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Pioneiros Protestantes no Amazonas
Pioneiros Protestantes no Amazonas
Pioneiros Protestantes no Amazonas
E-book414 páginas4 horas

Pioneiros Protestantes no Amazonas

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Sobre este e-book

A divisão da obra está assim definida:
Na primeira parte, ofereço um resumo histórico da visão protestante sobre o início do cristianismo, para compreensão dos contrastes de ideias em relação aos outros grupos cristãos. Há uma explicação breve da influência da Reforma Protestante, com o surgimento das igrejas reformadas e, posteriormente, das igrejas herdeiras da reforma, como é o caso da igreja batista. Essa primeira parte visa mostrar um pouco das diferenças teológicas e práticas das igrejas chamadas protestantes que vão atuar na cidade de Manaus.
Na segunda parte da obra, descrevo o início do trabalho protestante em Manaus no final do século XIX e demonstro o desenvolvimento dos protestantes na cidade diante das condições favoráveis, em decorrência da receptividade do povo manauense, na época em que a cidade desfrutava do ciclo áureo da borracha, produto extrativista de suma importância para as condições de vida da população local até o início do século XX.
Reservo a terceira parte da obra para contar o início do trabalho batista, por intermédio da Primeira Igreja Batista de Manaus, que é uma das igrejas pioneiras do trabalho protestante e a mais antiga igreja protestante existente em pleno século XXI. Essa terceira parte não constitui um favorecimento dos batistas; é resultado da constatação de que é uma igreja com um arquivo histórico abundante de informações, documentos e fotografias, possibilitando ao autor compartilhar dados históricos relevantes. As informações são tantas que essa terceira parte abrangerá apenas a primeira década da igreja.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de mai. de 2021
ISBN9786589202448
Pioneiros Protestantes no Amazonas

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    Pioneiros Protestantes no Amazonas - Vanias Batista de Mendonça

    Capa do livro, Do reino dos mártires ao descanso dos monges: milenarismos antigos e medievais.Folha de rosto do livro.

    © Vanias Batista de Mendonça, 2021

    Todos os direitos reservados por

    EDITORA PRAZER DA PALAVRA

    É proibida a reprodução por quaisquer meios.

    FICHA CATALOGRÁFICA

    Mendonça, Vanias Batista de, 1952-

    Pioneiros Protestantes no Amazonas. / Vanias Batista de Mendonça. Rio de Janeiro: Prazer da Palavra, 2021.

    ISBN: 978-65-89202-44-8

    1. Protestantismo; 2. Pioneiros; 3. Amazonas; 4. Batistas. I. Título

    CDD 286

    Coordenação editorial

    Israel Belo de Azevedo

    Revisão

    Leila dos Santos

    Editoração (capa e miolo)

    Leila Simões

    EDITORA PRAZER DA PALAVRA

    Rio de Janeiro

    2021

    www.prazerdapalavra.com.br

    Aos meus pais, Floriano (1919-1998) e Irene (1913-2018), que me educaram para a vida e me demonstraram como amar a Deus e ao próximo.

    Aos meus filhos, Ricardo e Renata, com os quais experimento momentos de alegria desde que vieram ao mundo para me mostrar um outro nível de amor.

    À minha amada esposa Fátima, que me acompanhou na jornada das descobertas históricas e presenciou alguns momentos de êxtase, quando vibrei de alegria ao descobrir algum documento histórico precioso.

