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A Arte da Guerra
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E-book216 páginas7 horas

A Arte da Guerra

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Sobre este e-book

«Os ensaios de Sun Tzu sobre a arte da guerra são o tratado mais antigo sobre o tema, mas o alcance e a profundidade do seu juízo nunca foram ultrapassados, podendo ser considerados como a quintessência da sabedoria na condução da guerra. Entre todos os teóricos militares do passado, Clausewitz é o único que se lhe pode comparar e apesar de ter escrito mais de dois mil anos depois, está mais “datado” e, em boa parte, mais ultrapassado.
Muitos dos danos causados à civilização nas guerras mundiais do século passado teriam podido ser evitados se, à influência exercida pelos volumes monumentais de Clausewitz, intitulados Da Guerra, e que moldaram o pensamento militar da Europa na era anterior à Primeira Guerra Mundial, se tivesse misturado, temperando-o, um conhecimento da exposição de Sun Tzu sobre A Arte da Guerra. O realismo e a moderação de Sun Tzu contrastam com a tendência de Clausewitz para enfatizar o ideal racional e o “absoluto” com que se esbarraram os seus discípulos ao desenvolverem a teoria e a prática da “guerra total” para lá dos limites ditados pelo bom senso.» [Do Prefácio de Lidell Hart]
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mai. de 2020
ISBN9789897830259
A Arte da Guerra
Autor

Sun Tzu

Sun Tzu was a an ancient Chinese general during the latter part of the Spring and Autumn Period. Also referred to as Sunzi or Sun Wu, the great Chinese philosopher and military general was revered by many generations of Chinese leaders to come. His given military name, "Sun Tzu" translates as "master sun", and was thought to be an honorific title. It has been speculated Sun Tzu wrote The Art of War during the Warring States Period, when China was divided and war was imminent. His profound insight on military strategy and expert leadership inspired nearly all who read his work, earning him a spot in history as one of the greatest military generals of all time.

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    A Arte da Guerra - Sun Tzu

    Prefácio

    Os ensaios de Sun Tzu sobre a arte da guerra são o tratado mais antigo sobre o tema, mas o alcance e a profundidade do seu juízo nunca foram ultrapassados, podendo ser considerados como a quintessência da sabedoria na condução da guerra. Entre todos os teóricos militares do passado, Clausewitz é o único que se lhe pode comparar e apesar de ter escrito mais de dois mil anos depois, está mais «datado» e, em boa parte, mais ultrapassado.

    Muitos dos danos causados à civilização nas guerras mundiais do século passado teriam podido ser evitados se, à influência exercida pelos volumes monumentais de Clausewitz, intitulados Da Guerra, e que moldaram o pensamento militar da Europa na era anterior à Primeira Guerra Mundial, se tivesse misturado, temperando­-o, um conhecimento da exposição de Sun Tzu sobre A Arte da Guerra. O realismo e a moderação de Sun Tzu contrastam com a tendência de Clausewitz para enfatizar o ideal racional e o «absoluto» com que esbarraram os seus discípulos ao desenvolverem a teoria e a prática da «guerra total» para lá dos limites ditados pelo bom senso. Esse desenvolvimento fatal foi favorecido pela convicção de que seria «absurdo introduzir um princípio de moderação na filosofia da guerra, dado que esta é um acto de violência levado aos seus extremos limites». Contudo, posteriormente, o próprio Clausewitz atenuou esta asserção admitindo que «o objectivo político, como motivo primeiro da guerra, deve ser o critério que permite determinar a finalidade da força militar e, ao mesmo tempo, a amplidão do esforço a empreender». Além disso, concluiu subsequentemente, o facto de levar ao extremo a prossecução do racional levaria a que «os meios perdessem toda a sua relação com o fim».

    As funestas consequências do ensinamento de Clausewitz resultam, em grande parte, da interpretação demasiado superficial e absoluta dos seus discípulos, que negligenciaram as cláusulas moderadoras, mas ele próprio prestou­-se a essa interpretação errada ao expor a sua teoria de forma demasiado abstracta e complicada para que pudesse ser seguida por soldados de espírito concreto, pois a sua argumentação partia, por vezes, numa direcção oposta àquela que parecia ter tomado. Impressionados mas desorientados, eles agarravam­-se às brilhantes fórmulas­-chave, enquanto lhes escapava o fio condutor subjacente ao pensamento de Clausewitz, que diferia menos do que parecia das conclusões de Sun Tzu.

