, agora você entende; oh, baby, meu tempo está próximo. Tornar-se mais e mais é um poder divino dado"; ou The Police, com King of Pain: Há um pequeno ponto escuro no sol hoje (essa é a minha alma lá em cima); contudo a que mais mexia com a emoção de Fabrício, se é que algo podia mexer com o emocional daquele jovem, era a banda U2 com a canção New Year´s Day. Fabrício viajava nos versos da canção: Sob um céu vermelho sangue, uma multidão se reuniu em preto e branco; braços entrelaçam os poucos escolhidos; e o jornal diz, ele diz; diz é verdade, diz é verdade; e nós podemos abrir caminho, partido em dois nós podemos ser um.

    Esta era sua parte favorita da canção e, por motivos particulares, sua família entendia bem o porquê, então nunca reclamavam quando ele a colocava no último volume trancado em seu quarto. Apesar de tudo, Fabrício era amável com os pais e a irmã e um verdadeiro parceiro para o pai. Ele é quem havia gravado todo o jogo numa fita cassete e prometido não lhe contar o final, claro, em troca de uns trocados para o fliperama que ficava em uma barraca na esquina da rua de baixo.

    Sr. Roberto estava há dias esperando a oportunidade perfeita para testar seu aparelho novo, que gravava em cores, diferente do modelo antigo, que registrava tudo em preto e branco. Carlos, seu colega de trabalho, tinha um que havia sido importado do Panamá e gravava em cores, mas custava uma nota. No ano anterior, quando o aparelho começou a ser produzido no Brasil, Roberto economizou uns trocados e garantiu seu VCR 100% nacional por um preço admissível, conforme sua esposa costumava dizer. Ana era do tipo que preferia gastar cada trocado que conseguia extorquir de seu marido com livros e enciclopédias, afinal, tinha um clube do livro para gerir.

    Enquanto Roberto estava na sala, preso à poltrona e assistindo ao jogo, Ana estava deitada no quarto. Ela usava um baby doll combinando na cor lilás; na cabeça, carregava um lenço que cobria uma série de bobes enrolados nos cabelos e assistia a um programa de auditório. Conforme o jogo esquentava, os gritos de Roberto a deixavam irritada. Ela queria saber se, desta vez, conseguiria acertar o prêmio tão esperado na roda da fortuna e, mesmo que conseguisse ver os números sorteados na tela de vinte polegadas, ela queria ouvir o que o apresentador falava para a plateia cair na gargalhada entre um número sorteado e outro.

    Não que estivesse descontente pelo marido estar finalmente em casa depois de tantas horas extras, mas aquela gritaria já estava indo longe demais. Em um determinado momento, ela se levantou para fechar a porta do quarto, mas não sem antes destilar um pouco de seu veneno habitual, que Roberto conhecia bem e que era bastante perigoso e letal às vezes.

    — O Ibiporã, aos 15 minutos finais do segundo tempo, empata o jogo! — disse ela, batendo a porta do quarto e tornando a assistir ao seu programa favorito.

    Ana esperava um dia poder participar do quadro e pegar alguns dos aviõezinhos de dinheiro que o apresentador jogava para a plateia todo domingo.

    Roberto olhou com raiva para a porta e, por alguns minutos, seus pensamentos contra sua esposa foram tão intensos que, no próximo domingo, ele sabia que devia ir à missa se confessar com o padre, mesmo que não acreditasse naquela baboseira toda de religiosidade. Chegou a imaginar a cena em sua cabeça, mas a sacudiu e voltou sua atenção para o futebol, rezando para que sua esposa estivesse apenas de brincadeira.

    Ele havia passado a semana inteira no frigorífico fugindo de conversas durante a hora do almoço, com medo de alguém lhe contar o resultado do jogo. O fim de semana foi o mais difícil, pois Reinaldo, seu vizinho, quase revelou a pontuação do jogo durante o churrasco que fizeram, mas Sr. Roberto foi mais esperto: ele sussurrou para o amigo, jurando não contar para sua esposa sobre seus flertes com a garota do caixa da padaria. Reinaldo decidiu deixar o amigo em paz, mas, se na segunda-feira ele ainda não houvesse assistido à merda do jogo, não haveria ameaça certa; ele contaria o resultado e encararia as consequências. Coisas de homens.

    Em seu quarto, Fabrício assistia a um canal de desenhos jogado em sua cama, e Bete, no outro quarto, se deliciava assistindo Jeannie é um Gênio enquanto folheava uma revista TV Contigo, cheia de fofocas de celebridades.