    Sumário

    PREFÁCIO

    INTRODUÇÃO

    PARTE I - Denominações Protestantes

    Primeiros cristãos e a Igreja Católica

    Reforma Protestante

    Herdeiros da Reforma

    Presbiterianos

    Metodistas

    Batistas

    PARTE II - Protestantes no Amazonas

    Campo amazonense

    Colportores

    Coronel Araújo

    Justus Henry Nelson

    Marcus Ellsworth Carver

    O Apologista Cristão Brasileiro

    Bethesda Missão

    Frank Russel Spaulding

    Juvencio Paulo de Mello

    Primeiro jornal protestante: A Paz

    Primeiro hinário

    Dez anos da Bethesda Missão

    Igreja Evangélica Amazonense e Igreja Livre

    Organização da Igreja Presbiteriana

    PARTE III - Primeira Igreja Batista de Manaus

    Eurico Alfredo Nelson

    Ida Lundberg Nelson

    Viagens de Eurico Nelson a Manaus

    Missionário da Junta de Richmond

    Manaus: quartel-general

    Organização da Primeira Igreja Batista de Manaus

    Alargando a tenda

    Testemunhos do poder do Evangelho

    Jornalismo evangelístico

    Mais igrejas no Amazonas

    Convenções batistas

    Igreja itinerante

    O templo definitivo

    POSFÁCIO

    FONTES DE PESQUISA

    IMAGENS

    PREFÁCIO

    É natural em nós achar que o mundo começou quando chegamos aqui.

    O resultado disto é um completo triunfalismo, que se realiza quando achamos que somos inovadores no que pensamos e fazemos e que, tendo nós desembarcado no cenário, doravante será diferente e melhor.

    O triunfalismo pode nascer desta visão mas pode ser saudosista, quando narramos a jornada de nossa família, nosso grupo ou nossa organização como sendo de menos valor do que a já vivida. Podemos imperfeitamente olhar para o passado e achá-lo idílico, com pessoas perfeitas e ações sempre admiráveis.

    É por isto que precisamos do estudo da história, recurso que nos convida à humildade (não somos tão bons assim) e à superação (há muito ainda para fazermos).

    A leitura deste PIONEIROS PROTESTANTES NO AMAZONAS nos suscita questões deste tipo.

    É impressionante a seriedade com que VANIAS MENDONÇA se aplicou à pesquisa, certamente durante anos, por vários arquivos na Amazônia, pelo Brasil e no mundo, especialmente nos Estados Unidos, de onde vieram os pioneiros do Amazonas. Para ele o que importa são as fontes primárias e por isto as identificou, localizou, resumiu e interpretou.

    É convidativa a narrativa resultada, pelo estilo agradável, sem excesso de citações, com que a história nos é cantada, como se fôssemos testemunhas dos fatos.

    É singular a humildade na interpretação dos fatos coletados e contados. VANIAS, como se quisesse se manter secreto, oferece as condições para que os leitores tiremos as conclusões.

    Salta logo diante dos nossos olhos a evidência óbvia que a história dos protestantes amazoniense não é autônoma, como não o é a história dos batistas amazonenses, como também não o é a história dos participantes da Primeira Igreja Batista de Manaus, fundada em 1900, a partir de esforços fincados em datas e lugares distantes.

    A nós só cabe, diante das páginas percorridas ou a vencer, agradecer ao autor e dizer que todo o seu empenho valeu completamente a pena. Ele aprendeu muito e agora aprendemos com ele. Feliz é a igreja, no caso a Primeira Batista de Manaus, que tem um historiador como VANIAS MENDONÇA.

    Rio de Janeiro, 2020

    Israel Belo de Azevedo

    INTRODUÇÃO

    O desafio

    Meu filho, não existe praticamente nada sobre a história protestante no final do século XIX. Se você conseguir pesquisar sobre isso, preencherá uma grande lacuna da nossa história. Essa foi a resposta do grande historiador Mario Ypiranga Monteiro ao lhe entrevistar no dia 10 de abril de 2000, quando, ao preparar a revista histórica de comemoração do centenário da Primeira Igreja Batista de Manaus, organizada em 5 de outubro de 1900, desejava saber algo sobre a trajetória dos protestantes antes dessa data.

    Durante a entrevista, na presença de sua filha Marita, ele então me disse que eu ficaria surpreso com o que iria me revelar: Meu filho, eu frequentei a Igreja Batista dos Tocos [que é a atual Segunda Igreja Batista de Manaus], na Rua Xavier de Mendonça, inclusive as classes da Escola Bíblica Dominical. Lembrou-se do missionário Eurico Alfredo Nelson, do Pr. José Munguba Sobrinho – a quem elogiou por sua inteligência – e dos diáconos Hastimphilo Serejo e Cardozo Sobrinho, bem como de Henoch Reis – este último inclusive veio a ser governador do Estado – e, para a minha surpresa, cantou alguns cânticos conhecidos dos batistas.