    A clareza do pensamento de Sun Tzu teria podido corrigir a nebulosidade do pensamento clausewitziano. Infelizmente, Sun Tzu só foi introduzido no Ocidente — graças à tradução sucinta de um missionário francês¹ — pouco antes da Revolução Francesa, e apesar da atracção que exerceu na corrente racionalista do pensamento oitocentista em matéria de guerra, a influência a que estava destinado foi abafada pela vaga de fundo do sopro revolucionário e, depois, pela embriaguez gerada pelas vitórias de Napoleão sobre os seus adversários tradicionais e pelas suas tácticas muito estereotipadas. Clausewitz começou a sua reflexão sob a influência dessa embriaguez e morreu antes de ter podido completar a revisão da sua obra, de modo que esta continua exposta a «infindáveis erros de interpretação» que ele previra na nota que deixou em testamento. Quando as traduções ulteriores de Sun Tzu surgiram no Ocidente, o mundo militar estava sob a influência dos extremistas «clausewitzianos» e a voz do sábio chinês encontrou pouco eco. Nenhum soldado, nenhum estadista levou em conta a sua advertência: «Nunca Estado algum beneficiou de uma guerra prolongada.»

    Há muito que se fazia sentir a necessidade de uma tradução nova e mais completa de Sun Tzu, uma interpretação mais correcta do seu pensamento. Essa necessidade cresceu ainda com o desenvolvimento das armas nucleares, meios potenciais de suicídio e genocídio. Ela tornava­-se tanto mais importante porquanto a China, sob Mao Tse­-Tung, ressurgia na cena internacional como grande potência militar. Por conseguinte, devemos congratular­-nos por essa tarefa ter sido empreendida e essa necessidade satisfeita, por um homem com a competência do general Sam Griffith, que, por um lado, estudou a guerra e, por outro, a língua e o pensamento chinês.

    O meu próprio interesse por Sun Tzu foi despertado na Primavera de 1927, por uma carta que me enviou Sir John Duncan, comandante das Forças Armadas enviadas para Xangai pelo Ministério da Guerra para fazer face à situação crítica causada pelos exércitos cantoneses que, sob o comando de Chiang Kai­-Chek, avançavam contra os senhores da guerra no Norte do país.

    A carta de Duncan começava nos seguintes termos:

    «Acabei de ler um livro fascinante, A Arte da Guerra, escrito na China, cerca do ano 500 a. C. Uma das ideias nele contidas recorda­-me a sua teoria sobre a cheia causada por um curso de água: Um exército pode ser comparado com a água; esta poupa os locais mais elevados e procura as terras baixas; um exército contorna a força e ataca a falta de coesão. O caudal regula­-se pela forma do terreno, a vitória obtém­-se em conformidade com a situação do inimigo. Outro princípio expresso neste livro é actualmente posto em prática pelos generais chineses e enuncia­-se da seguinte forma: A arte suprema da guerra consiste em submeter o inimigo sem combater.»

    Ao ler o livro, encontrei muitos outros pontos que concordam com as minhas próprias ideias, particularmente a sua reiterada enfatização quanto ao efeito de surpresa e a prossecução de operações de aproximação por vias indirectas. Ele ajudou­-me a tomar consciência da perenidade dos princípios militares mais fundamentais, mesmo quando de ordem táctica.

    Quinze anos depois, em plena Segunda Guerra Mundial, recebi várias vezes a visita do adido militar chinês, um aluno de Chiang Kai­-Chek, que me disse que os meus livros e os do general Fuller eram os principais manuais utilizados nas academias militares chinesas. Então, perguntei­-lhe: «E Sun Tzu?» Ele respondeu­-me que apesar de Sun Tzu ser venerado como um clássico, a maioria dos jovens oficiais considerava­-o caduco e, consequentemente, não valia a pena estudá­-lo na era do armamento moderno mecanizado. Ao ouvir isto, observei que já era tempo de voltar a Sun Tzu, pois esse pequeno livro continha, por si só, quase tanto sobre os princípios fundamentais da estratégia e da táctica como eu teria podido dizer em mais de vinte livros. Em suma, Sun Tzu era a melhor introdução rápida ao estudo da guerra e não era menos precioso como obra de referência permanente à medida que progride nessa matéria.

