Saberes Culturais Locais e Prática Docente em Escola Ribeirinha do Campo
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Saberes Culturais Locais e Prática Docente em Escola Ribeirinha do Campo - Rosenildo da Costa Pereira
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico este trabalho aos meus pais, Durval Santos Pereira (in memoriam), que repentinamente partiu, mas deixou em cada um de seus quatro filhos um legado de muita sabedoria, aconselhamento e humildade com que devemos tratar as pessoas e principalmente por ter nos proporcionado momentos maravilhosos de brincadeiras e companheirismo, e Rosa da Costa Pereira, que dedicou e ainda dedica sua vida para cuidar dos filhos, por compartilhar momentos especiais com cada um de nós. Eles que não tiveram a oportunidade de estudar, mas investiram na escolarização dos filhos, dando oportunidade para crescerem na vida.
À minha esposa, Isonete do Socorro Perna Pereira, e aos meus filhos, Rayane Gabrielly Perna Pereira e Raul Vitor Perna Pereira, pela alegria de tê-los.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida, coragem e sabedoria necessárias para viver em sociedade, superando os obstáculos da vida e, sobretudo, possibilitando terminar este trabalho.
Ao meu pai (in memoriam), que sempre me incentivou a estudar, e, quando precisavam dele, estava pronto para fazer o que lhe era solicitado. Apoiava tudo que fosse para o bem dos filhos.
À minha mãe, que sempre quis que vencêssemos na vida. Percebia que a educação era o caminho para conseguir esse objetivo. Por isso, sempre nos apoiava a estudar.
À minha esposa, amiga e companheira, Isonete do Socorro Perna Pereira, que sempre me incentivou a estudar e a pesquisar.
Aos meus filhos, Raul Vitor Perna Pereira e Rayane Gabrielly Perna Pereira, por ser feliz em tê-los.
Aos meus irmãos, Rosilene da Costa Pereira, Rosivaldo da Costa Pereira e Rosinaldo da Costa Pereira, que sempre deram o prazer das boas brincadeiras, por estarem sempre comigo e, mesmo nos momentos mais difíceis da vida, por sempre apoiamos um ao outro.
Aos meus sobrinhos.
À professora Maria das Graças da Silva, pelas valiosas orientações e sugestões para a melhoria do texto.
Aos moradores ribeirinhos, professores e alunos da comunidade e escola São João Batista, pela oportunidade de realização da pesquisa, que resultou neste livro.
APRESENTAÇÃO
O livro Saberes culturais locais e prática docente em escola ribeirinha do campo, que apresento aos leitores e leitoras, é um estudo realizado com comunidades ribeirinhas de Abaetetuba, estado do Pará, cujo propósito foi mapear saberes produzidos por homens e mulheres do campo ribeirinho da especificidade local.
Esta obra analisa como esses saberes se fazem presentes na prática docente de professores ribeirinhos, sobretudo da escola São João Batista, local onde o estudo foi realizado.
O leitor ou leitora, ao ler este livro, apropriar-se-á de saberes diversos, sejam eles locais, aqueles oriundos de trabalho praticado por ribeirinhos na relação com a natureza da qual fazem uso cotidianamente, sejam docentes, interligados às práticas sociais dos sujeitos ribeirinhos.
Espero que o leitor ou a leitora, ao estar de posse do livro, faça proveito da leitura da obra, visando conhecer como o trabalho que emerge do cotidiano pode ser fundamental na prática docente, sobretudo em escolas ribeirinhas do campo.
Espero contribuir, com a publicação deste livro, para uma nova forma de pensar a educação, em que os conhecimentos estejam interligados e não haja sobreposição de um sobre o outro, mas uma maior aproximação entre eles. O livro tem justamente esse propósito.
O autor.
Prefácio
Miguel G. Arroyo¹
O que destacar em propostas de educação do e no campo, nas escolas ribeirinhas do campo? Tento destacar pontos a merecer atenção das educadoras, educadores nessas escolas, neste trabalho sobre Saberes Culturais e Prática Docente nas Escolas Ribeirinhas do Campo.