    Naquele momento nasceu o desejo de atender ao desafio lançado pelo grande historiador: preencher essa lacuna da nossa história, principalmente por imaginar que, assim como ele fora impactado pelo serviço religioso protestante no início do século XX, talvez a descoberta dos fatos históricos do final do século XIX servisse para ajudar outros pesquisadores ou, pelo menos, fazer os protestantes conhecerem um pouco de sua história em Manaus e no Amazonas. Ademais, aquelas lembranças tão vivas na memória do mestre amazonense, guardadas desde sua pré-adolescência, confirmaram o conhecido ensino bíblico contido em Provérbios 22.6 de que, ensinando a criança no caminho em que deve andar, até quando for velho não se esquecerá dele.

    A trajetória da pesquisa

    Não imaginava que, para cumprir o desafio, precisaria de mais de vinte anos de pesquisas, viagens, leituras e entrevistas, bem como depender de muitas outras pessoas para que o trabalho tivesse o êxito desejado. Demorou, mas valeu o esforço. Exporei abaixo como foi essa trajetória da pesquisa e, ao mesmo tempo, direcionarei as fontes para ajudar outros pesquisadores desejosos de se aprofundar em algum dos temas aqui tratados.

    Para alcançar esse objetivo de descobrir os pioneiros protestantes no Amazonas, a pesquisa desenvolveu-se consultando a abundante bibliografia sobre os protestantes no Brasil e a escassa bibliografia disponível sobre esse mesmo grupo no Amazonas. Contei com as indicações do historiador Zaqueu Moreira de Oliveira sobre os livros que poderia ler para compreender a história dos protestantes no Brasil e no mundo. Utilizei esse caminho amplo para entender a trajetória do protestantismo em terras brasileiras e, quem sabe, descobrir algo sobre esse período no Amazonas. Quando fiz minha dissertação de mestrado em Direito na Universidade Candido Mendes, a pesquisa era mais bibliográfica. Agora, porém, a situação era outra. Após a leitura dos livros sobre o tema, confirmou-se a palavra de Mario Ypiranga Monteiro de que não havia praticamente nada sobre os protestantes do Amazonas no século XIX.

    A pesquisa então passou a ter semelhanças com o trabalho de um detetive, procurando indícios de personagens e fatos que tivessem relevância histórica para o início do trabalho protestante em Manaus. Algumas pessoas tiveram uma contribuição decisiva para o avanço da pesquisa e fontes incomuns foram descobertas – elas estão mencionadas no livro, para que outros interessados saibam onde encontrá-las.

    Após a leitura dos livros sobre os protestantes no Brasil, procurei a professora Betty Antunes de Oliveira, no Rio de Janeiro, viúva do Pr. Albérico Antunes de Oliveira que viveu no Amazonas por décadas e escreveu a obra Centelha em restolho seco: uma contribuição para a história dos primórdios do trabalho batista no Brasil. Ela foi generosa em fornecer os primeiros documentos relacionados aos protestantes no Amazonas. Dela recebi cópias de capítulos do livro Brazil and the brazilians, de Daniel Parish Kidder e James Cooley Fletcher, de 1857, do hinário da Igreja Bethesda em Manaus, de 1899, e de Orações da Igreja Evangélica Amazonense, de 1905. Os dois últimos documentos me apresentaram dois personagens: Marcus Carver e Juvencio de Mello. Além destes, tenho boas lembranças das orientações recebidas nos nossos almoços em um shopping center na Tijuca e nas boas conversas em sua residência. Acima de tudo, recebi seu incentivo para escrever sobre algo que ela já sabia ser um grande desafio.

    Também entrei em contato com a International Mission Board (conhecida como Junta de Missões Estrangeiras ou Junta de Richmond), na Virgínia, para obter informações sobre o início do trabalho batista em Manaus, tendo como pioneiro o missionário Eurico Alfredo Nelson. A arquivista Edith Jeter enviou vários documentos que serviram para trazer informações sobre os batistas e direcionar pesquisas sobre os demais grupos protestantes.

