Escravatura: Perguntas e Respostas
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Sobre este e-book
João Pedro Marques
Nasceu em Lisboa, em 1949. Foi professor do ensino secundário e depois, durante mais de duas décadas, investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical e, em 2007-2008, presidente do Conselho Científico desse instituto. Doutorou-se em História pela Universidade Nova de Lisboa, onde, na década de 1990, leccionou a cadeira de História de África. Durante a sua carreira de investigador, escreveu dezenas de artigos e vários livros sobre temas de história colonial, dois dos quais publicados em Nova Iorque e Oxford. É um especialista de créditos firmados e renome mundial em história da escravatura e da sua abolição. É, ainda, autor de seis romances históricos e colunista regular em jornais diários.
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Escravatura - João Pedro Marques
ESCRAVATURA
Título: Escravatura – Perguntas e Respostas
Autor: João Pedro Marques
© Autor e Guerra e Paz, Editores, Lda, 2017
Reservados todos os direitos
A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico.
Revisão: Inês Figueiras
Design: Ilídio J.B. Vasco
Isbn: 978-989-702-626-3
Guerra e Paz, Editores, Lda
R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.
1150-105 Lisboa
Tel.: 213 144 488 / Fax: 213 144 489
E-mail: guerraepaz@guerraepaz.pt
www.guerraepaz.pt
Prefácio
Que sabemos nós sobre a história do tráfico e da escravidão dos africanos? E sobre o envolvimento de Portugal nessa história? Estarão os portugueses em geral bem informados sobre essas questões? Aparentemente não. Ouvindo os debates ou lendo o que se escreve nas caixas de comentários dos jornais online, dou-me conta de que, por cada pessoa que tem uma informação correcta e recente a respeito da história da escravatura, haverá três ou quatro para as quais essa história é surpreendentemente mal conhecida e povoada por ideias demasiado simples ou distorcidas. Observando com atenção, percebe-se que essas simplicidades e distorções têm duas origens diferentes. Vejamos uma de cada vez:
Há – para começar pelo aspecto das simplicidades – os que têm uma informação consideravelmente desactualizada, assente em ideias herdadas da era do abolicionismo, o longo período em que os estados ocidentais lutaram, com mais ou menos intensidade, contra o sistema escravista que vinha de séculos anteriores. O abolicionismo foi, como é sabido, uma ideologia nascida no último terço do século xviii, na Grã-Bretanha e nas suas colónias da América do Norte, e que exigia o fim imediato ou rápido da escravatura. Foram os abolicionistas britânicos, de ambos os lados do Atlântico – e também alguns filósofos dessa época –, que perspectivaram a escravatura dos africanos como uma culpa exclusiva do homem branco, algo que devia provocar arrependimento e uma pronta reparação do mal. Foram também eles que elaboraram e difundiram a ideia do pacífico e inocente negro – isto é, do «bom selvagem» –, enganado e brutalizado pela ganância sem limites do europeu. Essas perspectivas foram, depois, milhares de vezes repetidas e milhares de vezes reforçadas por notícias de jornais, discursos parlamentares, páginas literárias como as de A Cabana do Pai Tomás, um extraordinário livro de 1852, que, convém sublinhá-lo, foi o mais lido romance de sempre. Assim, por via do muito que se disse e se escreveu sobre o assunto de finais do século xviii a princípios do século xx, foram cristalizando na mente das populações ocidentais – incluindo nas mentes portuguesas – várias imagens e convicções, que ainda perduram, sobre o que teria sido a escravatura. Algumas dessas imagens e convicções não são correctas e já não se justificam. Sabemos actualmente bastante mais do que sabíamos há duzentos anos e sabemo-lo porque, a partir da década de 1960, a investigação histórica fez enormes avanços nesta área. De então para cá, formou-se uma verdadeira torrente bibliográfica, a tal ponto intensa e caudalosa que, na década de 1990, começaram a publicar-se suplementos bibliográficos anuais (com cem páginas ou mais) para que os estudiosos não perdessem o pé. Quem, hoje em dia, quiser ficar a par do que foi o sistema escravista criado pelos povos marítimos do Ocidente entre os séculos xv e xix tem à sua disposição muitas centenas de livros e milhares de artigos para se informar de forma cabal e profunda sobre o assunto.
E é por essa razão que também não se justifica – e entro, agora, na questão das distorções – a posição dos que, por outro lado, querem reescrever a história da escravatura com o aparente intuito de a adaptar à era da globalização e do politicamente correcto. Alguns dos mais visíveis paladinos da reescrita dessa história produzem o seu trabalho no âmbito ou sob a égide da Unesco. Efectivamente, em 1994, sob proposta do Haiti, a Unesco criou o projecto The Slave Route – ou A Rota do Escravo, na designação do ramal português do referido projecto –, cujo comité científico internacional é actualmente presidido pela historiadora francesa Nelly Schmidt. No âmbito desse projecto, a Unesco tem apadrinhado, incentivado, caucionado, trabalhos historiográficos e narrativas históricas que, em certos casos, deformam substancialmente, às vezes de forma subtil, outras de forma grosseira, aquilo que sabemos sobre o passado. Se pesquisarmos The Slave Route na Internet, iremos dar com páginas e páginas de teorias surpreendentes, com novos heróis abolicionistas (maioritariamente negros, agora) ou com afirmações erradas ou, pelo menos, muitíssimo contestáveis. Logo na declaração inicial do projecto The Slave Route, a Unesco informa que «decidiu quebrar o silêncio que envolve o tráfico de escravos e a escravidão», o que deixará boquiaberta qualquer pessoa que esteja a par do que tem sido publicado nas últimas décadas e que saiba que silêncio, nestes temas historiográficos, é algo que não há nem houve. O leitor que aceda, por exemplo, ao separador «Resistances and abolitions» na página do projecto da Unesco será confrontado com a seguinte afirmação: «os primeiros que lutaram pela abolição da escravidão foram os