Reconhecer os povos do campo, das águas produtores de saberes, valores
Há um reconhecimento de que os povos do campo, ribeirinhos são sujeitos produtores de saberes, valores, culturas, identidades. Um reconhecimento que desconstrói a visão histórica de serem irracionais, sumidos na ignorância, a serem iluminados pelos saberes únicos das ciências, se fizerem percursos regulares de letramentos, numeramentos na idade certa.
Uma visão inferiorizante que pensou e continua pensando o povo e especialmente os povos do campo, ribeirinhos como incapazes de participar na produção intelectual, cultural, moral, política da humanidade. Visão inferiorizante que as teorias pedagógicas, as diretrizes curriculares reproduzem. Sugestões que também reproduzem as avaliações, as reprovações dos educandos como mentes com problemas de aprendizagem.
Reconhecer Outras matrizes de formação humana
Reconhecer os povos do campo, das águas, das florestas como sujeitos de produção de saberes, de conhecimentos, de valores, culturas significa reconhecer outras matrizes de formação humana, de produção de conhecimentos. Significa reconhecer o trabalho, a terra, as águas, as resistências e lutas por terra, territórios, por vida justa como matrizes de formação humana, de conhecimentos. Os movimentos sociais se afirmam sujeitos de Outros saberes porque afirmam Outras matrizes de formação humana, de produção de conhecimentos. Trazem para o debate político-pedagógico tensões históricas entre a diversidade de matrizes de formação humana, de conhecimentos, de culturas.
Contestam a matriz hegemônica única segregadora
Reconhecer essas Outras matrizes de produção de conhecimentos, de culturas, saberes, valores, de humanidade contesta a matriz hegemônica única de conhecimento, de cultura, de valores. Contesta o caráter abissal, segregador que esse paradigma único, hegemônico vem cumprindo, decretando os Outros como irracionais, incultos, imorais, incapazes de produzir outros saberes, valores, culturas. Reconhecer que os povos do campo, das águas são sujeitos de saberes exige uma postura crítica de desconstrução do paradigma hegemônico de conhecimento único e de produtores únicos de conhecimentos.
Currículos para o diálogo de saberes para a interculturalidade?
Reconhecer os povos dos campos, das águas como sujeitos de saberes, culturas, valores interroga os currículos escolares, torna-os inclusivos desses outros saberes? Abertos à multiculturalidade, interdisciplinaridade? Incorporar os saberes culturais locais na prática docente? Seria necessário formar educadoras e educadores do campo com uma postura não inclusiva, mas crítica às políticas curriculares – Base Nacional Comum e as políticas de formação docente. Essas políticas curriculares reproduzem o paradigma hegemônico único de formação humana, de produção do conhecimento e da cultura. Paradigma único segregador em que não haverá lugar para o reconhecimento dos Outros como sujeitos produtores de Outros saberes, valores, culturas. Ultrapassar as ideias propostas de diálogos de saberes, de multiculturalidades.
Priorizar a matriz de racionalidade ambiental
O texto propõe priorizar a matriz de racionalidade ambiental, uma orientação não apenas para incorporar nos conhecimentos dos currículos, mas, sobretudo, a ser reconhecida como matriz de formação humana das populações ribeirinhas e dos campos. O trabalhar, o cultivar e o produzir a vida nas águas, nas florestas produz valores, saberes, identidades e estratégias de um humano viver; produz representações, linguagens, crenças, conhecimentos que, coletivos, transmitem entre gerações, produz humanos, identidades diversas: indígenas, quilombolas, ribeirinhos... Como reconhecer e trabalhar essa diversidade de identidades produzidas nesse intervir nessa racionalidade ambiental?
Reconhecer a diversidade destacando as identidades comuns
O que identifica essa diversidade das populações? A condição de oprimidos, de subalternizados, de mantidos à margem, sem lugar nas políticas de direitos à terra, à moradia, ao trabalho, à renda, à saúde, à educação, à vida justa, humana. Reconhecer e trabalhar não só a racionalidade ambiental, os saberes de povos das águas, das florestas, mas aprofundar, trabalhar o saberes oprimidos, marginalizados, sem-lugar nas políticas de direitos humanos mais básicos. Têm direito a conhecimentos nos currículos que reforcem esse saber oprimidos, à margem. Quem os marginaliza e os oprime, as empresas, o capital ou o Estado?
