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Narrar, ser mãe, ser pai & outros ensaios sobre a parentalidade
Narrar, ser mãe, ser pai & outros ensaios sobre a parentalidade
Narrar, ser mãe, ser pai & outros ensaios sobre a parentalidade
E-book235 páginas5 horas

Narrar, ser mãe, ser pai & outros ensaios sobre a parentalidade

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Sobre este e-book

Narrar, ser mãe, ser pai, de Celso Gutfreind, analisa o processo psicológico de se tornar mãe e pai ― a parentalidade ―, ao sublinhar a importância do aspecto narrativo. Para o autor, não há pais à vontade se não contarem histórias: as suas próprias, de preferência, ou as alheias que, ao serem escolhidas, também lhes dizem respeito. Segundo Gutfreind, "narrar é mais que um instrumento que colabora no processo de parentalidade: é indispensável, confunde-se com ele". Assim, encontros em torno de histórias são sagrados. Isso inclui qualquer narrativa, como contos, cantos, relatos de vida. Conversa-fiada. Qualquer trama que faça a ponte entre pais e filhos, e promova essa interação com gesto, toque e olhar.
IdiomaPortuguês
EditoraDifel
Data de lançamento14 de jun. de 2021
ISBN9788574321561
Narrar, ser mãe, ser pai & outros ensaios sobre a parentalidade

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    Narrar, ser mãe, ser pai & outros ensaios sobre a parentalidade - Celso Gutfreind

    Editoração da versão impressa: DFL

    Texto revisado segundo o novo

    Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

    2010

    Produzido no Brasil

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    Gutfreind, Celso

    G993n

    Narrar, ser mãe, ser pai [recurso eletrônico] / Celso Gutfreind. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Difel, 2021.

    recurso digital

    Formato: epub

    Requisitos do sistema: adobe digital editions

    Modo de acesso: world wide web

    ISBN 978-85-7432-156-1 (recurso eletrônico)

    1. Parentalidade. 2. Pais e filhos. 3. Educação de crianças. 4. Livros eletrônicos. I. Título.

    21-71338

    CDD: 649.1

    CDU: 649.1

    Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439

    Todos os direitos reservados pela:

    DIFEL – selo editorial da

    EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA.

    Rua Argentina, 171 – 2o andar – São Cristóvão 20921-380 – Rio de Janeiro – RJ

    Tel.: (0xx21) 2585-2070 – Fax: (0xx21) 2585-2087

    Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, por quaisquer meios, sem a prévia autorização por escrito da Editora.

    Atendimento e venda direta ao leitor: mdireto@record.com.br ou (21) 2585-2002

    A Frederico Seewald, Júlio Campos, Nara Caron, Salvador Célia e Victor Guerra, que estudam, com poesia e coragem, as profundezas do começo.

    A Cristiane, e a Mariana, nossa filha.

    Sumário

    Prefácio • A Arte de Xerazade

    Introdução

    Capítulo 1 • Narrar, ser mãe, ser pai

    Capítulo 2 • Parentalidade e literatura infantil — pequenas imaginações de um Grande Príncipe

    Capítulo 3 • Alice no — às vezes — maravilhoso país da parentalidade

    Capítulo 4 • Parentalidade e prosa — Do caso à obra: Por que sou gorda, mamãe?

    Capítulo 5 • Parentalidade e exclusão: o caso de Anne Frank

    Capítulo 6 • Parentalidade e poesia: Meu filho, minha filha

    Capítulo 7 • O cinema e O peixe grande

    Capítulo 8 • Parentalidade, criatividade e psicoterapia infantil

    Capítulo 9 • Parentalidade e cultura

    Capítulo 10 • Parentalidade e escola: notas de um psicanalista oftalmologista

    Capítulo 11 • Parentalidade, maus-tratos e a reconstrução de uma história

    Capítulo 12 • A parentalidade, o bem ou o mal?

    Conclusão

    Referências bibliográficas

    Prefácio

    A Arte de Xerazade

    O livro As mil e uma noites é uma coleção de histórias, um mosaico de sabedoria e um retrato das paixões humanas, mas há uma história central que costura todas as outras: nessa história, uma mulher desafia e vence a morte somente com palavras.

    Um príncipe, chamado Xeriar, sofre uma forte desilusão amorosa. Sua mulher o trai com os escravos, sempre que ele se ausenta do palácio. Quando descobre, ele a mata, e depois, deprimido, vai visitar o irmão. Seu mau humor melhora somente quando descobre que o irmão, um soberano ainda mais poderoso do que ele, não tem tratamento melhor por parte das mulheres. A esposa do irmão também o trai. Os dois, irmanados na dor, saem a caminhar pelo mundo, em busca de alguém que seja ainda mais desgraçado do que eles.