    Nessa mesma época, tive acesso, no Rio de Janeiro, aos exemplares d’O Jornal Batista (denominado OJB nesta obra em virtude das muitas citações) de 1901 a 1939, o qual publicou muitas notícias sobre o trabalho batista em Manaus e no norte do Brasil no início do século XX. Agradeço ao diretor Pr. Sócrates Oliveira, que me permitiu obter acesso aos exemplares do OJB antes mesmo de estarem digitalizados e realizar cópias das páginas que mencionavam igrejas ou ministros do Estado do Amazonas.

    Ainda no Rio de Janeiro, tive a colaboração das bibliotecárias da Biblioteca Nacional, que me orientaram a fazer o cadastro para ter acesso às obras raras, nas quais encontrei informações valiosas e, principalmente, cópias de jornais publicados pela Primeira Igreja Batista de Manaus no início do século XX, pois alguns dos exemplares não existiam no arquivo da referida igreja. Muitos anos depois, obtive no Centro Cultural Povos da Amazônia informações complementares sobre os jornais de Manaus e livros publicados sobre o Amazonas.

    Como recebi da professora Betty Antunes de Oliveira a informação de que existira um pastor metodista em Manaus no final do século XIX, outro passo foi visitar a UNIMEP de São Bernardo do Campo (SP) em 2003. Lá, com a ajuda do professor de história José Carlos de Souza, tive acesso às informações sobre o trabalho metodista disponível na biblioteca da universidade. Ele me forneceu uma cópia do livreto sobre a obra pioneira do missionário metodista Justus Henry Nelson no Pará, que menciona alguns dados do início do trabalho metodista em Manaus, livreto esse baseado em resumo publicado em 1925 no jornal Apologista Christão Brazileiro – aqui chamado Apologista Cristão Brasileiro ou simplesmente ACB, em virtude das muitas citações.

    Próximo passo, ir a Belém do Pará. Agradeço aos bibliotecários da Biblioteca Arthur Vianna, que durante dias tiveram a paciência de me acompanhar nas leituras de jornais locais do final do século XIX, bem como providenciaram impressões das microfilmagens do jornal, publicado por Justus Henry Nelson de 1890 a 1910 e em uma edição especial no ano de 1925. Os jornais narram muitos fatos relacionados à Missão Bethesda, à Igreja Metodista em Manaus e ao trabalho batista na cidade. Sem os exemplares desse jornal, teria sido impossível contar com tantos detalhes, devidamente datados, a história do trabalho pioneiro dos metodistas em Manaus e da Missão Bethesda.

    Anos depois, com a ajuda do Rev. Saulo Maurício de Barros, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, em Belém do Pará, obtive uma cópia do livreto A short history of Bethesda Mission, de Marcus Ellsworth Carver, o qual traz preciosas informações sobre o primeiro trabalho protestante em Manaus.

    Durante essa longa jornada, conheci Ivo Amazon Nelson Jr., neto do missionário Eurico Alfredo Nelson e sua esposa Ida Lundberg Nelson, que me presenteou com documentos relacionados à vida do missionário e muitas fotos da família, bem como informações sobre seus ascendentes e descendentes. Acompanhei sua visita a Manaus e com ele mantenho até hoje correspondência por e-mail. Também conheci a bisneta de Nelson, Alison Trendel, que me ajudou com outras informações sobre a família.

    Finalmente, em 2019, visitei a Southern Baptist Historical Library and Archives, em Nashville, nos Estados Unidos. Agradeço à sua diretora Taffey Hall, que disponibilizou todos os arquivos relacionados a Eurico Nelson por ocasião da visita, além de me enviar documentos que não sabia existirem sobre a vida do missionário, tais como suas agendas pessoais, seus diários e correspondências dele com familiares.

