Educação em Direitos Humanos e formação de professores(as)
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Educação em Direitos Humanos e formação de professores(as) - Vera Maria Candau
© 2013 by Vera Maria Candau – Iliana Paulo –
Marcelo Andrade – Maria da Consolação Lucinda –
Susana Sacavino – Viviane Amorim
© Direitos de publicação
CORTEZ EDITORA
Rua Monte Alegre, 1074 – Perdizes
05014-001 – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3864-0111 Fax: (11) 3864-4290
cortez@cortezeditora.com.br
www.cortezeditora.com.br
Produção Digital: Hondana - http://www.hondana.com.br
Direção
José Xavier Cortez
Editor
Amir Piedade
Preparação
Jaci Dantas de Oliveira
Revisão
Gabriel Marett
Jaci Dantas de Oliveira
Edição de Arte
Mauricio Rindeika Seolin
Ilustração de capa
Antonio Carlos Tassara de Padua
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Educação em direitos humanos e formação de professores [livro eletrônico] / apresentação Aida Monteiro, Selma Garrido Pimenta. -- 1. ed. -- São Paulo : Cortez, 2014.
1,8 Mb ; e-PUB
Vários autores
ISBN 978-85-249-2247-3
1. Cidadania 2. Educação em Direitos Humanos 3. Educação inclusiva 4. Prática de ensino 5. Professores – Formação – I. Monteiro, Aida. II. Pimenta, Selma Garrido.
Índices para catálogo sistemático:
1. Educação em Direitos Humanos 370.115
Publicado no Brasil - 2014
SUMÁRIO
AOS(ÀS) PROFESSORES(AS)
APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO
APRESENTAÇÃO DO LIVRO
1a PARTE F ORMAÇÃO DOCENTE E E DUCAÇÃO EM D IREITOS H UMANOS
CAPÍTULO I O(A) EDUCADOR ( A ) COMO AGENTE SOCIOCULTURAL E POLÍTICO
1. Cultura(s), poder e pedagogia do empoderamento: elementos importantes do processo educativo
2. Formação de sujeitos de direitos
3. O diálogo: uma mediação importante na articulação das diferentes dimensões
4. A Educação em Direitos Humanos e a construção da democracia
5. Formação de educadores(as) como agentes socioculturais e políticos desde a afirmação da cidadania e da democracia
6. Bibliografia do capítulo
CAPÍTULO II F ORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES ( AS ) E E DUCAÇÃO EM D IREITOS H UMANOS
1. Educação em Direitos Humanos: entre a afirmação normativa e a efetivação
2. Educação em Direitos Humanos: concepções e princípios orientadores
3. Formando professores(as) comprometidos(as) com os Direitos Humanos
4. Bibliografia do capítulo
CAPÍTULO III F ORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ( AS ) E E DUCAÇÃO EM D IREITOS H UMANOS
1. Escola: lócus privilegiado de formação continuada de educadores(as) em Direitos Humanos
2. Direitos Humanos: um modo de estar no mundo
3. Formação em serviço: alguns eixos norteadores
4. Bibliografia do capítulo
2a PARTE F ORMAÇÃO DE PROFESSORES ( AS ) E E DUCAÇÃO EM D IREITOS H UMANOS: DESAFIOS ATUAIS
CAPÍTULO I P REVENINDO A VIOLÊNCIA ESCOLAR E O BULLYING
1. Bullying : uma tentativa de caracterização
2. Quem se envolve no bullying ?
3. Bullying : um conceito e três limites
4. Direitos Humanos: prevenir e enfrentar o bullying
5. Bibliografia do capítulo
CAPÍTULO II R ELAÇÕES RACIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ( AS )
1. Preconceito e discriminação racial no âmbito educacional
2. Desafios da educação para as relações étnico-raciais
3. Relações étnico-raciais e Educação em Direitos Humanos: dialogando com propostas governamentais
4. Bibliografia do capítulo
CAPÍTULO III P ROMOVENDO A EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA INTERCULTURAL
1. Articular igualdade e diferença: uma exigência ineludível
2. Educação em Direitos Humanos e a articulação entre igualdade e diferença
3. Interculturalidade e Educação em Direitos Humanos: desafios para a prática pedagógica
4. Bibliografia do capítulo
3a PARTE A PRENDENDO A SER EDUCADOR ( A ) EM D IREITOS H UMANOS: OFICINAS PEDAGÓGICAS
CAPÍTULO I O FICINAS PEDAGÓGICAS EM D IREITOS H UMANOS: ESPAÇO E TEMPO DE FORMAÇÃO
1. O que entendemos por oficina pedagógica?
2. Oficina pedagógica: ver, saber, comprometer-se e celebrar
3. Oficina pedagógica: organizando os diferentes momentos
4. Bibliografia do capítulo
ANEXOS
1a OFICINA S ER PROFESSOR ( A ) HOJE: EDUCAR EM D IREITOS H UMANOS
2a OFICINA E DUCAR EM / PARA OS D IREITOS H UMANOS: C ONSTRUIR CIDADANIA
3a OFICINA I GUALDADE E DIFERENÇA: DE QUE ESTAMOS FALANDO?
4a OFICINA D IGA NÃO À DISCRIMINAÇÃO: DESAFIANDO PRECONCEITOS E ESTEREÓTIPOS
ESTAÇÃO DO(A) PROFESSOR ( A )
CINEDICA
WEBDICA
AOS(ÀS) PROFESSORES(AS)
A Cortez Editora tem a satisfação de trazer ao público brasileiro, particularmente aos(às) estudantes e profissionais da área educacional, a Coleção Docência em Formação, destinada a subsidiar a formação inicial de professores(as) e a formação contínua daqueles(as) que estão em exercício da docência.
Resultado de reflexões, pesquisas e experiências de vários professores(as) especialistas de todo o Brasil, a Coleção propõe uma integração entre a produção acadêmica e o trabalho nas escolas. Configura um projeto inédito no mercado editorial brasileiro por abarcar a formação de professores(as) para todos os níveis de escolaridade: Educação Básica (incluindo a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio), a Educação Superior, a Educação de Jovens e Adultos e a Educação Profissional. Completa essa formação com os Saberes Pedagógicos.
Com mais de 30 anos de experiência e reconhecimento, a Cortez Editora é uma referência no Brasil, nos demais países latino-americanos e em Portugal por causa da coerência de sua linha editorial e da atualidade dos temas que publica, especialmente na área da Educação, entre outras. É com orgulho e satisfação que lança a Coleção Docência em Formação, pois estamos convencidos de que se constitui em novo e valioso impulso e colaboração ao pensamento pedagógico e à valorização do trabalho dos(as) professores(as) na direção de uma escola melhor e mais comprometida com a mudança social.
José Xavier Cortez
Editor
Dedicamos este livro a todos os professores e as professoras, assim como aos alunos e às alunas de cursos de licenciatura com os quais compartilhamos inquietudes e sonhos e nos construímos conjuntamente como educadores em Direitos Humanos.
Em tempos difíceis e conturbados por inúmeros conflitos, nada mais urgente e necessário que educar em Direitos Humanos, tarefa indispensável para a defesa, o respeito, a promoção e a valorização desses direitos.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. (2006, p. 22).
APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO
A Coleção Docência em Formação tem por objetivo oferecer aos(às) professores(as) em processo de formação e aos(às) que já atuam como profissionais da educação subsídios formativos que levem em conta as diretrizes curriculares, buscando atender, de modo criativo e crítico, as transformações introduzidas no sistema nacional de ensino pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB de 1996 e as Resoluções emanadas do Conselho Nacional de Educação, entre elas as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos de 2012, que orientam os sistemas nos diferentes níveis de ensino e nas diferentes áreas de conhecimento. Sem desconhecer a importância da LDB como referência legal, a proposta desta Coleção identifica seus avanços e seus recuos e assume como compromisso maior buscar uma efetiva interferência na realidade educacional através do processo de ensino e de aprendizagem, núcleo básico do trabalho docente. Seu propósito é, pois, fornecer aos(às) docentes e estudantes das diversas modalidades dos cursos de formação de professores(as) (Licenciaturas) e aos(às) docentes em exercício, livros de referência para sua preparação científica, técnica e pedagógica. Os livros contêm subsídios formativos relacionados ao campo dos saberes pedagógicos bem como ao campo dos saberes relacionados aos conhecimentos especializados das áreas de formação profissional.