    B. H. Liddell Hart (1963)

    1 Trata­-se da conhecida tradução do Père Amiot, a que nos referiremos no Prefácio à Edição Portuguesa. (N. T.)

    Nota Introdutória

    Há mais de dois milénios que A Arte da Guerra tem sido objecto de múltiplas versões, comentários e traduções, envolvidos nas polémicas sobre a sua datação e a sua autoria, e, sobretudo, sobre a distinção entre o texto original e os comentários nele inseridos em épocas ainda remotas.

    Entre os mais eminentes chineses e japoneses que se dedicaram ao estudo deste primeiro clássico sobre a arte da guerra, figura Ts’ao Ts’ao¹ (155­-220 d. C.), prestigiado general do período dos Três Reinos, fundador da dinastia Wei. Os comentários que fez ao texto, bem como as observações dos dez comentadores respeitados das dinastias T’ang e Sung, foram então reunidos numa edição «oficial», posteriormente revista e anotada por Ssun Hsing Yen, célebre erudito e crítico literário do último quarto do século xviii. Esta edição (em colaboração com o seu amigo Wu Jen Chi) tem sido, desde essa época, considerada como um cânone na China. Foi ela que serviu de base para a versão de S. B. Griffith que apresentamos agora ao público português, versão revista pelo seu autor e que, originalmente, fazia parte da tese de doutoramento em Filosofia que apresentou em 1960 na Universidade de Oxford.

    Para além de contar com os preciosos comentários incluídos no corpus de Ssun Hsing Yen, esta versão constitui também o contributo de um perito em questões militares, um conhecedor profundo da língua e da cultura chinesa, que dedicou vários anos ao estudo, à tradução e à anotação de A Arte da Guerra em colaboração com especialistas da área, tanto ocidentais como orientais.

    * * *

    Hoje, graças a escoliastas e eruditos que se debruçaram sobre a autenticidade das obras literárias atribuídas ao chamado período «clássico» chinês (551­-249 a. C.), sabemos que os chamados Treze Capítulos não puderam ser escritos cerca de 500 a. C., como pretendera o grande historiógrafo Ssu Ma Ch’ien, no seu monumental Shih Chi (Registos Históricos ou Anais do Historiador), concluído pouco depois do ano 100 a. C.

    Mei Yao Ch’ien, um dos seus contemporâneos e um dos comentadores que intervém na obra, já emitira sérias reservas quanto à fiabilidade da biografia de Sun Tzu, designado por Ssu Ma Ch’ien como um general do Estado Wu (daí a apelidação Sun de Wu), durante o reinado de Ho Lu. As críticas mais fundamentadas começaram logo no século xi, com Yeh Cheng Tse, um erudito da época Sung, baseadas em dois argumentos principais, posteriormente aprofundados por outros críticos, nomeadamente Yao Ch’i Heng² e Chun Tsu Wang (durante a época Ch’ing, no século xvii).

    Em primeiro lugar, observa Yeh Cheng Tse, Sun Wu não é citado no comentário de Tso Ch’iu Ming sobre os famosos «Anais da Primavera e Outono» do Estado Lu (771­-481 a. C.) — época assim designada pois não se guerreava durante as outras duas estações devido ao excessivo calor do Verão e às baixas temperaturas do Inverno; com efeito, como pudera Ch’iu Ming ignorar um autor de proezas tão assombrosas, que teria vencido o Estado Ch’u, penetrado no Estado Yin e granjeado uma grande reputação, quando estava «extremamente documentado sobre os assuntos do Estado Wu»³?

    Além disso, os exércitos dessa época eram invariavelmente comandados por soberanos, por membros das suas famílias, por poderosos vassalos ou por ministros de confiança, e foi preciso esperar pela época dos Reinos Combatentes (que, segundo os modernos eruditos chineses se estendeu de 453 a. C., data da dissolução do reino de Chin— enquanto a tradição optava pelo início de 403 a. C., ano em que Wei Lieh, rei do Estado Chou, legitimou a medida tomada cinquenta anos antes pelos clãs Wei, Chao e Han — até 221 a. C.) para encontrar generais de carreira, com exércitos bem organizados, eficazmente treinados e abastecidos, capazes de manobrar de maneira independente e coordenada.

