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UMA HISTÓRIA POR VEZES ESTRANHA
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UMA HISTÓRIA POR VEZES ESTRANHA
E-book160 páginas2 horas

UMA HISTÓRIA POR VEZES ESTRANHA

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Sobre este e-book

Se um rapaz de dezenove anos seguisse seus instintos e tomasse outro rumo em Viena, toda sua vida seria diferente...

Ele se vê em um país estrangeiro, do outro lado do mundo. Ele não sabe nada sobre sua terra adotiva, e está sozinho em todo o universo. Uma sequência de encontros aleatórios leva a acontecimentos inesperados. Em poucas semanas, ele encontra um trabalho, um novo lar, uma universidade, e até mesmo uma garota. Tudo, sem falar a língua. "Se eu contasse aos meus colegas de faculdade na Rússia que dormi com uma americana, eles iriam pensar que eu estava ficando louco", foi o que ele pensou, observando sua amiga nua, pacificamente esparramada na cama ao seu lado.

O ritmo de sua vida se intensifica a cada novo encontro, até que um dia, o jovem rapaz se encontra na Itália. Ele precisará se adaptar a mais um país. Ele é lançado na vida de outras pessoas, e torna-se parte dela.

Um sábio erudito disse uma vez: "Há um plano para cada um de nós que está fora do nosso controle. Desde o momento em que nascemos, estamos num caminho pré-determinado". Qualquer coisa que façamos pode ajudar ou interferir. Pode atrasar a travessia, mas nunca nos desviaremos do seu curso. Voltaremos sempre e retomaremos o nosso caminho".

IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de ago. de 2020
ISBN9781071562239
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    UMA HISTÓRIA POR VEZES ESTRANHA - Uri Norwich

    Uma História Por Vezes Estranha 

    uma novella de

    Uri Norwich

    ––––––––

    Tradução

    Carla Mont’Alvão

    DEDICATÓRIA

    ––––––––

    Para meu filho David,

    e

    Jason Roth, um filho, se eu tivesse mais um.

    CAPÍTULOS

    1. Uma Proposta de Emprego

    2. O Lago É Minha Casa

    3. Vovó Tem Uma Arma

    4. Sra. Golubov

    5. Uma Estranha Escala em Roma

    6. Milão

    7. A Conexão Russa

    8. Uma Aula de Italiano

    9. O Círculo Completo

    ––––––––

    Notas de Rodapé[1]

    Aviso Legal

    Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, eventos e incidentes são produtos da imaginação do autor ou são utilizados de forma fictícia. Qualquer semelhança com indivíduos reais, vivos ou mortos, eventos e lugares são mera coincidência. No entanto, alguns nomes de membros da minha família foram mantidos.

    1. Uma Proposta de Emprego

    Meu chefe chamou-me. Quando entrei em seu escritório, ele levantou-se, deu a volta em sua mesa, e sentou-se na beirada com um dos pés no chão.

    — O que diria se eu lhe oferecesse um emprego na Itália?

    Ele olhou para mim como se tivesse me presenteado com um grande cheque bônus por um trabalho que eu nunca tinha feito. Seu pé solto continuou balançando como um pêndulo, me hipnotizando e impedindo que me concentrasse em suas palavras. Eu olhava fixamente para o pé, pensando: Ele não podia ter comprado um par de sapatos melhor? Pelo amor de Deus, ele provavelmente ganha três vezes mais do que eu... E aquelas meias horríveis! Foi quando reparei nas suas meias – preta, marrom e bege, com padrão de losangos. Meu amigo, nenhum homem italiano usaria uma coisa dessas. Fica a dica.pensei.

    — E então? — ele aguardava minha resposta.

    Sua voz desviou minha atenção de seus losangos. Sim, claro, ele quer saber se eu aceitaria um emprego na Itália... Meus pensamentos corriam na minha cabeça como um filme avançando na tela, só que correndo em direção oposta, cinco anos atrás.

    *****

    Minhas mãos tremiam quando entreguei uma grande pasta a um oficial de imigração no Terminal 1 do Aeroporto Internacional JFK. Ele jogou seu conteúdo no balcão, olhou cuidadosamente para dentro, certificando-se de que não tinha ficado nada, e rapidamente pegou um papel. Este era o segundo documento mais importante da minha vida. O primeiro documento mais importante que tive em minhas mãos foi há quatro anos. Tratava-se de uma carta de aceitação na Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Politécnica. Na União Soviética, todos os homens aceitos na faculdade ficavam isentos do recrutamento obrigatório no exército. Só essa razão já justificava a motivação dos jovens para entrar numa instituição de ensino superior. Sem dúvida, foi a minha.

