Livro para Ler: Crônicas de uma Livraria

De Cris Danois

Conforme diz Fernando Pessoa: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", nasceu a minha livraria, não exatamente como eu havia idealizado, mas o mais próximo possível. E a realidade se apresentou nua e crua desde o início do nascimento deste negócio, de uma forma inesperada, inaudita, imprevista, fora das expectativas, difícil até. Depois de enfim aberta, o público adentrou e é exatamente neste ponto que começam as pequenas histórias deste livro - mini contos, crônicas, reflexões - do tempo em que consegui permanecer com as portas abertas e que durou 5 anos. Do cômico ao trágico, do inusitado ao previsível, de tudo eu vi, vivi e aprendi nesse tempo/espaço criado pelos meus desejos e sonhos.

Em Livro para Ler : Crônicas de uma Livraria Cris Danois mostra mais uma das facetas da autora que agora nos brinda com outra obra extraordinária, transformando o cotidiano monótono em situações pitorescas e divertidas que levarão o leitor a refletir sobre a importância da cultura e da literatura em nosso vidas.

• Idioma: Português
• Editora: Cris Danois
• Data de lançamento: 31 de mai. de 2020
• ISBN: 9781005933128

Cris Danois

Cris Danois é escritora, poeta, artista, filosofa, revisora, faixa preta de Aikido, mestre em PNL, coach, empresária, mãe e sobre tudo humana. Doutora em letras e doutora em filosofia pela UFRJ,já escreveu sobre o trágico, a consciência, a ética, Hegel, o aikido e sobre outros tantos assuntos que permeiam o universo do humano. Lecionou literatura, filosofia, arte, Aikido, conquistou prêmios literários, organizou saraus,encontros e feiras de livro, foi proprietária de uma livraria; possui um vasta obra ainda em pleno desenvolivimento com várias obras inéditas. Como artista plástica ilustrou quadrinhos e obras de vários autores, além das suas próprias, além de desenhar e "aquarelar" frequentemente. Em seu site crisdanois.com e nas paginas das rede sociais pode-se acompanhar seu blog, seus ensinamentos e parte de seu trabalho. Pode ser contactada através do e-mail:[e-mail]

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Livro para Ler:

Crônicas de uma livraria

By Cris Danois

Clique ou visite: crisdanois.com

Do cômico ao trágico, do inusitado ao previsível, de tudo eu vi, vivi e aprendi nesse tempo/espaço criado pelos meus desejos e sonhos.

Copyright © 2020 by Cris Danois

Texto, Capa e Fotos por Cris Danois

Todos os direitos reservados à autora

CIP- Brasil

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C167

Danois, Cris.

Livro para ler: Crônicas de uma livraria. / Cris Danois. – 1 ed. – Nova Petrópolis: RS – 2020. 134 p.(físico)

ISBN: 9798650087557

Formato: epub

Requisitos do sistema:programa ou dispositivo leitor de livro em formato digital

Modo de acesso:

1.Literatura; 2. Literatura Brasileira; 3. Crônicas; 4. Crônicas Brasileira;I. Título; II. Cris Danois

CDD 800 – B869.1

CDU 82 – 1/49

Prefácio

Há tempos que sonhava em ter uma livraria. Sempre frequentei bibliotecas e livrarias e amava não só andar entre os livros. Gostava de andar pelas estantes vendo as novidades e os clássicos, principalmente de literatura. Depois comecei a namorar com os títulos de filosofia, política, história. Conforme ia estudando e lendo, o leque se abria. Cheguei a sofrer da angústia de Fausto que vem da sede de saber, de conhecer, de ler tudo, de saber tudo. Não para alcançar poder sobre os outros ou sobre o mundo, mas particular e especialmente poder sobre mim mesma, minha vida, já que nunca fui convencida por um destino pré-determinado.

Algumas vezes sonhei dormir em bibliotecas. Imaginei-me algumas vezes me escondendo em algumas delas como a Biblioteca Nacional e à noite vasculhar seu imenso acervo, olhar as obras raras, descobrir o que não se partilha com o público; enfim, passar uma noite entregue a esse outro universo não tão paralelo ao nosso mas aparentemente inacessível. Mais tarde, minha imaginação criou asas e sonhei entrar em outras bibliotecas do mundo. A do Vaticano foi uma das que mais me tentou com seus segredos políticos e religiosos. Por que não partilhar todos os textos, documentos e verdades ali encerrados? Que medo é esse que paira na cabeça de alguns homens? Ou não seria medo mas excesso de poder…

Na minha primeira pós-graduação em lato sensu, não conseguia terminar minha dissertação de Mestrado. Havia devorado livros e livros , lido romances e textos históricos aos montes, devorava dia e noite teorias em busca da linha tênue entre o real e imaginário no discurso dos homens. O prazo estava curto, o tempo passava inexoravelmente e eu ainda trabalhava, mas era como se eu vivesse dividida. Uma parte de mim vivia - dava aulas, comia, conversava, andava pra lá e pra cá, resolvia problemas do mundo - e outra parte cismava o tempo todo em busca de uma solução. Certa noite, meditei depois de horas a fio de estudo e tentativa de chegar a alguma conclusão, e acabei dormindo. Então sonhei que entrava numa biblioteca. Aos pouco reconheci o que parecia ser , com quase toda a certeza, o Real Gabinete Português de Leitura. Em cima de uma das mesas, vi dois livros que tratavam da estrutura e da história do desenvolvimento do romance ocidental. Folheei ao acaso, anotei os nomes numa espécie de papel (impressionante como em sonhos tudo aparece na sua mão quando se precisa!) e entrei um pouco mais, tentando chegar às estantes.

