Avaliação Neurológica Funcional
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Avaliação Neurológica Funcional - Gustavo José Luvizutto
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES
Dr. Gustavo
Eu gostaria de dedicar este livro à minha família, que me apoiou por todo o tempo, principalmente aos meus pais, que não mediram esforços para que de uma origem humilde pudesse levar conhecimento a outras pessoas; aos meus colegas, que contribuíram com o livro de maneira tão dedicada; meus alunos e ex-alunos; meu companheiro Eduardo, amigo e quem me estende a mão em todos os momentos, e para a minha amiga e coeditora, cujo conhecimento, orientação e inspiração têm sido fundamentais para o meu crescimento profissional. Como Santo Agostinho nos orienta: ama e faz o que quiseres; se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos
.
Dr.ª Luciane
Vou tentar passar para o papel sentimentos que são difíceis de expressar, mas que estão gravados em áreas cerebrais específicas e refletem minha imensa gratidão. Dedico esta obra, primeiro, ao Nome sobre todo Nome, nosso criador, sentido e razão para tudo. Ele que criou meus pais, Maria Thereza e Osvaldo, a quem devo um amor incondicional e todo o respeito e admiração, e também recebem esta dedicatória. E quero dedicar este livro ao meu esposo, Rodrigo, companheiro, amigo e parceiro de vida, com quem pude construir uma bela família, formada também pelos meus amados filhos: Maria, Francisco e Cecília. A vocês, que são o melhor de mim, dedico o fruto deste estudo. Não posso esquecer-me do meu amigo Gustavo, que navegou comigo neste sonho, me ensinando e me alegrando muito nesta parceria. E, por fim, pensando também no futuro, quero dedicar esta obra, feita com muito carinho por pessoas capacitadas e também cheias de amor, a todos os profissionais da área da saúde e a todos os pacientes que poderão, de alguma forma, se beneficiar deste material.
AGRADECIMENTOS
Dr. Gustavo
Agradeço à Clínica Somatus Pediasuit Sandra Volpi, em Botucatu, pela generosidade sem tamanho.
Ao Professor Rodrigo Bazan, neurologista e amigo, que sempre apoiou em todas as decisões, mesmo aquelas mais difíceis, com incentivo para trilhar meu próprio caminho. Você impulsionou nosso crescimento.
A todos os autores, profissionais da área da saúde que contribuíram com o livro e não mediram esforços para que o capítulo atingisse o maior nível de qualidade possível.
Aos membros do Grupo de Neurociências Aplicadas à Reabilitação da UFTM, por toda capacidade de articulação para o desenvolvimento deste livro.
Para todos aqueles que contribuíram na campanha de crowndfunding para que este livro fosse realidade em nossas mãos.
A todos os meus professores, desde a graduação até o pós-doutorado, que fizeram me tornar o que hoje sou.
Ao Eduardo, Dudu, meu eterno companheiro, que esteve presente nos caminhos mais difíceis, os tornando leves e passageiros.
Dr.ª Luciane
Agradeço aqui, primeiro a Deus, por me criar, me amar, me ensinar a cada dia. Aos principais protagonistas da minha história: meus pais. Sem o alicerce que me deram, todo feito de amor, carinho e ensinamentos firmes sobre a vida, eu não seria ninguém. À minha família, que, mesmo estando distante, foi e sempre será presença viva na minha caminhada. À família que formei, meu esposo e meus filhos, motivo de alegria, ânimo e vigor para cada passo a ser trilhado. Aos meus mestres, na infância, adolescência, juventude e em toda a formação acadêmica, de pós-graduação, e aos que convivem comigo no dia a dia, no meu trabalho, renovando meu aprendizado. Em especial aos professores e amigos, que me fizeram amar a fisioterapia, em especial a área da neurologia e também àqueles que me mostraram o caminho da docência. E, claro, agradecer a todos que me cercam, meus grandes amigos, aqueles da infância, que resgatam um tempo tão bom, aos amigos que também estão distantes, mas sempre pertinho, unidos aos nossos sentimentos. Aos amigos e colegas próximos, com quem divido alegrias e angústias. E não podiam faltar meus queridos alunos e ex-alunos. Muito deste estudo é fruto de cada um de vocês, de momentos de dúvidas, nas apresentações, nas piadas neurológicas do dia a dia. E este estudo é também para vocês, com o intuito apenas de lembrá-los e atualizá-los. Ao meu amigo de trabalho, risadas, cantorias e de muitos fatos neurológicos, com quem posso compartilhar a alegria de ver esta obra pronta: Gustavo. Agora, para finalizar, minha eterna gratidão a todos os pacientes que cruzaram meu caminho e deixaram traços de suas vidas unidos à minha. Suas histórias e o modo como cada um lidou com as dificuldades me enriqueceram e também ajudaram a construir o meu eu e agora poder contribuir com esta obra.