    Esta tese é ainda reforçada por considerações de ordem estilística e literária, como observa Fung Yu Lan na sua História da Filosofia Chinesa: «[…] [só então] se passa aos registos de diálogos com certa extensão, numa estrutura de tipo narrativo. Este foi o primeiro grande desenvolvimento estilístico, o florescimento literário devido aos filósofos dos Reinos Combatentes. Ainda mais tarde, esses registos foram substituídos por ensaios dignos desse nome»; «na época Primavera e Outono, ninguém escrevia livros com o seu próprio nome, expressando opiniões pessoais, contrariamente ao que acontecia com as obras históricas ou outros escritos ligados directamente a um posto oficial». De facto, o tipo de dissertação temática que encontramos em Sun Tzu aparece pela primeira vez na literatura chinesa na época dos Reinos Combatentes.

    De qualquer modo, o certo é que ao descrever, no capítulo xiii, a organização, o modo de financiamento e a direcção das operações militares secretas, Sun Tzu enfatiza a importância, para um governo ou para um general avisado, da aquisição de um conhecimento prévio, rejeitando a arte da interpretação dos presságios, cuja proibição recomenda; ora, na época Primavera e Outono a crença nos espíritos desencarnados e nos seres supranaturais estava universalmente difundida e a arte divinatória constituía um preliminar essencial para qualquer empreendimento que pudesse pôr em jogo a fortuna de uma família dirigente. Tanto a sua teoria sobre a guerra e a estratégia, como a doutrina relativa à táctica, supõem um método de análise definido como «estimativa da situação» (capítulo i), método racional, dificilmente compatível com o período pretendido, em que os governantes se deixavam comprometer em aventuras militares para satisfazer um mero capricho, vingar uma afronta ou um insulto, ou proceder a pilhagens. Na época em que Sun Tzu escreve, a guerra tornara­-se um assunto melindroso, o derradeiro recurso quando todos os outros tinham falhado e o ponto supremo do talento consistia em «submeter o exército inimigo sem combater», ou seja, a guerra deixara de ser um passatempo obedecendo a certas regras, para se transformar num instrumento supremo da política. A aplicação de doutrinas estratégicas e tácticas exige tropas de assalto e de elite de grande mobilidade e muito bem treinadas, um tipo de formações inexistentes na época Primavera e Outono; ademais as tropas desse período não utilizavam armaduras ou couraças, contrariamente ao que é indicado no capítulo ii; nesse tempo, só os nobres que conduziam os carros de combate e o seu séquito imediato usavam escudos primitivos de couro lacado ou de pele de rinoceronte envernizada. Os peões da infantaria usavam vestes acolchoadas e só muito mais tarde recorreram a roupas protectoras de pele de tubarão ou de outro animal, especialmente tratadas. Para Sun Tzu, a única constante da guerra era a mudança («dos cinco elementos, nenhum predomina sempre»); ora, a teoria da constante mutação das cinco «forças» ou «elementos»: Terra, Madeira, Fogo, Metal e Água, só se desenvolve como concepção filosófica na época dos Reinos Combatentes.

    Deste modo, Griffith conclui: «Assim, quanto à data da sua composição, é o próprio texto — ou seja, a melhor fonte possível — que constitui um testemunho quase indubitável de que esta obra foi escrita pelo menos um século (mais provavelmente, século e meio) depois da data anunciada por Ssu Ma Ch’ien. Por conseguinte, podemos situar este primeiro de todos os clássicos da arte militar à volta de um período situado entre 400 e 320 a. C.»

    Nesse caso, qual a origem da lenda de Sun Tzu perpetrada por Ssu Ma Ch’ien? Como se explica a ligação entre esse místico Sun Tzu e o Estado Wu?

    Numa carta pessoal dirigida a Griffith, o professor Ku Chieh Kang propõe uma explicação engenhosa:

    «Podemos supor que quando Ch’i lançou uma expedição punitiva contra o Estado Wei em 341 a. C., para acorrer em auxílio dos Han, T’ien Chi era

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