Reconhecer a diversidade de resistências como educadoras
Os movimentos sociais do campo, das águas, das florestas vêm reafirmando as resistências a todo tipo de opressões de que se sabem vítimas como matriz de formação humana. Resistências históricas reprimidas não reconhecidas como memórias da história de nossa educação. A história de nossa educação tem sido contada como uma história de dádivas das elites até para as populações rurais. Há outra história ocultada de processos de educação, de aprendizado de saberes, valores, culturas que vêm de longe em nossa história. Vêm dos povos originários, indígenas, negros escravizados, quilombolas, todos em lutas de resistências por direito a seus territórios, suas terras, suas florestas, suas águas, sua agricultura camponesa.
Resistências históricas que têm sujeitos e exigem ser reconhecidas como a matriz formadora, humanizadora mais radical em nossa história da educação. A leitura deste livro – Saberes Culturais e Prática Docente em Escola Ribeirinha no Campo vem somar com tantas interrogações radicais, políticas, éticas, pedagógicas com que a diversidade de movimentos sociais de educação do e no campo questionam o paradigma pedagógico hegemônico segregador e reafirmam Outro paradigma de educação, de formação de educadores.
Em tempos de um Estado de Exceção, de uma Justiça justiceira que decreta os movimentos sociais, sobretudo dos campos, como terroristas, extermináveis, as resistências são obrigadas a se repolitizar e a se radicalizar. Novas radicalidades políticas a exigir novas radicalidades político-pedagógicas nas escolas ribeirinhas, das florestas, dos campos. Novas radicalidades políticas na formação inicial e continuada de seus educadores.
Sumário
INTRODUÇÃO 17
1
AMAZÔNIA: UM ESPAÇO DIVERSO E HETEROGÊNEO 23
1.1 O contexto rural-ribeirinho amazônico 23
1.2 A configuração socioterritorial cultural do município de Abaetetuba no contexto do Baixo Tocantins 31
1.2.1 Abaetetuba no Contexto do Baixo Tocantins 38
1.2.2 Assentamento Agroextrativista São João Batista, Rio Campompema - Abaetetuba – PA 50
2
OS SABERES DO COTIDIANO NO CONTEXTO DA REALIDADE RIBEIRINHA 67
2.1 Mapeamento dos saberes inscritos nas práticas culturais cotidianas do assentamento 71
2.2 Saberes do cotidiano da floresta 72
2.2.1 Os saberes inscritos nas práticas do extrativismo do açaí 74
2.2.2 O saber apanhar o açaí 76
2.2.3 O saber fazer peconha 80
2.2.4 O saber desbulhar o açaí 83
2.2.5 O saber comercializar 84
2.2.6 Os saberes inscritos nas práticas do extrativismo do miriti 86
2.2.7 O saber do coletar o miriti 87
2.2.7.1 O saber do amolecer o miriti 90
2.2.8 Saberes do trabalho com a terra 92
2.2.8.1 O saber do trabalho do mutirão 94
2.2.8.2 Saberes das águas (pesca) 99
2.2.8.3 Os saberes da pesca com o uso do matapi 101
2.2.8.4 O saber fazer a poqueca 102
2.2.8.5 Saber do iscar o matapi 104
2.2.8.6 O saber do colocar e da retirada do matapi 105
2.2.8.7 O saber do despescar o matapi 106
2.2.8.8 O saber da pesca com o uso de rede artesanal 108
3
RELAÇÃO ENTRE PRÁTICA DOCENTE E SABER CULTURAL LOCAL NO CONTEXTO DA ESCOLA RIBEIRINHA 113
3.1 Prática docente à luz dos saberes culturais e suas formas de incorporação 114
3.2 A relação entre saberes culturais e prática docente e a contribuição para o fortalecimento da educação do campo 122
3.2.1 Mudanças e possibilidades da prática docente à luz das diretrizes da educação do campo 136