Como São Francisco de Assis, devemos viver sempre alegres e propagar o bem, o amor. Que esta obra traga conhecimento, alegria e bons frutos a todos. E como ele mesmo diria... desejo a todos paz e bem!
APRESENTAÇÃO
As pesquisas em neurociências básica e aplicada nos ensinam que a arte de avaliar e tratar indivíduos com qualquer doença do sistema nervoso central e periférico deve ser conduzida com empenho, paciência, mas, acima de tudo, com alta capacidade crítica pra saber que a ciência é mutável e que dependemos cada vez mais de avaliações baseadas em evidências e que sejam funcionais e adaptadas ao cotidiano do indivíduo. Pensando nessas premissas, criamos este livro de avaliação neurológica funcional para demonstrar como deve ser abordado um indivíduo após qualquer distúrbio neurológico dentro de um olhar clínico, funcional e moderno.
Os organizadores
PREFÁCIO
No início de 2012, logo após o carnaval, estava na minha sala no departamento de neurologia da Unesp em Botucatu pensando na complexidade e dificuldades que um então jovem professor recém-contratado enfrentaria para realizar a tríade assistência, ensino e pesquisa de qualidade neste país. Foi nesse contexto, então, que conheci nessa mesma época um jovem recém-formado em fisioterapia chamado Gustavo Luvizutto, interessado em iniciar o estudo na pós-graduação e extremamente focado nas questões de pesquisa, principalmente no campo da reabilitação neurológica após Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Em curto espaço de tempo, montamos uma linha de pesquisa junto ao CNPq em reabilitação e AVC, captamos fomentos e passamos a agregar um grupo de pessoas entusiastas com a pesquisa nesse campo da saúde e iniciamos uma produção de trabalhos, dissertações e teses, assim como apresentações em congressos de âmbito nacional e internacional. Já esperado, poucos anos depois, esse jovem sonhador ingressa como docente numa grande universidade de Minas Gerais, a UFTM, em Uberaba.
A obra Avaliação Neurológica Funcional, idealizada pelos jovens e brilhantes professores Gustavo José Luvizutto e Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza, certamente, vem preencher uma importante lacuna literária no cenário nacional no campo da Neurociência e reabilitação neurológica. Certamente, esses entusiastas colocaram toda sua capacidade técnica, didática e de coordenação na composição desta obra.
Muito me orgulha e emociona o convite da escrita deste prefácio para um livro que certamente auxiliará em muito os alunos de graduação e pós-graduação da área da saúde, assim como será referência para professores e pesquisadores nesse campo do conhecimento.
Para finalizar, deixo as palavras que resumem para mim a dedicação de Gustavo e Luciane, assim como de todos os autores de capítulos que colaboraram com esta obra:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive. (PESSOA, 1946, p. 148)
Professor doutor Rodrigo Bazan
Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Universidade Estadual Paulista
Coordenador do diretório científico de Reabilitação da Associação Brasileira de Neurologia
Referência
PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor. Lisboa: Ática, 1946.