A proposta da Coleção parte de uma concepção orgânica e intencional de educação e de formação de seus(suas) profissionais, e com clareza do(a) professor(a) que se pretende formar para atuar no contexto da sociedade brasileira contemporânea, marcada por determinações históricas específicas.
Como bem o mostram estudos e pesquisas recentes na área, os(as) professores(as) são profissionais essenciais nos processos de mudanças das sociedades. Se forem deixados(as) à margem, as decisões pedagógicas e curriculares alheias, por mais interessantes que possam parecer, não se efetivam, não gerando efeitos sobre o social. Por isso é preciso investir na formação e no desenvolvimento humano desses(as) profissionais.
Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho, o avanço tecnológico configurando a sociedade virtual, os meios de informação e comunicação, e novas demandas de temas como Direitos Humanos, educação ambiental, que apontam para a construção de uma sociedade mais justa e humanizada, incidem com bastante força na escola, aumentando os desafios para torná-la uma conquista democrática efetiva. Transformar as escolas, suas práticas, culturas tradicionais e burocráticas que, através da retenção e da evasão acentuam a exclusão social, requer trabalhar uma educação que possibilite às pessoas se reconhecerem como sujeitos de direitos e de responsabilidades não é tarefa simples nem para poucos(as). O desafio é educar as crianças, os(as) jovens e adultos(as) propiciando-lhes um desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico, de modo que adquiram condições para fazer frente às exigências do mundo contemporâneo. Tal objetivo exige esforço constante do coletivo da escola – diretores(as), professores(as), funcionários(as) e pais de alunos(as) – dos sindicatos, dos(as) governantes e de outros grupos sociais organizados.
Não se ignora que esse desafio precisa ser prioritariamente enfrentado no campo das políticas públicas. Todavia, não é menos certo que os(as) professores(as) são profissionais essenciais na construção dessa nova escola. Nas últimas décadas, diferentes países realizaram grandes investimentos na área da formação e desenvolvimento profissional de professores(as) visando essa finalidade. Os(as) professores(as) contribuem com seus saberes, seus valores, suas experiências nessa complexa tarefa de melhorar a qualidade social da escolarização.
Entendendo que a democratização do ensino passa pelos(as) professores(as), por sua formação, por sua valorização profissional e por suas condições de trabalho, pesquisadores(as) têm apontado para a importância do investimento no seu desenvolvimento profissional, que envolve formação inicial e continuada, articulada a um processo de valorização identitária e profissional dos mesmos. Identidade que é epistemológica, ou seja, que reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos configurados em quatro grandes conjuntos: 1. conteúdos das diversas áreas do saber e do ensino, ou seja, das ciências humanas e naturais, da cultura e das artes; 2. conteúdos didático-pedagógicos, diretamente relacionados ao campo da prática profissional; 3. conteúdos relacionados a saberes pedagógicos mais amplos do campo teórico da educação; 4. conteúdos ligados à explicitação do sentido da existência humana individual, com sensibilidade pessoal e social. E identidade que é profissional, ou seja, a docência constitui um campo específico de intervenção profissional na prática social. E como tal deve ser valorizado em seus salários e nas condições de trabalho.