    Eles estavam alegres por cada um ter o seu quarto, já que antigamente dividiam um cômodo pintado metade de azul e metade rosa, o que gerava certos constrangimentos quando recebiam amiguinhos em casa. No quinto ano do colegial, enquanto Fabrício fazia um trabalho em grupo no quarto com três colegas, um deles resolveu caçoar da decoração. O resultado foi quase um mês de castigo para Fabrício, e o Sr. Roberto ainda teve de mexer nas economias da família para pagar a estadia no hospital e o conserto no nariz do comentarista. Além disso, desembolsou uma quantia considerável de cruzeiros para os pais do menino, na promessa de eles não processarem a família Antunes e nem acionarem o Comissariado do Menor.

    Do lado de fora, o cachorro latia sem parar. Bob não era de ficar latindo sem motivo, então todos pensaram que talvez houvesse um gato no quintal ou que a cadela do vizinho estivesse no cio outra vez. A única coisa que Roberto sabia era que não dava para terminar de assistir ao jogo daquele jeito. Ele, então, pausou o jogo e foi até a porta dos fundos a fim de averiguar o que estava acontecendo, mas apenas observou o cachorro amarrado na corrente do lado de fora da sua casinha e latindo para o nada. A chuva caía constantemente, sem sinal de que daria trégua.

    Quando Bob viu o Sr. Roberto, cessou os latidos imediatamente e começou a balançar o rabo, demonstrando certa felicidade em ver o dono.

    — Nem adianta! Você vai ficar de castigo, seu cachorro idiota! Ninguém mandou você comer meu tênis! — Sr. Roberto bradou. O cachorro entrou na casinha e, em seguida, voltou com um pé do calçado todo mastigado e o soltou no chão, dando um latido bem alto. — Eu não pedi meu tênis, cachorro idiota! Pode ficar com esse daí! — Roberto desdenhou.

    O cachorro voltou correndo para a casinha e se escondeu o máximo possível, com medo de apanhar ou sofrer mais alguma retaliação além de ficar preso na corrente. Roberto viu apenas a ponta solta do cadarço jogado atrás da casinha, então se virou e bateu a porta, trancando-a dessa vez.

    Jogou a long neck vazia no lixo, pegou outra bem gelada no congelador, desceu mais três garrafas para a geladeira, com medo delas estourarem, e voltou para o sofá para terminar de assistir ao jogo do time que ele apelidava de seleção.

    Os minutos se passaram, e o jogo chegou ao final com uma vitória há muito desejada de seu time. Ana havia lhe pregado uma peça. Ele estava satisfeito com o final da partida. Agora bastava esperar as quartas de finais, e ver seu time ser campeão, ele pensou.

    Enquanto foi escovar os dentes, Roberto deixou a TV ligada no jornal e ouvia as notícias da repórter sobre o tempo:

    Há dois dias, o nível do rio Itajaí-Açu subiu a níveis alarmantes, chegando à marca dos 15 metros de altura. A cidade está em estado de calamidade e de alerta constante. Não há indícios de que a chuva vá dar alguma trégua. Os meteorologistas preveem mais chuvas nos próximos dias, e várias casas seguem interditadas. Não se sabe ainda o número exato de pessoas desabrigadas, mas ao menos sete pessoas estão desaparecidas, levadas pela enxurrada (...).

    Quando passou pela sala, ele desligou a TV e foi se deitar ao lado da esposa. Ele abraçava a mulher com segundas intenções, mas ela fixava os olhos nas notícias da enchente, que agora pareciam estar em todos os canais.

    — Você viu as notícias? As coisas por lá estão feias... Ei, pare com isso! — disse Ana, se desvencilhando do marido.

    — Por que você está preocupada? — ele perguntou, beijando-lhe a mão numa tentativa mais romântica.

    — Você sabe muito bem o porquê! Essa enchente não me parece nem um pouco normal, afinal de contas, é Itajaí, Roberto! — ela respondeu, em um tom irônico.

    — Você vai começar com essa história de novo, Ana? — disse ele, finalmente desistindo das investidas e com uma nota de raiva surgindo em suas palavras. — Prometemos nos esquecer desse assunto. Já nos mudamos e construímos nossa família; esta é nossa casa agora.

    — Para você, sempre foi tudo muito fácil! — disse ela, se levantando e indo para a janela. — Eu não me esqueci das minhas origens!

    — Eu também não — disse Roberto, se levantando e indo abraçar a mulher —, mas as ordens eram claras... E foram eles quem nos abandonaram! A Casa Cinza decidiu seguir seu próprio caminho, não nos deram escolha! O que nos resta agora é seguirmos com nossas vidas da melhor maneira possível.

    — Não acho que deveríamos ter ido embora! — disse Ana. Roberto beijou-lhe as bochechas e a apertou carinhosamente em seus braços. — Essa nem é nossa vida de verdade, Roberto... Acho que deveríamos voltar e cumprir o nosso destino!

    — Claro que essa é a nossa vida! Ninguém pode dizer o contrário! — disse ele, virando a mulher e a beijando. — Nosso destino está bem aqui e em nenhum outro lugar. Nós forjamos o caminho que devemos trilhar, e não as antigas leis. Nós somos livres!

