Oh, margem! Reinventa os rios!
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Sobre este e-book
Com vinte e dois textos, o livro ganha nova edição aumentada e nova organização dos textos que flui como o curso de um rio, nascente, afluente, leito e foz. Este lançamento tem prefácio de Paulo Scott, dois contos e três crônicas novas: Thriller (originalmente publicado na Alemanha), Querubim Pretim, O dia que o livro foi traje de gala, Musashi e Spider e O lugar de
fala de quem se pergunta em que inimaginável mundo novo vivemos? Das crônicas emergem sujeitos dignos, plenos de humanidade que enfrentam (como podem) os dilemas narrativos propostos em situações amorosas, sensuais, futebolísticas e do cotidiano da pobreza, vivida e apresentada com dignidade. Em sua apresentação, Paulo Scott ressalta: "Ainda assim quero chamar atenção para a última narrativa desta coleção, "O lugar de fala de quem se pergunta: em que inimaginável mundo novo vivemos?", sobre a sensibilidade da autora, sobre a sua leitura criteriosa a respeito da, nada óbvia, tensão presente nos constantes embates de nossa rotina brasileira, rotina em que sobressai – em graus diversos, sempre sobressai – o velho e anacrônico racismo estrutural brasileiro. E nisso também, aqui, diante de vocês, com a força que este nosso tempo exige, um livro urgente."
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Pré-visualização do livro
Oh, margem! Reinventa os rios! - Cidinha da Silva
rios!
CIDINHA DA SILVA
Oh, margem! Reinventa os rios!
© Cidinha da Silva, 2020
© Oficina Raquel, 2020
Editores
Raquel Menezes e Jorge Marques
Revisão
Oficina Raquel
Assistente editorial
Yasmim Cardoso
Capa, projeto gráfico
Leandro Collares – Selênia Serviços
Obra da capa
Jorge dos Anjos
Produção de ebook
S2 Books
DADOS INTERNACIONAIS PARA
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
S586o Silva, Cidinha da, 1967-
Oh, margem! Reinventa os rios! / Cidinha da Silva. – Rio de Janeiro : Oficina Raquel, 2020.
126 p. ; 21 cm.
ISBN 978-65-86280-41-8
1. Crônicas brasileiras I. Título.
CDD B869.8
CDU 821.134.3(81)-32
Bibliotecária: Ana Paula Oliveira Jacques / CRB-7 6963
www.oficinaraquel.com.br
@oficinaeditora
oficina@oficinaraquel.com
Este livro é de uma filha de Ogum amada e de outro amigo ogúnico, também muito querido, Sueli Carneiro e Ricardo Aleixo. Ela, porque completou 70 idades, ele, 60, nesse ano da graça da pandemia de Covid-19. Desejo vida longa, próspera e saudável a ambos.
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Uma carta de Maria Valéria Rezende
Prefácio
Nascente
Thriller
Construção
O dia que o livro foi traje de gala
Musashi e Spider
O carnaval
Afluente
Wilson Simonal de Castro
Fela Kuti na Broadway
Luli Arrancatelha: modelo, manequim e funkeira
Evaldo Braga: um brasileiro
Leito
O super
A dúvida
As latinhas
Os bailes
Acabou, Norma, acabou!
Foz
A benzedeira
Vocês não estão me ouvindo?
São três os meninos da minha rua
Prisioneiro
Ônibus especial
Solidariedade
Querubim pretim
O lugar de fala de quem se pergunta: em que inimaginável mundo novo vivemos?
Uma carta de Maria Valéria Rezende
Muito querida Cidinha,
Quando você sugeriu que eu fizesse um prefácio para este seu livro, meu coração se sentiu confortado pela sua confiança e amizade, e ainda se sente, e a primeira coisa que tenho vontade de lhe dizer, como sempre, é: Adúpé, minha irmã!
Li e reli seu livro, sempre com a emoção e a admiração que me provocam seus escritos, e me dispus a tentar produzir algo ordenado e suficientemente objetivo
para se parecer a um prefácio. Mas então fui interrompida pela cena do assassinato de George Floyd, excepcional apenas porque foi visto ao vivo
pelo mundo inteiro e assim condensou em si todos os milhares de assassinatos semelhantes que acontecem todos os dias nesta nossa triste terra, no resto do mundo, e os milhões de assassinatos, físicos ou morais, que constituíram parte inesquecível, ainda que ocultada, da nossa História, chamem-se as vítimas George, Miguel, João Pedro, Ágatha, Adama, Guilherme, Wilson, que conhecemos pelos jornais, ou Onirê, Barazinho, Querubim, Alexandra, Marina, Máximo, que encontramos nas páginas deste livro e tantas outras por quem passamos ao longo da vida, talvez sem vê-las.
A partir daquele momento, um turbilhão de emoções, daquelas que a gente não consegue desmisturar nem afogar, tornou-me incapaz de escrever um prefácio ou qualquer outra coisa ordenada. Uma mistura de sentimentos − de indignação e revolta, de impotência e inutilidade minha, junto com uma espécie de culpa por saber que essa secular e brutal injustiça me beneficiou neste mundo de cruel competição – deixou-me quase imobilizada durante esses dias. Não foi a primeira vez que senti isso, mas sempre acabava por me apaziguar e voltar ao normal
, a aceitar que o mundo é assim
, e que já tenho feito, ao longo da vida, o que posso
contra as injustiças. Agora, porém, não é mais possível apaziguar-me sem que se transforme o mundo e ecoam, para mim, como revelação as palavras da pequena Gianna Floyd: meu pai mudou o mundo
!
Então me pus a ler e reler, a ver e ouvir, textos, rostos e vozes pretas e percebi com clareza que esse é o caminho: segui-los. Só vocês podem nos guiar nessa luta e estão guiando. Uma grande esperança, então, vence a agonia em mim: não voltaremos mais para trás! Lembrei-me dos autores fundamentais que fizeram minha cabeça e me abriram os olhos, ainda na adolescência... fui reler Franz Fanon e me dei conta de que logo não haverá mais peles pretas cobrindo-se com máscaras brancas e, sem isso, não haverá mais como ocultar a violência que abateu por séculos o mundo todo! Mais importante, porém, é que não se privará mais a humanidade do tesouro de talentos, sabedoria, força, resistência e capacidade criadora ignoradas e reprimidas por séculos, mas cultivadas com todo cuidado pelas mulheres pretas, como farol a nos guiar! Só me cabe dizer, mais uma vez e para sempre: Adúpé, minha irmã, adúpé, meus irmãos!
Um grande abraço da Maria Valéria
15 de maio de 2020
Prefácio
Dentre todas as escritoras e escritores brasileiros contemporâneos, Cidinha da Silva tem uma das escritas mais singulares e vigorosas. Seu olhar alcança sutilezas do caos permanente, e da crueldade permanente, que é este nosso país chamado Brasil. Sua imaginação conjuga elementos pouco explorados pela literatura contemporânea – por isso é referência não só no cenário brasileiro, mas no exterior.
Nesta coleção de contos e crônicas, histórias e