    Durante essa pesquisa de muitos anos, fui relator da Comissão Permanente de História da Primeira Igreja Batista de Manaus, aqui chamada PIB de Manaus. Registro, então, um agradecimento especial à igreja, pelo acesso ao seu precioso arquivo fotográfico e aos livros de atas desde a sua organização em 1900. Nesse cargo, tive o privilégio de organizar o seu acervo e providenciar a restauração de livros e documentos, bem como o prazer da leitura de suas fontes históricas. Além disso, tive a alegria de restaurar pessoalmente as suas fotos históricas, a fim de torná-las publicáveis.

    Registro também aos componentes da Comissão de História um agradecimento póstumo: ao diácono Ornan Bugalho Correa (1911-1997), fotógrafo profissional que reproduziu fotos antigas e criou um registro fotográfico dos mais preciosos em igrejas batistas a partir de 1930; ao diácono Aureomar Braz da Silva Lima (1920-2015), filho e neto de fundadores da PIB de Manaus e um grande contador de histórias; ao diácono Manoel do Carmo Neves Silva (1925-2018), líder que tantas vezes dirigiu a igreja na ausência de pastores e que conhecia os eventos históricos da PIB de Manaus desde a década de 1940; e ao diácono Almir de Souza Salvador (1940-2020), membro por mais de 50 anos da igreja. Todos contribuíram na catalogação de documentos e álbuns fotográficos, na identificação de pessoas nas fotos e no compartilhamento de interessantes histórias não oficiais. De uma certa forma, essa obra é uma homenagem póstuma a esses irmãos diáconos tão especiais na minha vida.

    Importa registrar que muitos crentes protestantes, ao saberem de minha pesquisa, espontaneamente me procuravam, na tentativa de serem úteis com alguma informação. Foi assim que descobri a história das Igrejas Batistas do Lago do Pupunha e Quem Diria, no rio Solimões. Em outro momento, conheci a história da Igreja Batista do Careiro, que se mudou para o Autaz-Mirim. Como gosto de ouvir histórias, mesmo quando as informações não eram úteis para o período dessa obra, elas constituíam um momento prazeroso, além de trazerem subsídios para pesquisas sobre o trabalho protestante no século XX.

    O formato da obra

    De antemão, esclareço que adotei como título do livro Pioneiros protestantes no Amazonas porque, no final do século XIX, os crentes não católicos eram conhecidos como protestantes, mesmo aqueles não originários da Reforma Protestante. Nos dias de hoje, os fiéis são mais conhecidos como evangélicos, porém, esse termo abrange denominações que estão distantes dos princípios e das doutrinas defendidos pelos reformistas e sucessores da Reforma que iniciaram o trabalho no Amazonas.

    Durante esses anos, minhas anotações para um futuro livro tomaram diversas formas. Finalmente, cheguei à conclusão de que não poderia ser um livro de história como são as obras acadêmicas, com inúmeras citações de outros autores, por inexistirem essas fontes. Também não poderia ser uma obra com excesso de análises dos sistemas religiosos, culturais, sociais, políticos etc., sob pena de ser extensa e inadequada para os dias atuais e para os propósitos desejados. Por essas razões e, seguindo o exemplo de alguns historiadores, achei preferível apresentar o resultado da pesquisa como história documentada e confiável do protestantismo no Amazonas e, mais especificamente, de Manaus. Como historiador da PIB de Manaus, ajudei com informações históricas alguns mestrandos da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em pesquisas sobre o sistema religioso no século XX. Agora, outros estudiosos terão muitos subsídios para aprofundarem suas análises sobre o que aconteceu no século XIX.

    Outro aspecto a ser mencionado é o período da pesquisa. Inicialmente, pensei em analisar apenas o que aconteceu no século XIX, mas, para harmonizar com o período econômico de emigração de brasileiros para o Amazonas, em virtude do ciclo de exploração da borracha, achei por bem estender o período da pesquisa um pouco mais. Assim, ela abrange a chegada dos colportores e primeiros missionários protestantes a Manaus nas duas últimas décadas do século XIX até a primeira década do século XX, ou seja, privilegia os trinta anos do período áureo da exploração da borracha, que trouxe a Manaus pessoas de outras regiões do Brasil e até do exterior, sendo também o período de maior prosperidade da cidade de Manaus e do Amazonas, conhecido como Belle Époque.