    A sorte, que não os ajudara até então, vem agora em seu auxílio. Tão logo iniciam o percurso, eles observam de longe um Ifrite, que é uma espécie de demônio, ser maléfico inimigo da raça humana, com sua mulher. Depois sabemos que a belíssima esposa do monstro era uma noiva raptada no altar. O Ifrite não percebe a presença deles, mas a mulher sim; ela os chama e aproveita que o marido está descansando para traí-lo com ambos. Para tanto, chantageia os irmãos: ou eles se deitam com ela, ou ela acorda o marido e ele os mata. Sem saída, os dois fazem o que ela manda. Ela pede ainda seus anéis como lembrança do momento. Enquanto ela guarda os anéis, eles percebem a infinidade de anéis que ela já possui, fruto de múltiplas traições.

    Os irmãos tomam essa experiência como uma lição: todas as mulheres são pérfidas, e o amor e a fidelidade não existem. Nem mesmo os demônios, seres poderosos, estão a salvo. A partir desse dia, Xeriar resolve que vai se casar todos os dias e matar a mulher após a noite de núpcias. Essa seria a única segurança de que não viria a ser traído. É nesse contexto que Xerazade, a filha do vizir, desafia a morte. Empenhada em suspender esse massacre sistemático, ela se casa com Xeriar e começa a lhe contar uma história que emenda em outra história e que praticamente não tem fim. Curioso e encantado pela narrativa, ele vai adiando a morte de Xerazade. Contando um conto e acrescentando dias à sua vida, ao cabo de mil e uma noites ela dobra o coração do marido. Não haverá mais mortes, ele está curado de sua dor e voltou a acreditar no amor.

    A história de Xerazade é a de uma narração bem-sucedida. Frente ao desafio maior que é a melancolia de Xeriar, afinal, ele nunca se recuperara do amor perdido de sua primeira esposa, ela conta histórias que abrem um caminho nessa alma endurecida, devolvendo a ele uma confiança básica e a alegria de viver.

    Essa história nos toca porque, de certa forma, é a de todos nós. Todos tivemos uma grande decepção amorosa com a nossa mãe. Um dia, descobrimos que ela não é só para nós, outras pessoas e interesses povoam sua vida, e é bem duro saber disso. Não é exclusivamente a nossa presença que a preenche e a faz feliz. Mas é essa mesma voz feminina que vai nos restituir a confiança nesse amor que perdemos. Toda mãe é, de certa forma, uma Xerazade, e é sobre isso que trata este livro. Mas essa função, embora primeiramente desempenhada pela mãe, pode muito bem ser desempenhada pelo pai. E mais, será a posição do pai frente à mãe que marcará todo tempo o discurso que ela faz ao filho.

    O que Celso vem nos trazer, nesse momento em que tanto se insiste nas determinações genéticas, nos humores hormonais, na obscura arquitetura do cérebro, é a lembrança de que somos tecidos de histórias. Para ser pais, é preciso narrar, mas a premissa é ter sido filho e saber disso de alguma forma. Para nos permitir essa compreensão, este livro faz uma linda análise de uma bela obra: o Peixe grande (Tim Burton, 2003). Nesse filme, um homem jovem, cujo problema se resumia ao fato de que seu pai contava histórias demais, precisa tornar-se narrador para vir a ser pai, pois seu filho está por nascer. Alegoricamente, nessa história morre um velho narrador para que possa nascer um novo, e, por sua vez, criar um futuro contador de histórias. Porém, nem todos vivem no país das fábulas, como o pai desse filme, mas todos, por mais que seus discursos sejam tecidos de atos, silêncios, resmungos e expressões, tenderão a contar a sua história de algum jeito. Até o pai de Kafka, tão recriminado na carta a ele dirigida, tinha suas cantilenas desagradáveis para descrever-se ao filho, esse sim tornado um grande narrador. Já o silêncio casmurro, esse proveniente de algo que não consegue ser dito porque não foi chorado e muito menos pensado, gera buracos na identidade daqueles que nascem banhados nele, coisas que não se deve sentir, que não se deve ser. Acompanhado de Bettelheim, Celso também nos explica isso.

    A sorte, para enfrentar essa difícil tarefa, é que bebês parentalizam os pais (p. 89). Porém, para bancar essa posição, os pais precisam deixar de ser filhos, e é contando que o filho se esvazia para ficar repleto do pai que pode ser (p. 157), como fica claro, na análise que Celso faz da poesia de Carpinejar. Afinal, narrar é mais que um instrumento que colabora no processo de parentalidade: é indispensável, confunde-se com ele (p. 34).

