A viagem de Meteoris
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A viagem de Meteoris - Isabella Lotufo
Isabella Lotufo
Ribeirão Preto
2019
Copyright © 2019. Isabella Lotufo
Todos os direitos reservados.
É proibida a distribuição ou reprodução, total ou parcial, de qualquer parte desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, mecânico ou eletrônico, sem o consentimento por escrito das autoras. Registros de Direitos Autorais pela Biblioteca Nacional. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou acontecimentos é apenas coincidência.
Capa, ilustração da capa e ilustrações realistas: Marina Faria
Ilustrações internas e projeto gráfico: Isabella Lotufo
Apresentação: Ana Miranda
Revisão e preparação: Miriam Grisolia e Cristina Casagrande
Revisão final: Olga Capoletti
Diagramação: Luísa Aranha
Este romance segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa
para Martina e Anna
Índice
Apresentação de Ana Miranda
1. Coração apertado
2. Cintos afivelados
3. Fale que não é verdade
4. Festa estranha com bebida esquisita
5. Um encontro desagradável
6. Eu não sou um sapo
7. Viagem com três propósitos
8. A primeira hospedagem
9. Despedida inesperada
10. Como plumas ao vento
11. Constelações
12. Terra das focas
13. Uma visita apropriada
14. Nem tudo que reluz é ouro
15. Investigação
16. Quem sou eu?
17. Colar da verdade
18. Um novo amigo
19. Ops!
20. O Invisível é multidimensional
21. Nos domínios de uma mestra possessiva
22. O que a mente não lembra, o coração não sente
23. Em terra de cego quem tem olho é rei
24. Liberdade combina com amizade
25. Alma morta
26. Finalmente você apareceu nessa história!
28. Alma viva
29. Travessia
30. Um novo horizonte
31. Treino de espadas
32. Asaquadradodéltico
33. Festival astrolabático
34. Procura-se vendedor
35. Um estranho meio de transporte
36. A Casa de Sol
37. Azul marinho
38. Chapa quente
39. Árvore de cabaças
40. Reencontro
41. O segundo voo
42. Ilha dos Não Nascidos
43. Por dentro da muralha
44. Uma vida que se inicia
45. A volta para casa
Lista de nomes de personagens:
Sobre a autora
Agradeço à Ana Miranda por escrever a apresentação deste livro – significou muito para mim. À Marina Faria, que me ajudou a ilustrar o livro e transformou minhas palavras em imagens perfeitas. Ao Anderson Santos, que desde sempre acreditou no meu trabalho. Ao Kevin Mathewson, por ter traduzido este livro para o inglês. Aos professores do departamento de Escrita Criativa da Universidade de Toronto e Oxford pelas valiosas contribuições teóricas. Agradeço especialmente à Caitlin Sweet, que leu o livro todo e me guiou com o seu conhecimento. Ao Nick Bewick, pelas aulas. À Cristina Casagrande, pela amizade e contribuição editorial. Ao Leontino Balbo, que me encheu de conhecimento e me inspirou a escrever o final desta história. À Lilian Jacoto, Roberta Ferraz, Daniela Galanti, Ana Rusche, Thiago Livon, Diana Nunes, Maria Eduarda Balbo, Fabio Lotufo, Mariana Whately, Bernadete Amêndola, Eduarda Azevedo, Fernando Del Vecchio, Maria Betania Ometto, Maria Eduarda Ometto, João Rodarte, Aline dos Reis, Elisa Costa, Sylvia Mello Baptista, Geraldo Silva Neto, Lucas Busatto, Camila Balbo, Mariana Lotufo, Mario Lotufo, Odila Ometto e a todos os leitores críticos dessa obra – vocês realmente me incentivaram a continuar. Ao meu marido Fernando, pelo nosso amor. Aos meus pais, Fabio e Odila, por terem me dado condições para criar. E a todos os que estiveram comigo nesse caminho – sem vocês, eu nunca teria conseguido.