    Quanto à forma, a abordagem da história religiosa pode ser feita por vários prismas. Poderia escrevê-la a partir das pessoas – os missionários – ou a partir das instituições – as igrejas e sociedades –, mas isso seria de menor utilidade. Por se tratar de um período de pioneirismo, em que personagens, instituições e sociedades se entrelaçam, preferi contar a história em ordem cronológica, à medida que pessoas, instituições ou eventos vão ingressando na época analisada, mesmo que sua origem seja de denominações protestantes diferentes, até porque elas se ajudavam mutuamente. Sendo a pesquisa sobre o início das missões protestantes em Manaus e no Amazonas, tais fatos, de múltiplas origens, vão se encaixando para compor um interessante mosaico. Obviamente, seguindo essa linha, a pesquisa serve de introdução para outros estudiosos que queiram escrever sobre a história dos metodistas, batistas, presbiterianos e anglicanos na cidade de Manaus.

    Para melhor compreensão, a divisão da obra ficou assim definida: na primeira parte, os leitores de outras confissões religiosas encontrarão um resumo histórico da visão protestante sobre o início do cristianismo, para compreensão dos contrastes de ideias em relação aos outros grupos cristãos. Há uma explicação breve da influência da Reforma Protestante, com o surgimento das igrejas reformadas e, posteriormente, das igrejas herdeiras da reforma, como é o caso da igreja batista. Essa primeira parte visa mostrar um pouco das diferenças teológicas e práticas das igrejas chamadas protestantes que vão atuar na cidade de Manaus.

    Na segunda parte da obra, com base em dados confirmados e documentos, descrevo o início do trabalho protestante em Manaus no final do século XIX e demonstro o desenvolvimento dos protestantes na cidade diante das condições favoráveis, em decorrência da receptividade do povo manauense, na época em que a cidade desfrutava do ciclo áureo da borracha, produto extrativista de suma importância para as condições de vida da população local até o início do século XX. Disponibilizo também informações sobre a transformação da Igreja Metodista Episcopal em Missão Bethesda e desta em Igreja Evangélica Amazonense, todas sob a direção de Marcus Carver. Tais igrejas, embora tenham feito parte do trabalho pioneiro dos protestantes em Manaus, já não existem. A Igreja Presbiteriana de Manaus, por sua vez, é uma igreja vigorosa na cidade, organizada em 1904, mas os dados históricos do início do século XX a seu respeito são escassos, razão pela qual foram incluídos na segunda parte da obra e não na terceira.

    Por fim, reservo a terceira parte da obra para contar o início do trabalho batista, por intermédio da Primeira Igreja Batista de Manaus, que é uma das igrejas pioneiras do trabalho protestante e a mais antiga igreja protestante existente em pleno século XXI. Essa terceira parte não constitui um favorecimento dos batistas; é resultado da constatação de que é uma igreja com um arquivo histórico abundante de informações, documentos e fotografias, possibilitando ao autor compartilhar dados históricos relevantes. As informações são tantas que essa terceira parte abrangerá apenas a primeira década da igreja. Para os períodos seguintes há necessidade de se escrever um outro livro, o que escapa ao objetivo dessa pesquisa pioneira.

    Quanto à obra, apesar do meu empenho, como toda pesquisa histórica essa ainda deixará espaço a ser preenchido por outros trabalhos, mas o que se pretende aqui é trazer à luz fatos confirmados e realizar análises breves e coerentes, além de fazer correções de informações de outras publicações com base em documentos, de forma a fornecer subsídios comprováveis historicamente. É bem verdade que, após a coleta de informações e documentos, verificou-se uma predominância de dados particulares e não públicos. Agora, no entanto, essas informações estarão disponíveis nesta obra para futuras pesquisas.

    De qualquer forma, espera-se que a visão e versão aqui descritas se imponham, como diz a historiadora Sandra Pesavento, pela segurança das fontes, a evidência da pesquisa, o reforço da autoridade com as citações e as notas, a busca insistente de provas[1] . Com essa finalidade, adotei técnica semelhante à do livro História documental do protestantismo no Brasil, de Duncan Alexander Reily, colocando comentários para explicar os fatos, transcrevendo os documentos no original e acrescentando informações que interessam ao assunto tratado, para servir de fonte para outras pesquisas.

