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Diálogos Educacionais
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E-book278 páginas3 horas

Diálogos Educacionais

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Sobre este e-book

DIÁLOGOS EDUCACIONAIS: DESAFIOS PERENES chega ao público com o intuito de contribuir com o necessário diálogo em torno das múltiplas faces que a Educação apresenta. Dialogar parece simples, mas na prática é algo desafiador, sobretudo em tempos de intolerância. No entanto, não podemos abrir mão dessa premissa básica. Não se faz Educação sem ouvir, sem debater e sem considerar o outro. A Educação não deve ser pensada como um conceito abstrato. Ela está intrinsecamente ligada às condições materiais em que ocorre, ou seja, as realidades das escolas e universidades, bem como a realidade sociocultural das comunidades atendidas por cada instituição, devem ser consideradas como ponto de partida para qualquer reflexão que se queira fazer. Além disso, Educação não é imutável. Seus pressupostos estão sempre sendo questionados e necessitando de argumentação, baseada em pesquisa, estudo e reflexão, para sua sustentação. Portanto, devemos pensá-la como algo em constante transformação e que por isso mesmo exige de nós, educadores/as, um esforço constante, pois os desafios são perenes. Sendo assim, cabe destacar que ser educador e principalmente refletir a respeito da prática é cada vez mais um sinal de resistência.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de mai. de 2023
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    Pré-visualização do livro

    Diálogos Educacionais - Lourenço Resende Da Costa E José Junio Da Silva (org.)

    Apresentação

    DIÁLOGOS EDUCACIONAIS: DESAFIOS PERENES chega ao público com o intuito de contribuir com o necessário diálogo em torno das múltiplas faces que a Educação apresenta. Dialogar parece simples, mas na prática é algo desafiador, sobretudo em tempos de intolerância. No entanto, não podemos abrir mão dessa premissa básica. Não se faz Educação sem ouvir, sem debater e sem considerar o outro.

    A Educação não deve ser pensada como um conceito abstrato. Ela está intrinsecamente ligada às condições materiais em que ocorre, ou seja, as realidades das escolas e universidades, bem como a realidade sociocultural das comunidades atendidas por cada instituição, devem ser consideradas como ponto de partida para qualquer reflexão que se queira fazer.

    Além disso, Educação não é imutável. Seus pressupostos estão sempre sendo questionados e necessitando de argumentação, baseada em pesquisa, estudo e reflexão, para sua sustentação. Portanto, devemos pensá-la como algo em constante transformação e que por isso mesmo exige de nós, educadores/as, um esforço constante, pois os desafios são perenes.

    Sendo assim, cabe destacar que ser educador e principalmente refletir a respeito da prática é cada vez mais um sinal de resistência.

    José Junio da Silva

    Lourenço Resende da Costa

    Apucarana / Prudentópolis, Paraná.

    Novembro de 2022.

    O desafio do ensino remoto no período de pandemia em escolas do campo

    Vanessa Makohin Hudyma

    Célia Gaudeda

    Alice Jocélia Schlem

    Marivete Souta

    INTRODUÇÃO

    A pandemia, que chegou no final do ano de 2019 e início do ano de 2020, trouxe mudanças no mundo todo. Com o isolamento social, novas formas de se relacionar foram criadas, as pessoas tiveram que se (re)adaptar e, inclusive, fizeram de suas casas o local de trabalho e estudo.

    Nesse contexto, a escola também teve que se reinventar, procurando maneiras para chegar até os alunos; e uma das formas para isso foi firmar uma parceria com a tecnologia, ofertando o que se denominou ensino remoto. No entanto, há aqueles que não têm acesso aos recursos tecnológicos, os vulneráveis socialmente, que ainda vivem em locais de difícil acesso e é indispensável que se pense neles.

    Assim, esta pesquisa tem como objetivo investigar uma escola do campo para compreender como ocorreu o ensino remoto nesse contexto, analisando como os alunos mais vulneráveis se adaptaram ao período e identificar quais são as preocupações da escola com um possível afastamento deles neste período.

    Para as reflexões iniciais, realiza-se uma pesquisa bibliográfica em livros, periódicos, anais de eventos, revistas, teses e dissertações sobre o ensino à distância, educação no campo e sobre educação na perspectiva de vulnerabilidade social. Também, realiza-se uma pesquisa qualitativa com o instrumento de entrevista semiestruturada, aplicada para uma diretora de uma escola do campo.