Os Dragões da Sorte são os animais mais raros de Fantasia. Não se parecem com os dragões vulgares, que se assemelham a serpentes monstruosas, habitam cavernas profundas, espalham um cheiro pestilento à sua volta e guardam tesouros reais ou imaginários. Essas criaturas do caos são quase sempre perversas ou insociáveis, têm asas de morcego que lhes permitem elevar-se nos ares com grande ruído e cospem fumo e fogo. Os Dragões da Sorte, pelo contrário, são criaturas do ar e do bom tempo, de uma alegria incontida e, apesar do seu colossal tamanho, são leves como uma nuvenzinha de verão. Por isso, não precisam de asas para voar. Nadam pelos ares do céu como peixes na água. Vistos da Terra, parecem lentos relâmpagos. Mas sua característica mais maravilhosa é o seu canto. Sua voz parece o alegre repicar de um grande sino e, quando falam baixinho, é como se se ouvisse um sino repicando à distância. Quem ouve alguma vez esse canto nunca mais o esquece e continua falar nisso aos seus netos.
(Michael Ende, A História Sem Fim)
Apresentação de Ana Miranda
Fortaleza, 31 de agosto de 2019
Amo este livro! De uma delicadeza sublime.
Ele torna mais leve a alma da criança que o lê, do adolescente, do adulto que guarda em si a juventude e a infância. Plumas ao vento. Aqui, Isabella Lotufo nos leva por uma viagem feita de surpresas, sentimentos, poesia. Vamos guiados por Meteóris, uma menina corajosa, observadora, cheia de curiosidade, inquieta, mas doce e um pouco distraída. Seu nome significa estrela cadente
, ou estrela com cabelos.
A viagem começa com um mapa.
E esse mapa faz promessas encantadoras de aventuras em um novo território. Nessa esfera um imenso continente das Artes é unido a um enorme continente da Natureza. Há o arquipélago da Paz, que fica no Mar Moroso. O continente do Invisível, no Mar Algoz. O continente da Astromagia, no Mar Atormentado. E, por perto, as ilhas dos Não-Nascidos. Há Desmemória, Atemporal, Temporal. Obviamente, a linha que separa os hemisférios se chama Linha de Tonto. São alegorias profundas que criam um mundo simples, com lógica, realidade e disciplina. Formam Domus, que é ao mesmo tempo um planeta imaginário e uma cartografia da alma de Isabella. É para Domus que somos levados.
Estamos, então, em outro tempo.
Novos lugares de fantasia, mas quase tudo é feito de nomes e coisas que conhecemos – tapete roxo, sonho, flor, escorpião, piano, montanha, goiaba, ovos de pássaros – e assim não nos sentimos perdidos nessa odisseia atual. Mas, também, aparecem elementos desconhecidos, ou que conhecemos apenas levemente, ou que nos fazem recordar ficções do futuro: audiobússola, pessoa que aparece em holograma, microsseringa, filtros, metamorfoses, telepatia, contatos extradômicos.
É uma viagem por um mundo de fantasia.
Com a plenitude da imaginação. E a imaginação é mais importante que o conhecimento, dizia Einstein, o físico genial que descobriu a relatividade do mundo ao olhar pela janela do ônibus em movimento e ver o movimento de um relógio na torre da cidade, a marcar o tempo. E com aqueles dados ele imaginou, e mudou o mundo.
Devemos exercitar a imaginação.
Precisamos dela. A imaginação vai além do saber e da cultura. Ela amplia a nossa mente. As decisões da vida são baseadas em um imaginário, já que é impossível saber o futuro. E as escolhas fundadas no imaginário tornam mais intensa a procura da felicidade e dos bons resultados. As mentes que mais exercitam a imaginação são possantes e valiosas. E nesta aventura da menina Meteóris cada leitor vai exercitar a sua imaginação, seja uma criança, um jovem ou um adulto.