Quando estava olhando uma delas me deparei com uma estante diferente. Na verdade, um armário com porta de vidro que permitia ler as lombadas dos livros. Percebi um título muito interessante, muito semelhante a minha dissertação. Quis abrir a porta mas estava trancada. Procurei a chave por todos os lados e não encontrava. De repente, aparece um senhor e me pergunta o que eu quero. Sem timidez, eu disse que gostaria de ter aquele livro em minhas mãos, que precisava dele com urgência. Ele olhou-me um pouco desconfiado mas com um certo ar irônico. Abriu o armário, puxou o livro e entregou-me. Deu-me alguns minutos para folheá-lo pois ele não poderia fazer aquilo.

Rapidamente, passei os olhos pelo sumário que parecia muito com a disposição dos meus capítulos já escritos e fui direto à conclusão. Não sei se li em cinco minutos ou mais, nem mesmo sei que tempo passei ali, mas li o suficiente para aclarar minhas dúvidas e resolver as questão da minha proposta dissertativa.

Quando acordei, parecia Euclides saindo do banho! Eufórica, encaminhei-me à biblioteca em questão no centro do Rio e procurei os títulos do meu sonho. Para espanto meu, os dois livros sobre a mesa existiam e estavam à disposição para empréstimo. Entretanto, o livro do tal armário de vidro não existia, embora o armário existisse na sala da funcionária que secretariava e guardava a sete chaves alguns títulos. Perguntei se havia o tal título sonhado e ela respondeu-me de pronto que com certeza, não tinha lido nada parecido. Ainda dei uma olhada de relance, e vi que faltava um livro exatamente na prateleira de onde tirei o livro em sonho. Indaguei se era possível pegar emprestado os livros daquele armário e ela me respondeu que sim, com autorização de algum membro da diretoria, o presidente ou o diretor da biblioteca ou alguém com o poder para garantir o empréstimo de obras especiais. Além do mais, precisava ser protetor da biblioteca, uma espécie de sócio.

Ainda insisti para saber se, por acaso, o livro que faltava não era o que eu achava que era. Ela pensou um pouco, hesitou, mas assertivamente confirmou que nunca tinha ouvido falar e que realmente não era esse o livro que faltava. Não insisti porém não me convenci de todo. Pensei comigo, volto outro dia e pode ser que o tal livro volte. Todavia, com um pouco mais de estratégia decidi anotar tudo quanto tinha lido e fui para casa com os dois outros livros na esperança de concluir e terminar minha dissertação. E, sim, consegui terminar a tempo com toda a ajuda das viagens oníricas que fiz pelas bibliotecas e fui muito bem sucedida na minha defesa, lembrando-me do que havia absorvido naquela noite em sonho.

Logo, minha paixão por livros e bibliotecas estendeu-se às livrarias com o intuito de, mal ou bem, ter uma biblioteca a minha mão. Afinal, o acervo à venda também estaria lá a minha disposição e não precisaria de horas específicas (nem de consumir cafés ou bolos) para permanecer lendo o que quisesse. Ademais, o acesso aos inúmeros catálogos das inúmeras editoras me encantava (parece que se aprende um pouco mais só por ler e saber dos títulos publicados). Não imaginava o que era estar a frente de um negocio desses, não tinha experiência empresarial nem administrativa, mas entendia muito de livros, autores, títulos, assuntos quase como uma bibliotecária. A ideia era gerenciar a parte que mais me afinava e deixar as contas ao meu marido ou outro que tivesse tino para os números, fossem de boletos, prazos, dias, bancos, empréstimos, impostos, enfim, alguém mais próximo à matemática da vida.

Estagiei com uma amiga que tinha uma livraria, um negócio familiar. Aprendi o metier e quase comprei a livraria dela não fosse o estado terrível em que se encontrava a parte financeira da mesma. Mas estudei métodos, planilhas, estratégias, gerenciamentos para ajudá-la e aprender mais de perto o que era ter uma livraria. Entretanto, nunca lidei com o público pois achei que seria a parte mais fácil. Sabia que me dedicaria aos livros, aos autores, aos saraus, aos encontros, às entrevistas e claro às compras dos livros para ampliar cada vez mais o acervo além de trazer tudo que estivesse relacionado à leitura e livros - capas, caderninhos/bloquinhos de notas, canetas, estantes, apoiadores para leitura, mini livros, livros presentes, cartões, além de manter um atendimento especial e personalizado com indicações, encomendas, fidelização e até mesmo orientação para leituras e presentes. Então, animei-me mais ainda. Era como criar um mundo próprio, particular, partilhado com outros mas ligado ao saber, à cultura, aos livros!