    O agente examinou meu visto de entrada, estudando cuidadosamente cada selo e assinatura que havia nele. Depois, levantou-se e afastou-se do balcão, ainda com o meu visto nas mãos. Meu coração disparou, e permaneceu assim até ele aparecer segurando um grande livro negro em suas mãos. Notei que um pedaço de papel estava entre as páginas. Eu não conseguia sequer respirar.

    — Parabéns, meu jovem! — disse ele, calmamente, enquanto eu ainda estava sem conseguir respirar. Bem-vindo aos Estados Unidos da América!

    Eu estava atordoado, como se um balde de água gelada tivesse sido despejado em cima de mim. Ele notou meu estado e alegremente continuou:

    — Aqui estão todos os seus papéis, de volta à pasta. Dentro de um ou dois dias, dirija-se ao gabinete de Segurança Social; eles vão instruí-lo para que você possa procurar um emprego. Alguém vai encontrar-se com você? — ele olhou para mim sorridente. Fiz sinal que sim.

    — Bom, bem-vindo novamente ao maior país do mundo! Boa sorte! Você vai precisar.

    Poucos meses depois, eu já estava em West Hartford, Connecticut. Uma rede de acontecimentos afortunados levou-me para lá. Depois de quatro semanas em Nova York, percebi que não era meu estilo de vida. Apesar de eu ter crescido em uma grande cidade, com mais de um milhão de habitantes na União Soviética, sempre tive contato com a natureza selvagem. Claro, Nova York não pode ser comparada a nada no mundo. Sempre se pode argumentar que, se eu tivesse procurado, teria encontrado qualquer coisa que eu quisesse. Para falar a verdade, a agitação da grande metrópole deixava-me louco. Comecei procurando outro lugar para morar, mas onde? Não era uma tarefa fácil.

    A América é um país grande. Embora se estenda por 4.000 km de costa a costa, não é tão grande quanto a União Soviética, com seus dez fusos horários e 10.000 km de terra. Eu havia enviado meu currículo para todas as grandes empresas de serviços públicos dos Estados Unidos, oferecendo minha experiência em engenharia. Lenta, mas seguramente, eu recebia uma pilha de obrigado por sua consulta, mas no momento..., e blá, blá, blá, bláuma daquelas cartas educadas. Quando a última resposta chegou, finalmente percebi que talvez o diploma soviético de engenharia não fosse bom o suficiente para este país. Não havia ninguém para me aconselhar ou ajudar em nada, até chegar um dia de sorte.

    Eu havia passado o feriado do Dia do Trabalho na única praia que eu conseguia chegar de metrô. A praia de Brighton. Analisando meus antigos compatriotas que criaram as suas raízes lá, fez-me querer fugir ainda mais de Nova York. Na época, a maioria das pessoas que tinham escolhido se estabelecer lá tinha vindo das antigas repúblicas soviéticas da Ucrânia e da Moldávia. Geralmente, as pessoas da Rússia, e especialmente as que tinham vivido em grandes cidades, não tinham nada em comum com essa gente. Para os americanos, um grande afluxo de imigrantes soviéticos era uma novidade. Pela primeira vez desde a Primeira Guerra Mundial, grandes grupos de pessoas brancas chegavam da Europa. Os norte-americanos quase esqueceram que houve uma imigração de povos brancos que fundaram este país originalmente. A maioria dos recém-chegados eram judeus. As comunidades judaicas de todo o país abriram espaço para os imigrantes soviéticos. Isso era uma vantagem. O governo fez uma grande parte, ajudando a reassentar milhares de expatriados e desalojados.

    Naquele feriado, juntei-me a um pequeno grupo de pessoas na praia que estava na América há algum tempo. Quando me perguntaram o que eu ia fazer no próximo feriado judaico de Rosh Hashaná, eu encolhi os ombros. O que eu poderia dizer? Eu ainda não conhecia ninguém naquele país. Acabei sendo convidado para assistir às celebrações no Centro Judaico de West Hartford.