    Este artigo está subdividido em quatro seções, a primeira traz um pouco sobre educação à distância, os caminhos e as possibilidades, bem como um pouco de história da educação à distância no Brasil; a segunda seção traz contribuições sobre a educação no campo; a terceira seção realiza um estudo sobre perspectivas educacionais, amparadas principalmente nas contribuições de Freire; por fim, na quarta seção, é momento de analisar o contexto da pesquisa através da entrevista realizada com a diretora de uma escola do campo.

    Nos apontamentos finais para essa pesquisa, destaca-se que a escola é um espaço que vai além de ensinar conteúdos, pois nele se trocam experiências, há apoio, carinho, afeto, aconchego e essas questões afetivas foram as que mais sofreram impacto por conta da pandemia. Claro que tivemos perda de conteúdo, mas as perdas ocasionadas pela falta de contato com os professores, com a escola como um todo, são imensuráveis, evidenciando mais uma vez a importância dessa instituição para a sociedade.

    A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES

    A educação à distância surgiu como uma alternativa para as pessoas que não conseguiram realizar os seus estudos presencialmente. Assim, nessa proposta, o aluno teria a autonomia para se organizar e estudar em casa. Tal modalidade de ensino começou por correspondência iniciadas no final do século XVIII e com largo desenvolvimento a partir de meados do século XIX, chegando atualmente a utilizar várias mídias, desde o material impresso até os simuladores online (DUARTE, 2011, p. 18). Com o passar do tempo e com os avanços tecnológicos, essas mudanças foram ainda mais perceptíveis.

    Portanto, os avanços tecnológicos fizeram com que essa modalidade de educação se destacasse no Brasil. Pontua-se ainda que os ritmos diferenciados de trabalhos e de vida fazem com que as pessoas busquem, cada vez mais, alternativas de adquirir capacitações e aperfeiçoamento profissionais através da Educação à Distância (CAMPOS; MELO; RODRIGUES 2014, p. 2). E considera-se, também, a possibilidade de o aluno associar os seus estudos com outras questões da vida social, como família e trabalho.

    Rossiter (2016) afirma que um dos pontos para a melhoria da qualidade de vida na sociedade é a comunicação. Desse modo, o uso da tecnologia como uma ferramenta para o ensino tem proporcionado o rompimento de diversas barreiras impostas pela distância, oferecendo oportunidades de trocas de experiências e acesso ao ensino.

    Em tempos de pandemia, tal modalidade de ensino vem para mostrar, que, embora a educação à distância tenha como objetivo a democratização da educação, nem sempre esse acesso é democrático, pois muitos alunos sequer têm acesso aos aparelhos tecnológicos (FELICETTI, et al, 2014).

    Ainda sobre isso, Asato e Sales (2008) mencionam que a distância na educação não é apenas em relação ao espaço físico, mas também econômico, cultural, psicológico, filosófico e sociológico. Muitos alunos não conseguem acompanhar as aulas online e estudam apenas com os materiais impressos enviados pelas escolas; e, quando isso ocorre, o ensino fica defasado, constatando-se assim, mais uma vez, que a democratização no ensino nem sempre é para todos.

    ESCOLA DO CAMPO: A ESCOLA DA COMUNIDADE

    A escola do campo segundo Cadalter (2003), é caracterizada por trabalhar com interesses, a cultura, a política e a economia dos trabalhadores do campo.

    As escolas do campo geralmente são situadas no centro de uma ou de várias comunidades rurais; a distância da casa dos alunos até a escola é relativamente longa e, normalmente, a utilização do transporte escolar é necessária (inclusive alguns alunos precisam acordar de madrugada para conseguir chegar no horário na escola).

    Dentre as características de uma escola do campo, destaca-se que:

    Uma escola do campo não é, afinal, um tipo diferente de escola, mas sim é a escola reconhecendo e ajudando a fortalecer os povos do campo como sujeitos sociais, que também podem ajudar no processo de humanização do conjunto da sociedade, com suas lutas, sua história, seu trabalho, seus saberes, sua cultura, seu jeito. Também pelos desafios da sua relação com o conjunto da sociedade. Se é assim, ajudar a construir escolas do campo é, fundamentalmente, ajudar a constituir os povos do campo como sujeitos, organizados e em movimento. Porque não há escolas do campo sem a formação dos sujeitos sociais do campo, que assumem e lutam por esta identidade e por um projeto de futuro. (CADALTER, 2003, p. 66).