    Eles, então, caminharam grudados de volta para a cama. Ana desligou a TV do quarto e abraçou o marido com mais vontade. Os dois se beijaram e começaram a intensificar as carícias. A caminho da cama, tropeçaram e caíram em cima do colchão, um por cima do outro, e riram daquela situação. Estavam felizes.

    Lá fora, o cachorro tornou a latir, mas, agora, mais alto e mais forte. De fato, parecia bem mais furioso.

    — Querido, você deixou o Bob preso de novo?

    — A culpa é dele — disse Roberto, sem se importar com aquilo e beijando o pescoço da mulher. — Ele comeu meu tênis e tem de ser castigado. — dessa vez a beijou nos lábios.

    Os latidos eram chatos, altos e estridentes. A qualquer momento, os vizinhos iriam reclamar, então ouviu-se um baque surdo; um latido de lamento; o silêncio.

    — O cachorro! — gritou Ana, tentando se desvencilhar do marido. — Alguma coisa aconteceu com ele!

    — Ele deve ter se prendido na corrente de novo! — respondeu Roberto, tentando uma nova investida. Ana se livrou do marido, o encarando com relutância. Roberto sabia que se não fosse ver o cachorro, a diversão daquela noite acabaria por ali. — Ok! Você venceu, mas, quando voltar, vou querer ser recompensado por isso.

    — Eu não vou a lugar nenhum! — Ana respondeu tirando a blusa ficando só de sutiã. — Agora vá logo, porque nem este vento frio vindo lá de fora consegue apagar o meu fogo.

    Roberto deu um sorriso e saiu do quarto, fechando a porta em seguida. Ana, por sua vez, pegou uma revista e começou a folheá-la, pois ainda não havia escolhido que vestido iria usar no casamento de sua prima Betânia. Na realidade, nem sabia se seria convidada, mas se havia algo que ela não iria perder, seria um espetáculo como aquele. Toda a família estava com os nervos à flor da pele, pois o casamento seria o evento do século, pelo menos segundo a família dizia, e não seria sua última briga com Betânia que a deixaria de fora do casamento. Iria de penetra, mas não perderia aquilo por nada.

    — Roberto, vou precisar de alguns cruzeiros a mais para comprar o vestido ainda esta semana! — Ana gritou, mas não obteve resposta. Um barulho veio da cozinha, como se alguma coisa houvesse caído no chão; talvez fosse a lixeira, mas parecia ter sido algo mais pesado. — Roberto? — Ana chamou não obtendo resposta. Ela viu uma forte luz azulada emanar por baixo da porta, e pela intensidade e direção da luz projetada, sabia que tinha vindo da cozinha. — Amor? Aconteceu alguma coisa com o Bob? — ela perguntou, passando a mão por baixo da cama e encontrando o que procurava.

    Era uma arma cromada, diferente das que se costumam ver por aí. Ana a destravou e uma série de barras vermelhas se acenderam nas laterais; pensou nas crianças e apertou outro botão na lateral da cama para alertá-las. Mesmo àquela distância, ouviu cada uma pegar sua arma e se preparar para um possível ataque.

    Disparos vindos dos outros quartos deixaram Ana em estado de alerta. Ela olhou pela janela e viu vultos se moverem pelo quintal; estavam cercados! Sua única rota de fuga era pela porta da frente, mas ela não sabia quantos mais estavam dentro de casa. Então a porta do seu quarto se abriu e mal deu tempo de ela pular para trás da cama e atirar contra os invasores. Ana conseguiu derrubar dois deles com disparos de tiros a laser certeiros na cabeça, mas alguns tiros contrários quase a acertaram, passando de raspão e deixando buracos por toda a cama.

    No quarto das crianças, a situação parecia ser a mesma, então, sem esperar, um tiro veio através do vidro da janela, acertando-a em cheio no peito. Ana gritou de dor, levou a mão à altura da coxa e uma esfera metálica emergiu de sua pele, indo parar em sua mão. Ela apertou um botão e o jogou pela janela. Naquele momento, uma explosão aconteceu e os tiros vindos do lado de fora cessaram.

    De repente, alguma coisa foi lançada dentro do quarto, vindo do corredor, e uma luz azul brilhou de forma tão intensa, que inundou o quarto junto com um zunido familiar. Ela disparou a esmo até não conseguir segurar mais a arma e a deixar cair no chão. Ana tampou os ouvidos o máximo que conseguiu, mas o barulho era alto demais.

    Tiros indicavam que as crianças estavam tentando escapar e se proteger, mas o barulho era alto demais para ela se concentrar. Se a propriedade dos Antunes Malta não estivesse protegida por um domo translúcido abafador de ruídos e replicador de imagem estática, com certeza a vizinhança inteira estaria na rua e a casa, a essa altura, já estaria cercada pela polícia. A luz ficou mais forte por alguns segundos,

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