Um coração singelo
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Sobre este e-book
Em estilo realista, perpassado de pungente ironia, Um coração singelo denuncia a trágica cegueira dos homens perante a verdadeira natureza das coisas. É a história de Felicidade, uma mulher que, dotada dos mais puros, inocentes e singelos sentimentos, teve a mais infeliz das existências.
No texto de apresentação, Sabino oferece ao leitor uma pequena introdução à vida e à obra de Flaubert. Já o ator e tradutor Luís de Lima consegue transmitir de maneira exemplar a expressividade original do escritor francês, conduzindo com exatidão o clima da história e descobrindo a palavra justa a cada linha, preocupação maior de Flaubert em sua busca pela perfeição. Um coração singelo é uma das mais refinadas realizações literárias do célebre autor de Madame Bovary.
Gustave Flaubert
Gustave Flaubert (1821–1880) was a French novelist who was best known for exploring realism in his work. Hailing from an upper-class family, Flaubert was exposed to literature at an early age. He received a formal education at Lycée Pierre-Corneille, before venturing to Paris to study law. A serious illness forced him to change his career path, reigniting his passion for writing. He completed his first novella, November, in 1842, launching a decade-spanning career. His most notable work, Madame Bovary was published in 1856 and is considered a literary masterpiece.
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Um coração singelo - Gustave Flaubert
SINGELO
1
Durante meio século, as burguesas de Pont-l’Évêque invejaram a Sra. Aubain por causa de sua criada Felicidade.
Por cem francos ao ano, ela cozinhava e fazia a limpeza da casa, cosia, lavava, passava a ferro; sabia enfrear um cavalo, engordar as aves, bater manteiga, e permaneceu fiel à sua patroa – que, no entanto, não era pessoa agradável.
Esta desposara um belo moço sem recursos, que morrera no começo do ano de 1809, deixando-lhe dois filhos muito novos e algumas dívidas. Vendeu, então, os imóveis, exceto a fazenda de Toucques e a de Geffosses, cujas rendas iam, quando muito, a 5.000 francos, e deixou sua casa de Saint-Melaine, mudando-se para outra menos dispendiosa, que pertencera a seus parentes, situada atrás do mercado.
Esta casa, revestida de ardósias, ficava entre uma travessa e uma ruela confinada com o rio. No interior dela havia diferenças de nível que faziam tropeçar. Um estreito vestíbulo separava a cozinha da sala onde a Sra. Aubain passava o dia inteiro, sentada à janela, numa poltrona de palhinha. Junto aos lambris, pintados de branco, alinhavam-se oito cadeiras de mogno. Um velho piano suportava, sob um barômetro, uma pilha piramidal de caixinhas e de cartões. Duas poltronas de tapeçaria, estilo Luís XV, flanqueavam a lareira de mármore amarelo. Ao centro, o relógio de pêndulo representava um templo de Vesta – e o aposento todo cheirava um pouco a mofo, pois o soalho ficava em nível mais baixo que o jardim.
No andar térreo encontrava-se primeiramente o quarto da senhora, muito amplo, forrado com papel de flores pálidas, e no qual se via o retrato do senhor em traje de janota. Comunicava-se com um quarto menor, onde havia duas caminhas de criança, sem colchões. A seguir vinha o salão, sempre fechado, e repleto de móveis cobertos com pano. Depois, um corredor dava para um escritório; livros e papelada guarneciam as prateleiras de uma biblioteca, que rodeava, pelos seus três lados, uma grande escrivaninha de madeira preta. Os dois painéis em relevo desapareciam sob desenhos a bico de pena, guaches representando paisagens, e gravuras de Audran, lembranças de tempos melhores e de um luxo exaurido. No segundo andar, uma claraboia alumiava o quarto de Felicidade, dando vista para os campos.
Ela se levantava logo ao alvorecer, para não perder a missa, e trabalhava sem descanso até à noite; depois, terminado o jantar, a louça em ordem e a porta bem fechada, escondia a acha de lenha sob as cinzas e adormecia em frente à lareira, com o rosário na mão. Ninguém se mostrava mais obstinado no regatear. Quanto ao asseio, o polimento de suas caçarolas deixava desesperadas as outras criadas. Poupada, ela comia devagar, e com o dedo juntava, na mesa, as migalhas do seu pão – um pão de quase seis quilos, cozido só para ela, e que durava vinte dias.
Em todas as estações do ano usava um lenço de chita preso às costas por um alfinete, uma touca a ocultar-lhe os cabelos, meias cinzentas, um saiote vermelho, e por cima da blusa um avental com babador como as enfermeiras de