    Assim, pontua-se que é importantíssimo que haja esse fortalecimento da identidade de tal instituição, para que ocorra a construção de uma escola que valorize os sujeitos e a sua cultura. Para além da característica de ser situada em comunidade rural, a escola do campo também deve valorizar a cultura da comunidade, o modo de vida das pessoas, a utilização das línguas, a religião dos moradores, a culinária local, enfim, a vida em comunidade, que é cheia de riquezas.

    Na escola do campo investigada, uma grande preocupação é em relação à permanência dos alunos nela, pois raramente eles têm perspectivas para sair da comunidade e, na visão de muitos alunos, não se precisa estudar para trabalhar na lavoura. Vendramini (2015) corrobora com essa visão ao dizer que nas comunidades rurais é normal ter um baixo nível de escolarização. Esse fato, segundo a autora, pode ser decorrente do difícil acesso às escolas, que, também apresentam uma precariedade no ensino, não motivando tanto os estudantes para concluírem os seus estudos.

    Diante do que foi apresentado até o momento, esse trabalho tem como intenção olhar para a escola do campo, compreendendo a identidade dos sujeitos e as demais questões relacionadas com o contexto pesquisado, observando ainda como ocorreu o ensino e a aprendizagem no período de pandemia, de 2020 e 2021.

    UMA ESCOLA EXCLUDENTE

    Vive-se um momento histórico no mundo todo com a pandemia da covid-19, que modificou o modo de pensar, de viver e agir em sociedade. As pessoas, com o isolamento social, fizeram de suas casas o local de trabalho e estudos. Na teoria isso funcionaria perfeitamente, mas sempre há controvérsias e aqui tentaremos refletir sobre qual é a realidade para muitos, relacionada à educação e acesso à escola.

    Na teoria, durante o período da pandemia e isolamento social, os alunos tiveram acesso às aulas em suas casas, de diferentes maneiras. No Paraná, em um canal na televisão aberta, transmitiu-se aulas ao vivo. No entanto, esse canal aberto é disponível somente para televisão com antena simples (que transmite o sinal local). Nas localidades que esse sinal não pega e a transmissão é feita pela antena parabólica (nacional), não se transmite as aulas, deixando os alunos sem essa possibilidade.

    Outra alternativa é a transmissão das aulas via Google Meet. Também é uma ferramenta que funciona em teoria, pois o professor, em sua casa, transmite a aula ao vivo para os seus alunos, conseguindo interagir com eles em tempo real. Porém, sempre há uma dificuldade e, dentre tantas que podem ser observadas, destaca-se a dificuldade de acesso ao recurso para os alunos com poucas condições, que não têm a tecnologia necessária (celular e internet), outros que talvez até tenham condições de ter a tecnologia, mas moram em locais de difícil acesso para o sinal de internet, tornando inútil qualquer tentativa de acompanhamento.

    Conforme já pontuado, na teoria é tudo perfeito. Mas, na prática, funcionou com pequenos grupos. Compreende-se a importância do uso dessas ferramentas no momento atual, pois os alunos que conseguem ter acesso a elas, conseguem ter um aproveitamento em seus estudos. Porém, a preocupação aqui está com aqueles alunos que não conseguiram ter esse contato e realizaram atividades impressas, que muitas vezes (e na grande maioria delas) nem foram preparadas pelo seu professor, pois as atividades impressas resumem-se em imprimir as trilhas de aprendizagem, postadas pelo governo em uma plataforma, trilhas estas que não trabalham a totalidade do conteúdo; e o aluno, sem explicação do professor, responde essas atividades sem compreender o conteúdo.

    Desse modo, olha-se para esse contexto, amparando-se em Paulo Freire, o qual traz um olhar para a educação partindo exatamente dessa perspectiva, olhando para os oprimidos, olhando para essas classes menos favorecidas e refletindo como essa desigualdade reflete na sociedade.