    Documentos e ortografia

    A obra tem por finalidade maior expor documentos, notícias e relatos encontrados, de maneira que os comentários servem mais para criar elos entre eles ou para explicar algo que seja necessário ao entendimento do leitor menos afeito às questões religiosas ou históricas, mas estão expostos de maneira que alguns documentos possam ser usados separadamente. A preocupação de sempre indicar as fontes visa dar subsídios a historiadores que porventura tenham interesse sobre apenas um fato ou pequeno período da cena histórica. Para não tornar cansativa a leitura, os títulos longos ou repetitivos foram substituídos por siglas, devidamente explicadas no texto ou em notas de rodapé.

    Os documentos originais obviamente estão escritos na ortografia do período pesquisado de 1880 a 1910, com algumas palavras grafadas de forma diferente do português atual. Outros documentos estão em inglês e alguns da lavra de Eurico Nelson estão escritos em português ou inglês, mas sempre lembrando que eram escritos por um sueco de origem, exigindo, assim, um esforço de compreensão em relação aos documentos que foram redigidos logo após sua chegada ao Brasil, quando ainda estava aprendendo o idioma. Cheguei à conclusão, portanto, que o melhor seria utilizar a ortografia oficial por ocasião da publicação da obra, ou seja, de acordo com a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa, aprovada em 2009. Quando for interessante publicar o documento da forma original em português ou inglês, assim farei para ilustrar aquele momento singular e porque o texto está perfeitamente compreensível para os leitores.

    Expectativa

    Minha expectativa é que, apesar da forma cronológica e documental, seja uma leitura agradável e útil não só para os protestantes, mas também para todos aqueles que amam a terra de Ajuricaba e desejam saber como ela se desenvolveu inclusive no aspecto espiritual protestante dentro do seu sistema religioso.

    Se o leitor admira o exemplo de pessoas dedicadas a um ideal, empolga-se com o poder transformador do Evangelho de Jesus Cristo ou fica extasiado com a aventura e o deleite de viver no paraíso da região amazônica, vai encontrar adiante um relato entrelaçado desses amores, mostrando o quanto Jesus Cristo operou por intermédio dos pioneiros protestantes para servir aos amazonenses e glorificar a Deus.

    Aos historiadores, uma fonte. Aos que creem no poder de Deus para salvação dos pecadores, uma pequena mostra de como Ele dirige a história.


    1 PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 116.

    PARTE I

    Denominações Protestantes

    CAPÍTULO 1

    Primeiros cristãos e a Igreja Católica

    Inicialmente, é oportuno esclarecer que nessa obra usa-se o termo genérico protestante para agrupar as denominações da Reforma Protestante e aquelas sucessoras da Reforma. Eventualmente se utilizará o termo reformista quando for necessário definir os grupos iniciais da Reforma, distinguindo-os dos grupos posteriores ao período. Embora muitos autores não gostem dessa simplificação, ela parece ser a mais adequada, por se tratar de uma obra sobre os pioneiros protestantes no Amazonas, em que muitas vezes a diferenciação dos grupos não era tão significativa assim.

    Para um melhor entendimento da história protestante, é importante fazer uma digressão sobre alguns aspectos de sua fé que explicam suas doutrinas comuns, opostas ao catolicismo apostólico romano, bem como as vertentes de cada grupo, a fim de que seja caracterizado como uma denominação protestante.

    O cristianismo tem mais de dois milênios de história. Seu aparecimento é tão significativo que o mundo ocidental divide os anos em antes de Cristo e depois dEle. A vinda de Cristo ao mundo ocorre em um momento da história escolhido por Deus, que é biblicamente chamado de a plenitude dos tempos em Gálatas 4.4, porquanto vários fatores favoreceriam a chegada e divulgação da fé cristã, dentre os quais se destacam: i) o helenismo, com a adoção da língua grega como língua universal, favorecendo a comunicação; ii) o domínio político do Império Romano, que abrangia grande parte do mundo então conhecido, com suas estradas e navegações, facilitando o deslocamento das pessoas tanto no Oriente quanto no Ocidente; e iii) o enfraquecimento do judaísmo devido à adoção de muitas tradições que não condiziam com os ensinamentos da Lei de Deus, possibilitando a renovação da mensagem religiosa.