Sumário
Capítulo 1
Introdução 17
Caroline Oliveira
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Dr. Gustavo José Luvizutto
Capítulo 2
Interrogatório e avaliação visual sistemática 25
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Cíntia Rogean de Jesus Alves Baptista
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 3
Uso de Avaliações Padronizadas em Fisioterapia
aplicada às Doenças Neurológicas 41
Dr.ª Camila Torriani-Pasin
Tatiana Beline de Freitas
Natalia Padula
Gisele Carla dos Santos Palma
Capítulo 4
Avaliação dos nervos cranianos 93
Dr. Alex Eduardo da Silva
Dr. Gustavo José Luvizutto
Capítulo 5
Avaliação do tônus muscular 107
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Cyntia Rogean de Jesus Alves Baptista
Dr. Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 6
Importância dos Reflexos para as atividades funcionais 123
Dr. Gustavo José Luvizutto
Eduardo de Moura Neto
Dr.ª Cyntia Rogean de Jesus Alves Baptista
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 7
Avaliação funcional da motilidade e força muscular 133
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 8
Avaliação do sistema sensorial 149
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Cyntia Rogean de Jesus Alves Baptista
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 9
Avaliação do sistema perceptual 161
Taís Regina da Silva
Dr. Rodrigo Bazan
Dr. Gustavo José Luvizutto
Capítulo 10
Avaliação da Coordenação motora global 177
Dr. Fabricio Diniz de Lima
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Dr. Marcondes Cavalcante França Junior
Capítulo 11
Avaliação funcional do Equilíbrio 197
Ana Flávia Silveira
Tamiris Aparecida Castro Souza
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 12
Avaliação da verticalidade 213
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 13
Avaliação do Sistema vestibular 221
Dr. Gustavo José Luvizutto
Adriana Tresso
Kívia Oliveira Santos
Laura Pereira Generoso
Dr.ª Josie Resende Torres da Silva
Capítulo 14
Avaliação cognitiva estruturada 245
Iramaia Salomão Alexandre de Assis
Tamise Aguiar Caires
Dr.ª Ellen Lirani-Silva
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 15
Avaliação funcional da marcha 259
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Dr. Gustavo José Luvizutto
Capítulo 16
Avaliação da linguagem em pacientes neurológicos 271
Dr.ª Magali de Lourdes Caldana
Dr.ª Natalia Gutierrez Carleto
Natalia Caroline Favoretto
Dr.ª Cristina do Espírito Santo
Bianca Gonçalves Alvarenga
Leticia de Azevedo Leite
Capítulo 17
Tomada de decisão em Neurologia Pediátrica 283
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Capítulo 18
Avaliação nutricional no paciente neurológico 291
Juli Thomaz de Souza
Capítulo 19
Eletrodiagnóstico como ferramenta de avaliação
neurofuncional 307
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Dr.ª Luciane Fernanda Rodrigues Martinho Fernandes
Capítulo 20
Monitoramento utilizando dispositivos vestíveis na avaliação neurofuncional: aplicação na doença de Parkinson 321
Amanda Rabelo
Dr. Rodrigo M. A. Almeida
Dr. Adriano O. Andrade
Capítulo 21
Uso da neuroimagem como ferramenta de avaliação
neurofuncional 339
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr. Pedro Tadao Hamamoto Filho
SOBRE OS AUTORES 363
ÍNDICE REMISSIVO 373
Capítulo 1
Introdução
Um olhar baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)
Caroline Oliveira
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
Dr. Gustavo José Luvizutto
1. Introdução
A avaliação fisioterapêutica neurofuncional inclui a coleta de informações por meio da observação detalhada do paciente para elaborar um diagnóstico e prognóstico e, até mesmo, para intervir na decisão de qual a melhor conduta de tratamento. A avaliação é essencial para identificar o problema e o local do sistema nervoso que se encontra comprometido. Nela, interpretam-se medidas individuais relativas à estrutura e função, atividade e participação, e fatores ambientais e pessoais. O processo de avaliação deve ser parte integrante do tratamento, pois responde à pergunta: é possível alterar o quadro funcional após o processo de reabilitação? Os achados da avaliação auxiliam a resolução do problema, direcionando a terapia para o alcance de metas. A avaliação neurofuncional deve ser ampla, dinâmica e contínua, para que permita um acompanhamento da evolução clínico-funcional (STOKES, 2000; OMS, 2015).