    O ideal, segundo Freire (2005), seria ter uma educação dialógica, construída em uma sociedade mais igualitária, solidária e justa, uma educação libertadora, a educação para Freire, segundo Zitkoski (2013, p. 24), "deve ser trabalhada intencionalmente para humanizar o mundo por meio de uma formação cultural e da práxis transformadora de todos os cidadãos, autênticos sujeitos de sua história, construída pela participação coletiva e democrática".

    Em relação ao ensino democrático, Freire (2005, p. 127), destaca que para as grandes maiorias se proíbe o direito de participar como sujeitos da história, que elas se encontram dominadas e alienadas [...] Por isto é que a única forma de pensar certo, do ponto de vista da dominação, é não deixar que as massas pensem, assim, é vetado o direito dos sujeitos de participar da história, esses sujeitos são moldados em uma sociedade que é alienada e dominada, em relação ao contexto de pandemia. Destaca-se que os sujeitos que tiveram acesso à escola somente por material impresso, tiveram o seu direito à educação de qualidade ofuscado por uma grande desigualdade social, esses sujeitos, com o pouco acesso à escola ficam cada vez mais alienados a uma sociedade excludente, a uma escola excludente.

    Neste mesmo pensamento, Freire (1987) comenta que a dominação e as estratégias realizadas pelas classes dominantes acabam negando muitos direitos dos homens de pensar sobre a realidade em que vivem, negando também a autonomia de se expressar, de dialogar sobre o mundo.

    Desse modo, refletimos sobre o assunto juntamente com Freire, o qual relata que:

    Não pode jamais entender esta generosidade que a verdadeira generosidade está em lutar para que desapareçam as razões que alimentam o falso amor. A falsa caridade, da qual decorre a mão estendida do demitido da vida, medroso e inseguro, esmagado e vencido. Mão estendida e trêmula dos esfarrapados do mundo, dos condenados da terra. A grande generosidade está em lutar para que, cada vem mais, estas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de súplica. Súplica de humildes a poderosos. E se vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo. Este ensinamento e este aprendizado têm de partir, porém, dos condenados da terra, dos oprimidos, dos esfarrapados do mundo e dos que com eles realmente se solidarizem. Lutando pela restauração de sua humanidade estarão, sejam homens ou povos, tentando a restauração da generosidade verdadeira. (FREIRE, 1987, p. 20).

    As palavras de Freire (1987) retratam a realidade atual e, embora os anos passem, o que o autor traz é uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos: até quando vamos suplicar uma sociedade mais humana? Mais igualitária? Uma sociedade onde todos têm os mesmos direitos? Onde a escola seja igual e de qualidade para todos?

    Para Freire (2003, p. 168) é importante pensarmos em uma educação cuja prática o ensino dos conteúdos jamais se dicotomize do ensino do pensar certo. [...] De um pensar crítico, proibindo a si mesmo, constantemente, de cair na tentação do improviso.

    Portanto, um ensino pautado na qualidade, na libertação do improviso, no ensinar a pensar criticamente sobre a sociedade em que vivemos. No entanto, nos anos de 2020 e 2021, os alunos encontraram uma dificuldade: o acesso à escola foi reduzido. Conforme já dito, os alunos sem condições de acessar as aulas online, ficaram sem contato com o professor, recebendo o conhecimento somente por material impresso e, com isso, a educação pautada na criticidade, na liberdade, no pensar certo não foi possível, deixando os alunos cada vez mais afastados da escola.

    O discurso do governo em relação ao ensino remoto é grandioso e com isso percebe-se a capacidade de penumbrar a realidade, de nos miopizar, de nos ensurdecer que tem a ideologia faz, [...] aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista (FREIRE, 1996, p. 142).

    O discurso dominante e ensurdecedor do governo fez com que os alunos aceitassem essa realidade, até porque não tinha muito o que ser feito, já que a pandemia não permitia um contato direto dos alunos com a escola e eles não tinham condições de participar das estratégias do governo em relação ao ensino remoto, estratégias essas pensadas para as pessoas pertencentes às classes mais favorecidas. Diante disso, destaca-se que

    A realidade social, objetiva, que não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não se transforma por acaso. Se os homens são os produtores desta realidade e se está, na invasão da práxis, se volta sobre eles e os condiciona, transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa dos homens. (FREIRE, 1987, p. 24).

    Desse modo, a transformação dessa realidade é emergente, pensar nas classes menos favorecidas, mudar essa realidade, pois não se pode permitir mais que essas

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