Vendo a vida com as mãos
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Sobre este e-book
Vendo a vida com as mãos te proporciona exatamente isso. Com uma escrita simples mas tocante à alma, Luis Gabriel Sousa apresenta de maneira leve e cheia de catarse, microcontos baseados em histórias reais, elevando realidade e literatura a um só plano.
É um livro para leitores de todas as idades. O leitor aprenderá a ver o mundo com a sensibilidade do tato; expandindo seus horizontes, rememorando as histórias dos outros e de inúmeras outras ocorridas consigo. É a mistura do riso e do choro; a sensação do "puxa, já acabou?" Quando terminar a leitura você vai amar e ansiar por mais!
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Vendo a vida com as mãos - Luis Gabriel Sousa
Apresentação
Há dois momentos em que sinto a vida: o primeiro quando viajo, porque conheço a superficialidade do mundo e a exterioridade das pessoas; o segundo quando escrevo, porque conheço o que há de mais profundo em mim.
Quando comecei a escrever, a ideia inicial foi resgatar as memórias das pessoas. Recordações boas, saudáveis e puras; quase sempre vividas na ingenuidade infantil. Recebi retorno positivo através do meu primeiro livro Deixa que eu Conto e foi gratificante.
Em Brasília, no dia 9/5/2015, lancei o livro para os que lá vivem. Porém, uma leitora já conhecia meus contos e microcontos antes de chegar oficialmente à Capital, Raquel, professora que leciona numa escola pública em Santa Maria/DF.
A inspiração vem daí, dela. A cada aula, a professora lê um microconto para seus alunos de 10 anos, antes de dar início às atividades obrigatórias. As crianças ficam encantadas e, pelo jeito, estão adorando cada leitura.
Eis que surge meu presente: Raissa enxerga a vida com as mãos e lê pela voz de alguém. Ao ouvir os microcontos contados por Raquel, ela se apaixonou pelo escritor, eu, que até então nunca tinha ouvido falar na vida.
Sabendo que teria o lançamento em Brasília, Raquel presenteou-me levando a minha leitora de dedos
para conhecer-me. Não foi ela quem ganhou o presente em me ver e poder levar meu livro autografado, ainda que ela não pudesse vê-lo, para casa. Fui eu que ganhei este presente.
Cheguei perto dela. Trajada com um vestido lindo e um sorriso encantador, segurei sua mão e me apresentei. Ela se emocionou; tremia e estava com as mãos geladas. Não consigo descrever até agora o que eu senti.
Seu primeiro pedido foi perguntar se podia me tocar. Claro que permiti. Com os dedos, caminhou seu olhar sobre meu rosto, tocando delicadamente cada detalhe que pra ela seria importante. Elogiou-me e sorriu dizendo que adorou as minhas histórias.
Tímida, não sabia dizer qual foi seu conto favorito. Respeitei e não insisti. Agradeci, deu um abraço apertado e fui sentar à mesa para atender aos demais leitores, não menos importantes, que estavam presentes.
Olhei para a fila que havia se formado para cumprimentar-me e lá estava ela. Quando a vi esperado para me reencontrar novamente, agora no momento oficial, tentei segurar minha emoção e não externar minha gratidão à vida por vivenciar aquele momento.
Ela sentou, abraçou-me e conversamos mais um pouco. Tentando ser calmo e tremer menos do que ela, agradeci pela presença e por ensinar-me a ver a vida com os detalhes que esta nos oferece.
Escrever pode ser o caminho que consegui para mostrar, a quem não pode ver, que a vida pode ser mais colorida e vívida do que imaginamos. Creio que o objetivo de expor a leitura como boa e prazerosa está começando a chegar às pessoas.
Obrigado, Raissa, pelo carinho, por emocionar-me e, principalmente, por me fazer enxergar a vida como palpável. Você marcou minha história, deu-me ânimo para continuar e esperança no ser humano. Este livro, escrito com histórias minhas e tantas outras compartilhadas por leitores, que enviaram seus relatos durante os últimos anos para virarem microcontos, é dedicado a você!
Microcontos
Vendo a vida com as mãos
Nasci no escuro. Assim permaneço até hoje, vendo a vida com as mãos. Conheci gente que nunca vou ver, mas sei perfeitamente cada traço e curva do rosto. Lia ouvindo muitas histórias, mas hoje consigo ler com as mãos também. Se enxergo? Sim, eu enxergo com a sensibilidade do tato, com a visão detalhista que o mundo não vê. Vejo com as mãos sem nunca ter usado os olhos, enquanto o mundo se cega aos poucos, mas porque ele quer! (Baseado na leitora de Santa Maria/DF, Raissa)
O telefone tocou e recebi a notícia que esperava por alguns anos. Meu avô tinha falecido. Por mais que eu estivesse preparado para receber a notícia, ainda assim, não sabia como era ficar sem ir ao hospital, diariamente, para visitar e cuidar dele. Foi como se tivessem mudado uma página da minha vida e me jogado na folha seguinte, em branco, na qual teria que ser o autor dos meus próprios relatos. Já escrevi e apaguei algumas vezes, não saio do lugar, não preencho as linhas. É ímprobo escrever uma vida tirando os personagens principais da história. (baseado na história do leitor de Santa Maria/RS, John Rieger).
Eu tava com a bolsa quase vazia. Eu disse quase! Tirei o celular, chaves, tudo quanto era metal e coloquei na caixinha. Parei em frente à porta, respirei fundo e dei dois passos adiante. Barrada! O segurança do banco pediu para tirar tudo o que fosse metálico de dentro da bolsa. Obedeci! Marmita, garfo e faca. Tirei até as minhas havaianas remendadas com prego. Mas entrei. Entrei bem linda, de cabeça levantada e dignidade inabalada. Se serve como dica: quando for ao banco, vá nua, quem sabe não seja mais fácil entrar sensualizando! (baseado em Maria Fernanda – Gama/DF)
Sentei na cadeira e o cabeleireiro começou o corte. Três tesouradas e já sabia que ia ser difícil controlar a euforia. No rádio tocava Sandy & Júnior, Imortal. Fiquei doido; não sabia se me segurava ou