    Pais devem fazer redescobertas inéditas (p. 39). Se descobertas outra vez, não são inéditas; se inéditas, não serão redescobertas, certo? Errado. Vários autores têm pensado a respeito de temas como originalidade, autoria, plágio, repetições surpreendentes de temas e elementos que voltam a materializar-se em obras de autores de lugares e épocas diferentes. Esses elementos ressurgem em parte como um telefone sem fio, uma metáfora em constante transformação, que repete, evoca, mas vai corrompendo o sentido do previamente dito; por outra parte, como uma assombração, uma metonímia, pedaço sinistro, porque é, ao mesmo tempo, familiar e desconhecido, que nos assombra de tanto em tanto.

    Borges brincava muito com isso, e foi ele o maior responsável por colecionar várias dessas anedotas de traços ou objetos que insistem em reaparecer ao longo da história da literatura (ver o conto A flor de Coleridge, entre tantos outros). Pensando desde uma perspectiva gutfreindiana, isso não soa tão estranho: viver é continuar uma história que faz parte da história de alguém que veio antes, de um tempo, de um grupo, de uma época, de tal modo que estamos sempre lidando com restos, troféus e assombrações do passado.

    A boa mãe, a mãe suficientemente narrativa, como já foi conceituado previamente pelo próprio Celso, os pais suficientemente narrativos, como são tão bem descritos neste livro, são aqueles que fundam no filho uma identidade tecida de palavras, histórias.

    Narrar a própria história para seu filho, contar-lhe fantasias, ficções, ser capaz de comentar algo que se viveu, nem que seja um episódio de trânsito, da rua, de um cachorro da infância, de algo que se leu no jornal e impressionou, vai constituindo a subjetividade do filho. Isso não é acessório, como se fosse um adubo que ajudaria a plantinha a crescer melhor, isso é a própria terra onde germina a identidade de um filho. A boa troca simbólica entre a mãe e o bebê não é, como pensa certo senso comum, apenas uma possibilidade que enriqueceria o sujeito e o deixaria mais maleável, mais forte frente às vicissitudes da vida; portanto, robusto emocionalmente. Nesta compreensão, a maternagem estimulante possibilitaria a plenitude de um sujeito que já estaria dada na sua herança genética e nas boas condições de sua vinda ao mundo. Na prática, essa troca não é acessória, não é item opcional; ela é absolutamente fundamental; é ela que permite ao bebê fazer seu segundo nascimento, o subjetivo.

    Ser parido é apenas chegar, mas só quando nos nomeiam e falam conosco é que viramos gente. Citando Bernard Golse, Celso nos lembra que o recém-nascido seria um historiador em busca desesperada de uma história. É preciso construir a representação de sua história, dispondo de meios para contá-la, incluindo quem a ouça e acolha a incerteza do que ainda não encontrou um nome. A história é a busca dos nomes (pp. 32-33).

    Isso tudo só se torna difícil porque os adultos, categoria na qual tendem a se incluir os pais, queiram ou não, são muito chatos. Adultos são burocratas se abandonam a prática da infância (p. 109), nos conta Celso, lembrando aqueles sujeitos bizarros que ficam contando dinheiro e estrelas em vez de viver, personagens da história de O pequeno príncipe. Uma obra abordada neste livro a partir da pergunta do que é irrita tantos nessa história tão popular, transformada em escolha de miss. O pequeno príncipe é um best seller que, de solavanco em solavanco (na crítica), vem resistindo e sendo reeditado a cada nova geração de infâncias (p. 106). Os adultos correm o tempo todo, fazem muito barulho por nada e nunca respondem ao que se pergunta, diz Celso, parafraseando Alice no país das maravilhas.

    Para escutar crianças é preciso parar de correr e, principalmente, de ter medo da própria infância. Este livro é recheado de relatos clínicos, casos contados com estilo literário. Isso não é subterfúgio, tarefa de sedução do leitor; é uma convicção do autor como clínico e como escritor: ele defende o direito de a psicanálise ser literária (p. 132), que podemos descrever um prontuário sob forma de conto, pois a ficção nos torna mais sensíveis do que o texto técnico e também

