O livro negro dos sentidos
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Sobre este e-book
como um respiro ler O livro negro dos sentidos, a palavra saída da ancestralidade, brotada de uma cultura candomblecista que não culpabiliza o prazer. Convido vocês a viajarem pela força e pela delicadeza literária e honesta de nossa sacanagem.
Elisa Lucinda
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Organizado por Angélica Ferrarez, Jurema Araújo e Fabiana Pereira, O livro negro dos sentidos conta com contos, crônicas e poesias das seguintes autoras: Aira Luana Nascimento, Carmen Faustino, Vassia Valle Atriz, Conceição Evaristo, Dandara Suburbana, Debora do Nascimento, Helena Theodoro, Janete Santos Ribeiro, Jaque Alves, Juh de Paula, Lourence Alves, Luciana Luz, Luciana Palmeira, Maitê Freitas, Miriam Alves, Rosane Jovelino, Selma Maria da Silva, Sheila Martins e Taís Espírito Santo - além de textos também das organizadoras.
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Poesia para você
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O livro negro dos sentidos - Angélica Ferrarez
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Prefácio Elisa Lucinda
Apresentação Jurema Araújo
preliminares
Sexsentidos Lourence Alves
Gozo Debora do Nascimento
Trepada BEM trepada (manual do bom caminho) Cassia Valle
Deusa negra Cristiane Sobral
Flor engomada Rosane Jovelino
Cara ou coroa? Jaque Alves
Sonhos risíveis e possíveis Helena Theodoro
Beijo na face Conceição Evaristo
toque
Tentativas Debora do Nascimento
Aguar Taís Espírito Santo
Quarentena Aira Nascimento
Amor revolução Cristiane Sobral
Toc Cristiane Sobral
O corredor Aira Nascimento
som
Nossa primeira vez, preliminares Janete Santos Ribeiro
Toques na avenida Sheila Martins
Trovoada Maitê Freitas
Tamborilar Miriam Alves
Choveu Miriam Alves
Hit foda Juh de Paula
Preto deixa eu gozar Dandara Suburbana
Da rua Maitê Freitas
sabor
Me empresta você de novo? Juh Paula
Eriça... Selma da Silva
Encontro de uma tarde de verão Cássia Valle e Luciana Palmeira
Dieta Dandara Suburbana
Partilha Carmen Faustino
Lava de rio Luciana Luz
cheiro
Amor em braile Jurema Araújo
Cinzas de quarta Fabiana Pereira
Nariz erótico Jurema Araújo
olhar
A tela me seduz Angélica Ferrarez
Dona do prazer Carmen Faustino
Pela lente do amor Angélica Ferrarez
Noite preta Taís Espírito Santo
todos os sentidos
Caiu do céu? Não... Dandara Suburbana
CorPoesia! Jaque Alves
No fim das contas Fabiana Pereira
Faça existir Rosane Jovelino
Autoras
Créditos
PREFÁCIO
O que você vai fazer hoje à noite?
Por muito tempo as mulheres não podiam estudar, pois ficaram por séculos sem direito de se desenvolver intelectualmente e de, consequentemente, ecoarem seus gritos na cara da sociedade. Portanto, a nossa literatura, a voz feminina, ficou sendo contada
pelo olhar masculino por um longo período da humanidade onde a maioria avassaladora das mulheres viviam, como muitas ainda vivem, em estado de extrema opressão psicológica, econômica, emocional. Uma barra pesada. Muito do que pertence ao que chamamos errônea e incompletamente de literatura universal, está apinhado de uma abordagem preconceituosa, machista e desrespeitosa sobre o feminino. Ou expectativas e sonhos dos outros
depositados na figura feminina sem que esta fosse consultada sobre a ilegitimidade do sonho alheio sobre sua existência.
Grandes romances europeus de sucesso mundial, por exemplo, narram idílios nos quais uma mulher que deseja, que tem um amante, que assume sua libido, que namora outra mulher, é julgada e algumas vezes literal ou metaforicamente apedrejada em tais páginas.
Chegada então a pena, a caneta tinteiro, a palavra escrita enfim, às mãos da mulher, a coisa mudou bastante de figura, embora algumas preservassem o mesmo olhar machista sobre si mesma. São as vítimas de um patriarcado estrutural, marcado por rituais de dores abafadas, choros engolidos entre negócios, noivas e dotes, garantidos e sancionados pelo moralismo religioso.
Não é segredo para ninguém, nem a autocensura que se impôs sobre o corpo da mulher branca através dos tempos, nem o desrespeito pelo corpo e pela existência da mulher negra através deste mesmo tempo. Também não podemos fugir do racismo editorial que, numa sociedade igualmente discriminadora, está ainda representado por uma maioria avassaladora de escritores brancos. O que disse até agora é que por muito tempo nosso lugar de fala ficou na boca dos homens e, depois, a existência narrada das realidades de todas as mulheres foram contadas só pelas mulheres brancas.
Por isso foi como um respiro ler O Livro Negro dos Sentidos, a palavra saída da ancestralidade, brotada de uma cultura candomblecista que não culpabiliza o prazer.
O conjunto de orixás, referência simbólica de fundamento afrocultural, expõe um imaginário onde o amor e o desejo desses deuses e deusas não se contrapõem à sua condição de divindade. Não há ameaça. Onde há Oxum, Iansã, Iemanjá, Nanã e tantas outras, o conceito de virgindade não encontra sentido, nem lugar, é antinatureza. Ser puro é ser genuíno, raiz. Nada tem a ver com sexo. No que podemos chamar de mitologia negra, a força de uma divindade não precisa do que querem chamar de pureza sexual, negação da libido. Aqui, o sexo também é uma forma de louvar a criação, um respeito à obra de Deus.
Passeei por vários contos e poemas esculpida de alegria
, como diz Conceição Evaristo no seu belíssimo Beijo na Face. Há uma mistura de gerações aqui muito interessante e que não tem medo de falar dos encaixes, do gozo, da loucura que esse poderoso torpor nos provoca. Corajoso, recheado de amores e encontros de toda sorte. A natureza é sortida, diversificada e assim são suas filhas aqui. Entre liras e prosas poéticas de estilos e estéticas diferentes, sentem as penetrações, gemem, se extasiam, se lambuzam nas seivas de outras mulheres