O desenvolvimento profissional dos(as) professores(as) tem se constituído em objetivo de propostas educacionais que valorizam a sua formação não mais baseada na racionalidade técnica, que os(as) considera como meros(as) executores(as) de decisões alheias, mas numa perspectiva que reconhece sua capacidade de decidir e de interferir na realidade social. Ao confrontar suas ações cotidianas com as produções teóricas impõe-se rever suas práticas e as teorias que as informam, as concepções de sociedade e de escola, pesquisando a prática e produzindo novos conhecimentos para a teoria e a prática de ensinar. Assim, as transformações das práticas docentes só se efetivam na medida em que o(a) professor(a) amplia sua consciência crítica sobre a própria prática, a de sala de aula, a da escola e a do contexto social, o que pressupõe os conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade. Tais propostas enfatizam que os(as) professores(as) colaboram para transformar as escolas em termos de gestão, currículos, organização, projetos educacionais, formas de trabalho pedagógico, contribuindo para mudanças na sociedade. Reformas gestadas nas instituições, sem tomar os(as) professores(as) como parceiros(as)/autores(as) não transformam a escola na direção da qualidade social, sendo a mesma entendida como uma educação fundamentada no respeito aos direitos de todas as pessoas, e na preservação do meio ambiente. Em consequência, valorizar o trabalho docente significa dotar os(as) professores(as) de perspectivas de análise, que os(as) ajudem a compreender os contextos histórico, sociais, culturais, organizacionais nos quais se dá sua atividade docente.
Na sociedade brasileira contemporânea, novas exigências estão postas à formação e ao trabalho dos(as) professores(as). Nas últimas décadas, as sociedades vêm se desenvolvendo nas áreas econômica e tecnológica, mas esse desenvolvimento não tem representado necessariamente melhoria na qualidade de vida das pessoas, com destaque para a não garantia do direito básico à educação, que contribua para a inclusão das mesmas na sociedade. Ao mesmo tempo, novas demandas estão postas aos(às) profissionais da educação para responder questões e orientar as suas práticas profissionais em relação a diferentes formas de preconceitos, discriminações, violências urbana e escolar, em relação à mulher, aos(às) negros(as), às crianças e jovens, aos(às) idosos(as), aos povos indígenas, às pessoas com diferentes orientações sexuais, opções políticas e religiosas. O enfrentamento a essas questões não se dá apenas no campo individual, mas essencialmente no coletivo, de forma democrática e participativa.
É nesse contexto complexo, contraditório, carregado de conflitos de valores e de interpretações, que se faz necessário re-significar a identidade e o papel do(a) professor(a). O ensino, atividade característica do(a) professor(a), é uma prática social complexa, carregada de conflitos de valores e que exige opções éticas, políticas e compromisso com a realidade. Ser professor(a) requer saberes e conhecimentos científicos, pedagógicos, educacionais, sensibilidade da experiência, indagação teórica e criatividade para fazer frente às situações únicas, ambíguas, incertas, conflitivas e, por vezes, violentas, das situações de ensino, nos contextos escolares e não escolares. É da natureza da atividade docente proceder à mediação reflexiva e crítica entre as transformações sociais concretas e a formação humana dos(as) estudantes, questionando os modos de pensar, sentir, agir, de produzir e distribuir conhecimentos na sociedade.
Problematizando e analisando as situações da prática social de ensinar, o(a) professor(a) incorpora o conhecimento elaborado, das ciências, das artes, da filosofia, da pedagogia e das ciências da educação, como ferramentas para a compreensão e proposição do real. Assim, é importante pensar a formação dos(as) professores(as) para além da técnica, dos conhecimentos cognitivos das diversas áreas, mas uma formação que contemple o desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos, que valorizam o ser humano na sua diversidade, ou seja, nas suas opções, orientações, escolhas, características físicas e identitárias.
A Coleção investe, pois, na perspectiva que valoriza a capacidade de decidir dos(as) professores(as). Assim, discutir os temas que perpassam seu cotidiano nas escolas – projeto pedagógico, autonomia, identidade e profissionalidade dos(as) professores(as), violência, cultura, religiosidade, a importância do conhecimento e da informação na sociedade contemporânea, a ação coletiva e interdisciplinar, as questões de gênero, o papel do sindicato na formação, entre outros –, articulados aos contextos institucionais, às políticas públicas e confrontados com experiências de outros contextos escolares e