Reivenção da Cultura Profissional na Educação Infantil
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Reivenção da Cultura Profissional na Educação Infantil - Maura Costa Bezerra
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Aos meus familiares e às gestoras da educação infantil, que pacientemente me compreenderam e contribuíram para a conclusão deste livro.
AGRADECIMENTOS
À Murillo Jr., meu companheiro, pelas inúmeras trocas de impressões, comentários ao texto. Acima de tudo, pela inestimável paciência e compreensão reveladas ao longo desta produção.
Ao Prof. Dr. Adir Ferreira (UFRN), por muitas provocações e lampejos. Assim como pelo afeto, pela acolhida. Obrigada pela disponibilidade!
Às interlocutoras da pesquisa, pedagogas em formação permanente, profissionais carismáticas e fundamentais para este trabalho, optei por não revelar nomes.
Aos que constroem educação com qualidade social, com sabedoria e simplicidade, rebeldia, rigor e responsabilidade, fundamentos de uma Pedagogia Humana.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.
(Clarice Lispector)
APRESENTAÇÃO
É sempre um desafio apresentar um livro, mais ainda quando se trata da própria obra, mesmo que a condição de organizadora possa atenuar esse complexo, pois se apresentam não apenas a sua produção científica, mas também a criação de outras mãos e o sentido holístico para a reunião dos seus escritos.
Assim, o embaraço autoral de apresentar-se a si mesmo, com o qual se tenta ocultar o despontar da vaidade intelectual, é substituído pelo prazer de trazer ao mundo das construções acadêmicas mais um produto escrito. Produto propositivo para o campo da educação, especialmente a partir da sociologia da educação, e da pesquisa realizada em ambientes escolares, isto é, o contexto de práticas de gestão escolar da educação infantil, como se pode perceber das temáticas exploradas pelos capítulos desta obra.
O livro está sistematizado, além da introdução, em capítulos e seus subtemas. Essas subpartes representam os resultados encontrados durante a análise das falas das interlocutoras que conduziram aos temas discutidos e apresentados ao longo de três anos de estudo. Sendo assim, na introdução estão os contornos que discutem o objeto de estudo, a construção do aporte teórico, o percurso da pesquisa e a organização e estrutura do livro.
No Capítulo 1, Cenários etnográficos da cultura profissional na educação infantil
, busca-se situar os cenários considerados pela equipe gestora como fundamentais ao campo da prática cultural; entendida aqui como uma forma de pensar e agir, o modo de vida profissional da equipe de gestão escolar. Portanto, nessa construção, apresentam-se outros critérios e etapas inerentes à observação e ao fazer narrativo. Mostra-se como cada cena (de espaço de reuniões pedagógicas e administrativas, do conselho escolar e ainda de reunião de pais) produz narrativas etnográficas cotidianas comuns. Na síntese integradora, analisam-se os sentidos que as gestoras atribuem à sua ação como líderes no cotidiano do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI).
No Capítulo 2, Processo de tecer fios da trajetória de formação docente
, discute-se a formação inicial em magistério e pedagogia; são processos formativos iguais nos objetivos, mas distintos nas experiências práticas. A discussão permeará os diversos fios que moveram suas escolhas profissionais pela docência e pela gestão na Educação Infantil (EI).
O Capítulo 3, Mecanismos de resistência e de identificações possíveis na autoformação
, diz respeito ao espaço de autoformação continuada: analisam-se alguns dilemas e problemas vivenciados ao longo das experiências formativas das gestoras, como alunas de licenciatura em Pedagogia e pós-graduação em Educação, que as conduziram à cultura profissional atual da gestão da EI. Ademais, a relação teoria e prática, as dificuldades de adaptação dos conhecimentos da formação inicial para suas práticas profissionais no CMEI propõem provocar reflexões inerentes aos saberes desenvolvidos no curso de Pedagogia, procurando desencadear possíveis discussões acerca dos desafios encontrados pelas gestoras sobre o processo de adaptação dos conhecimentos da formação inicial.
No Capítulo 4, Os sentidos de docência infantil
, algumas análises, em construção com as vozes, os sentidos de educadoras-gestoras do CMEI, campo de pesquisa, acerca do papel profissional desempenhado por elas atualmente, em especial no que diz respeito às dimensões do cuidar e educar na educação infantil, levando em conta as mudanças legais, assim como as condições de trabalho como potencial de bloqueio vividos pela categoria no atual cenário da EI brasileira, principalmente no município de Natal/RN.
Por fim, nas considerações finais, um breve arrematar de fios
nos quais procura-se trazer à tona o que significou a pesquisa no CMEI Marilanda Bezerra, a síntese dos resultados e encaminhamentos da pesquisa.
Entretanto, é prazeroso apresentar este livro e também é o momento de se esclarecer as origens e o contexto de sua produção. A ideia surgiu e tomou forma entre as diversas oportunidades que tive em discutir a temática em sala de aula, com grupos de alunos da disciplina de Psicologia da Educação do curso de Licenciatura em Química, no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN)/campus Currais Novos. Como trabalho na formação de professores, tenho o interesse de apresentar resultados das pesquisas realizadas por mim, nas áreas temáticas de gestão educacional, para promover a relação teoria prática docente.
