Minha avó e seus mistérios: Memórias inspirativas
De Frei Betto
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Sobre este e-book
Em Minha avó e seus mistérios, Frei Betto move-se simultaneamente pelo campo da ficção e da não ficção, pois, ao evocar as lições de vida de sua avó Maria Zina – uma vovó de verdade, de carne e osso –, ele o faz com um lirismo especial, com toques de realismo fantástico. Isso faz com que o livro possa ser lido em dois registros diferentes: como uma obra de entretenimento, a louvação do neto à avó amada, ou como um manual do bem-viver, já que os conselhos de Dona Maria Zina são tão originais quanto úteis e valiosos, muito embora sejam frequentemente temperados com um humor todo especial.
Uma leitura tão encantadora quanto comovente, tanto para netos quanto para avós, e para filhos e pais também, e irmãos, primos, tios e sobrinhos... Para toda a família, enfim.
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Minha avó e seus mistérios - Frei Betto
Ao Nando (Luiz Fernando Libanio Christo),
meu irmão.
ÍNDICE
Para pular o Sumário, clique aqui.
Desapego
O que há de mais pesado
A cabeça pensa onde os pés pisam
Formigas
Na morte, sonho vira realidade
Medo, fruto da insegurança
Tudo a seu tempo
Amor
Amor não tem valor de mercado
Vida, um novelo de lã
Ensinar
Corpo de baile
Alívio do coração
Idade
Deus
O percurso da luz
Viagem ao interior de si mesma
Namoro divino
Vida inteligente
Gente é só fragrância
Homem
Sacola
Felicidade
Terra adoentada
À mesa
Terapia
Filosofia e ciência
Símbolo
Projeto
A palavra alpendre
Pontos de luz recheados de mel
Bondade
Poder
Trem voador
Navio
Ovo é o que há de mais perfeito
Criação
Criatividade
Trago em mim um quinteto
Mãos servem para acarinhar
Vôlei é puro balé
Amizades
Amigos ricos
A verdade se desdobra no tempo
Amigos importantes
O verdadeiro amigo
Caráter
Precauções
(Des)confiança
Despojamento
Comer, ato holístico
Hermafroditização geral
Circo
Matrioska
Cavalo de São Jorge
Um Carnaval que nunca cesse
Obras de Frei Betto
DESAPEGO
Minha avó, Maria Zina, conhecia todos os mistérios. E muitas histórias. Ao terminar o pré-universitário na cidade provinciana em que nasci e cresci, morei com ela na capital. Enviuvara havia pouco.
Miúda, levemente encurvada para frente, agradava pelo timbre jovial. Tinha olhos miúdos e brilhantes, voz pausada e suave. Movia-se apoiada na bengala. Ao cair da tarde, no sobrado em que morava, todo adornado de azulejos portugueses, ficávamos a sós na varanda. Ela a ler os clássicos do século dezenove ou a tricotar como se suas mãos pequenas e ágeis brincassem de esgrima com as longas agulhas; eu, entretido com um livro.
Minha avó era toda estranhamentos. Mirava as coisas de soslaio com seus olhos turquesa. Dizia que a vida não cabe na sintaxe, embola o raciocínio, e se embriaga quando despida de preconceitos e vestida de beleza.
Falava sempre como quem sonha. Não um falar de palavras, mas de quem enxágua emoções, dependura ideias no varal da razão e deixa secar ao sol do saber. Um falar sussurrante, como se guardasse muitos segredos e fingisse nada saber. Parecia formiga parada no meio da trilha, nem pra frente nem pra trás, ao se dar conta de que é observada e não é boba de revelar o rumo que segue.
Um dia, julguei seu silêncio resultado de tristeza. Ela reagiu:
– Tristeza não é desalento da alma, é duende maligno que ataca ao encontrar aberta a porta do desgostar de si mesmo. Remédio é recolher-se no silêncio e desamarrar um por um os cadarços do egoísmo, até os pés poderem andar na direção do outro.
Fechou os olhos, descansou mãos e agulhas sobre o colo, fez uma pausa pensativa. O rosto refletia paz. Em seguida, completou:
– Tristeza é quando a alma enruga. De tão apertadinha, provoca dor. Mas se abanada pelo desapego, logo desgruda e o coração se infla de imponderável. O segredo da felicidade é o desapego – às pessoas, às coisas, a si mesmo. Quem menos se apega, menos sofre. Só o que está dentro traz felicidade. O que está fora traz algum prazer e muita ilusão.
E ponderou:
– Dor é uma coisa; sofrimento, outra. A dor tem cura – quando a ela se imprime sentido. Sofrimento é dor carente de sentido; subverte a razão e embaralha a emoção. Todo sofrimento nasce do apego à autoestima, ao dinheiro, aos afetos coletados, aos bens acumulados. Quer ser feliz, filho, desapegue-se! E guarde a lição: o que não vem pelo amor vem pela dor.
O QUE HÁ DE MAIS PESADO
Não era de muito falar. Entretinha-se em si mesma, encolhida sobre o próprio ventre, qual tartaruga recolhida ao casco. Ao levantar o rosto e destampar a boca, havia de se aproveitar:
– E vaidade, vó?
– É quando se trepa no próprio ego e fica desmedido lá em cima, com os pés descolados do chão e a cabeça nas nuvens.
– E orgulho?
– Sofrer indigestão de engulho.
– E mágoa?
– Afogar-se no coração.
Antes de se recolher de novo ao silêncio e retomar as agulhas, observou:
– O que há de mais pesado, filho, é o eu. Chega a nos esmagar.
A CABEÇA PENSA
ONDE OS PÉS PISAM
Minha avó tinha cabelos anelados, muito brancos, presos em coque. A pele de boa textura lembrava amêndoa; e o rosto ovalado ainda exibia frescor, apesar das rugas. Dizia que sabedoria é pensar com os pés:
– Cabeça gosta mesmo é de sonhar, mas os pés tecem em passos a existência. Do modo que se pisa, se vive. O rumo dos passos define o da vida. Por isso, o que há de mais importante em nossos trajes são os sapatos. Quer conhecer a filosofia de vida de alguém? Observe-lhe os sapatos.
E acrescentou:
– Quem se cansa de andar encurta a vida; quem prossegue, afasta a morte para depois. A velhice começa pelas pernas, filho. Toda a existência é um caminhar constante. Mesmo para quem se julga parado. Este é como o passageiro sentado no ônibus. Imóvel, observa a paisagem pela janela. Porém, a vida o conduz; possivelmente, a destino imprevisível. Melhor é ter em mente o destino a ser alcançado. Assim fica mais fácil traçar o mapa da caminhada.
E disse ainda:
– Mas há quem se perca, seduzido pelos atrativos do caminho. Há quem se canse e