    Ao longo desses séculos de existência, o cristianismo passou por muitas modificações, daí o surgimento de vários grupos cristãos sobre a face da terra. O livro básico dos cristãos é a Bíblia Sagrada. A primeira parte, o Velho Testamento, é semelhante aos livros judaicos, embora a Bíblia católica possua mais livros e textos que a Bíblia utilizada pelos protestantes. A segunda parte, denominada Novo Testamento, contém texto semelhante tanto nas Bíblias católicas quanto nas usadas pelas denominações protestantes. No livro bíblico de Atos 11.26, observa-se que os discípulos de Jesus, na cidade de Antioquia, foram chamados cristãos pela primeira vez: Eles se reuniram durante um ano com a gente daquela igreja e ensinaram muitas pessoas. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os seguidores de Jesus foram chamados da cristãos[2] .

    Esta obra não tem a finalidade de fazer um resumo histórico do cristianismo. As referências históricas anteriores e posteriores à Reforma destinam-se a demonstrar, de forma muito concisa, as diferenças doutrinárias que surgiram entre os cristãos, visando ter um pano de fundo para o entendimento das diferenças teológicas e de práticas religiosas entre os grupos cristãos que viriam a atuar no cenário amazônico.

    Desde que os cristãos foram identificados como uma seita pelo judaísmo, pode-se dizer que sempre existiram cristãos que sustentaram os princípios do Novo Testamento. Porém, os ensinos de Cristo contrariavam as religiões dominantes, principalmente o judaísmo, e em alguns aspectos o império político dos romanos. Assim, os cristãos foram perseguidos, sobretudo durante o reinado de Nero, o que fez com que eles se espalhassem para fora da Judeia e alcançassem cidades na Europa, Ásia e África, como os atuais territórios da Inglaterra e Gales, entre outras partes do mundo civilizado até então conhecido.

    Para os protestantes, as doutrinas cristãs sofreram desvirtuamentos do que eles consideram ser a melhor interpretação bíblica. As primeiras distorções doutrinárias estão registradas nas páginas do Novo Testamento. Ao final do primeiro século, vislumbram-se desvios da Igreja do Senhor Jesus em relação ao seu ensino. A igreja tinha muitos pregadores e anciãos, segundo o livro de Atos 20.17[3], mas alguns líderes começaram a usar de uma autoridade sobre os crentes que não lhes fora concedida por Jesus Cristo. Um deles divergiu do próprio apóstolo João, como mencionado na Terceira Carta de João 1.9 [4]. Para os protestantes, prevalece a doutrina do sacerdócio de todos os crentes, ou seja, cada pessoa tem o privilégio de orar a Deus sem intervenção de sacerdotes[5] .

    Portanto, durante o primeiro século de existência da igreja cristã, segundo os protestantes, surgiu o primeiro afastamento das doutrinas bíblicas, que resultou na mudança do governo democrático original das primeiras igrejas de Jerusalém e Antioquia, com o surgimento de autoridades humanas sobre os crentes. Por isso, os protestantes rejeitam a ideia de uma hierarquia de autoridades religiosas e creem no governo democrático da igreja sob a autoridade de Jesus e a orientação do Espírito Santo.

    O segundo afastamento dos ensinos bíblicos, segundo os protestantes, foi em relação à doutrina da salvação pela graça, porque os judeus, tanto quanto os pagãos, estavam acostumados ao cerimonialismo como forma de salvação. Como os ensinos de João Batista e de Jesus Cristo incluíam a cerimônia do batismo, alguns cristãos fizeram uma associação equivocada entre batismo e salvação, chegando à ideia de regeneração batismal – ou seja, o batismo seria o início da salvação. Para os protestantes, em sua maioria,

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