Viajar é maravilhoso, sem sair do lugar.
E aqui vamos para recantos possíveis e impossíveis, passeamos por diferentes camadas da realidade, por mundos invisíveis, translúcidos, quando temos asas como num primeiro voo, quando os nossos pés andam numa travessia, sem que saibamos para onde vão. Um novo horizonte. Brincamos aqui com os contos de fadas, flores de adivinhação, jogos de metamorfoses e libertação, porque, como na nossa vida real, em Domus tudo se transforma.
Mas em Domus sabemos em que nos transformamos.
Em Domus conhecemos o mistério de nossa face interior. Mãe é transformada em árvore, Nastar em cavalo, Adamanto em lobo... Os elementos são constelações de significados atados por fios invisíveis, mas pressentidos, tirados parece que de uma fonte límpida, de filtros misteriosos, memórias perdidas. Palavras do nosso dia a dia são aqui recordadas como sons muito antigos.
As palavras, as frases neste livro são cristalinas.
E a linguagem tem a beleza da usina de fadas. Parece que flutuamos num mar de expressões recolhidas em um jardim repleto de flores mágicas. A busca da agnus-casta. É pelo encantamento de sua fala que Meteóris nos atrai, e não abandonamos a leitura, não esquecemos os personagens. Pelo encantamento da imaginação de Isabella.
Os personagens são feitos de mitos e de verdades.
São acessíveis, adoráveis, mesmo os malvados. O mal é inofensivo, o bem é preservado sob uma aura cintilante. Alguns personagens são simples crianças de nosso cotidiano, como Meteóris e Mércule. Outros são feitos de fantasia, às vezes de inspiração nos mitos, como as selkies, seres que vivem sete anos na terra e sete nas águas do mar, em forma de focas. Dragões alegres cantam, relampejam no céu, sem asas. Grifos, basiliscos, Cetus. Há ecos de mitologia grega, romana, indígena, de bestiários europeus, das lendas clássicas. Mas há aqui uma mitologia de Isabella, fundada em um sistema de cores e mutações.
Todos os personagens têm sua alma-cromo.
E têm um coração que brilha em cores significando sentimentos. Em Domus podemos saber os verdadeiros sentimentos pela cor do coração, e podemos saber a verdade e a mentira pelo colar que muda de cor: vermelho quando a pessoa diz a verdade, branco quando diz uma mentira, ou algo que não está de acordo com a realidade. Ou seria o contrário?
Que desenhos extraordinariamente simples e bonitos!
Os desenhos feitos por Meteóris, na verdade por Isabella, criam uma nova dimensão da viagem. Uma tocante trama sensorial se dirige diretamente ao coraçãozinho das crianças, à pureza das crianças, tal a candura das linhas e das imagens. Livro muito bom para sonharmos. E Isabella dá bons conselhos: Escreva. Escreva. Escreva. Tudo
. E leia. Ler é o único jeito de não enlouquecer quando se atravessa os bosques.
Cintos afivelados, vamos lá!
Querido Ágathus,
Eis a história da minha viagem.
Espero que ame e se divirta.
ARTES
Deixe sempre atado o cordão que liga dois corações
1. Coração apertado
Em casa meu pai andava para lá e para cá com plantas de arquitetura enroladas embaixo do braço, pensando e fumando, porque sempre pensava e fumava, mesmo quando não estava tendo grandes ideias. Ele vestia roupas pretas e largas que o deixavam mais alto e mais magro do que já era. Minha mãe, gorda, de olhos amendoados e cabelos compridos, estava, como sempre, vestida com plumas e paetês, praticando canto em frente ao piano da sala.
Ninguém notou quando eu cheguei. Fui até o meu quarto, deixei a mala da escola e o totem em cima da cama. Quem ganhava um ovo de avestruz com casca de cristal como totem mágico? Só eu mesmo. Peguei