Os textos são também o resultado de conversas, reuniões de estudo e orientações, movidos pelo interesse intelectual e pelo convívio afetuoso das interlocutoras da pesquisa, que proporcionou a construção da obra. E assim, parafraseando Marina Colasanti (2001, p. 13): Dias, semanas, meses e anos trabalhou a autora tecendo estudos e leituras compartilhadas, momentos formativos com os seus pares, tecendo cenários e escrevendo memórias. A noite caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia
.
A autora.
Boa leitura!
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Sumário
INTRODUÇÃO
EVOCANDO OS PRIMEIROS TRAÇOS DE LUZ 19
Percurso da pesquisa 24
A entrevista compreensiva 33
Os instrumentos 34
As fichas de interpretação 41
Planos evolutivos 42
O contexto de todo o percurso 45
CAPÍTULO 1
CENÁRIOS ETNOGRÁFICOS DA CULTURA PROFISSIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL 53
1.1 [Cenários] dos espaços/tempo e lugares 53
1.1.1 [Cena] lugares de relações interpessoais 55
1.1.2 [Cena] dos espaços entre a formação e a cultura profissional 61
1.1.3 [Cena] espaço e lugar de formação continuada no território do trabalho 65
1.1.4 [Cena] Espaço democrático na gestão da escola infantil 74
1.1.5 [Cena] espaço e tempo de escutatória dos pais 82
1.2 [Cenário] entrelaçando os fios etnográficos 92
1.3 Conhecimento pedagógico na autoformação em contexto 93
1.4 A relação de trabalho como prática emocional e as interações sociais uns com os outros 95
1.5 A afetividade colaborativa dos pais 96
CAPÍTULO 2
PROCESSO DE TECER FIOS DA TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DOCENTE 101
2.1 Das razões da escolha pela docência e pela gestão escolar 101
2.2 Da relação com a formação docente e a cultura profissional 105
CAPÍTULO 3
MECANISMOS DE RESISTÊNCIA E DE IDENTIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA AUTOFORMAÇÃO 109
3.1 Configurando uma cultura profissional à prova de fogo 110
3.2 A adaptação de conhecimentos e aprendizagens na prática cotidiana 116
CAPÍTULO 4
OS SENTIDOS DE DOCÊNCIA INFANTIL 121
4.1 Sentido de prática do educar com ênfase na indissociabilidade 121
4.1.1 Ser criança, sentido de sujeito ativo 125
4.1.2 Ser gestora de infância – sentido de afeto e acolhimento 126
4.1.3 Sentido de provisoriedade e instabilidade como potencial de bloqueio na gestão escolar 128
4.1.4 O sentido de dilema da rotatividade de professores e contratos temporários emperra a gestão 130
4.1.5 Sentido comum de luta e sofrimento, o dilema da redução de recursos
financeiros 133
4.2 Um breve arrematar de fios 135
REFERÊNCIAS 143
INTRODUÇÃO
EVOCANDO OS PRIMEIROS TRAÇOS DE LUZ
[…] Acordava ainda escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite e logo se sentava ao tear. Linha clara para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois, lãs mais vivas; quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava [...]
Marina Colasanti (2001, p.12)
Ser professora, ser supervisora dos Centros de Educação Infantil (CMEIs) da rede municipal de Natal, no Rio Grande do Norte (RN), é reinventar uma prática cotidiana de cultura profissional, com uma reflexão poética da Marina Colasanti que tem um sentido de mostrar a condição em que me encontrava antes de iniciar o presente trabalho, ao trazer para o interior deste texto um lugar ocupado pela personagem do poema A moça tecelã (COLASANTI, 2001, p.12). Portanto, colocava-me num lugar confortável, que me parecia perfeito, pois a rotina em que me envolvia parecia mostrar não ser mais necessário acrescentar quase nada à minha experiência profissional na gestão escolar em EI. No entanto, contrariando esse estado de comodismo, surgiu a ideia de escrever este livro, considerado socialmente relevante praticável e proveitoso para mim, a autora, e para meus leitores.
Tal qual a moça do texto, a moça tecelã, que, ao tecer sobre o seu passado, percebeu- se sozinha, também eu me deparei com a necessidade de pensar o presente, considerando o meu tecer diário a partir do que ouvi, senti e vivi. Busquei tecer meu tapete de histórias, como a moça tecelã da história de Marina Colasanti, utilizando um aporte teórico, epistemológico e metodológico que vem sendo usado por pesquisadores e pesquisadoras nos cotidianos, numa tentativa de olhar o que essa vida comum deixada de lado pelas grandes pesquisas em educação tem a nos contar. Meu interesse é pensar a gestão escolar na educação infantil, a partir do ponto de vista dessas professoras/gestoras, privilegiando o ato de falar delas. Meu diálogo com elas perpassou o campo da formação e das práticas; instaura-se um presente relativo a um momento e a um lugar; estabelece um contrato com o outro (as interlocutoras) numa rede de lugares e de relações (CERTEAU, 2012, p. 40), enfim, as normas e os instrumentos dados para o dia a dia – nesse caso, os procedimentos da ação gestora – maneiras de fazer
no cotidiano do CMEI.
Tecer, nessa perspectiva, envolve entrecruzar fios, e requer, antes de mais nada, que se tenha um fio disponível. Nesse esforço, alguns fios questionadores passaram a mobilizar o meu pensamento, girando em torno da possibilidade de uma nova estética; o que equivale a dizer que me exigiu concatenar uma arte de pensar
(conhecimento teórico e prático específicos) ou maneiras de fazer
na prática cotidiana (CERTEAU, 2012, p. 37) na EI: quem são as mulheres que