Este capítulo busca abranger todos os itens relacionados a uma avaliação neurológica de modo sucinto. No texto, os tópicos se distribuem de maneira ordenada, sendo: conceito (informações principais), forma de avaliar e apontamento de alterações, interpretação dos achados conduzindo ao diagnóstico, além de alguns registros, exemplificando uma avaliação de um paciente fictício.
2. Proposta de avaliação baseado no conceito de funcionalidade, incapacidade e saúde
Quadro 1 – Raciocínio lógico da avaliação neurofuncional
Fonte: o autor
Uma avaliação completa e direcionada é imprescindível, não obstante, a cada exercício ou atividade proposta se faz necessário observar e se questionar a execução ou evolução. Em muitos casos, a conversa com a família ou conversa com o próprio paciente nos faz pensar ou criar novos objetivos e condutas (UMPHRED, 1994).
A seguir, um exemplo do raciocínio lógico da avaliação neurofuncional:
Quadro 2 – Raciocínio lógico aplicado a um caso clínico
Fonte: os autores
2.1 Como a CIF pode nos ajudar no processo de avaliação?
Auxiliando nesses processos de avaliação funcional, é importante nos basearmos na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF, ICF em inglês). Esse documento de uso mundial foi elaborado em 2001 e publicado em língua portuguesa em 2003. Uma versão específica para a população de crianças e adolescentes (CIF-CJ) foi publicada em 2006 (OMS, 2015).
A CIF pode ser utilizada de uma forma geral como apresentada no quadro 2 ou de modo mais específico com as codificações por domínios. Ambos ajudam a formular hipóteses num primeiro momento. A seguir, são feitos os testes específicos e se determinam os códigos individuais. Numa avaliação pontual de pacientes neurológicos com base na CIF, devemos considerar os seguintes aspectos: 1) o paciente é visto como um todo e recebe uma análise completa sobre sua condição de saúde, incluindo sua funcionalidade, incapacidade e aspectos pessoais e ambientais que podem interferir positiva ou negativamente no quadro; 2) é considerada a análise dos componentes: estruturas (código s = do termo structure) e funções corporais (código b = do termo body), atividades e participação (código d = do termo domain), fatores ambientais (código e = environment) e fatores pessoais; 3) após os códigos, em letras minúsculas, vem a numeração que obedece a ordem dos capítulos, a seguir representada apenas por XXX (www.who.int/classifications/icf/en/ – esse site dá acesso a toda a classificação que deve ser usada para consulta dos códigos); 4) por fim, é feita a pontuação, de acordo com a tabela a seguir:
Tabela 1 – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
Fonte: adaptado da Organização Mundial de Saúde (2015)
Um exemplo clínico distinto do anterior pode auxiliar no entendimento da aplicação da CIF:
S.G., 72 anos, diagnosticado com doença de Parkinson há seis anos, apresenta o quadro clássico: bradicinesia, tremor, rigidez e alterações no controle postural. Relata dificuldades em comer e abotoar roupas e também durante caminhadas por longas distâncias.
Para a formulação de hipóteses nesse caso, podemos pensar nas funções alteradas relacionadas à execução do movimento, funções de equilíbrio. Com relação à atividade e participação, focamos em algumas AVDs que estariam mais comprometidas, tendo estas, relações diretas com o quadro clínico do paciente. Agora, não está claro nessa descrição outros aspectos que o avaliador teria que investigar: variáveis emocionais, interesse pelas atividades, motivação, envolvimento de familiares e amigos, acesso aos serviços de saúde e medicamentos etc. Assim, após uma ampla entrevista e avaliação minuciosa, já respondendo às hipóteses levantadas, foram considerados os seguintes códigos/pontuações da CIF pelo avaliador.
Lembramos que pode ser feita a pontuação também a partir do ponto de vista do paciente.