    Criado na União Soviética, a única religião a que eu tive contato foi o ateísmo. O ateísmo foi ensinado como a única e absoluta verdade. Era ensinado das fraldas ao caixão — a forma russa de dizer do ventre ao túmulo. Faculdades e universidades ensinavam o curso obrigatório de ateísmo onde professores dedicados declararam que a ciência tinha provado que não havia absolutamente nenhum Deus, ponto final! Curiosamente, esses professores eram sempre velhos, vestidos com os ternos mais gastos; alguns tinham barbas grisalhas com restos da última refeição, e cuspiam saliva da boca. Na época, a última prova da não existência de Deus foi o cosmonauta russo Yuri Gagarin, que tinha sido o primeiro homem a viajar no espaço exterior e ao redor da Terra. Muitos outros foram depois dele e ainda não tinham visto nenhum deus lá fora.

    Além disso, havia Darwin, é claro. Charles Darwin deve ter sido enviado pelo deus comunista, ou o diabo, para testar as pessoas no planeta Terra. Os soviéticos abraçaram suas teorias malucas como prova científica absoluta de que Deus tinha sido inventado pela doentia imaginação capitalista para forçar as pessoas a trabalharem por nada. Toda vez que meus pais me levavam ao zoológico, eu tentava passar a maior parte do tempo na jaula do gorila, ignorando outros animais e irritando minha família. Eu esperava flagrar aquele momento milagroso da transformação do macaco em homem, que nossos professores insistiam que tinha acontecido. Eu não ignorava completamente os outros animais. As cobras também me mantiveram colado às suas grandes jaulas de vidro, brilhantes e iluminadas, numa sala escura. Fica observando-os, com medo de perder o precioso momento em que começariam a crescer pernas e se transformariam em jacarés, ou dinossauros. Presumo que eram os próximos animais na escala de Darwin da chamada evolução.

    A prática da religião foi banida e condenada na União Soviética. Desde os primeiros dias após a Revolução de Outubro de 1917, a religião foi declarada Ópio venenoso para o povo. Tinha sido levada para o exílio da clandestinidade. As igrejas tinham sido destruídas, queimadas ou transformadas em armazéns de batatas. Templos e mesquitas tinham sido demolidos. Por ordem de Stálin, a Catedral de Cristo Salvador, construída em 1812 para comemorar a derrota de Napoleão, foi destruída para dar lugar à piscina pública ao ar livre. As tradições religiosas foram conservadas pelas famílias, e nunca foram discutidas publicamente por medo de serem processadas.

    Minha família nunca praticou nenhuma religião. Meus pais trabalharam duro para esconder nossa etnia, tentando se misturar na sociedade soviética. Não havia nada de judeu na nossa casa. No entanto, mesmo quando criança, eu sempre tive consciência da nossa herança. Para começar, os passaportes internos[2] dos meus pais diziam claramente "Judeu" no infame parágrafo número cinco.

    Durante muitos anos, minha família guardou um grande segredo. Mais tarde, descobri que muitas famílias judias também tinham esqueletos nos seus armários. Ninguém se atrevia a dar-lhes vida, temendo ser perseguido. Desde criança, lembrei-me de ouvir sussurros entre meus avós e minha mãe sobre uma mulher misteriosa que vivia em uma terra distante chamada Israel. Nunca falavam nela, apesar das minhas tentativas ocasionais de descobrir mais. Sempre que tentava perguntar algo sobre ela, eu era colocado imediatamente no meu lugar. Até que um dia...

    Eu sabia que algo estava acontecendo. Todas as noites, o meu avô Pinkus ficava colado a um rádio, tentando pegar partes de qualquer emissão de rádio ocidental rompendo fortes interferências. O rádio estava numa pequena mesa junto à janela da sala de estar do nosso apartamento. Aquela sala de estar servia também como meu quarto à noite. Deitei-me no meu sofá-cama dobrável, fingindo que estava dormindo. Vovô ficava até muito tarde da noite, recusando-se a ir para a cama, até conseguir pelo menos alguma informação. Claro que, na manhã seguinte, a máquina de propaganda russa relatou que seus amigos árabes tinham avançado em sua guerra pela liberdade contra os opressores israelenses. A vigília noturna do vovô durou uma semana. Em 10 de junho de 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel havia derrotado milhões de árabes loucos que desejavam a sua morte.

    Naquela manhã, vi o rosto da minha avó Dora iluminar-se como nunca tinha visto antes. Naquele dia, ela contou-me o grande segredo. Ela tinha uma irmã mais nova, Sônia. Há 50 anos, quando a família da minha avó

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