    guarda mais verdade (p. 208). Dr. Gutfreind, o psiquiatra, psicanalista, conhecedor da psique dos bebês, suporta a presença da infância dentro de si. Isso dói, está longe de ser uma pueril Disneylândia particular; isso fala, como diria Freud, e que coisas duras isso fica nos dizendo. Por exemplo, que nossos pais nem sempre nos acharam perfeitos, nos criticaram dolorosamente, e que nós também soubemos odiá-los, queríamos que morressem; melhor, que nunca tivessem nascido, esquecendo das graves consequências disso para a nossa própria existência. As sobrevivências que guardamos da infância são o elo que encontramos para escutar as crianças. Isso serve para o Celso pai, o Celso psicanalista, e é isso que ele nos oferece neste livro. Não tenha medo, convoca-nos com voz de sereia sedutora para a aventura de entrar na própria infância e na de nossos filhos e pacientes; sairemos vivos dessa empreitada, e muito mais interessantes, assegura-nos. Mas isso não deve ser tomado como um livro de receitas; não há receitas. Este livro não é de autoajuda e, justo por isso, corre o risco de ajudar (p. 32). Em se tratando de pais, pior que um conselho é um conselho bom. Trabalhar com pais é lhes devolver a confiança perdida nos desvãos de suas histórias de filhos (p. 39). Podemos assegurar aos leitores potenciais desta obra que o efeito é esse mesmo: longe de nos desautorizar a contar nossas histórias, e com isso fazer a história alheia, como pais ou como terapeutas, este livro nos encoraja, nos fortalece.

    Iniciamos com a metáfora de Xerazade porque o que está em questão nesta obra é mesmo a vida contra a morte. Sem alguém que faça um invólucro de palavras, uma colcha subjetiva que nos abrace, nós não vivemos, ou então submergimos numa não vida, como podem ser certas psicoses. E, em segundo lugar, porque os psicanalistas são chamados quando a função Xerazade falha, e cabe a nós desenredar o fio dessas tantas histórias e devolver a palavra a quem de direito.

    Concluindo com Celso: Enfim, poder se refugiar com lucidez num canto de sonho, nos momentos difíceis da vida, é um recurso fundamental na saúde de cada criança e de todos nós (p. 206).

    Diana Corso e Mário Corso

    O que é inelutável é que somos postos no mundo por mais de um outro, por mais de um sexo, e que nossa pré-história faz de cada um de nós, bem antes de nascermos, o sujeito de um conjunto intersubjetivo, cujos sujeitos nos têm e nos mantêm como servidores e herdeiros de seus sonhos de desejos insatisfeitos, de seus recalcamentos e de suas renúncias, na malha de seus discursos, de suas fantasias e de suas histórias.

    René Kaës, O sujeito da herança

    Quando somos sensíveis, quando nossos poros não estão tapados pelas implacáveis camadas, a proximidade da presença humana nos sacode, nos anima, entendemos que é o outro que sempre nos salva. E se chegamos à idade que temos é porque outros foram salvando nossa vida, incessantemente. Com a idade que tenho hoje, posso dizer, dolorosamente, que toda vez que perdemos um encontro humano uma coisa se atrofiou em nós, ou se quebrou.

    Ernesto Sábato, A resistência

    Só eu sabia, sem consciência de que o sabia, que nos ilegíveis fólios do destino e nos cegos meandros do acaso havia sido escrito que ainda teria de voltar à Azinhaga para acabar de nascer.

    José Saramago, As pequenas memórias

    "Miragem brutal bairro pobre a verdade desgraciosa.

    Felizmente há poesia — Rilke, mãe, Brecht a explorar verdades e não afirmar: a mãe pega a filha que não gosta de galinha

    e reinventa o cheiro do galinheiro e recende a humano e estica a linha até atingir

    nenhuma lógica, a da própria consciência o amor

    como um som de obo é protegido de argumentos

    quando onde tanto faz falar

    e olhar é tudo.

    Mãe e poesia fazem uma pipa e a lançam aquém e além dos anos como quem dissesse algo novo sobre as flores e os homens."

    O Autor, A poesia da parentalidade

    Introdução

    O fato, bem conhecido, de que os pais revivem suas próprias vidas nas de seus filhos e netos, quando não é a expressão de excessiva possessividade e de ambição defletida, ilustra o que estou querendo transmitir. Aqueles que sentem que tiveram sua parcela da experiência e dos prazeres da vida são muito mais capazes de acreditar na continuidade da vida.

    Melanie Klein, 1975

    Narrar, ser mãe, ser pai, como está na ordem do título. É o primeiro capítulo deste livro e dessa vida. Ao investir na narração, a gente começa a ser mãe e pai. O campo da parentalidade se abre antes de a gente ser propriamente e de saber quem é. Contar e ouvir nos permitirá saber. Não há mãe nem pai que não contem, e somos o que somos conforme a possibilidade de narrar. Com arte — literatura, entre outras —, mães e pais tornam-se capazes de sua função ao se tornar narradores. E, ao fim e ao cabo, somos o que narraram de nós. Nascer é começar a contar, e também por isso somos delicados demais para o nascimento (Tezza, 2007, p. 11).

    Tampouco há filho que não chegue disposto a apegar-se. Na construção deste apego, contar é fundamental.

    Desde cedo, filhos e pais começam a exercitar suas funções, contando ou brincando, que também é contar (Klein e

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