Quadro 3 – Pontuação da CIF de acordo com a visão de um paciente
Fonte: o autor
2.2 As escalas também podem ajudar!
Inúmeras escalas podem ser utilizadas tanto para elaborar quanto para responder hipóteses. Essas escalas precisam ser validadas em nossa língua e ter alta confiabilidade. É possível optar por uma escala específica para alguma doença/disfunção, como por exemplo, escala de Fugl Meyer utilizada para avaliar o quadro clínico pós-AVC. Ou eleger uma escala de acordo com algum quesito que se queira investigar, como por exemplo, o SF-36 (Short-Form Health Survey), que avalia qualidade de vida e pode ser utilizado em inúmeras situações clínicas. No capítulo 3 deste livro, teremos a apresentação e aplicação de várias escalas, inseridas nos domínios da CIF, e isso poderá nortear a formulação de hipóteses e o desfecho da avaliação como um todo.
3. Implicações clínicas
A avaliação neurofuncional é a parte mais importante do planejamento terapêutico, visto que um olhar cuidadoso, preciso e funcional adequado levará a resultados mais promissores. Quando a avaliação é desvalorizada ou não aplicada, há redução das possibilidades de tratamento, com impacto negativo na funcionalidade.
4. Referências
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. 1. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo – Edusp, 2015.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Como usar a CIF: Um manual prático para o uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Disponível em: http://www.fsp.usp.br/cbcd/wp-content/uploads/2015/11/Manual-Prático-da-CIF.pdf. Acesso em: 10 nov. 2018.
STOKES, M. Neurologia para fisioterapeutas. 1. ed. São Paulo: Premier, 2000.
UMPHRED, D. A. Fisioterapia Neurológica. 2. ed. Barueri: Manole, 1994.
Capítulo 2
Interrogatório e avaliação visual sistemática
Como o diálogo e observação conduzem a avaliação neurofuncional?
Dr. Gustavo José Luvizutto
Dr.ª Cíntia Rogean de Jesus Alves Baptista
Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza
1. Anamnese
A anamnese constitui-se numa das partes mais importantes da avaliação e significa a coleta do relato da doença e de sua evolução. A história clínica deve conter o máximo de informações pertinentes à doença e ao quadro clínico-funcional e, para isso, o avaliador deve saber direcionar as perguntas ao paciente. Nessa coleta de informações, é importante observar a voz, as expressões faciais do paciente, a sua capacidade de organizar as ideias, a coerência dos fatos e também a atenção e memória (ROWLAND, 1997).
Na história da doença ou moléstia atual (HMA), devemos permitir que o paciente discorra livremente sobre seus sintomas, sem interrompê-lo, tendo bastante atenção, interesse, perspicácia e paciência. A síntese do relato parte da análise minuciosa dos sintomas e fatos referidos, estabelecendo-se características, relações entre os fatos e, além disso, a ordem cronológica dos acontecimentos. As questões básicas do interrogatório cruzado são sobre o que sente, como sente, qual o local, desde quando, o que foi feito, evolução do quadro, fatores de melhora e piora, qual a frequência dos sintomas, se possui independência para higiene pessoal, locomoção, alimentação, se realiza atividade física etc. Um bom relato sobre os medicamentos é também necessário.
Além das perguntas clássicas, é importante saber a história pregressa (HP), ou seja, doenças que acometeram o paciente desde o nascimento até o dia da avaliação. A história familiar (HF) é outro item que se refere à existência de antecedentes familiares ou hereditários com doenças, principalmente semelhantes à do paciente. Vale lembrar que seria desnecessário em um paciente que sofreu lesões traumáticas. É importante investigar o fator que mais o incomoda, suas maiores ansiedades e angústias, o que chamamos de queixa principal (QP).
Por fim, é interessante um levantamento da função diária (AVDs), conhecer aspectos sociais, emocionais, hábitos e vícios, habitação, transporte e profissão. Assim, torna-se essencial o registro de todos os dados obtidos com o discurso do paciente. É importante registrar a data da anamnese para permitir o conhecimento da doença no contexto atual e para se fazer um comparativo entre reavaliações periódicas.